As orações do Mês de Maria estão na pasta de Informações e Orações
«O
Espírito Santo vos recordará tudo o que Eu vos disse»
No
contexto da última ceia e do grande discurso de despedida, Jesus insiste no
vínculo fundamental que deve prevalecer sempre entre si e os discípulos: o
amor. Esse amor, transforma o discípulo em morada de Deus, habitação do
Espírito prometido, que é força, que é sabedoria, que é sopro e “respiração de
Deus”, mestre, guia, advogado, memória e paz. Essa paz que é manifestação plena
do amor, da certeza, da segurança e da tranqüilidade de Deus em nós. Essa paz
que não é como a “do mundo”, mas “paz que vem de Deus” que acontece na
superabundância da presença do Espírito que o Senhor Jesus promete como
companhia de caminho até ao fim dos tempos. Para que tenhamos fé. Para que
todos tenham fé.
Pe. David Teixeira, sdb
EVANGELHO
– Jo 14, 23-29 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a
minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa
morada. Quem Me não ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não
é minha, mas do Pai que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda
convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a
paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem
se intimide o vosso coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas
voltarei para junto de vós. Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para
o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer,
para que, quando acontecer, acrediteis».
“Quem Me ama guardará a minha palavra e meu
Pai o amará...”
Na
última ceia, nesta versão de João, encontramos um Jesus que se despede dos seus
discípulos e que, por isso, lhes confia alguns ‘segredos’. Um desses segredos é
esta Palavra de hoje: para se manterem na relação de amor com Deus Pai e com
Ele, os discípulos devem guardar a palavra que lhes foi transmitida durante o
tempo que conviveu com eles.
O
Senhor também me confia segredos. Para isso, devo ser íntimo/a com ele. Como posso
conseguir esta intimidade? Escutando, guardando e pondo em prática a sua
palavra. Neste início do mês de Maria, suplico a sua ajuda, uma vez que ela é
aquela que ‘guardava todas as coisas no seu coração’.
Na
origem de toda a experiência espiritual há sempre um movimento para diante.
Partindo de um pequeno passo, depois tudo se move com harmonia. E o passo a dar
é somente este: Quem me ama. Pode-se amar verdadeiramente Jesus? Por que é que
o seu rosto não se reflete nas pessoas? Amar: o que significa realmente? No
geral, amar, significa para nós querer-se, estar juntos, tomar decisões para
construir o futuro, dar-se... mas para Jesus não é a mesma coisa. Amá-lo
significa fazer como Ele fez, não retrair-se diante da dor e da morte; amar
como Ele significa pôr-se aos pés dos irmãos, para responder às suas
necessidades vitais; amar como Ele pode levar-nos longe... é neste amor que a
palavra se converte em pão quotidiano do qual nos alimentamos e a vida se
converte em céu pela presença do Pai.
“Nós
viremos a ele e faremos nele a nossa morada.”
Se
os discípulos guardaram a palavra de Jesus e se, com isso, permanecerem na
relação amorosa com Deus, então serão habitados por Ele. Deus, que é presença,
encontrará nestes guardadores da sua palavra, a casa, a morada, o seu lugar
familiar.
O
que mora no meu coração? São apenas os meus desejos, as minhas preocupações e
alegrias, o meu pecado e o que o mundo me propõe? Ou será que há lugar para que
Deus possa ter morada nele? Quero que Deus more em mim? Para que assim seja, já
sei a fórmula: guardar a palavra de Jesus. E parece que estou no bom caminho,
uma vez que estou a fazer a lectio divina.
“Quem não me ama não guarda as
minhas palavras. E a palavra não é minha mas do Pai que me enviou...”
Se não há amor as consequências são
desastrosas. As palavras de Jesus só podem ser observadas se há amor no
coração, de outro modo parecem propostas absurdas. Aquelas palavras não são de
um homem, nascem do coração do Pai que propõe a cada um de nós para ser como
Ele. Não se trata de fazer coisas na vida, mesmo que sejam boas. É necessário
ser homens, ser filhos, ser imagem semelhante a Quem não cessa de dar-se a Si
mesmo.
“Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do
Pai que Me enviou.”
Jesus
sente necessidade de certificar junto dos seus discípulos que a palavra que
lhes foi transmitida e que eles escutaram não é dele, mas de Deus, a quem Ele
chama de Pai e de quem Ele se sente enviado. Aliás, Ele não disse apenas as
palavras de Deus, Ele é a Palavra de Deus que lhes foi enviada.
