«A VIRGEM CONCEBERÁ E DARÁ À LUZ UM
FILHO, CHAMADO EMANUEL, DEUS- CONOSCO»
O
quarto Domingo do Advento introduz-nos no Natal através das duas figuras mais
silenciosas deste tempo forte: Maria e José. A concepção e o nascimento de
Jesus são um desafio para a humanidade. Deus e humanidade estabelecem uma
Aliança desde sempre prometida. Quem celebra o Natal sabe que é necessário
fazer bons propósitos, mas também sabe que é chamado a acolher os dons de Deus
com confiança, sem reservas, como os pais do Emanuel. Deus entra na nossa
história com uma presença nova: é o Deus conosco. Deus não rompe os laços
humanos mas enche-os de um novo significado. E assim a salvação da humanidade é
fruto da iniciativa de Deus e da colaboração humana. Assim nos dará exemplo
também S. José.
Ir.
Anabela Silva fma
Evangelho
(Mt 1, 18- 24) - “O nascimento de Jesus
deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido
em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu
esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo.
Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que
lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o
que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu por-lhe-ás
o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» Tudo isto
aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que
diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado “Emanuel”, que
quer dizer “Deus conosco”.» Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do
Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.”
MEDITAÇÃO
«O nascimento de Jesus deu-se do
seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum,
encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo.».
O
Evangelho de Mateus inicia com a complicada genealogia de Jesus, seguindo-se a
narração do nascimento «O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo…». Um bom
versículo para iniciar o nosso caminho de como possa realmente nascer Jesus nos
nossos corações. Maria, noiva de José, antes de terem vivido em comum,
encontrava-se à espera de um filho, com a agravante de que, segundo a lei e os
costumes , as promessas que precediam a boda eram já um compromisso matrimonial
firme e os desposados eram já marido e mulher. Neste tempo Maria fica grávida
por ação do Espírito Santo. E para falar do Espírito, Mateus apresenta-o como
uma força, um sopro divino criador. Sublinha-se assim uma verdade fundamental
para nós, crentes: Jesus não é apenas homem, Ele vem do Alto, Ele é Deus. Por
meio de Maria, Jesus entra na nossa história humana, Deus revela o seu amor por
todo o homem e por Ele dá acesso à Sua mesma vida divina.
«O
nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo…» como nasce Jesus na minha vida?
Interessante parar, pensar e relatar o modo como Jesus entra na vida de cada um
de nós. Em confronto com a passagem
bíblica, entra na vida de Maria e encontra acolhimento, ternura e coração
disponível para nascer e crescer. O projeto de Deus passa das promessas e
profecias à realidade; a ação do Espírito é algo criador e dá fecundidade ao
Amor desde sempre revelado. O sinal é potente, poderoso, grande, e não se vê.
Pedirá a fé. E pelo SIM de Maria, Deus encarna, faz-se carne, torna-se um de
nós para nos salvar. O nascimento de Jesus na minha vida deu-se do seguinte
modo… (Continuo a minha reflexão a partir desta frase)
«Mas José, seu esposo, que era justo
e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo.»
Possivelmente
nos dias de hoje, a nossa primeira reação, para entender esta passagem, é
pensar que José abandona Maria. Contudo José era um homem justo, reto nas suas
intenções, verdadeiro nos seus sentimentos, cumpridor da Lei. Por que repudiar
Maria? E em segredo? No fundo, José, figura na qual o Evangelho hoje se centra,
não coloca em causa a fidelidade ou infidelidade de Maria, (não havia nenhuma
lei que obrigasse ao divórcio da mulher infiel) mas, naquele momento, não
entende o seu papel neste acontecimento extraordinário, que mistério encerra a
ação de Deus. Não querendo interferir nos planos de Deus, opta por retirar-se e
possivelmente esperar que Deus lhe desse a conhecer a Sua vontade.
Quando
Deus entra na vida de alguém se arrisca a colocar em crise tantas coisas. A
ideia de um Deus próximo e a possibilidade das promessas se cumprirem, parece
ter assustado José. O que saberia José da ação do Espírito Santo? Educado
segundo os costumes do Judaísmo deveria fazer um grande salto: passar da lógica
dos preceitos para uma Nova Aliança. Perceber o que Deus quer de nós não é
fácil; qual o Seu Projeto e que missão nos confia, é uma interrogação
constante. E perante a Sua ação na nossa vida podemos reagir de duas maneiras:
ou aceitamos as intervenções de Deus e acolhemo-las como dom de Si mesmo à
humanidade, ou optamos por nos retirar, para não interferir no projeto que Deus
tem para os outros. Posso viver na rejeição, no não querer ser incomodado/a.
Posso pensar que é melhor permanecer no silêncio da indiferença. E até mesmo
afastar-me daqueles que o Senhor coloca no meu caminho para aí realizar o Seu
projeto através de mim. Tenho medo do que possa pedir e exigir.
«Tinha ele assim pensado, quando lhe
apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não
temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito
Santo.»
Deus
intervém através da linguagem dos sonhos para falar à consciência de José a fim
de que colabore com Ele e com Maria. Poderíamos dizer que também José teve um
anúncio: e é o Anjo que confirma que a maternidade de Maria é obra de
Deus. Recorda-lhe que Maria é sua esposa
e o que Ela vai gerar é obra do Espírito Santo. O sonho permite a José
compreender como age Deus na vida das pessoas. E este é o sinal que a primeira
leitura fala e que Acaz não quis pedir, para não tentar a Deus. José parece
fazê-lo também, mas através da intervenção do Seu Anjo explica-lhe que não deve
temer a ação do Espírito em Maria. Assim
também se cumpria o que Deus prometera pela boca dos profetas: o filho de Maria
era da descendência de David.
