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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

CARTA DO PAPA FRANCISCO AOS CARMELITAS POR OCASIÃO DO CAPÍTULO GERAL 2013

Ao Reverendíssimo Padre Fernando Millán Romeral
Prior Geral da Ordem dos Irmãos da B.A.V.M do Monte Carmelo

Dirijo-me a vós, queridos irmãos da Ordem dos Carmelitas, que celebrais, neste mês de setembro, o Capítulo Geral. Neste momento de graça e de renovação, em que sois chamados a discernir a vossa missão, desejo oferecer-vos uma palavra de encorajamento e de esperança.  O antigo carisma do Carmelo tem sido por oito séculos um dom para toda a Igreja, e, ainda hoje, continua oferecendo sua particular contribuição para a edificação do Corpo de Cristo e para mostrar ao mundo o rosto luminoso e santo. Vossas origens contemplativas brotam da terra da epifania do amor de Deus em Jesus Cristo, Verbo Encarnado. Enquanto refletis sobre vossa missão como carmelitas hoje, vos sugiro considerar três elementos que podem guiar-vos na realização plena de vossa vocação, que é a subida ao monte da perfeição: o obséquio de Cristo, a oração e a missão.

OBSÉQUIO

A Igreja tem a missão de levar Cristo ao mundo, e para isso, como Mãe e Mestra, convida a cada um e a todos a nos aproximarmos a Ele.

Na liturgia Carmelita da Festa de N. Sra. do Monte Carmelo, contemplamos a Virgem que está “junto à cruz de Cristo”. Este é também o lugar da Igreja: aproximarmos de Cristo. E é também o lugar para cada filho fiel da Ordem Carmelita. Vossa regra inicia-se com a exortação aos irmãos a “viver uma vida em obséquio de Jesus Cristo”, para segui-lo e servi-lo com um coração puro e indiviso. A estreita relação com Cristo é realizada na solidão, na comunidade fraterna e na missão. “A opção fundamental de uma vida concreta e radicalmente dedicada ao seguimento de Cristo” (RIVC) faz de vossa existência uma peregrinação de transformação no amor. O Concílio Vaticano II recorda o lugar da contemplação no caminho da vida: a Igreja tem, de fato, a característica de ser, ao mesmo tempo, humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, entregue à ação e dada à contemplação, presente no mundo e, apesar disso, peregrina” (Sacrossantum Concilium 2). Os antigos eremitas do Monte Carmelo conservaram a memória daquele lugar santo e, mesmo estando exilados e longes, mantinham o olhar e o coração constantemente fixos na glória de Deus. Refletindo sobre vossas origens e história, e contemplando as pegadas de quantos viveram, através dos séculos, o carisma carmelita,  descobrireis assim vossa atual vocação de ser profetas da esperança. E é, precisamente, nesta esperança em que sereis regenerados. Com frequência, aquilo que parece novo é algo muito antigo, iluminado por uma nova luz.

Em vossa Regra está o coração da missão carmelita daquele tempo e de hoje. Enquanto vos preparais para celebrar o oitavo centenário da morte de Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, em 1214, recordais que ele formulou um “caminho de vida”, um espaço que vos torna capazes de viver uma espiritualidade totalmente voltada para Cristo. Ele delineou elementos externos e interiores, uma ecologia física do espaço e a armadura espiritual necessária para responder adequadamente à vocação e cumprir eficazmente a própria missão.

Num mundo que desconhece permanentemente a Cristo e, de fato, o rejeita, sois convidados a vos aproximar e aderir sempre mais profundamente a Ele. É um contínuo chamado a segui-lo e a serdes conformados n’ Ele. Isto é de vital importância em nosso mundo tão desorientado, “porque quando se apaga sua chama, também as outras luzes acabam por perder seu vigor” (Lumen fidei, 4). Cristo está presente em vossa fraternidade, na liturgia comunitária e no ministério confiado: renovai o obséquio de toda vossa vida.

 ORAÇÃO

O Santo Padre, Bento XVI, antes de vosso Capítulo Geral de 2007, vos recordou que “a peregrinação interior da fé em direção a Deus se inicia na oração”; e em Castelo Gandolfo, em agosto de 2010, vos disse “vós sois aqueles que nos ensinam a rezar”. Vós vos definis como contemplativos no meio do povo. Com efeito, se é verdade que sois chamados a viver nas alturas do Carmelo, é também verdade que sois chamados a dar testemunho no meio do povo. A oração é a “estrada real” que nos abre à profundidade do mistério do Deus Uno e Trino, porém é também o caminho estreito de Deus no meio do povo, peregrino no mundo rumo à Terra Prometida.