Como
Jesus, também eu, como cristã/o, devo dizer e ser palavra de Deus, enviada aos
outros. De quem são palavras que digo? Quanto mais guardar e me imbuir das
palavras de Deus, mais as minhas palavras serão as suas palavras no mundo de
hoje, onde Deus é, cada vez mais, silenciado.
“Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu
vos disse.”
Vemos
aqui um Jesus que prepara os seus discípulos para acolherem o Espírito Santo, o
Paráclito, o defensor, o consolador. Jesus assegura-lhes que este Espírito é
enviado por Deus Pai e dará continuidade à sua obra: ensinar a palavra da Boa
Nova e ajudar a recordá-la e a guardá-la.
Como
é a minha relação com este Espírito Santo? Não será esta a pessoa da Santíssima
Trindade mais esquecida por mim? Será que permito e que recorro a Ele para que
dê continuidade e me ajude a dar continuidade à obra de Jesus?
Recordar
é obra do Espírito Santo; quando durante as nossas jornadas diárias o passado
desliza como algo irremediavelmente perdido e o futuro se apresenta ameaçador
para nos tirar a alegria de hoje, somente o sopro divino pode fazer-nos
recordar. Fazer memória do que se disse, de cada palavra saída da boca de Deus
e dirigida a ti, e esquecida pelo fato de que o tempo passou.
“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não
vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.”
Nesta
ceia de despedida, Jesus confia aos seus discípulos mais este ‘segredo’: a sua
paz. Um paz que lhes é dada por Ele e não pelo mundo. Uma paz que permite que
os seus corações não se sintam perturbados e intimidados com o que virá a
acontecer.
O
que será que me deixa perturbado e intimidado? O que será que inquieta o meu
coração? Perante todas essas situações, Jesus está disposto a sossegar-me,
concedendo-me a sua paz. Não é uma paz qualquer: é a paz que é Ele mesmo, é a
única paz que é capaz de me fazer repousar. A que estou disposto para acolher
esta Paz na minha vida?
A
paz que Cristo nos dá não é a ausência de problemas, serenidade na vida,
saúde... mas plenitude de todo o bem, ausência de medo diante do que pode
acontecer. O Senhor não nos assegura o bem-estar, mas a plenitude da filiação
numa adesão amorosa aos seus projetos de bem para nós. Possuiremos a paz quando
aprendermos a confiar no que o Pai escolhe para nós.
“Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas
voltarei a vós. ' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o
Pai, pois o Pai é mais do que Eu.”
Jesus,
sabendo da sua morte, comunica antecipadamente aos seus discípulos que se vai
ausentar mas, ao mesmo tempo, garante que voltará para junto deles. A ausência
será breve e, por outro lado, está confirmado o regresso e a permanência.
Ainda
que pareça que Jesus não está comigo, isso é impossível, porque Ele não pode
não estar comigo, Ele não quer não estar comigo, Ele não sabe outra coisa senão
estar comigo... Ele está sempre comigo. Sempre! Mais ainda nos momentos
difíceis. Mas... e eu? Posso eu estar sem Ele? Quero eu estar com Ele? Não sei
outra coisa senão estar com Ele?
Voltamos
à questão do amor. Se me amasseis, alegrar-vos-ias. Que sentido tem esta
expressão nos lábios do Mestre? Poderíamos completar a frase e dizer: se me
amasseis, alegrar-vos-ias por eu ir para o Pai... mas como somente pensais em
vós, estais tristes porque eu vou partir. O amor dos discípulos ainda é um amor
egoísta. Não amam Jesus porque não pensam n'Ele mas em si próprios. O amor que
Jesus nos pede é este: um amor que se alegra porque o outro é feliz. Um amor
que não pensa em si mesmo como o centro do universo, mas como um lugar em que
ouvir se converte em abertura para dar e poder receber: não em troca mas como
“efeito” do dom entregue.
“Digo-vo-lo
agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer.”
Jesus
ensina os seus porque sabe que ficarão confusos e terão dificuldade em
compreender. As suas palavras não desaparecem mas ficam presentes no mundo,
como tesouros de compreensão para a fé. Um encontro com o Absoluto que está
desde sempre e para sempre em favor do homem.
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