Por
vezes somos parecidos com José. “Dormimos” para não nos preocuparmos, para
disfarçarmos os nossos medos/ receios, para não darmos uma resposta. Mas Deus é
maior que todos os nossos medos… de novo nos desperta e nos convida tocando a
nossa consciência para chegar à sabedoria do coração. Coloca junto de nós um
Anjo que nos ajuda e ilumina para fazermos a Sua Vontade, segundo a Sua justiça
e não a nossa. E poderá acontecer que nem apareça em sonhos, mas colocará próximo
de nós pessoas que nos aconselhem e nos orientem. Assim seria Maria para José:
o sinal da presença real e viva de Deus. Quando, com confiança, nos abrimos à
ação do Espírito Santo geramos Vida.
«Ela dará à luz um Filho e tu
pôr-lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»
O
Senhor revela a José o seu projeto e a missão para a qual o chamava: devia dar
o nome a Jesus. Deste modo seria o pai legal da criança que nasceria de Maria,
sua esposa. Que missão sublime para José: pôr o nome/ dar-lhe o nome, é uma
função específica do pai, entre os Judeus.
É necessário, que graças a José, toda a Casa de David, possa ver neste
filho o “Deus conosco”, acolham o plano de salvação que Ele tem para toda a
humanidade.
José
porá o nome de Jesus, que significa «Deus salva». Eis revelada e expressa a
mensagem de salvação do Novo Testamento: Ele salvará o povo dos seus pecados.
Estabelecer-se-á uma Nova e definitiva Aliança. Uma Aliança escrita bem no
coração e na vida de cada pessoa. Quando deixamos nascer Jesus/ Deus em nós, é
bom que O chamemos pelo nome, ou seja, que O acolhamos, que O façamos existir e
que faça parte da nossa vida e nos salve. É ali, na nossa/ minha frágil
condição humana que Ele nasce e é ali que nos/ me salva. E salva da tentação de
não nos afastarmos de Deus, de querermos sempre viver com olhar fixo n’Ele, de
acreditar acima de todas as evidências, para partilhar momentos que sejam de
verdadeira salvação, porque fruto de uma fé madura.
«Tudo isto aconteceu para se cumprir
o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e
dará à luz um Filho, que será chamado “Emanuel”, que quer dizer “Deus
conosco”.»
Jesus
realiza as profecias. Ele é o filho da virgem anunciado pelo Profeta. Ele é
realmente o Emanuel, o «Deus conosco». Em Jesus, Deus colocou-se ao lado do
homem. Para sempre. Deus que assume a nossa condição para de novo nos levar a
Si, para que a nossa vida tenha uma presença divina. Uma presença que revela em
Maria, a virgem que concebe, a grandeza e a força do Seu Amor. Com a sua
virgindade, convida-nos a viver do amor total pelo Senhor, de coração
indiviso.
O
Emanuel, o Deus- Conosco, não é só o menino bonito que aparece nas palhinhas,
mas é um desafio de Deus para conosco. Eis o desafio: que a nossa vida também
pode ser santa, totalmente voltada para Ele. Se caminhamos com a certeza de que
Deus não está acima de nós mas está também dentro de nós e ao nosso lado, é
sinal de que O deixamos reinar nos nossos corações. Este é o melhor trono que
Ele pode encontrar e sentar-se, para reinar e estabelecer autênticas
relações. E serão cada vez mais
verdadeiras, se em cada dia fortalecermos a nossa fidelidade na fidelidade de
Deus e com Maria alegrarmo-nos com as maravilhas que o Senhor vai realizando em
nós.
«Quando despertou do sono, José fez
como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa»
José
supera a prova e coloca a sua fé no Deus de Israel e mergulha no grande
mistério da vida de Deus. José aceita Jesus, que entra na história humana,
revelando como Deus é o Altíssimo e quanta ternura manifestada nesta
proximidade. Aceitá-lo é um passo na fé. José ao receber de novo Maria,
tornam-se um novo casal que viverá em profundidade a confiança e o amor. Ambos
acreditam no sinal e no seu amor. A sua união será em vista de Jesus. No sinal
está já a força e o cumprimento: basta dizer o nosso sim e não voltar-se ou
retirar-se, mesmo nos momentos mais escuros. É necessário pedir e fortalecer a
fé.
José,
neste tempo de Advento, é modelo de fé para cada um de nós, cristãos. Na fé,
aceitou os planos de Deus, respondeu ao chamamento para viver e agir como amigo
fiel e gozar da Sua graça, vivendo em atitude de conversão contínua e
progressiva. A fé é um compromisso sério com Deus que condiciona toda a nossa
vida, criando um estilo, uma vontade e um modo de ser e de agir que marcam toda
a pessoa na sua realidade de condição pessoal, familiar, laboral e comunitário.
Mesmo passando pela “noite escura” da fé, José aceita colaborar na obra
redentora de Deus, tornando-se educador de Jesus, do Deus Conosco. Deus não nos pede mais do que aquilo que
podemos dar. E se pede algo mais, nos dará também os meios para caminhar e nos
fortalecerá na fé, na confiança e na certeza de que Ele nunca nos abandona. Ele
será sempre o Emanuel, o Deus conosco. Imitemos S. José na nossa vida e no
nosso existir de cristãos: a ser fieis, dóceis no acolhimento de Deus que toma
a iniciativa de vir ao nosso encontro, fortalecendo a nossa Aliança com Ele
para sermos autênticos discípulos do Seu Reino.
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