O
mês de julho foi estabelecido pela Igreja como o mês dedicado ao Preciosíssimo
Sangue de Jesus e, na nossa Ordem, é o mês mariano por excelência.
A
piedade cristã sempre manifestou, através dos séculos, especial devoção ao
Sangue de Cristo derramado para a remissão dos pecados de todo o gênero humano,
por ocasião da Paixão e Morte de Jesus e atravessando a história até hoje com
Sua presença real no Sacramento da Eucaristia.
No
século passado, foi São Gaspar de Búfalo admirável propagador desta insigne
devoção, tendo o merecimento da aprovação da Santa Sé e por isto até hoje é
conhecido como o "Apóstolo do Preciosíssimo Sangue". Foi por ordem do
Papa Bento XIV que foram compostos a missa e o ofício em honra ao Sangue de
Jesus para finalmente ser estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio
IX.
O Papa João XXIII, cuja família desde a sua
infância foi fiel devota ao Preciosíssimo Sangue, também perpetrou esta santa
devoção, tendo logo no início de seu pontificado escrito a Carta Apostólica "Inde a Primis", a fim de promover o seu culto, conforme fez menção o Papa João
Paulo II em sua Carta Apostólica "Angelus Domini", onde frisa o convite de João
XXIII sobre o valor infinito daquele sangue, do qual "uma só gota pode
salvar o mundo inteiro de qualquer culpa".
Sejamos,
portanto, também devotos propagadores destas extraordinárias e salutares práticas da
piedade cristã, recitando, cada dia, a Ladainha do Preciosíssimo Sangue de Jesus e realizando alguma prática de devoção à Virgem Nossa Senhora, nossa Mãe e Irmã no Carmelo.
Evangelho
(Mt 8,23-27): Então Jesus entrou no
barco, e seus discípulos o seguiram. Nisso, veio uma grande tempestade sobre o
mar, a ponto de o barco ser coberto pelas ondas. Jesus, porém, dormia. Eles
foram acordá-lo. «Senhor», diziam, «salva-nos, estamos perecendo!» «Por que
tanto medo, homens de pouca fé?», respondeu ele. Então, levantando-se,
repreendeu os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. As pessoas ficaram
admiradas e diziam: «Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe
obedecem?».
Comentário: Fray Lluc TORCAL Monje del Monastério de
Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Então, levantando-se,
repreendeu os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria
Hoje,
terça-feira XIII do tempo comum, a liturgia oferece-nos um dos fragmentos mais
impressionantes da vida publica do Senhor. A cena apresenta uma grande
vivacidade, contrastando radicalmente a atitude dos discípulos com a de Jesus.
Podemos imaginar-nos a agitação que reinou na barca quando «veio uma grande
tempestade sobre o mar, a ponto de o barco ser coberto pelas ondas» (Mt 8,24),
mas a agitação não foi suficiente para acordar Jesus que dormia. Tiveram que
ser os discípulos quem, no seu desespero, acordaram Jesus!: «Senhor, salva-nos,
estamos perecendo!» (Mt 8,25).
O
Evangelista serve-se de todo este dramatismo para nos revelar o autêntico ser
de Jesus. A tempestade não tinha perdido a sua fúria e os discípulos
continuavam cheios de agitação quando o Senhor, simples e tranquilamente,
«levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria» (Mt
8,26). Da Palavra repreendedora de Jesus seguiu-se a calma, a calma que não
estava apenas destinada a realizar-se nas águas agitadas do céu e do mar: a
Palavra de Jesus dirigia-se sobre tudo a acalmar os corações temerosos dos seus
discípulos. «Por que tanto medo, homens de pouca fé?» (Mt 8,26).
Os
discípulos passaram da perturbação e do medo à admiração própria daquele que
acaba de assistir a alguma coisa impensável até então. A surpresa, a admiração,
a maravilha de uma mudança drástica na situação em que viviam despertou neles
uma pergunta central: «Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe
obedecem?» (Mt 8,27). Quem é aquele que pode acalmar as tempestades do céu e da
terra e, ao mesmo tempo, as dos corações dos homens? Apenas «quem dormindo como
homem numa barca, pode dar ordens aos ventos e ao mar, como Deus» (Nicetas de
Remesiana).
