MISSA DA VIGÍLIA
1ª Leitura – 1 Crônicas 15,
3-4.15-16; 16,1-2
A arca é
sinal da presença de Deus no meio de seu povo: sobre ela desce na forma de
nuvem a glória de Deus. Ela desperta o canto de louvor e de alegria, e os
sacrifícios do povo. A liturgia encontra naquela arca como um sinal e uma
prefiguração de Maria, que carregou em seu seio o Filho de Deus.
2ª Leitura – 1 Coríntios 15, 54-57
A morte
será vencida definitivamente também em nós com a ressurreição, quando o nosso
corpo, por natureza corruptível, receberá a incorruptibilidade; aí seremos
arrancados completamente das consequências do pecado.
Evangelho – Lucas 11, 27-28
A
verdadeira bem-aventurança não consiste em ter um laço de parentesco com Jesus,
como aquele da mãe, mas em ouvir e colocar em prática as palavras de Deus.
Então se estabelece uma verdadeira e válida relação com o Senhor.
• O
evangelho de hoje é muito breve, mas possui um significado importante no
conjunto do evangelho de Lucas. Oferece-nos a chave para entender o que Lucas
ensina sobre Maria, a Mãe de Jesus, no chamado Evangelho da Infância (Lc 1 e
2).
• A
exclamação da mulher: “Naquele tempo, enquanto Jesus falava ao povo, uma mulher
levantou a voz no meio da multidão e disse: ‘Feliz o ventre que te trouxe e os
seios que te amamentaram!’”. A imaginação criativa de alguns apócrifos sugere
que aquela mulher era uma vizinha de Nossa Senhora, aí em Nazaré. Tinha um
filho, chamado Dimas, que, com outros garotos da Galileia daquele tempo, entrou
em conflito com os romanos, foi preso e condenado à morte ao lado de Jesus (Lc
23,39-43). A mãe dele, tendo ouvido falar do bem que Jesus estava realizando ao
povo, lembrou-se de sua vizinha, Maria, e disse: “Maria deve ser feliz com um
filho assim!”
• A
resposta de Jesus. Jesus responde, fazendo o maior elogio de sua mãe: “Muito
mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a pões em prática!”.
Lucas fala pouco de Maria: aqui (Lc 11,28) e no Evangelho da Infância (Lc 1 e
2). Para Lucas, Maria é a Filha de Sião, imagem do novo povo de Deus. Ele
apresenta Maria como modelo para a vida da comunidade. No Concílio Vaticano II,
o documento preparado sobre Maria foi inserido no capítulo final do documento
Lumen Gentium sobre a Igreja. Maria é modelo para a Igreja. E sobretudo pelo
jeito como Maria se relaciona com a
Palavra de Deus Lucas a considera exemplo para a vida da comunidade: “Muito
mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.
Maria nos ensina como acolher a Palavra de Deus, como encarná-la, vivê-la,
aprofundá-la, fazer nascer e crescer, deixar que nos plasme, também quando não
a entendemos, ou quando nos faz sofrer. Esta é a visão que se encontra no
Evangelho da Infância (Lc 1 e 2). A chave para entender estes dois capítulos
nos é dada pelo evangelho de hoje: “Mais felizes são aqueles que ouvem a
palavra de Deus e a põem em prática!”. Vejamos como nestes capítulos Maria se
relaciona com a Palavra de Deus.
a) Lucas 1,26-38:
A
Anunciação: “Seja feita em mim segundo a tua palavra!”
Saber se
abrir, de modo que a Palavra de Deus seja aceita e se encarne.
b) Lucas 1,39-45:
A Visita:
“Feliz aquela que acreditou!”
Saber
reconhecer a Palavra de Deus numa visita e em tantos outros fatos da vida.
c) Lucas 1,46-56:
O
Magnificat: “Deus realizou em mim grandes coisas!”
Reconhecer
a Palavra na história das pessoas e proclamar um canto de persistência e de
esperança.
d) Lucas 2,1-20:
O
Nascimento: “Ela meditava todas estas coisas em seu coração”.
