«DEUS FARÁ JUSTIÇA AOS SEUS ELEITOS»
Pe. Luciano Miguel, sdb
É
necessário rezar e rezar insistentemente. Manter este diálogo onde Deus se faz
justiça, amor, partilha. Onde Deus se faz encontro e Palavra. Onde Deus é
diálogo. E deste diálogo, fazer surgir a fé. Porque é necessário levar a todo o
mundo a mensagem do Reino sem desfalecer nem desanimar. Porque pela oração
sentimos como Deus está conosco. Porque Deus faz justiça aos seus eleitos e a
todos os que o amam. Só é necessário corresponder. Pedir. Entregar-se. Pois é
dando que se recebe!
Evangelho
segundo S. Lucas (18, 1-8) - Naquele
tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar
sempre sem desfalecer: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem
respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e
lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele
não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus
nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe
justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor
acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer
justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los
esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando
voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?»
Meditação
“Depois,
Jesus disse-lhes uma parábola sobre a obrigação de orar sempre, sem
desfalecer”.
São
Lucas começa o capítulo 18 do seu Evangelho com esta parábola sobre a oração. Mais
concretamente sobre a “obrigação de orar sempre sem desfalecer”. O evangelista
parece sentir obrigação de insistir nesta “necessidade de rezar”, pois além
desta tem mais duas parábolas sobre a oração. O “Sempre” e “sem desfalecer”
parece querer dizer-nos que a oração é o respirar vital de todo o cristão.
Livros
e tratados infindos falam-nos hoje da oração. Sinal evidente de que algo vai
mal neste campo. Também neste caso podemos dizer: a oração não se discute,
faz-se! Discuti-la é quase uma justificação para a não fazer. Não se reza ou
reza-se mal? Só recorremos a ela como último recurso em casos e situações
difíceis para as quais já não encontramos solução? Será que nós ainda não chegamos
ao âmago da oração? Que ainda não passamos das fórmulas e do monólogo para o
encontro com Ele? Será que Deus não entra na nossa dita oração? E,
obstinadamente Jesus insiste na oração. Por quê?
“Em certa cidade, havia um juiz que não temia
a Deus nem respeitava os homens”.
Já
no seu tempo Jesus podia recorrer a exemplos de quem “não temia a Deus nem
respeitava os homens”. O juiz daquela cidade “não temia a Deus”. Ou seja, Deus
não contava como testemunha nos seus julgamentos. “Nem respeitava os homens”.
Também estes não tinham peso nas suas decisões. Era só o seu poder que contava.
Tinha experiência disso e daí que não temesse ninguém.
Jesus
escolhe um exemplo extremo para fazer realçar o que queria transmitir aos seus
ouvintes: a máxima debilidade e um grande poder, a perseverança e a
indiferença. A um juiz iníquo nada o demove. “Fazer justiça” não era um
atributo adquirido ou natural daquele juiz. E por isso a viúva tenta conseguir
a sua defesa, a sua subsistência e talvez dos filhos, importunando-o. No lado
oposto do juiz é-nos apresentado Deus. Ele é juiz, mas acima de tudo é Pai.
Quando um dos discípulos de Jesus Lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar…”,
recebeu como resposta: “Quando rezardes dizei: “Pai nosso…”. Ressaltemos o
“nosso”, de todos, muito indigentes ou não. É com este Deus Pai/Mãe que nós
falamos, nos encontramos, ao rezar?
“Naquela cidade vivia também uma viúva que ia
ter com ele e lhe dizia: “Faz-me justiça contra o meu adversário”.
No
tempo de Jesus as pessoas tidas como mais necessitadas eram os órfãos, as
viúvas e os estrangeiros. Jesus escolhe como protótipo da parábola precisamente
uma viúva totalmente indefesa, desamparada e sem voz, que suplica não esmola,
mas justiça. Justiça “contra o seu adversário”. Alguém que se quer aproveitar
da sua situação de impotência e nulidade social. Um “adversário” também ele
iníquo, injusto.
Hoje,
apesar do avanço no reconhecimento do “direitos humanos”, quanta gente “sem
voz”! Nas manifestações e reclamações a pedir justiça, já há multidões. Do
singular passou-se para o plural na injustiça: quantas “viúvas” indefesas a
reclamar justiça! Nós próprios, com frequência, clamamos: “É injusto! É
injusto!” Mas a justiça que nós reclamamos para nós, poderemos compará-la à que
pedia a viúva? De que injustiças nos queixamos? Justiça dos homens,… justiça de
Deus! Reino dos homens,… Reino de Deus!
