«Dá-me de beber»
No
encontro com a samaritana Jesus oferece a água viva que permanece. Que
transforma. A água que é vida. No encontro de Jesus com cada um de nós, somos
chamados a partilhar uma vida nova, a transformar o nosso interior para a
identidade plena com ele. Porque ele é o Messias, Senhor. Ele é a fonte do
nosso existir e da nossa fé. O sentido do nosso sentido. Estaremos dispostos,
também nós a beber da sua água de compromisso e vida nova?
Pe.
David Teixeira, sdb
Evangelho
segundo S. João (Jo 4,5-42) - Naquele
tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, junto da
propriedade que Jacó tinha dado a seu filho José, onde estava a fonte de Jacó.
Jesus, cansado da caminhada, sentou-se à beira do poço. Era por volta do
meio-dia. Veio uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dá-me
de beber”. Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Respondeu-lhe a
Samaritana: “Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu
samaritana?”. De fato, os judeus não se dão com os samaritanos. Disse-lhe
Jesus: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-me de
beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva”. Respondeu-lhe a
mulher: “Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a
água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do
qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?”. Disse-lhe Jesus:
“Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da
água que eu lhe der nunca mais terá sede: a água que eu lhe der tornar-se-á
nele uma nascente que jorra para a vida eterna”. “Senhor – suplicou a mulher –
dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui
buscá-la. Vejo que és profeta. Os nossos pais adoraram neste monte e vós dizeis
que é em Jerusalém que se deve adorar”. Disse-lhe Jesus: “Mulher, podes
acreditar em mim: vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém
adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que
conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora – e já
chegou – em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e
verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os
seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade”. Disse-lhe a mulher: “Eu
sei que há de vir o Messias, isto é, aquele que chamam Cristo. Quando vier há de
anunciar-nos todas as coisas”. Respondeu-lhe Jesus: “Sou Eu, que estou a falar
contigo”. Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da
palavra da mulher. Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus, pediram-lhe
que ficasse com eles. E ficou lá dois dias. Ao ouvi-lo, muitos acreditaram e
diziam à mulher: “Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios
ouvimos e sabemos que ele é realmente o Salvador do mundo”
MEDITAÇÃO:
Naquele tempo, chegou Jesus a uma
cidade da Samaria. Jesus, cansado da caminhada, sentou-se à beira do poço. Veio
uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dá-me de beber”.
Jesus
e os seus discípulos chegam a Samaria e, fatigados da viagem, resolvem fazer
uma pausa para restaurar forças. Enquanto os discípulos vão à procura de
comida, Jesus senta-se à beira de um poço. Naquele mesmo momento, vem uma
mulher para tirar água. E, inesperadamente, dá-se um encontro, porque Jesus
toma a iniciativa e faz um pedido.
Surpreende-me
ver um Jesus que é peregrino, que se cansa, que procura descanso, que toma a
iniciativa do encontro e que faz pedidos. O que posso aprender com Ele? No meu
cansaço, sei procurar descanso? Como é o meu descanso? Lembro-me de descansar
em Jesus? Se assim o fizesse, uma vez que é Ele que toma a iniciativa, Ele
encontrar-me-ia. O que me pediria? Talvez agora entenda porque é que procuro
preencher tanto o meu dia: para não ter estes momentos de descanso, ser
encontrado/a por Ele e não ter que atender aos seus pedidos...
Respondeu-lhe a Samaritana: “Como é
que Tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?”. De facto, os
judeus não se dão com os samaritanos.
A
samaritana aponta uma desculpa para atender o pedido de Jesus e,
consequentemente, uma desculpa para que não se dê o encontro entre eles:
recorda a Jesus que ele é judeu e ela samaritana, ou seja, ‘inimigos’ de longa
data, por causa das divergências históricas e religiosas.
Tal
como a samaritana, também eu sou capaz de “inventar” desculpas para evitar o
encontro, uma vez que os encontros me “obrigam” a sair de mim mesmo/a e a
prestar atenção ao outro. Que desculpas são as que dou para não me encontrar
com Jesus, com os outros e comigo mesmo/a? A falta de tempo, o cansaço, o
desconhecimento, o medo, a insegurança, a avareza, as diferenças (culturais,
económicas, religiosas)?
Disse-lhe Jesus: “Se conhecesses o
dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu é que Lhe pedirias
e Ele te daria água viva”. Respondeu-lhe a mulher: “Senhor, Tu nem sequer tens
um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva?”.