Não havia
lugar para eles. Os excluídos acolhem a Palavra.
e) Lucas 2,21-32:
A
Apresentação: “Meus olhos viram tua salvação!”
Os muitos
anos de vida purificam os olhos.
f) Lucas 2,33-38:
Simeão e
Ana: “Uma espada transpassará a tua alma”.
Acolher e
encarnar a palavra na vida, ser sinal de contradição.
g) Lucas 2,39-52:
Aos doze
anos no templo: “Não sabíeis que devo me ocupar das coisas do meu Pai?”
Eles não
entenderam a Palavra que foi falada!
h) Lucas 11,27-28:
O elogio à
mãe: “Feliz o ventre que te trouxe1”
Feliz que
ouve e coloca em prática a Palavra.
MISSA DO DIA
1ª Leitura – Apocalipse 11,19a;
12,1-6a.10ab
A liturgia
encontra o símbolo de Maria na arca da aliança do santuário celeste e na mulher
vestida de sol que dá à luz um filho, arrancado às forças do mal, representadas
no dragão. O Apocalipse descreve a parábola da Igreja, porque logo em seguida
se refere a imagem da mulher coroada pelas dozes estrelas. Maria é na Igreja
como tipo e exemplo, a apoiar os eventos do povo novo que revive o caminho do
deserto, protegido pelo poder e pela realeza de Cristo.
Uma mulher vestido de sol, com a lua
debaixo de seus pés.
É uma
página clássica na interpretação mariológica do Apocalipse. Na realidade a
«mulher» e o «dragão» representam e um lado a Igreja em sua dimensão
transcendente e terrena que, historicamente, dá à luz o Cristo, e do outro uma
força contrária de origem demoníaca e de caráter anti-sagrado que persegue a
Igreja. O final da luta será positivo em favor da mulher porque a história está
sob o controle da transcendência divina. As páginas do Apocalipse, todas elas
marcadas por símbolos enigmáticos, nos apresentam, portanto, a Igreja numa
situação de contraposição às forças negativas em suas diferentes formas. A
leitura mariológica nada mais é do que uma aplicação como exemplo daquela
realidade que todos os crentes devem procurar viver com sofrimento e alegria:
Maria aos pés da cruz perde e adquire o Filho , tornando-se, na perspectiva
joanina, símbolo da Igreja.
2ª Leitura – 1 Coríntios 15,20-26.28
Jesus
ressuscitou como o primeiro: a ele, e a exemplo dele, seguirão os que «são de
Cristo», isto é aqueles que acreditaram nele e receberam a vida dele. Entre
todos estes a primeira é Maria, que de Cristo é a mãe.
Cristo
ressuscitado é o primeiro; depois, com sua vinda, aqueles que são de Cristo.
A assunção
de Maria é a antecipação do destino de glória reservado a todos os crentes.
Cristo é o «primeiro» deste destino que lhe pertence plenamente por sua
divindade; Maria é a primeira daquela lista de criaturas que Deus quer
recuperar para si. Com uma linguagem bíblica, apocalíptica e com toques até
mesmo helenistas, Paulo manifesta sua visão cristocêntrica da história. Ela
comporta várias fases: a ressurreição de Cristo é o «início», segue aquela
daqueles que, como Maria, «são de Cristo» e depois «o fim», isto é a
recuperação de todo o ser na vitória sobre a morte. Assim «Deus será tudo em
todos» (v.28). O destino de Maria, criatura humana como nós, torna-se um apelo a não acabar entre os
«inimigos» (v.25) do Cristo, isto é entre os inimigos do homem, entre os servos
da «última inimiga» de cristo e do homem, a morte (v.26).
Evangelho – Lucas 1,39-56
Maria foi
escolhida por Deus por total gratuidade. Esta consciência faz nascer nela o
alegre agradecimento da bondade de Deus, que realiza grandes obras naqueles que
confiam nele e nele colocam toda esperança.
Grandes coisas fez em mim o
Onipotente: levantou os humildes!
