Textos: 2 Cro 36, 14-16.19-23; Ef 2, 4-10; Jo 3,
14-21
Evangelho (Jo
3,14-21): «Como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que
todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que
deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não será condenado, mas
quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de
Deus. Ora, o julgamento consiste nisto: a luz veio ao mundo, mas as pessoas
amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Pois todo o
que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não
sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que suas
ações sejam manifestadas, já que são praticadas em Deus».
Comentário: Rev.
D. Joan Ant. MATEO i García (La Fuliola, Lleida, Espanha)
Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único.
Hoje a liturgia
oferece-nos um aroma antecipado da alegria pascal. Os ornamentos do celebrante
são rosados. É o do “laetare” que nos convida a uma serena alegria. «Festejai a
Jerusalém, alegrai-vos todos os que a amais...», canta a antífona da entrada.
Deus quer que
estejamos contentes. A psicologia mais elementar diz-nos que uma pessoa que não
vive contente acaba enferma de corpo e espírito. Mas, a nossa alegria deve
estar bem fundamentada, deve ser a expressão da serenidade de viver uma vida
com pleno sentido. De outra forma, a alegria degeneraria em superficialidade,
em tolice. Santa Teresa distinguia acertadamente entre “santa alegria” e “louca
alegria”. Esta última é apenas exterior, dura pouco e deixa um sabor amargo.
Vivemos tempos
difíceis para a vida da fé. Mas também são tempos apaixonantes. Experimentamos,
de certa forma, o exílio babilônico que canta o salmo. Na verdade, também nós
podemos viver uma experiência de exílio «chorando a nostalgia de Sion» (Sal
136,1). As dificuldades exteriores e, sobre tudo o pecado, pode levar-nos perto
dos rios da Babilônia. Apesar de tudo, temos motivos de esperança e Deus
continua dizendo: «Que se me cole a língua ao paladar se não me lembrar de ti»
(Sal 136,6).
Podemos viver
sempre contentes porque Deus nos ama loucamente, tanto que nos «deu o seu Filho
único» (Jo 3,16). Brevemente acompanharemos este Filho único no seu caminho de
morte e ressurreição. Contemplaremos o amor Daquele que tanto ama, que se
entregou por nós, por ti e por mim. Ficaremos cheios de amor e olharemos Aquele
que trespassaram (Jo 19,37), e crescerá em nós uma alegria que ninguém nos
poderá tirar.
A verdadeira
alegria que ilumina a nossa vida não provem do nosso esforço. São Paulo
recorda-nos: não vem de vós, é um dom de Deus, somos obra sua (Col 1,11).
Deixemo-nos amar por Deus e amemo-lo, e a alegria será grande na próxima Páscoa
e na vida. E não nos esqueçamos de nos deixarmos acariciar e regenerar por Deus
com uma boa confissão antes da Páscoa.
O pecado, o nosso pecado, ademais de quebrar a
Aliança com Deus, é a causa de todas as desgraças pessoais, sociais,
estruturais, eclesiais, familiares e mundiais. Mas a misericórdia de Deus é
maior do que o nosso pecado.
Pe. Antonio
Rivero, L.C.
Em primeiro
lugar, somos pecadores. Ai está a primeira leitura de hoje, onde Deus joga na
nossa cara com o chicote da sua misericórdia –como o papa Francisco disse no
domingo passado- as nossas infidelidades, a nossa vida mundana, os nossos maus
jeitos, as nossas burlas, para nos corrigirmos e voltarmos ao bom caminho, com
o auxílio de mensageiros e profetas que Ele nos manda continuamente através da
sua Palavra, do Papa, do nosso confessor, familiares, amigos. Quaresma é tempo
de uma revisão espiritual, de fazer um nós uma ressonância magnética da alma e
dos nossos afetos mais íntimos para ver se temos algum indicio de câncer,
diabete, mau colesterol. Ainda estamos a tempo de tomar os remédios e os
antibióticos necessários para nos curar, de tomar as vacinas para prevenir as
febres altas e perigosas. Quais pecados ameaçam mais a nossa vida? Soberba e os
seus filhotes: egoísmo, vaidade, orgulho, amor próprio, dureza de juízo,
impaciência, autossuficiência, rancor, desejo de vingança, impor as nossas
ideias, desânimo, juízos temerários, indiferença diante das necessidades dos
demais, inveja, racionalismo, espírito calculista, respeito humano, farisaísmo
e mentira, rebeldia, caprichos e manias, individualismo? Ou tudo o contrário,
me ameaçam a sensualidade e os seus filhotes: comodidade, frouxidão,
sentimentalismo, busca do fácil e que traz prazer, abuso e descontrole dos
sentidos, impureza e luxúria consentida e alimentada, gula, sonhos mundanos,
pusilanimidade, ociosidade, inconstância, tibieza, apatia, abandono da oração,
falta de pontualidade nos nossos trabalhos, pessimismo, insatisfação, fuga do
sacrifício, gula, avareza? Façamos uma séria revisão e obremos em consequência,
se quisermos chegar preparados à Páscoa do Senhor.
