V Centenário do nascimento (1515-2015) |
Evangelho
(Mc 1,29-39): Logo que saíram da
sinagoga, foram com Tiago e João para a casa de Simão e André. A sogra de Simão
estava de cama, com febre, e logo falaram dela a Jesus. Ele aproximou-se e,
tomando-a pela mão, levantou-a; a febre a deixou, e ela se pôs a servi-los. Ao anoitecer, depois do pôr do sol, levavam a
Jesus todos os doentes e os que tinham demônios. A cidade inteira se ajuntou à
porta da casa. Ele curou muitos que sofriam de diversas enfermidades; expulsou
também muitos demônios, e não lhes permitia falar, porque sabiam quem ele era. De
madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um
lugar deserto. Lá, ele orava. Simão e os que estavam com ele se puseram a
procurá-lo. E quando o encontraram, disseram-lhe: «Todos te procuram». Jesus
respondeu: «Vamos a outros lugares, nas aldeias da redondeza, a fim de que, lá
também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso que eu saí». E foi
proclamando nas sinagogas por toda a Galileia, e expulsava os demônios.
Comentário: Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM
(Barcelona, Espanha)
De madrugada, quando
ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um lugar deserto. Lá,
ele orava.
Hoje
vemos claramente como Jesus dividia a jornada. Por um lado, dedicava-se à
oração e, por outro, à missão de predicar com palavras e com obras.
Contemplação e ação. Oração e trabalho. Estar com Deus e estar com os homens.
De
fato, vemos Jesus entregado em Corpo e alma em sua tarefa de Messias e
Salvador: cura aos doentes, como à sogra de São Pedro e muitos outros, consola
os que estão tristes, expulsa demônios, predica. Todos lhe levam seus doentes e
endemoniados. Todos querem escutá-lo: «Todos te procuram» (Mc 1,37), dizem os
discípulos. Seguro que tinha uma atividade frequentemente cansativa, que quase
não lhe deixava nem respirar.
Mas,
Jesus procurava também tempo de solidão para se dedicar à oração: «De
madrugada, quando ainda estava bem escuro, Jesus se levantou e saiu rumo a um
lugar deserto. “Lá, ele orava» (Mc 1,35). Em outras partes dos Evangelhos vemos
Jesus dedicado à oração em outras horas e, inclusive a altas horas da noite.
Sabia distribuir o tempo sábiamente, para que sua jornada tivesse um equilíbrio
razoável de trabalho e oração.
Nós
dizemos frequentemente: Não tenho tempo! Estamos ocupados com o trabalho do
lar, com o trabalho profissional e, com as inumeráveis tarefas que enchem nossa
agenda. Com frequência cremo-nos dispensados da oração diária. Fazemos muitas
coisas importantes, isso sim, mas corremos o risco de esquecer a mais
necessária: a oração. Devemos criar um equilíbrio para fazer umas sem
desatender as outras.
São
Francisco o propõe assim: «Há que trabalhar fielmente e com dedicação, sem
apagar o espírito da santa oração e devoção, para o que hão de servir as outras
coisas temporais».
Deveríamos
nos organizar um pouco mais. Disciplinar-nos, “domesticando” o tempo. O que é
importante há de caber. Ainda mais o que é necessário.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
Jesus restaura a vida para o serviço. Depois de participar da celebração do
sábado na sinagoga, Jesus entrou na casa de Pedro e curou a sogra dele. A cura
fez com ela se colocasse de pé e, com a saúde e a dignidade recuperadas,
começasse a servir as pessoas. Jesus não só cura a pessoa, mas cura para que a
pessoa se coloque a serviço da vida.
*
Jesus acolhe os marginalizados. Ao cair da tarde, terminado o sábado na hora do
aparecimento da primeira estrela no céu, Jesus acolhe e cura os doentes e os
possessos que o povo tinha trazido. Os doentes e possessos eram as pessoas mais
marginalizadas naquela época. Elas não tinham a quem recorrer. Ficavam
entregues à caridade pública. Além disso, a religião as considerava impuras.
Elas não podiam participar na comunidade. Era como se Deus as rejeitasse e as
excluísse. Jesus as acolhe. Assim, aparece em que consiste a Boa Nova de Deus e
o que ela quer atingir na vida da gente: acolher os marginalizados e os
excluídos, e reintegrá-los na convivência da comunidade.
*
Permanecer unido ao Pai pela oração. Jesus aparece rezando. Ele faz um esforço
muito grande para ter o tempo e o ambiente apropriado para rezar. Levantou mais
cedo que os outros e foi para um lugar deserto, para poder estar a sós com
Deus. Muitas vezes, os evangelhos nos falam da oração de Jesus no silêncio (Mt
14,22-23; Mc 1,35; Lc 5,15-16; 3,21-22). É através da oração que ele mantém
viva em si a consciência da sua missão.
*
Manter viva a consciência da missão e não se fechar no resultado já obtido.
Jesus se tornou conhecido. Todos iam atrás dele. Esta publicidade agradou aos
discípulos. Eles vão em busca de Jesus para levá-lo de volta junto do povo que
o procurava, e lhe dizem: Todos te procuram. Pensavam que Jesus fosse atender
ao convite. Engano deles! Jesus não atendeu e disse: Vamos para outros lugares.
Foi para isto que eu vim! Eles devem ter
estranhado! Jesus não era como eles o imaginavam. Jesus tem uma consciência
muito clara da sua missão e quer transmiti-la aos discípulos. Não quer que eles
se fechem no resultado já obtido. Não devem olhar para trás. Como Jesus, devem
manter bem viva a consciência da sua missão. É a missão recebida do Pai que
deve orientá-los na tomada das decisões.
*
Foi para isto que eu vim! Este foi o primeiro mal-entendido entre Jesus e os
discípulos. Por ora, é apenas uma pequena divergência. Mais adiante no
evangelho de Marcos, este mal-entendido, apesar das muitas advertências de
Jesus, vai crescer e chegar a uma quase ruptura entre Jesus e os discípulos (cf.
Mc 8,14-21.32-33; 9,32; 14,27). Hoje também existem mal-entendidos sobre o rumo
do anúncio da Boa Nova. Marcos ajuda a prestar atenção nas divergências, para
não permitir que elas cresçam até à ruptura.
Para um confronto
pessoal
1) Jesus não veio para ser servido,
mas para servir. A sogra de Pedro começou a servir. E eu, faço da minha vida um
serviço a Deus e aos irmãos e às irmãs?
2) Jesus mantinha a consciência da sua
missão através da oração. E a minha oração?
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