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quarta-feira, 16 de abril de 2014

QUINTA FEIRA SANTA: Ceia do Senhor

A Quinta-feira Santa, primeiro dia do Tríduo Pascal, encontra-se no cruzamento da Quaresma com a Páscoa; último dia da Quaresma, a missa vespertina introduz no Tríduo Pascal, ela é a preparação final da Páscoa e inicia já a celebração pascal. Preparação é a palavra chave. Assim se deu com a primeira Quinta-feira Santa, quando Jesus enviou Pedro e João: “Ide e preparai tudo para comermos a Páscoa ” (Lc 22,8-13).

Celebram-se duas Missas: Uma na Catedral – Missa do Crisma – e outra nas Paróquias –  A Missa vespertina da Ceia do Senhor.

A Missa do Crisma

Ocorre de manhã, na Catedral. Nesta Missa a Igreja consagra o Santo Crisma para as unções do Batismo e da Confirmação e benze os Óleos tradicionalmente chamados dos catecúmenos e dos enfermos. É este um rito próprio do Bispo, em volta do qual se reúnem, para com ele celebrar a Eucaristia todos os Sacerdotes da Diocese (diocesanos e religiosos), numa prova de unidade eclesial. A ênfase recai no tema do sacerdócio e sua instituição por Cristo. Nesta Missa, uma das características mais impressionantes é, renovação dos Sacerdotes do seu compromisso de serviço à comunidade dos crentes, reafirmam o seu desejo de fidelidade ao Espírito.

A Missa da Ceia do Senhor

Na Quinta feira Santa, véspera da Paixão, Jesus juntou-se com seus discípulos para comer com eles a páscoa. Com o banquete pascal, o povo hebreu revivia, todos os anos, a libertação do Egito e a sua constituição como “povo”, em consequência dessa ação libertadora de Deus. Através desse rito pascal, que consistia na imolação de um cordeiro, agradeciam também como Deus estive sempre presente, ao longo dos séculos, ajudando ao povo, fiel a sua Aliança, e proclamavam a sua esperança na libertação definitiva.

Mas Cristo quis fazer dessa refeição, o alimento da Nova e definitiva Aliança, selada com seu sangue. Por isso instituiu, sob os sinais de pão e do vinho, mudados em seu corpo e sangue, o memorial do sacrifício que ele oferecerá ao dia seguinte sobre a cruz.

Neste encontro da Quinta-feira Santa, Jesus vai humilhar-se como o último dos servos lavando os pés dos discípulos. Nesse dia da primeira Eucaristia, ele nos lembra que toda sua vida foi um serviço dos homens.

Todo o ministério de Jesus foi uma permanente entrega ao povo necessitado. Os enfermos, endemoniados e marginalizados receberam de Jesus uma mão amiga. Todos os tocados por Cristo, compartilharam a sua mesa e foram considerados felizes. Até o final de sua vida terrena, Jesus entrega tudo o que é, tudo o que sabe, tudo o que tem. Agora se prepara para entregar definitivamente sua existência humana para tornar todas as demais, de antes e depois dele, em existência perdoada e divinizada.

Atenção! Jesus se impõe à dureza do inevitável. Ele conhecia perfeitamente a sorte dos profetas que o precederam. João Batista foi assassinado por leviandades da rainha da corte de Herodes. Outros muitos morreram por reivindicações menores. A morte dos profetas era uma tentativa de calar a voz de Deus. Em meio a esta situação, Jesus encontra o momento propício para demonstrar que a entrega pela causa do Reino começa e termina nos pequenos e quotidianos gestos de entrega, perdão e generosidade.

Nosso Senhor Jesus Cristo realiza com gosto e convicção uma atividade reservada para os serventes: toma os pés de seus discípulos, os lava e seca um a um. A mão que serve, a mão que acaricia, é a mesma mão que está disposta a deixar-se traspassar pela injustiça a fim de reclamar justiça.