Em segundo lugar,
pecadores, sim, mas também redimidos, pois a misericórdia, a generosidade e o
amor de Deus são infinitos (2a leitura). Esta redenção não é mérito nosso, mas
pura graça divina. O amor que Deus tem por nós em Cristo Jesus é prévio a todos
os nossos méritos e superior a todos os nossos desmerecimentos. Já no Antigo
Testamento manifestou este amor, inclusive se teve que castigar e corrigir o
seu povo, quando o tirou da escravidão do Egito e mais tarde o fez voltar do
cativeiro. Na primeira leitura escutamos como Deus mexeu com o coração do rei Ciro
- também mexerá com o coração dos nossos reis e presidentes e chefes de
Estado?-, que permitiu os israelitas voltarem para Jerusalém e reconstruir a
sua nação e o seu Templo- também os nossos chefes de Estado respeitarão a nossa
religião e nos permitirão dar culto a Deus sempre e em todos os lugares e
ensinar a lei de Deus e da Igreja nas escolas, sem imiscuir-se em questões que
não lhes competem e apoiando sempre o que dignifica a pessoa humana?-. Porém é,
sobretudo, no Novo Testamento, onde Deus fez que nós experimentássemos a sua
ternura e misericórdia, pois “tanto amou Deus o mundo que lhe entregou o seu
Filho Unigênito” e todos se salvem (evangelho).
Finalmente,
redimidos, sim, mas em continua conversão, pois o tentador nos cerca dia e
noite para voltarmos ao pecado. Temos que olhar para Cristo na cruz para nos
curar das picaduras das serpentes venenosas que nos atacarão dia e noite
(evangelho). Olhando a cabeça de Cristo na cruz coroada de espinhos, curarão e
se purificarão os nossos maus pensamentos. Olhando o rosto desfigurado e batido
de Cristo na cruz, curarão os nossos desejos de vaidade ridícula. Olhando os
olhos inchados de Cristo na cruz, os nossos olhos se fecharão diante das
indecências. Olhando a boca resseca de Cristo, saberemos dominar o nosso
desenfreio de gula e a espada das fofocas. Olhando as mãos perfuradas de Cristo
na cruz, desaparecerão as nossas ambições e desejos de ter e possuir. Olhando o
lado perfurado de Cristo na cruz, os nossos ódios se converterão em perdão.
Olhando os joelhos marcados de Cristo na cruz, crescerá o nosso desejo de nos
ajoelhar e orar sem cessar. Olhando os pés de Cristo pregados na cruz,
poderemos reparar os nossos pecados por ter caminhado por trilhas de morte.
Olhando, enfim, todo o corpo de Cristo esmagado e açoitado, desaparecerá a
vontade que temos de viver no conforto, na comodidade, nos prazeres e nos
luxos.
Para refletir: Quais pecados desfiguram a imagem de Deus na
minha alma? Aproximar-me-ei à confissão antes de entrar na Semana Santa, para
pedir perdão a Deus pelos meus pecados?
Para rezar: Senhor, piedade e misericórdia: pequei contra
Vós. Senhor, dai-me a graça da conversão. Senhor, fazei-me partícipe da vossa
Páscoa.
Qualquer sugestão ou dúvida
podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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