São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor da Igreja, século V. Epistola 1, PG 77, 14-18. 27-30.
“Muito
me admiro de que haja quem duvide se efetivamente a Virgem Santíssima deve ser
chamada Mãe de Deus. Na verdade, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que
motivo é que a Virgem Santíssima, que o deu à luz, não há de ser chamada Mãe de
Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos transmitiram, embora não
usassem esta mesma expressão. Assim nos ensinaram também os santos Padres. Em
particular Santo Atanásio, nosso pai na fé, de ilustre memória, no livro que
escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, na terceira dissertação a
cada passo dá à Santíssima Virgem o título de Mãe de Deus.
Sinto-me
obrigado a citar aqui as suas próprias palavras, que são do teor seguinte: «A
Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem como finalidade e
característica afirmar de Cristo, nosso Salvador, estas duas coisas: que é Deus
e nunca deixou de o ser, uma vez que é o Verbo do Pai, seu esplendor e
sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós Se fez homem,
assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus».
E
continua assim pouco mais adiante: «Houve muitos que foram santos e livres de
todo o pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; e também João,
antes de ser dado à luz, exultou de alegria, ao ouvir a voz de Maria, Mãe de
Deus». Estas palavras são de um homem inteiramente digno de fé, a quem podemos
seguir com toda a confiança, pois seria incapaz de pronunciar uma só palavra
contrária à Escritura divina.
E
de fato a Escritura, inspirada por Deus, afirma que o Verbo se fez carne, isto
é, se uniu a uma carne dotada de uma alma racional. Por conseguinte, o Verbo de
Deus assumiu a descendência de Abraão e, ao formar para si um corpo vindo de uma
mulher, fez-se participante da carne e do sangue. Deste modo, já não é somente
Deus, mas também Homem semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa
natureza.
Portanto
o Emanuel, Deus-conosco, consta de duas realidades: divindade e humanidade. Mas
é um só Senhor Jesus Cristo, um só verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao
mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, como aqueles que
pela graça se tornam participantes da natureza divina; mas é verdadeiro Deus
que, por causa da nossa salvação, se fez visível em forma humana, como também
testemunha São Paulo com estas palavras: Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus
enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que
estavam sob o jugo da Lei e nos tornar seus filhos adotivos.”
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