«EU SOU A RESSURREIÇÃO
E A VIDA»
A
passagem do Evangelho deste domingo, sobre a “ressurreição de Lázaro” ou a
“revivificação” de Lázaro”, narra o último dos sete sinais ou obras do quarto
Evangelho. Segundo João, antes de se enfrentar com a sua morte, Jesus manifesta
que é o Senhor da vida; declara solenemente em público que é a ressurreição e a
vida, que quem n’Ele crê, tem a vida para sempre. Agora é a nossa vez de
percebermos a Jesus como ressurreição e vida das nossas vidas. É tempo de
contemplarmos, também nós, a glória de Deus Vivo, em Jesus Cristo. É tempo de
reconhecermos a Jesus como “Messias”, “Filho de Deus Vivo”.
P. Tarcízio Morais, sdb
Evangelho
segundo S. João (Jo 11,1-45) - Naquele
tempo, estava doente certo homem, Lázaro de Betânia, aldeia de Marta e de
Maria, sua irmã. Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e Lhe
tinha enxugado os pés com os cabelos. Era seu irmão Lázaro que estava doente.
As irmãs mandaram então dizer a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente».
Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de
Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de
Marta, de sua irmã e de Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele
estava doente, ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava. Depois disse aos
discípulos: «Vamos de novo para a Judeia». Os discípulos disseram-Lhe: «Mestre,
ainda há pouco os judeus procuravam apedrejar-Te e voltas para lá? ». Jesus
respondeu: «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça,
porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem
luz consigo». Dito isto, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou
despertá-lo». Disseram então os discípulos: «Senhor, se dorme, estará salvo».
Jesus referia-se à morte de Lázaro, mas eles entenderam que falava do sono
natural. Disse-lhes então Jesus abertamente: «Lázaro morreu; por vossa causa,
alegro-Me de não ter estado lá, para que acrediteis. Mas, vamos ter com ele».
Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros: «Vamos nós também, para morrermos
com Ele». Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros. Muitos judeus tinham
ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do
irmão. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu
encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor,
se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora,
tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão
ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição
do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita
em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em
Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto? ». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que
Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Dito isto,
retirou-se e foi chamar Maria, a quem disse em segredo: «O Mestre está ali e
manda-te chamar». Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus.
Jesus ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar em que Marta viera
ao seu encontro. Então os judeus que estavam com Maria em casa para lhe
apresentar condolências, ao verem-na levantar-se e sair rapidamente,
seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para chorar. Quando chegou aonde
estava Jesus, Maria, logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe: «Senhor, se
tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido». Jesus, ao vê-la chorar, e
vendo chorar também os judeus que vinham com ela, comoveu-Se profundamente e
perturbou-Se. Depois perguntou: «Onde o pusestes? ». Responderam-Lhe: «Vem ver,
Senhor». E Jesus chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas
alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia
também ter feito que este homem não morresse? ». Entretanto, Jesus, intimamente
comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse
Jesus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor,
pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se
acreditasses, verias a glória de Deus? ». Tiraram então a pedra. Jesus,
levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu
bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos
cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte:
«Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e
o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir».
Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera,
acreditaram n’Ele.
Naquele tempo, estava doente certo homem, Lázaro de Betânia,
aldeia de Marta e de Maria, sua irmã. Maria era aquela que tinha ungido o
Senhor com perfume e Lhe tinha enxugado os pés com os cabelos. Era seu irmão
Lázaro que estava doente. As irmãs mandaram então dizer a Jesus: «Senhor, o teu
amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é
para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem».
Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.
A
narração da “revivificação” de Lázaro inicia-se com a apresentação dos
protagonistas: Lázaro (que quer dizer “Deus ajuda”), as suas irmãs (Marta e
Maria) e Jesus. Lázaro está doente e as irmãs fazem chegar a notícia a Jesus,
sem pedir, explicitamente, a sua intervenção. Jesus comenta a notícia dizendo
que não se trata de uma doença de morte, mas para glória de Deus e glorificação
do Filho. Do quadro, percebemos, desde o início, a amizade de Jesus por esta
família.
Anunciam
a Jesus a morte de um amigo e ele não se apressa. Deixa que tudo aconteça para
que resplandeça a força que o Pai lhe dá. Aquela família de Betânia era
realmente próxima de Jesus. O que nos mostra como Jesus era próximo daqueles
que ama e daqueles que o amam. Esta é uma “amizade”, uma presença, uma
intimidade que também nós desejamos e queremos, mas nem sempre conseguimos.
Porque nos falta a entrega, porque nos falta a disponibilidade, porque nos
falta amor. Preocupados com mil coisas, pomos de lado aquilo que é fundamental.
E tudo isto, para maior glória de Deus!
Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros. Muitos judeus tinham
ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do
irmão. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu
encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor,
se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora,
tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá».
Jesus
não chega a tempo: Lázaro morreu já há mais de três dias. Betânia fica a três
quilómetros de Jerusalém e depressa a notícia chegará aos chefes dos judeus que
aqui encontram um motivo mais para o condenar. Marta, dirigindo-se a Jesus,
revela toda a sua confiança em Jesus, reconhecendo-O capaz de pedir a
intervenção de Deus, como enviado do Pai.
