Sta Teresa Margarida, Virgem de nossa Ordem |
Comentário: Rev. D. David AMADO i Fernández (Barcelona,
Espanha)
Hoje se cumpriu esta
passagem da Escritura que acabastes de ouvir
Hoje,
«se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir» (Lc 4,21). Com
essas palavras, Jesus comenta, na sinagoga de Nazaré, um texto do profeta
Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a
unção» (Lc 4,18). Estas palavras têm um sentido que ultrapassa o momento
histórico concreto em que foram pronunciadas. O Espírito Santo habita em
plenitude em Jesus Cristo, e é Ele quem o envia aos crentes.
Mas,
além disso, todas as palavras do Evangelho possuem uma atualidade eterna. São
eternas porque foram pronunciadas pelo Eterno e, são atuais porque Deus faz com
que se cumpram em todos os tempos. Quando escutamos a Palavra de Deus, temos
que recebê-la não como um discurso humano, mas sim como uma Palavra que tem,
sobre nós, poder de transformação. Deus não fala aos nossos ouvidos, mas ao
nosso coração. Tudo o que diz está profundamente cheio de sentido e de amor. A
Palavra de Deus é uma fonte inextinguível de vida: «É mais o que perdemos do
que o que captamos, tal como ocorre com os sedentos que bebem de uma fonte»
(Santo Efrém). Suas palavras saem do coração de Deus. E, desse coração, do seio
da Trindade, veio Jesus — a Palavra do Pai — aos homens.
Por
isso, cada dia, quando escutamos o Evangelho, temos que poder dizer como Maria:
«Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38); e Deus nos responderá: «Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir». Mas para que a
Palavra seja eficaz em nós devemos nos desprender de todo o preconceito. Os
contemporâneos de Jesus não o compreenderam, porque o viam somente com olhos
humanos: «Não é este o filho de José? » (Lc 4,22). Enxergavam a humanidade de
Cristo, mas não se deram conta de sua divindade. Sempre que escutamos a Palavra
de Deus, mais à frente do estilo literário, da beleza das expressões ou da
singularidade da situação, temos que saber que é Deus quem nos fala.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
Hoje, segunda-feira da 22ª semana comum, começamos a meditação do Evangelho de
Lucas que se prolongará por três meses até o fim do ano eclesiástico. O
evangelho de hoje traz a visita de Jesus a Nazaré e a apresentação do seu
programa ao povo na sinagoga. Num primeiro momento, o povo ficou admirado. Mas,
em seguida, quando perceberam que Jesus queria acolher a todos, sem excluir
ninguém, ficaram revoltados e quiseram matá-lo.
* Lucas 4,16-19: A
proposta de Jesus.
Animado
pelo Espírito Santo, Jesus tinha voltado para a Galileia (Lc 4,14) e começou a
anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando pelas comunidades e ensinando nas
sinagogas, ele chegou em Nazaré, onde tinha sido criado. Estava de volta na
comunidade, onde, desde pequeno, tinha participado durante quase trinta anos.
No sábado seguinte, conforme o seu costume, Jesus foi à sinagoga para
participar da celebração e levantou-se para fazer a leitura. Escolheu o texto
de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2). Este
texto refletia a situação do povo da Galileia do tempo de Jesus. A experiência
que Jesus tinha de Deus como Pai amoroso dava a ele um novo olhar para avaliar
a realidade. Em nome de Deus, Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo
e, com as palavras de Isaías, define a sua missão:
(1)
anunciar a Boa Nova aos pobres,
(2)
proclamar a libertação aos presos,
(3)
a recuperação da vista aos cegos,
(4)
restituir a liberdade aos oprimidos e, retomando a antiga tradição dos
profetas,
(5)
proclama “um ano de graça da parte do Senhor”. Proclama o ano do jubileu!