Uma das vias mais belas para entrar na oração passa através da Palavra de Deus. A Lectio Divina introduz na conversação direta com o Senhor e mostra os tesouros da sabedoria. A íntima amizade com Aquele que nos ama nos faz capazes de enxergar com os olhos de Deus, de falar com sua palavra no coração, de conservar a beleza desta experiência e de contemplá-la com aqueles que estão famintos de eternidade.

O retorno à simplicidade de uma vida centrada no evangelho é o desafio para a renovação da Igreja, comunidade de fé que sempre encontra novos caminhos para evangelizar o mundo em contínua transformação. Os santos carmelitas foram pregadores e mestres de oração. Isto é o que ainda se pede ao Carmelo do século XXI. Ao longo de vossa história, os grandes carmelitas foram um forte anúncio da raiz da contemplação, raiz sempre fecunda da oração. Aqui está o coração de vosso testemunho: a dimensão contemplativa da Ordem, que deve ser vivida, cultivada e transmitida. Gostaria que cada um se preguntasse: como é minha vida de contemplação? Quanto tempo dedico, durante o meu dia, à oração e à contemplação? Um carmelita sem esta vida contemplativa é um corpo morto! Hoje, mais ainda que no passado, é fácil deixar-se distrair pelas preocupações e pelos problemas deste mundo e deixar-se fascinar por seus ídolos. Nosso mundo está debilitado de muitas maneiras. Aquele que é contemplativo, diferente do mundo, volta à unidade com Deus e por isso, torna-se um forte chamado a essa mesma unidade. Agora mais do que nunca, é o momento de descobrir o caminho interior do amor e oferecer às pessoas de hoje, na pregação e na missão, um testemunho da contemplação: não soluções fáceis, mas aquela sabedoria que emerge do meditar “dia e noite a lei do Senhor”, Palavra que sempre conduz para junto da cruz gloriosa de Cristo. E unida à contemplação, a austeridade de vida, que não é um aspecto secundário de vossa vida e de vosso testemunho. É um tentação muito forte, também para vós, cair na “mundanidade espiritual”. O espírito do mundo  é inimigo da vida de oração: não esqueçais nunca disto! Exorto-vos a uma vida austera e penitente, segundo vossa mais antiga tradição, uma vida longe de toda mundanidade, longe dos critérios do mundo.

MISSÃO

Queridos irmãos carmelitas, a vossa missão é a de Jesus. Todo planejamento, todo confronto seria pouco útil, se o Capítulo não realizasse um caminho de verdadeira renovação. A família carmelita tem conhecido uma verdadeira primavera em todo o mundo, como fruto outorgado por Deus, do esforço missionário do passado. Toda missão mostra, às vezes, árduos desafios, pois a mensagem evangélica não é sempre acolhida, chegando a até mesmo ser violentamente rejeitada. Não devemos esquecer nunca, que se somos lançados em águas turbulentas e desconhecidas. Aquele que nos chama à missão nos dá também a coragem e a força para agir. Por isso, celebrais o Capítulo, encorajados pela esperança que nunca morre, com um forte espírito de generosidade em querer recuperar a vida contemplativa e a simplicidade e austeridade evangélica.

Dirigindo-me aos peregrinos na Praça de São Pedro, tive a ocasião de dizer: “Todo cristão e toda comunidade é missionária na medida em que leva e vive o Evangelho e testemunha o amor de Deus para com todos, especialmente àqueles que se encontram em dificuldade. “Sede missionários do amor e da ternura de Deus! Sede missionários da misericórdia de Deus, que sempre nos perdoa, sempre nos espera, e nos ama tanto!” (homilia 05.05.13). O testemunho do Carmelo no passado pertence à profunda tradição espiritual crescida numa das grandes escolas de oração. Esta suscitou a coragem de homens e mulheres que enfrentaram  inclusive a morte. Recordamos somente os dois grandes mártires contemporâneos: Santa Teresa Benedita da Cruz e o Beato Tito Brandsma. Pergunto-me então: hoje, entre vós, se vive com a força e a coragem destes santos?

Queridos irmãos do Carmelo, o testemunho de vosso amor e de vossa esperança, radicados na profunda amizade com o Deus vivo, pode chegar como uma “brisa leve” que renova e revigora vossa missão eclesial no mundo hodierno. A isto sois chamados. O Rito de Profissão põe em vossos lábios estas palavras: “Com esta profissão, uno-me à família carmelita para viver a serviço de Deus e na Igreja, e aspirar à caridade perfeita com a graça do Espírito Santo e a ajuda da Bem-Aventurada Virgem Maria” (Rito da Profissão O.C).

A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, acompanhe vossos passos e faça fecundo a caminhada quotidiana para o Monte de Deus. Invoco sobre toda a Família Carmelita, e, em particular, sobre os Frades Carmelitas, dons abundantes do Espírito Santo, e a todos, concedo, cordialmente, a implorada Benção Apóstolica.

Vaticano, 22 de Agosto de 2013
Franciscus

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