Como
Marta, podemos dizer: “Jesus, tudo o que pedires, Deus to concede. Tudo o que
amas, Deus torna verdade. Tudo o que és, Deus torna plenitude. Tudo o que és,
Deus transforma em amor”. A distância desta presença de Jesus empobrece,
destrói, é sinal de morte. Quando Jesus está presente, a vida ganha contornos
de eternidade e promessa de uma vida para sempre. Quando Jesus está ausente, tudo
parece ir morrendo, perdendo a esperança, perdendo o sentido. Para mim só há
uma atitude: estar sempre “com Ele” e “Ele em mim”, e tudo fazer para que nada
de Si seja ausência. E para ti?
Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu
sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido,
viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?
». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo».
A
questão da ressurreição ganha aqui um sentido de eternidade, de anúncio de uma
realidade nova que há de suceder no fim dos tempos: trata-se de um enunciado da
fé judaica (a ressurreição no último dia). Mas mais importante, é a confissão
de fé de Maria, reconhecendo a Jesus como Messias, fazendo-nos recordar a
expressão de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16).
Esta
é uma narração que tem como objetivo uma pedagogia da fé em Jesus Cristo que é
ressurreição e vida. Se a fé é o lugar da ressurreição, o amor é a força que
impulsiona. Em nós, toda esta dinâmica de fé, move-nos a uma vida diferente; a
um compromisso com quem sofre; a uma resposta constante. Nada, nem sequer a
morte, nos demove neste processo de identidade com Jesus, o Messias, o Filho de
Deus que veio estar conosco e oferecer-nos um projeto maior. Difícil é
reconhecê-lo, a cada instante, neste nosso existir, como o “Messias” do nosso
sentido. Que tens feito para o reconheceres, cada vez mais, como teu Senhor e
Messias?
Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria, a quem disse em
segredo: «O Mestre está ali e manda-te chamar». Logo que ouviu isto, Maria
levantou-se e foi ter com Jesus. (...) Quando chegou aonde estava Jesus, Maria,
logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe: «Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido».
Marta
chama sua irmã Maria e avisa-a da presença de Jesus. Parece que o melhor que há
a fazer é chorar a morte de Lázaro, com a certeza de que, se Jesus tivesse
estado presente, seu irmão não teria morrido…
Maria
tem um papel de contemplação que a diferencia da atitude de Marta. Agora, Maria
reconhece em Jesus, a possibilidade de poder ter evitado tal fim. Mas estão em
causa “bens maiores”: a necessidade de dar testemunho de Jesus. Está em causa o
ser de Jesus que, simultaneamente, se comove como homem entre os homens, e,
transcendendo-se, se manifesta como presença de Deus capaz de dar de novo a
vida ao seu amigo. Nada está perdido: desde que Jesus esteja presente. Também
assim é na nossa vida: nada está perdido, desde que Jesus esteja, realmente, conosco…
Jesus, ao vê-la chorar, e vendo chorar também os judeus que
vinham com ela, comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. Depois perguntou:
«Onde o pusestes? ». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus chorou. Diziam
então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles observaram: «Então
Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito que este homem não morresse?
». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta,
com uma pedra posta à entrada.
A
última cena do relato abre-se com a descrição da profunda comoção de Jesus:
comove-se e chora. Na amizade de Jesus percebe-se a sua mais profunda
humanidade. “Vede como era seu amigo” - reconhecem os presentes, colocando-o,
imediatamente a seguir, em juízo, pela incapacidade de fazer agora o que quer
que seja.
Vede
como era seu amigo. Jesus comove-se diante da morte do amigo, diante do
sofrimento que esta morte gera. E chora. Esta dor, em aparente contradição com
a divindade de Jesus, demonstra até que ponto Jesus se fez próximo dos seus,
dos seus amigos, de cada um de nós. Isto dá-nos também a certeza de que no
momento das nossas dores, Jesus está conosco porque conhece o que sentimos,
como o sentimos e o que significa para nós, a dor, a tristeza e a morte.
Cristo, de facto, não é um Deus longe do mundo: porque não é ainda “o
protagonista” total, do “nosso mundo”? Porque é que, tantas vezes, o queremos
“longe” de nós, quando, de facto, Ele quer estar tão perto?
Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Jesus:
«Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois
morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses,
verias a glória de Deus? ». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos
ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre
Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem
que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora».
O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num
sudário.
A
descrição do espaço e do tempo em que Lázaro se encontra (uma gruta, com uma
pedra, depois de mais de três dias) faz-nos lembrar o espaço e o tempo de uma
outra ressurreição que esta antecipa: a de Jesus. Aqui o objetivo é a “glória
de Deus”, de modo a despertar a fé dos que ali estão presentes. Marta interpõe
o argumento do tempo que passou; da possível decomposição do corpo. Desta
forma, serão introduzidas as razões teológicas da revelação de Jesus que se
apresenta como “ressurreição e vida”. Da morte à ressurreição plena.
Depois
da comoção, Jesus dá graças a Deus e grita: “Lázaro, sai para fora”. Muitos acreditaram
nele. É esse o objetivo fundamental da nossa vida: acreditar em Jesus como
Filho de Deus. No Evangelho de João este é o último dos “sinais” de Jesus. É o
sinal que faz compreender a verdadeira identidade de Jesus. Depois, falta
apenas a sua paixão e morte, que se concluirá com a sua vitória gloriosa da sua
ressurreição. A nós, é-nos pedida esta fé que desperta respostas diferentes,
mas respostas de vida. Para uma vida com sabor de eternidade. A nossa
eternidade, na ressurreição de Jesus.
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