Beata Maria Teresa de Jesus Scrilli |
Comentário: P. Conrad J. MARTÍ i Martí OFM (Valldoreix,
Barcelona, Espanha)
Prostrou-se aos pés de
Jesus e lhe agradeceu
Hoje,
Jesus passa perto de nós para nos fazer viver a cena mencionada mais acima, com
um ar realista, na pessoa de tantos marginalizados como há na nossa sociedade,
os quais se fixam nos cristãos para encontrar neles a bondade e o amor de
Jesus. Nos tempos do Senhor, os leprosos formavam parte do estamento dos
marginalizados. De fato, aqueles dez leprosos foram ao encontro de Jesus na
entrada de um povoado (cf. Lc 17,12), pois eles não podiam entrar nos povoados,
nem lhes estava permitido aproximar-se das pessoas («pararam a certa
distância»).
Com
um pouco de imaginação, pode cada um de nós reproduzir a imagem dos
marginalizados da sociedade, que têm nome como nós: imigrantes, drogados,
delinquentes, doentes de aids, desempregados, pobres... Jesus quer
restabelecê-los, remediar os seus sofrimentos, resolver os seus problemas; e
pede-nos colaboração de forma desinteressada, gratuita, eficaz... por amor.
Além
disso, tornamos mais presente em cada um de nós a lição que dá Jesus. Somos
pecadores e necessitados de perdão, somos pobres que todo o esperam dele.
Seríamos capazes de dizer como o leproso «Jesus, Mestre, tem compaixão de mim»
(cf. Lc 17, 13) Sabemos recorrer a Jesus com uma oração profunda e confiante?
Imitamos
o leproso curado, que volta a Jesus para lhe agradecer? De fato, só «Um deles,
ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz» (Lc
17,15). Jesus sente a falta dos outros nove: «Não foram dez os curados? E os
outros nove, onde estão?» (Lc 17,17). Santo Agostinho deixou a seguinte
sentença: "Graças a Deus": não há nada que alguém possa dizer com
maior brevidade (...) nem fazer com maior utilidade que estas palavras».
Portanto. nós, como agradecemos a Jesus o grande dom da vida, a nossa e a da
família; a graça da fé, a santa Eucaristia, o perdão dos pecados...? Não
acontece alguma vez que não lhe agradecemos pela Eucaristia, apesar de
participar frequentemente nela? A Eucaristia é — não duvidemos — a nossa maior
vivência de cada dia.
Reflexão de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* No Evangelho de hoje, Lucas conta
como Jesus curou dez leprosos, mas um só veio agradecer. E este era um
samaritano! A gratidão é outro tema muito próprio de Lucas: viver em gratidão e
louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes
que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava
(Lc 2,28. 38; 5,25.26; 7,16; 13,13; 17,15.18; 18,43; 19,37; etc). O Evangelho
de Lucas traz vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de
gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
* Lucas 17,11: Jesus
em viagem para Jerusalém
Lucas
lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia.
Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela
Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galileia para poder
chegar a Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos, dados
nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que não era
judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de
Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua viagem até
Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram. Continua a
longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião fechada
sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como irmãos e
irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no acolhimento
dado aos dez leprosos.
* Lucas 17,12-13: O
grito dos leprosos
Dez
leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre,
tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Era marginalizado
e desprezado, sem o direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da
pureza, os leprosos deviam andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados,
gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura
significava o mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na
comunidade. Não podiam aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque
num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder
dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode
curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se,
novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber a bênção
prometida a Abraão.
* Lucas 17,14: A
resposta de Jesus e a cura
Jesus
responde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o
sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A
resposta de Jesus exigia muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote
como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava
coberto de lepra. Mas eles acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção
ao sacerdote. E aconteceu que, enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura.
Ficaram purificados. Esta cura evoca a história da purificação de Naaman da
Síria (2Rs 5,9-10). O profeta Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman
tinha de crer na palavra do profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos
sacerdotes. Eles tinham de crer na palavra de Jesus.
* Lucas 17,15-16:
Reação do samaritano
“Ao perceber que estava curado, um deles
voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de
Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.” Por que os outros não
voltaram? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o
samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia a tendência de
observar a lei para poder merecer ou conquistar a justiça. Pela observância,
eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade
não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento
com Deus. Talvez seja por isso que não agradeceram o benefício recebido. Na
parábola do evangelho de ontem, Jesus tinha formulado a pergunta sobre a
gratidão: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia
mandado?” (Lc 17,9) E a resposta era: “Não!” O samaritano representa as pessoas
que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito, nem
crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida!
* Lucas 17,17-19: A
observação final de Jesus
Jesus
estranhou: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não
houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para
Jesus, agradecer os outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus
o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição aos judeus.
Hoje são os pobres, que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir
esta dimensão da gratuidade da vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um
dom de Deus que vem até nós através do irmão e da irmã.
* A acolhida dada aos
samaritanos no evangelho de Lucas.
Para
Lucas, o lugar que Jesus dava aos samaritanos é o mesmo que as comunidades
deviam reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de
gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito
chocante, pois, para os judeus, samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não
podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém, nem participar
do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para
Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e
grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós
em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
Para um confronto
pessoal
1. E você, costuma agradecer às
pessoas? Agradece por convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou
esquece?
2. Viver na gratidão é um sinal da
presença do Reino no meio de nós. Como transmitir para os outros a importância
de viver na gratidão e na gratuidade?
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