Quando
pensamos que a terra se afunda, não esqueçamos que o nosso Salvador é o próprio
Deus feito homem, o qual se nos dá pela fé.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* Mateus escreve para as comunidades de judeus
convertidos dos anos setenta que se sentiam como um barquinho perdido no mar
revolto da vida, sem muita esperança de poder alcançar o porto desejado. Jesus
parecia estar dormindo no barco, pois não aparecia para elas nenhum poder
divino para salvá-las da perseguição. Em vista desta situação de angústia e
desespero, Mateus recolheu vários episódios da vida de Jesus para ajudar as
comunidades a descobrir, no meio da aparente ausência, a acolhedora e poderoso
presença de Jesus vencedor que domina o mar (Mt 8,23-27), que vence e expulsa o
poder do mal (Mt 9,28-34) e que tem poder de perdoar os pecados (Mt 9,1-8). Com
outras palavras, Mateus quer comunicar esperança e sugerir que não há motivo
para as comunidades terem medo. Este é o motivo do relato da tempestade
acalmada do evangelho de hoje.
* Mateus 8,23: O ponto de partida: entrar no
barco.
Mateus
segue o evangelho de Marcos, mas o abrevia e o ajeita dentro do novo esquema
que ele adotou. Em Marcos, o dia foi pesado de muito trabalho. Terminado o
discurso das parábolas (Mc 4,3-34), os discípulos levaram Jesus no barco e, de
tão cansado que estava, Jesus dormiu em cima de um travesseiro (Mc 4,38). O
texto de Mateus é bem mais breve. Ele apenas diz que Jesus entrou no barco e os
discípulos o acompanhavam. Jesus é o Mestre, os discípulos seguem o mestre.
* Mateus 8,24-25: A situação desesperadora:
“Estamos afundando!”
O
lago da Galileia é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas
das rochas, o vento cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento
forte, mar agitado, barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores
experimentados. Se eles achavam que iam afundar, então a situação era perigosa
mesmo! Mas Jesus nem sequer acorda, e continua dormindo. Eles gritam:
"Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!" Em Mateus, o sono
profundo de Jesus não é só sinal de cansaço. É também expressão da confiança
tranquila de Jesus em Deus. O contraste entre a atitude de Jesus e dos discípulos
é grande!
* Mateus 8,26: A reação de Jesus: “Por que
vocês têm medo?”
Jesus
acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos
discípulos. Ele se dirige a eles e diz: “Por que vocês têm medo? Homens de
pouca fé!” Em seguida, ele se levanta, ameaça os ventos e o mar, e tudo fica
calmo. A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar, pois não
havia nenhum perigo. É como quando você chega na casa de um amigo e o cachorro,
preso na corrente, ao lado do dono, late muito contra você. Mas você não
precisa ter medo, pois o dono está aí e controla a situação. O episódio da
tempestade acalmada evoca o Êxodo, quando o povo, sem medo, passava pelo meio
das águas do mar (Ex 14,22). Jesus refaz o Êxodo. Evoca ainda o profeta Isaías
que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2).
Por fim, o episódio da tempestade acalmada evoca e realiza a profecia anunciada
no Salmo 107:
23
Desciam de navio pelo mar, comerciando na imensidão das águas.
24
Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.
25
Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.
26
Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na
desgraça.
27
Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.
28
Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.
29
Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram.
30
Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado. (Sl 107,23-30)
* Mateus 8,27: O espanto dos discípulos: “Quem
é este homem?”
Jesus
perguntou: “Por que vocês têm medo?” Os discípulos não sabem o que responder.
Admirados, se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento
obedecem?” Apesar da longa convivência com Jesus, ainda não sabem direito quem
ele é. Jesus parece um estranho para eles! Quem é este homem?
* Quem é este homem? Quem é Jesus para nós,
para mim? Esta deve ser a pergunta que nos leva a continuar a leitura do
Evangelho, todos os dias, com o desejo de conhecer sempre melhor o significado
e o alcance da pessoa de Jesus para a nossa vida. É desta pergunta que nasceu a
cristologia. Ela nasceu, não de altas considerações teológicas, mas sim do
desejo dos primeiros cristãos de encontrar sempre novos nomes e títulos para
expressar o que Jesus significava para eles. São dezenas os nomes, títulos e
atributos, desde carpinteiro até filho de Deus, que Jesus recebe: Messias,
Cristo, Senhor, Filho amado, Santo de Deus, Nazareno, Filho do Homem, Noivo,
Filho de Deus, Filho do Deus altíssimo, Carpinteiro, Filho de Maria, Profeta,
Mestre, Filho de Davi, Rabboni, Bendito o que vem em nome do Senhor, Filho,
Pastor, Pão da vida, Ressurreição, Luz do mundo, Caminho, Verdade, Vida,
Videira, Rei dos judeus, Rei de Israel, etc., etc. Cada nome, cada imagem, é
uma tentativa para expressar o que Jesus significava para eles. Mas um nome,
por mais bonito que seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito
menos da pessoa de Jesus. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema,
em nenhum título. Ele é maior, ultrapassa tudo! Ele não pode ser enquadrado. O
amor capta, a cabeça, não! É a partir da experiência viva do amor que os nomes,
os títulos e as imagens recebem o seu pleno sentido. Afinal, quem é Jesus para
mim, para nós?