*
Na Bíblia, o “Ano Jubileu” era uma lei importante. Inicialmente, a cada sete
anos (Dt 15,1; Lev 25,3), as terras deviam voltar ao clã de origem. Cada um
devia poder voltar à sua propriedade. Assim impediam a formação de latifúndio e
garantiam às famílias a sobrevivência. Também deviam perdoar as dívidas e
resgatar as pessoas escravizadas (Dt 15,1-18). Não foi fácil realizar o ano
jubileu cada sete anos (cf Jr 34,8-16). Depois do exílio, decidiram realizá-lo
cada sete vezes sete anos (Lev 25,8-12), isto é, cada cinquenta anos. O
objetivo do Ano Jubileu era e continua sendo: restabelecer os direitos dos
pobres, acolher os excluídos e reintegrá-los na convivência. O jubileu era um
instrumento legal para voltar ao sentido original da Lei de Deus. Era uma
oportunidade oferecida por Deus para fazer uma revisão da caminhada, descobrir
e corrigir os erros e recomeçar tudo de novo. Jesus inicia a sua pregação
proclamando um jubileu, um “Ano de Graça da parte do Senhor”.
* Lucas 4,20-22: Ligar
Bíblia com Vida.
Terminada
a leitura, Jesus atualiza o texto de Isaías dizendo: “Hoje se cumpriu esta
escritura nos ouvidos de vocês!” Assumindo as palavras de Isaías como suas
próprias palavras, Jesus lhes dá o seu pleno e definitivo sentido e se declara
messias que veio realizar a profecia. Esta maneira de atualizar o texto
provocou uma reação de descrédito por parte dos que estavam na sinagoga.
Ficaram escandalizados e já não queriam saber dele. Não aceitaram Jesus como o
messias anunciado por Isaías. Diziam: “Não é este o filho de José?” Ficaram
escandalizados porque Jesus falou em acolher os pobres, os cegos e os
oprimidos. O povo de Nazaré não aceitou a proposta de Jesus. E assim, no
momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, ele mesmo foi
excluído.
* Lucas 4,23-30:
Ultrapassar os limites da raça.
Para
ajudar a comunidade a superar o escândalo e levá-la a compreender que sua
proposta estava bem dentro da tradição, Jesus contou duas histórias conhecidas
da Bíblia, uma de Elias e outra de Eliseu. As duas histórias criticavam o
fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado para a viúva estrangeira de
Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para atender ao estrangeiro da Síria
(2 Rs 5,14). Transparece aqui a preocupação de Lucas em mostrar que a abertura
para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as
comunidades estavam tendo no tempo de Lucas. Mas o apelo de Jesus não adiantou.
Ao contrário! As histórias de Elias e Eliseu provocaram mais raiva ainda. A
comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. Mas ele manteve a
calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra
assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do fechamento.
* É importante notar
os detalhes no uso do Antigo Testamento.
Jesus
cita o texto de Isaías até onde diz: "proclamar um ano de graça da parte
do Senhor". Cortou o resto da frase que dizia: "e um dia de vingança
do nosso Deus". O povo de Nazaré ficou bravo com Jesus por ele pretender
ser o messias, por querer acolher os excluídos e por ter omitido a frase sobre
a vingança. Eles queriam que o Dia de Javé fosse um dia de vingança contra os
opressores do povo. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da
mesa e não uma mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de
pensar, não aceita a vingança (cf.Mt 5,44-48). A sua nova experiência de Deus
como Pai/Mãe ajudava-o a entender melhor o sentido das profecias.
Para um confronto
pessoal
1) O programa de Jesus consiste em
acolher os excluídos. Será que nós acolhemos a todos, ou excluímos alguém?
Quais os motivos que nos levam a excluir certas pessoas?
2) Será que o programa de Jesus está
sendo realmente o nosso programa, o meu programa? Quais os excluídos que
deveríamos acolher melhor na nossa comunidade? O que ou quem nos dá força para
realizar a missão que Jesus nos deu?
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