"Olha, o Desejado de todos os povos está lá fora,
batendo à porta. Ai! Se se retirasse porque hesitas… Levanta-te, apressa-te,
abre! Levanta-te graças à fé, apressa-te graças à tua dedicação, abre graças ao
teu consentimento" (São Bernardo de Claraval, Hom. IV 8).
Dos
Sermões de São Bernardo, abade
Na plenitude dos tempos, veio a nós a
plenitude da divindade.
Apareceu
a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (cf. Tt 3,4). Demos graças a
Deus que nos dá tão abundante consolação neste exílio, nesta peregrinação,
nesta vida tão miserável.
Antes
de aparecer a sua humanidade, a sua bondade também se encontrava oculta; e, no
entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como
poderíamos conhecer tão grande misericórdia? Estava prometida, mas não era
experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos
modos, Deus falou por meio dos profetas (cf. Hb 1,1). E dizia: Eu tenho pensamentos
de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11).
E o que respondia o homem, que
experimentava a aflição e desconhecia a paz? Até quando direis paz, paz e não
há paz? Por esse motivo, os mensageiros da paz choravam amargamente (cf. Is
33,7), dizendo: Senhor, quem acreditou no que ouvimos? (cf. Is 53,1). Agora,
porém, os homens podem acreditar ao menos no que vêem com seus olhos, pois os
testemunhos de Deus são verdadeiros (cf. Sl 92,5); e para se tornar visível,
mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, armou uma tenda para o sol (Sl
18,6).
Agora,
portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas
concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim
dizer, como um saco pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na
paixão para derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que
embora pequeno estava repleto. Pois, um menino nos foi dado (cf. Is 9,5), mas
nele habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9). Quando chegou a plenitude
dos tempos, veio também a plenitude da divindade.
Veio
na carne para se revelar aos que eram de carne, de modo que, ao aparecer sua
humanidade, sua bondade fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus
manifestou sua humanidade, sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia
expressar melhor sua bondade senão assumindo minha carne? Foi precisamente a
minha carne que ele assumiu, e não a de Adão, tal como era antes do pecado.
Poderá
haver prova mais eloqüente de sua misericórdia do que assumir nossa miséria? Poderá
haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo
por nossa causa? Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o
tratardes com tanto carinho? (Sl 8,5). Por isso, compreenda o homem até que
ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito.
Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo
tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim
compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou
em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se
humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo:
Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é
grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade
Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus.
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