O
encontro ganha uma outra intensidade com esta segunda intervenção de Jesus. Ele
rejeita qualquer desculpa para o encontro, remete para o conhecimento de Deus e
de si e já não se refere à água do poço mas à água viva. No entanto, a
samaritana ainda oferece alguma resistência mas, por outro lado, questiona
sobre a água viva, o que mostra interesse e alguma sintonia.
Também
o meu “problema” é uma falta de conhecimento de Deus e de Jesus. Se os
conhecesse, amá-los-ia mais, segui-los-ia mais, e agiria mais como eles. Neste
ainda início de caminhada quaresmal, o que posso fazer para conhecer mais Deus
e Jesus? Onde os posso conhecer? Na Palavra, nos Sacramentos – sobretudo na
Eucaristia e Reconciliação –, na Igreja, nos pobres, na oração, e até mesmo na
natureza...
Disse-lhe Jesus: “Todo aquele que
bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca mais terá sede: a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que
jorra para a vida eterna”. “Senhor – suplicou a mulher – dá-me dessa água, para
que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la”.
Jesus
vai dando a conhecer-se à samaritana. Se antes falava da sua sede e da água
viva, agora identifica-se com aquele que é capaz de dar uma água que saciará
para sempre a sede e que conduzirá à vida plena quem dela beber. Apercebendo-se
disto, a samaritana não hesita em suplicar que lhe dê a beber dessa água, mas
pelos motivos errados: para não ter mais sede e não ter mais o trabalho de ir
buscar água.
A
palavra-chave é conhecer! Jesus dá-se a conhecer. Sou capaz de lhe dedicar
atenção, como a samaritana o fez? Se estivesse atento/a às vezes que Ele se
encontra comigo para se dar a conhecer… Estou disposto/a a conhecê-lo mais e melhor?
Dou-me conta que só ele é capaz de matar todas as minhas sedes e, sobretudo, a
sede de uma vida plena, para sempre?
“Vejo que és profeta”. Disse-lhe
Jesus: “… vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros adoradores
hão de adorar o Pai em espírito e verdade...”. Disse-lhe a mulher: “Eu sei que
há de vir o Messias... Quando vier há de anunciar-nos todas as coisas”.
Respondeu-lhe Jesus: “Sou Eu, que estou a falar contigo”.
O
encontro vai chegando ao fim e intensifica-se o conhecimento. Jesus vai revelar
a sua verdadeira identidade e a verdadeira identidade de Deus. De profeta,
sugerido por ela, ele passa para o Messias esperado por ela e confirmado por ele.
E deixando para trás o Deus adorado num lugar específico, anuncia-lhe o Deus
adorado em qualquer lugar, desde que em espírito e verdade.
Quem
é Jesus para mim? É apenas um bom homem, um homem excepcional, um mártir, um
revolucionário, um profeta, ou é também o Enviado, o Filho de Deus, o revelador
do verdadeiro rosto de Deus e da verdadeira vontade de Deus?
Muitos samaritanos daquela cidade
acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher. Quando os samaritanos
vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. Ao ouvi-lo,
muitos acreditaram e diziam à mulher: “Já não é por causa das tuas palavras que
acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que ele é realmente o Salvador do
mundo”.
A
samaritana, tendo conhecido verdadeiramente Jesus como o Messias, partilha com
os seus conterrâneos esta novidade e eles passam a acreditar. Por causa desta
sua fé, vão ao encontro de Jesus – aqui a iniciativa do encontro já não é de
Jesus –, pedem-lhe que fique com eles, escutam-No e acabam por conhecê-lo como
o Salvador do mundo.
Sou capaz de ser como a samaritana e partilhar com os outros a novidade de Jesus como Enviado, Filho e Revelador de Deus? Sou consciente de que se for capaz, muitos poderão ir ao encontro de Jesus e conhecerem-no como Salvador das suas vidas e do mundo? Se não sou capaz, isso deve-se apenas ao fato de que ainda não permiti que ele se encontrasse verdadeiramente comigo...
Sou capaz de ser como a samaritana e partilhar com os outros a novidade de Jesus como Enviado, Filho e Revelador de Deus? Sou consciente de que se for capaz, muitos poderão ir ao encontro de Jesus e conhecerem-no como Salvador das suas vidas e do mundo? Se não sou capaz, isso deve-se apenas ao fato de que ainda não permiti que ele se encontrasse verdadeiramente comigo...
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