“Durante muito tempo, o juiz recusou-se a
atendê-la; mas, um dia, disse consigo: «Embora eu não tema a Deus nem respeite
os homens, contudo, já que esta viúva me incomoda, vou fazer-lhe justiça, para
que me deixe de vez e não volte a importunar-me»”.
Porque
nem Deus nem os outros contavam para aquele juiz, recusava-se a atender os
pedidos da viúva. Via-a como cão que ladra, mas não morde, pois era indigente.
Não o preocupava. Porém a insistência, esse simples contínuo ladrar, começou a
incomodá-lo, a impedi-lo de desfrutar lauta e regaladamente do seu sossego. Só
então a viúva entrou no seu mundo de preocupações. E por conveniência própria
decidiu, finalmente, atendê-la: “… para que me deixe de vez e não volte a
importunar-me”.
Não
se pode dizer que seja muito digna a motivação que leva o mau juiz a escutar as
reclamações da injustiçada. Ele próprio a apresenta como egoísta. Não é que o
preocupe o sofrimento da viúva; não são para socorrê-la nem para resolver os
seus problemas. Isso nada lhe importa. Conta sim o seu sossego. Ceder para não
ser importunado. Algo semelhante não será a nossa conduta, frequentemente?
Quantas vezes cedo, só para me livrar dos outros? As minhas reações têm como
fonte o egoísmo ou o bem dos outros?
Divina Pastora do Carmelo |
“E o Senhor continuou: «Reparai no que diz
este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam
dia e noite, e há de fazê-los esperar? Eu vos digo que lhes vai fazer justiça
prontamente.”
Esta
comparação parece ser um dos pontos centrais da parábola: “Reparai no que diz
este juiz iníquo… E Deus não fará justiça aos seus eleitos?”. Os dois extremos:
num a iniquidade, no outro a bondade paternal. Duas respostas totalmente
diferentes a pedido semelhante. “Reparai”! Jesus insiste para olharmos com
olhos de ver e captarmos bem a diferença entre a resposta do juiz e a do nosso
Pai do céu.
O
agir e reagir humano estão, muito frequentemente, contaminados pela debilidade
e maldade. Consciente ou inconscientemente. Adiamos ou recusamos o que não nos
agrada e estressamo-nos em conseguir tudo quanto nos deleita… Frequentemente
priorizamos o que é secundário. Impera em nós o utilitarismo e não o altruísmo.
Juízes iníquos. Deus age precisamente ao contrário: “Os vossos caminhos não são
os meus caminhos. Estão tão distantes e elevados como o céu acima da terra”(Is
55,8). Deus é Pai. Na oração atende-nos sempre. Desde que seja para o nosso
bem. Duvido ou acredito nisto a sério?
“Mas, quando o Filho do Homem voltar,
encontrará a fé sobre a terra?»
Jesus
termina a parábola com uma interrogação sem pistas de resposta; um pergunta
que, por um lado parece banal, mas que não deixa de ser fortemente
interpelativa. Interpela os seus ouvintes e interpela-nos a nós. “Quando o
Filho do Homem voltar…”. Fala de uma segunda vinda de Jesus. Haverá, portanto,
um segundo encontro com Ele onde a fé será exigida. Fé alimentada pela oração.
Jesus insiste na persistência da oração, relacionando-a com a fé escatológica. Como manter essa fé? Para Ele, um dos meios, ou o meio, é a perseverança na oração. Só espera quem tem fé e só reza quem tem fé. E como se perde a fé? Esmorecendo na oração a Deus, desleixando-nos, descomprometendo-nos evangelicamente. Que fazemos nós para que a fé não desapareça? Em nós e nos outros. Evangelizamos e rezamos com essa finalidade? Individualmente e em comunidade? Assim nos recomenda São Paulo na leitura de hoje, e João Paulo II recordava: “A oração da Igreja é um grande poder”.
Jesus insiste na persistência da oração, relacionando-a com a fé escatológica. Como manter essa fé? Para Ele, um dos meios, ou o meio, é a perseverança na oração. Só espera quem tem fé e só reza quem tem fé. E como se perde a fé? Esmorecendo na oração a Deus, desleixando-nos, descomprometendo-nos evangelicamente. Que fazemos nós para que a fé não desapareça? Em nós e nos outros. Evangelizamos e rezamos com essa finalidade? Individualmente e em comunidade? Assim nos recomenda São Paulo na leitura de hoje, e João Paulo II recordava: “A oração da Igreja é um grande poder”.
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