Pe. Antonio Rivero, L.C.
Textos:
Is 55, 1-3; Rm 8, 35.37-39; Mt 14, 13-21
Deus quer saciar a
nossa fome e a nossa sede.
Deus
sabe da nossa fome e sede radicais. Por isso preparou desde sempre pratos
substanciosos e vinhos soleira (primeira leitura). Mas foi distribuindo de gole
em gole. E quando já não aguentou o seu coração nos deu para comer
generosamente como manjar o Corpo e para beber o Sangue do seu Filho Jesus
Cristo, e ficamos satisfeitos (evangelho). Com este alimento teremos forças
para satisfazer as nossas necessidades espirituais e sair vitoriosos diante das
lutas diárias (segunda leitura). E inclusive nos sobrará para alimentar os
nossos irmãos necessitados.
Em
primeiro lugar, vejamos as diversas fomes e os diversos tipos de sede que tem o
homem de hoje. Fome e sede de Deus, que se não é canalizada nos faz cair na
tentação paradisíaca do “sereis como deuses”. Fome e sede de espiritualidade,
que se não é orientada se converte em supermercado onde cada um satisfaz as
suas emoções e sentimentos. Fome e sede de liberdade, que se não é formada
desemboca em libertinagem. Fome e sede de fama e de honra, que se não é
purificada nos faz cair no espetáculo de apoteose como tantos faraós, reis,
guerreiros, legisladores, cantores e atores. Fome e sede de dinheiro, que se
não é controlada nos rouba o sono e a paz. Fome e sede de sexo, que se não é
integrado com as outras dimensões do amor afetivo, amistoso e espiritual, nos
devora, engole e no faz cair no erotismo. Fome e sede, que se não se faz irmã
da misericórdia, nos empurra à crueldade. Fome e sede de saúde, que se não é
equilibrada se converte em fonte de hipocondria. Fome e sede de descanso, que
se não é dosificada é motivo de preguiça e vagabundagem.
Em
segundo lugar, Deus em Cristo vem para saciar completamente a nossa fome e sede
interior. Desde o Antigo Testamento, Isaias nos fazia o convite de Deus: “Ide
por agua... vinde, comei sem pagar vinho e tomai leite grátis... comereis
bem...”. Esta multiplicação de pães e de peixes, narrada hoje no evangelho, é o
anúncio e o prelúdio do que Cristo será para todos nós: o nosso alimento,
antecipação do mistério da Eucaristia. A metáfora da comida e da bebida é bem
apropriada para fazer-nos compreender outros bens que Deus nos presenteia: a
sua proximidade, o seu perdão, o seu amor. Quantas vezes Jesus utilizou o
ambiente de uma refeição para fazer-nos sentar à mesa do perdão e da salvação!
Ali está Cristo Alimento em cada missa. Ali está Cristo Alimento no evangelho.
Finalmente,
mas também nos encarrega “dai vós mesmos de comer”. Deus não se encarrega de
fazer tudo. Cristo não prevê tudo com o seu milagre. Cristo dá os pães e os
peixes multiplicados aos discípulos, e depois eles repartem entre as pessoas.
Devemos compartilhar com Ele a sua compaixão e a sua sintonia com o faminto, em
todos os sentidos de fome e de sede. Somos colaboradores desse Cristo que quer
saciar a fome e a sede da humanidade. Que triste seria ficarmos num cantinho
comendo, sozinhos, o pão da nossa fé, da nossa esperança, do nosso amor, da
nossa bondade! Que triste seria não compartilhar o vinho da nossa alegria, do nosso
otimismo, da nossa solidariedade, do nosso conselho! São João Paulo II disse:
“Penso no drama da fome que atormenta a milhares e milhares de seres humanos,
nas doenças que flagelam os países em desenvolvimento, na solidão dos anciãos,
na desolação dos não têm emprego, na tortura dos emigrantes. Não podemos criar
castelos no ar: pelo amor mútuo e, em particular, pela atenção aos necessitados
seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo. Em base a este
critério se comprovará a autenticidade das nossas celebrações eucarísticas”
(Mane nobiscum Domine, 28).
Para refletir:
1.
Do que tenho fome e sede?
2.
Aonde vou saciar a minha fome e a minha sede?
3.
Compartilho o meu pão com os meus irmãos ou como o meu pão sozinho num cantinho
isolado?
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