São Vicente de Paulo |
Comentário:
Rev. D. Pere OLIVA i March (Sant Feliu de Torelló, Barcelona, Espanha)
Quem dizem as
multidões que eu sou?(...) E vós, quem dizeis que eu sou?
Hoje, no Evangelho, há dois
interrogantes que o mesmo Maestro formula a todos. O primeiro interrogante pede
uma resposta estatística, aproximada: «Quem dizem as multidões que eu sou?» (Lc
9,18). Faz que giremos ao redor e contemplemos como resolvem a questão os
outros: os vizinhos, os colegas de trabalho, os amigos, os familiares mais próximos...
Olhamos o entorno e sentimo-nos mais ou menos responsáveis ou próximos -depende
dos casos- de algumas dessas respostas que formulam quem têm relação conosco e
com nosso âmbito, as pessoas... E a resposta diz-nos muito, informa-nos,
situa-nos e faz que tomemos consciência daquilo que desejam, precisam, buscam
os que vivem ao nosso lado. Ajuda-nos a sintonizar, a descobrir com o outro, um
ponto de encontro para ir além...
Há uma segunda interrogação que
pede por nós: «E vós, quem dizeis que eu sou?» (Lc 9,20). É uma questão
fundamental que chama à porta, que mendiga a cada um de nós: uma adesão ou uma
rejeição; uma veneração ou uma indiferença; caminhar com Ele e Nele ou
finalizar numa aproximação de simples simpatia... Esta questão é delicada, é determinante
porque nos afeta. Que dizem nossos lábios e nossas atitudes? Queremos ser fiéis
àquele que é e dá sentido ao nosso ser? Há em nós uma sincera disposição a
seguí-lo nos caminhos da vida? Estamos dispostos a acompanhá-lo à Jerusalém da
cruz e da glória?
«É um caminho de cruz e
ressurreição (...). A cruz é exaltação de Cristo. Disse-o Ele mesmo: Quando
seja levantado, atrairei a todos para mim. (...) A cruz, pois, é glória e
exaltação de Cristo» (São André de Creta). Dispostos para avançar para Jerusalém?
Somente com Ele e Nele, verdade?
Reflexão de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
O evangelho de hoje retoma o mesmo assunto do evangelho de ontem: a opinião do
povo sobre Jesus. Ontem, era a partir de Herodes. Hoje, é o próprio Jesus que
faz um levantamento da opinião púbica e os apóstolos respondem dando a mesma
opinião de ontem. Em seguida, vem o primeiro anúncio da paixão, morte e
ressurreição de Jesus.
* Lucas 9,18: A
pergunta de Jesus depois da oração.
“Certo
dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele.
Então Jesus perguntou: Quem dizem as multidões que eu sou?". No evangelho
de Lucas, em várias oportunidades importantes e decisivas Jesus aparece
rezando: no batismo quando assume sua missão (Lc 3,21); nos 40 dias no deserto,
quando vence as tentações do diabo com a luz da Palavra de Deus (Lc 4,1-13); na
noite antes de escolher os doze apóstolos (Lc 6,12); na transfiguração, quando
com Moisés e Elias conversa sobre a paixão em Jerusalém (Lc 9,29); no horto,
quando enfrenta a agonia (Lc 22,39-46); na cruz, quando pede perdão pelo
soldado (Lc 23,34) e entrega o espírito a Deus (Lc 23,46).
* Lucas 9,19: A
opinião do povo sobre Jesus
“Eles
responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias;
mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou."
Como Herodes, muitos achavam que João Batista tivesse ressuscitado em Jesus.
Era crença comum que o profeta Elias devia voltar (Mt 17,10-13; Mc 9,11-12; Ml
3,23-24; Eclo 48,10). E todos alimentavam a esperança da vinda do profeta
prometido por Moisés (Dt 18,15). Resposta insuficientes.
* Lucas 9,20: A
pergunta de Jesus aos discípulos.
Depois
de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu
sou?”. Pedro respondeu: “O Messias de Deus!” Pedro reconhece que Jesus é aquele
que o povo está esperando e que vem realizar as promessas. Lucas omite a reação
de Pedro tentando dissuadir Jesus de seguir pelo caminho da cruz e omite também
a dura crítica de Jesus a Pedro (Mc 8,32-33; Mt 16,22-23).
* Lucas 9,21: A
proibição de revelar que Jesus é o Messias de Deus
“Então
Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém”. Eles estão
proibidos de revelar ao povo que Jesus é o Messias de Deus. Por que Jesus
proibiu? É que naquele tempo, como já vimos, todos esperavam a vinda do
Messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, outros
como doutor, guerreiro, juiz, ou profeta! Ninguém parecia estar esperando o
messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Quem insiste em manter a
idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e
nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Continuará cego, como
Pedro, trocando gente por árvore (cf. Mc 8,24). Pois sem a cruz é impossível
entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus. Por isso, Jesus insiste
novamente na Cruz e faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e ressurreição.
* Lucas 9,22: O
segundo anúncio da paixão
E
Jesus acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado
pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e
ressuscitar no terceiro dia". A compreensão plena do seguimento de Jesus
não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático,
caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. O
Caminho do seguimento é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da
disponibilidade, da aceitação do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A
cruz não é um acidente de percurso, mas faz parte deste caminho. Pois num
mundo, organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir
crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, incomoda os que vivem
agarrados aos privilégios, e sofre.
Para um confronto
pessoal
1) Acreditamos todos em Jesus. Mas um
entende Jesus de um jeito, outro o entende de outro jeito. Qual é, hoje, o
Jesus mais comum no modo de pensar do povo?
2) Como a propaganda interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair na arapuca da propaganda? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir o projeto de Jesus?
2) Como a propaganda interfere no meu modo de ver Jesus? O que faço para não cair na arapuca da propaganda? O que, hoje, nos impede de reconhecer e de assumir o projeto de Jesus?
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