O Filho de Deus não começa seu testemunho estendendo os braços na cruz. Seus braços e suas mãos já anteciparam a autenticidade do seu testemunho. Sua mão já se estendeu em direção ao enfermo para resgatá-lo da prostração; sua mão já auxiliou os indigentes na busca da dignidade; sua mão resgatou homens da morte e lhes outorgou novamente a vida.

Às vezes pensamos que é fácil deixar-se ajudar pelos outros, no entanto a realidade é diferente.

Pedro estava disposto a entregar a sua vida por Jesus e pelo evangelho, mas não compreendia as intenções de Jesus e não aceitava sua mensagem.

Para Pedro, o Mestre era o chefe e o discípulo, um simples subalterno! Jesus como sempre os surpreende com uma terrível novidade: o Mestre é o servidor de todos e o discípulo é digno das maiores atenções… a única maneira de reinar é o serviço. Lavar os pés do companheiro de jornada significa compartilhar as dificuldades, compreender suas limitações, aceitar sua oferta. Lavar os pés do amigo implica um contato imediato com a parte do corpo que está submergida no barro da existência quotidiana… Este gesto tão singular e surpreendente não é fácil de entender e aceitar.

Lavar os pés significa inclinar-se diante do outro, aceitar que o serviço é a única entrega. Os discípulos haviam-se preparado para pregar, para expulsar demônios, para ensinar… tudo isto exigia muita preparação e dedicação! No entanto, não estavam preparados para assumir uma tarefa humilde, a mesma que realizam os empregados da casa, porque esta tarefa implica prostrar-se, entrar em contacto com a terra, o barro e a sujeira! Os discípulos deverão passar por muitas dificuldades antes de compreender o que significa prestar um serviço generoso e desinteressado sem fazer alarde de humildade, e deixar-se servir pelos demais sem menosprezar o serviço alheio.

A Eucaristia é o sinal permanente e atual do amor gratuito que puxou Jesus a doar-se totalmente. Participar na Eucaristia significa entrar na lógica da caridade, do amor gratuito que vem de Deus, para tornar-se igualmente “sinais vivos” e instrumentos do amor verdadeiro de Deus para todos os homens.

Poderíamos dizer que quinta-feira santa, marca uma celebração capital dentro de todo o ano litúrgico, celebração solene e grandiosa moldurada no contexto dramático da proximidade da paixão e morte do Senhor. É o dia cume da despedida e do amor extremo feito serviço humilde e generoso. Muitas são as facetas que se entrecruzam neste dia, as principais são:

- Dia do amor fraterno: Nesse dia ressoa na comunidade o mandamento novo, mandamento do amor, do amor “como eu vos tenho amado”. “Amei-vos até o fim”, até fazer-me servo e escravo num tipo de serviço considerado humilhante e próprio dos escravos (lavar os pés). “Eu vos dei o exemplo”. “Vós também deveis lavar os pés uns dos outros.” Trata-se de uma proclamação do mandamento do amor feita não com palavras mas com um sinal prático, o serviço. Amar é servir. Ama quem serve. Obras são amores.

- Instituição da Eucaristia: Para o evangelista São João, a instituição da Eucaristia está ligada estreitamente ao lava-pés. A Eucaristia expressa e constitui o sacramento do amor de uma maneira visível, assim como o lava-pés. Jesus parte e reparte o pão e o vinho, e diz: “Fazei isto em minha memória”, ou seja: para recordar-me fazei isto; ou também: partir e repartir a própria existência será a forma de seguir-me que melhor testemunha e faz memória de mim. Celebrar a Eucaristia, a fração do pão, será sempre muito mais que ouvir a missa: “cada vez que comemos deste pão… anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha.”

- Instituição do Sacerdócio: Tradicionalmente esta instituição tem data nesta celebração. É claro que Jesus não institui sacerdotes. O que se apoia em Jesus é um ministério ordenado de serviço à comunidade cristã que reproduz e dá continuidade à sua presença no meio a comunidade.

Depois da Missa, somos convidados a prolongar nossa oração, para entrar no mistério da paixão. “Não haveis podido velar uma hora comigo?” dizia Jesus aos apóstolos nessa noite. Assim, com uma vigília de oração nos associamos a Cristo que começa sua Paixão.

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