Para um confronto
pessoal
1.
Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o mar agitado na época em
que Mateus escreveu o seu evangelho? Qual é hoje o mar agitado para nós? Alguma
vez, as águas agitadas do mar da vida já ameaçaram afogar você? O que te
salvou?
2.
Quem é Jesus para mim? Qual o nome de Jesus que melhor expressa minha fé e meu
amor?
Ladainha do
Preciosíssimo Sangue
Senhor,
tende piedade de nós.
Cristo,
tende piedade de nós.
Senhor,
tende piedade de nós.
Jesus
Cristo, ouvi-nos.
Jesus
Cristo, atendei-nos.
Deus
Pai do Céu, tende piedade de nós.
Deus
Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus
Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima
Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Sangue
de Cristo, Sangue do Filho Unigênito do Eterno Pai, salvai-nos.
Sangue
de Cristo, Sangue do Verbo de Deus encarnado,
Sangue
de Cristo, Sangue do Novo e Eterno Testamento,
Sangue de Cristo, derramado pela primeira vez na circuncisão,
Sangue
de Cristo, correndo pela terra na agonia,
Sangue
de Cristo, manando abundante na flagelação,
Sangue
de Cristo, gotejando na coroação de espinhos,
Sangue
de Cristo, derramado na cruz, salvai-nos.
Sangue
de Cristo, preço da nossa salvação,
Sangue
de Cristo, sem o qual não pode haver redenção,
Sangue
de Cristo, que apagais a sede das almas e as purificais na Eucaristia,
Sangue
de Cristo, torrente de misericórdia,
Sangue
de Cristo, vencedor dos demônios,
Sangue
de Cristo, fortaleza dos mártires,
Sangue
de Cristo, virtude dos confessores,
Sangue
de Cristo, que suscitais almas virgens,
Sangue
de Cristo, força dos tentados,
Sangue
de Cristo, alívio dos que trabalham,
Sangue
de Cristo, consolação dos que choram,
Sangue
de Cristo, esperança dos penitentes,
Sangue
de Cristo, conforto dos moribundos,
Sangue
de Cristo, paz e doçura dos corações,
Sangue
de Cristo, penhor de eterna vida,
Sangue
de Cristo, que libertais as almas do Purgatório,
Sangue
de Cristo, digno de toda a honra e glória,
Cordeiro
de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro
de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro
de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
V.
Remistes-nos, Senhor com o Vosso Sangue.
R. E fizestes de nós
um reino para o nosso Deus.
Oremos:
Todo-Poderoso
e Eterno Deus, que constituístes o Vosso Unigênito Filho, Redentor do mundo, e
quisestes ser aplacado com o seu Sangue, concedei-nos a graça de venerar o
preço da nossa salvação e de encontrar, na virtude que Ele contém, defesa
contra os males da vida presente, de tal modo que eternamente gozemos dos seus
frutos no Céu. Pelo mesmo Cristo, Senhor nosso. Assim seja.
Oferecimento
Eterno
Pai, eu Vos ofereço o Sangue preciosíssimo de Jesus Cristo em desconto dos meus
pecados, em sufrágio das santas almas do Purgatório e pelas necessidades da
Santa Igreja e por todos os doentes.
Súplica a Nossa
Senhora
Mãe
Dolorosa, peço-vos pelo Vosso sofrimento na morte de Vosso Filho, que ofereçais
ao Pai Eterno o precioso Sangue que jorrou das Chagas de Nosso Senhor Jesus
Cristo Crucificado pelos pobres Sacerdotes transviados, que se tornaram infiéis
a sua sublime vocação, para que quanto antes voltem junto ao Bom Pastor.
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