O
Magníficat é um hino colocado nos lábios de Maria, mas elaborado também a
partir das comunidades dos ‘anawim cristãos que contemplavam o Cristo humilhado
e triunfador na história, que a Igreja deve viver. Ele é, portanto, um salmo
cristão que celebra o ato de misericórdia supremo e definitivo realizado por
Deus em favor dos homens e realizado no nascimento, morte, ressurreição, exaltação
do Messias Senhor. Este ato de poder divino leva à plenitude, superando-os,
todos os atos de senhorio, de justiça e de salvação realizado por Deus na
antiga aliança. O Magnificat lembra que, diante do Cristo na glória, as
potências humanas perderam seu caráter absoluto. Cristo na glória derrubou os
ídolos; o cristão deve se libertar da fascinação do dinheiro. O Magníficat
denuncia a mentira e a ilusão daqueles que se acreditam senhores da história e
árbitros de seu destino e vai ao encontro de quem, como Maria, tem o coração
cheio de amor e a alma desapegada e livre.
•Bendita és tu entre as mulheres
Na primeira
parte do evangelho de hoje ressoam as palavras de Isabel, «Bendita és tu entre
as mulheres», antecedidas por uma informação de espaço. Maria deixa Nazaré,
localizada no norte da Palestina, para se dirigir ao sul, uma viagem de uns
cento e cinquenta quilômetros, rumo a uma localidade que a tradição identificou
com a atual Ain Karem, não muito distante de Jerusalém. O locomover-se faz ver
a sensibilidade interior de Maria, que não se fecha na contemplação, numa
atitude singular e íntima, do mistério da divina maternidade que acontece nela,
mas se lança pelas veredas da caridade. Ela parte para levar ajuda à sua idosa
prima. Este dirigir-se de Maria a Isabel tem um traço: “apressadamente”, que
santo Ambrósio interpreta assim: «Maria dirigiu-se apressadamente para a
montanha, não porque não acreditasse na profecia ou alimentasse dúvidas em relação
à anunciação ou duvidasse da prova, mas porque estava feliz com a promessa e
desejosa de realizar devotamente um serviço, com o impulso que nascia da íntima
alegria... A graça do Espírito Santo não comporta demoras». O leitor, porém,
sabe que o motivo verdadeiro da viagem não é apontado, mas pode ser intuído
através das informações inseridas no contexto. O anjo comunicou a Maria a
gravidez de Isabel, que se encontrava já no sexto mês (cfr. v. 37). Além disso,
o fato dela ficar aí três meses (cfr. v. 56), exatamente o tempo para que a
criança pudesse nascer, permite entender que Maria queria ser de ajuda a sua
prima. Maria corre e vai aí onde a chama a urgência de uma necessidade, de uma
exigência, demonstrando, assim, seu caráter sensível e de concreta disponibilidade.
• Junto com
Maria, que ela carrega em si, Jesus se move com a Mãe de Deus. Disto pode-se
deduzir o valor cristológico do episódio da visita de Maria à sua prima: a
atenção se volta sobretudo para Jesus. A primeira vista poderia parecer uma
cena focalizada sobre as duas mulheres; na realidade, o que é importante para o
evangelista é o prodígio presente na concepção deles. A mobilização de Maria
visa, no fundo, unir as duas mulheres.
• Quando
Isabel ouviu a saudação de Maria, o pequeno João pulou no ventre da mãe. Para
alguns o pulo não é comparável ao movimento do feto, que toda mulher grávida
experimenta. Lucas utiliza um verbo grego particular que significa propriamente
“pular”. Querendo interpretar o verbo, um pouco livremente, pode ser indicado
com “dançar”, excluindo assim a idéia de um fenômeno só físico. Alguém pensou
que esta “dança” poderia ser considerada uma forma de “homenagem” que João
presta a Jesus, inaugurando, antes do nascer, aquela atitude de respeito e de
submissão que caracterizou a atitude do Batista: «Após mim vem alguém que é
mais forte e ao qual não sou digno de desamarrar as sandálias» (Mc 1,7). Mais
tarde, o próprio João testemunhará: «Quem tem a esposa é o esposo; mas o amigo
do esposo, que está presente e ouve, exulta de alegria à voz do esposo porque
esta minha alegria se realizou. Ele deve crescer e eu devo diminuir» (Jo
3,29-30). Assim comenta santo Ambrósio: «Isabel ouviu por primeira a voz, mas
João percebeu por primeiro a graça». Uma confirmação desta interpretação a
encontramos nas próprias palavras de Isabel que, retomando no v. 44 o mesmo
verbo grego já utilizado no v. 41, esclarece: «Pulou de alegria no meu ventre».
