A
Quinta-feira Santa, primeiro dia do Tríduo Pascal, encontra-se no cruzamento da
Quaresma com a Páscoa; último dia da Quaresma, a missa vespertina introduz no
Tríduo Pascal, ela é a preparação final da Páscoa e inicia já a celebração
pascal. Preparação é a palavra chave. Assim se deu com a primeira Quinta-feira
Santa, quando Jesus enviou Pedro e João: “Ide e preparai tudo para comermos a
Páscoa ” (Lc 22,8-13).
Celebram-se
duas Missas: Uma na Catedral – Missa do Crisma – e outra nas Paróquias – A Missa vespertina da Ceia do Senhor.
A Missa do Crisma
Ocorre
de manhã, na Catedral. Nesta Missa a Igreja consagra o Santo Crisma para as
unções do Batismo e da Confirmação e benze os Óleos tradicionalmente chamados
dos catecúmenos e dos enfermos. É este um rito próprio do Bispo, em volta do
qual se reúnem, para com ele celebrar a Eucaristia todos os Sacerdotes da
Diocese (diocesanos e religiosos), numa prova de unidade eclesial. A ênfase
recai no tema do sacerdócio e sua instituição por Cristo. Nesta Missa, uma das
características mais impressionantes é, renovação dos Sacerdotes do seu
compromisso de serviço à comunidade dos crentes, reafirmam o seu desejo de
fidelidade ao Espírito.
A Missa da Ceia do
Senhor
Na
Quinta feira Santa, véspera da Paixão, Jesus juntou-se com seus discípulos para
comer com eles a páscoa. Com o banquete pascal, o povo hebreu revivia, todos os
anos, a libertação do Egito e a sua constituição como “povo”, em consequência
dessa ação libertadora de Deus. Através desse rito pascal, que consistia na
imolação de um cordeiro, agradeciam também como Deus estive sempre presente, ao
longo dos séculos, ajudando ao povo, fiel a sua Aliança, e proclamavam a sua
esperança na libertação definitiva.
Mas
Cristo quis fazer dessa refeição, o alimento da Nova e definitiva Aliança,
selada com seu sangue. Por isso instituiu, sob os sinais de pão e do vinho,
mudados em seu corpo e sangue, o memorial do sacrifício que ele oferecerá ao
dia seguinte sobre a cruz.
Neste
encontro da Quinta-feira Santa, Jesus vai humilhar-se como o último dos servos
lavando os pés dos discípulos. Nesse dia da primeira Eucaristia, ele nos lembra
que toda sua vida foi um serviço dos homens.
Todo
o ministério de Jesus foi uma permanente entrega ao povo necessitado. Os
enfermos, endemoniados e marginalizados receberam de Jesus uma mão amiga. Todos
os tocados por Cristo, compartilharam a sua mesa e foram considerados felizes.
Até o final de sua vida terrena, Jesus entrega tudo o que é, tudo o que sabe,
tudo o que tem. Agora se prepara para entregar definitivamente sua existência
humana para tornar todas as demais, de antes e depois dele, em existência
perdoada e divinizada.
Atenção!
Jesus se impõe à dureza do inevitável. Ele conhecia perfeitamente a sorte dos
profetas que o precederam. João Batista foi assassinado por leviandades da
rainha da corte de Herodes. Outros muitos morreram por reivindicações menores.
A morte dos profetas era uma tentativa de calar a voz de Deus. Em meio a esta
situação, Jesus encontra o momento propício para demonstrar que a entrega pela
causa do Reino começa e termina nos pequenos e quotidianos gestos de entrega,
perdão e generosidade.
Nosso
Senhor Jesus Cristo realiza com gosto e convicção uma atividade reservada para
os serventes: toma os pés de seus discípulos, os lava e seca um a um. A mão que
serve, a mão que acaricia, é a mesma mão que está disposta a deixar-se
traspassar pela injustiça a fim de reclamar justiça.
O
Filho de Deus não começa seu testemunho estendendo os braços na cruz. Seus
braços e suas mãos já anteciparam a autenticidade do seu testemunho. Sua mão já
se estendeu em direção ao enfermo para resgatá-lo da prostração; sua mão já auxiliou
os indigentes na busca da dignidade; sua mão resgatou homens da morte e lhes
outorgou novamente a vida.