Lucas, com estes particulares, quis lembrar o prodígio que aconteceu na
intimidade de Nazaré. Só agora, graças ao diálogo com uma interlocutora, o
mistério da divina maternidade deixa seu segredo e sua dimensão individual,
para se tornar um fato conhecido, objeto de apreço e de louvor.
• As
palavras de Isabel: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto d teu
ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?» (vv.
42-43). Com uma expressão semítica que equivale a um superlativo («entre as
mulheres»), o evangelista quer atrair a atenção do leitor para a tarefa de
Maria: ser a «Mãe do Senhor». E, portanto, a ela é reservada uma bênção
(«bendita é tu») e uma bem-aventurança. Em que consiste esta última? Expressa a
adesão de Maria à vontade divina. Maria não é só bendita, por um plano divino
que a torna tal, mas também bendita porque sabe aceitar e aderir à vontade de
Deus. Maria é uma pessoa que acredita, porque confiou numa simples palavra e
que ela lhe deu calor com o seu «sim» de amor. Ora Isabel lhe reconhece este
serviço de amor, identificando-a «bendita como mãe e feliz como crente».
• Enquanto
isso, João percebe a presença de seu Senhor e exulta, expressando com aquele
movimento interior a alegria que nasce daquele contato salvífico. Deste vento
será intérprete Maria no canto do Magnificat.
Um canto de amor:
Neste canto
Maria se considera parte dos anawim, dos “pobres de Deus”, daqueles que “temem
a Deus” confiando e esperando nEle totalmente, visto que, no plano humano,
estes “anawim” não gozam de algum direito ou prestígio. A espiritualidade dos
anawim pode ser sintetizada nas palavras do Salmo 37,7.9: «Descansa no Senhor e
nele espera», porque «quem espera no Senhor possuirá a terra».
No Sal
86,16 o orante, dirigindo-se a Deus, diz: «Dá a teu servo a tua força»: aqui o
termo “servo” expressa seu ser submisso, como também o sentimento de pertença a Deus, de se sentir seguro junto
dele.
Os pobres,
no sentido estritamente bíblico, são aqueles que confiam em Deus sem reserva
alguma; por isso devem ser considerados a parte melhor, qualitativa, do povo de
Israel.
Os
orgulhos, no entanto, são aqueles que confiam unicamente em si mesmos.
Ora, no
Magnificat, os pobres tem mil motivos para se alegrar, porque Deus glorifica os
anawim (Sal 149,4) e derruba os orgulhosos. Uma imagem tirada do NT, que traduz
muito bem a atitude do pobre do AT, é aquela do publicano que com humildade
bate no peito, enquanto o fariseu, gloriando-se de seus méritos se enche de
orgulho (Lc 18,9-14). Resumindo, Maria celebra o que Deus realizou nela e o que
realiza em todo crente. Alegria e gratidão caracterizam este hino à salvação
que reconhece grande Deus, mas que também torna grande que o canta.
Algumas perguntas para meditar:
1 - A minha oração é, primeiramente, expressão de um
sentimento ou celebração e reconhecimento da ação de Deus?
2 - Maria é apresentada como a crente na Palavra de Deus.
Quanto tempo dedico à escuta da Palavra de Deus?
3 - Tua oração se alimenta na Bíblia, como fez Maria? Ou
me dedico ao devocionismo que produz inúmeras orações sem cor e sem sabor?
Estou convencido que voltar à oração bíblica é segurança de encontrar um
alimento sólido, aceito pela própria Maria?
4 - Vives na lógica do Magnificat que exalta a alegria
do dar, do perder para encontrar, do acolher, a felicidade da gratuidade, da
doação?
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