Às
vezes pensamos que é fácil deixar-se ajudar pelos outros, no entanto a
realidade é diferente.
Pedro
estava disposto a entregar a sua vida por Jesus e pelo evangelho, mas não
compreendia as intenções de Jesus e não aceitava sua mensagem.
Para
Pedro, o Mestre era o chefe e o discípulo, um simples subalterno! Jesus como
sempre os surpreende com uma terrível novidade: o Mestre é o servidor de todos
e o discípulo é digno das maiores atenções… a única maneira de reinar é o
serviço. Lavar os pés do companheiro de jornada significa compartilhar as
dificuldades, compreender suas limitações, aceitar sua oferta. Lavar os pés do
amigo implica um contato imediato com a parte do corpo que está submergida no
barro da existência quotidiana… Este gesto tão singular e surpreendente não é
fácil de entender e aceitar.
Lavar
os pés significa inclinar-se diante do outro, aceitar que o serviço é a única
entrega. Os discípulos haviam-se preparado para pregar, para expulsar demônios,
para ensinar… tudo isto exigia muita preparação e dedicação! No entanto, não
estavam preparados para assumir uma tarefa humilde, a mesma que realizam os
empregados da casa, porque esta tarefa implica prostrar-se, entrar em contacto
com a terra, o barro e a sujeira! Os discípulos deverão passar por muitas
dificuldades antes de compreender o que significa prestar um serviço generoso e
desinteressado sem fazer alarde de humildade, e deixar-se servir pelos demais
sem menosprezar o serviço alheio.
A
Eucaristia é o sinal permanente e atual do amor gratuito que puxou Jesus a
doar-se totalmente. Participar na Eucaristia significa entrar na lógica da
caridade, do amor gratuito que vem de Deus, para tornar-se igualmente “sinais
vivos” e instrumentos do amor verdadeiro de Deus para todos os homens.
Poderíamos
dizer que quinta-feira santa, marca uma celebração capital dentro de todo o ano
litúrgico, celebração solene e grandiosa moldurada no contexto dramático da
proximidade da paixão e morte do Senhor. É o dia cume da despedida e do amor
extremo feito serviço humilde e generoso. Muitas são as facetas que se
entrecruzam neste dia, as principais são:
-
Dia do amor fraterno: Nesse dia ressoa na comunidade o mandamento novo,
mandamento do amor, do amor “como eu vos tenho amado”. “Amei-vos até o fim”,
até fazer-me servo e escravo num tipo de serviço considerado humilhante e
próprio dos escravos (lavar os pés). “Eu vos dei o exemplo”. “Vós também deveis
lavar os pés uns dos outros.” Trata-se de uma proclamação do mandamento do amor
feita não com palavras mas com um sinal prático, o serviço. Amar é servir. Ama
quem serve. Obras são amores.
-
Instituição da Eucaristia: Para o evangelista São João, a instituição da
Eucaristia está ligada estreitamente ao lava-pés. A Eucaristia expressa e
constitui o sacramento do amor de uma maneira visível, assim como o lava-pés.
Jesus parte e reparte o pão e o vinho, e diz: “Fazei isto em minha memória”, ou
seja: para recordar-me fazei isto; ou também: partir e repartir a própria
existência será a forma de seguir-me que melhor testemunha e faz memória de
mim. Celebrar a Eucaristia, a fração do pão, será sempre muito mais que ouvir a
missa: “cada vez que comemos deste pão… anunciamos a morte do Senhor até que
Ele venha.”
-
Instituição do Sacerdócio: Tradicionalmente esta instituição tem data nesta
celebração. É claro que Jesus não institui sacerdotes. O que se apoia em Jesus
é um ministério ordenado de serviço à comunidade cristã que reproduz e dá
continuidade à sua presença no meio a comunidade.
Depois
da Missa, somos convidados a prolongar nossa oração, para entrar no mistério da
paixão. “Não haveis podido velar uma hora comigo?” dizia Jesus aos apóstolos
nessa noite. Assim, com uma vigília de oração nos associamos a Cristo que
começa sua Paixão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO