3º dia da Novena de Pentecostes.
«Vós
sois testemunhas disso»
Neste
Domingo, a Palavra de Deus leva-nos a Jerusalém, a cidade santa, o lugar dos
acontecimentos que falam dos últimos dias da vida terrena de Jesus. O
Ressuscitado reencontra os seus discípulos. Também nós, como eles, ainda meios
confusos com toda a situação e ao mesmo tempo alegres pela Sua Ressurreição,
queremos desfrutar um pouco da Sua presença. Também nós, esperamos o dom do
Espírito Santo para nos reforçarmos na fé e nos encorajarmos no anúncio do
Reino. Somos, igualmente, testemunhas da Sua ascensão, somos abençoados e
diante do Senhor renovamos a Aliança que nos enche de alegria e desejo de
prolongar a nossa intimidade com Ele por meio da oração e da missão que nos é
confiada. O Senhor Jesus sobe ao Céu: enquanto de cumpre o último ato da Sua
presença terrena, se prepara a vida da Igreja.
Ir. Anabela Silva, fma
EVANGELHO
- Lc 24, 46- 53 - «Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Está escrito que o
Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que devia
ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as
nações, começando por Jerusalém. Vós sois testemunhas disso. Eu vos enviarei
Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que
sejais revestidos com a força do alto”. Depois Jesus levou os discípulos até
junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava,
afastou-se deles e foi elevado ao Céu. Eles prostraram-se diante de Jesus, e
depois voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no
templo, bendizendo a Deus.»
Lectio:
«Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Está escrito que o Messias havia de
sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que devia ser pregado em
seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando
por Jerusalém.
Jesus
explica aos discípulos que a salvação iniciada com a revelação de YHWH no
Antigo Testamento, vivida e proclamada por Abraão, Moisés, os reis e os
profetas, completou-se no tríduo pascal, quando Cristo teve de sofrer e morrer
para ressuscitar ao terceiro dia. Estes fatos, que faziam parte da Sua vinda,
já aconteceram, são o kerigma, o anúncio fundamental de cada discípulo que se
tornou apóstolo do Evangelho. A Evangelização acontecerá “em seu nome”; a difusão
da Boa Notícia começara em Jerusalém para se alargar no tempo e no espaço. Os
frutos da pregação que falará do Salvador morto e ressuscitado serão a conversão
do coração, o perdão dos pecados, o regresso a Deus. Isto ainda não aconteceu:
é o que falta para completar as Escrituras; é isto que se pede aos discípulos.
Eis
chegado o tempo de inverte o caminho… Jesus caminhou para Jerusalém; agora
somos nós que devemos repartir dali para alcançar os confins da terra. É a mesma
missão que continua: convertermo-nos e apelarmos à conversão. Devemos
compreender que a estrada para Deus implica, necessariamente, morrer, como
aconteceu com Jesus, Seu Filho. Pode ser a morte aos vícios e hábitos
adquiridos que nos afastam de Deus e nos mergulham no pecado. Será uma passagem
pela morte, que será iluminada pela ressurreição. Assim, poderemos entrar na
Jerusalém Celeste.
Vós
sois testemunhas disso. Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai.
Jesus
não quer que a História de Salvação caia no esquecimento; que aqueles que
participaram na Sua Páscoa recordem e anunciem a salvação que Ele deu a cada
homem tornando-os testemunhas. Os discípulos viram, ouviram, tocaram,
conheceram, fizeram experiência da misericórdia de Deus e agora são enviados a anunciar
essa bela experiência. Cada discípulo terá autoridade credível diante dos fatos
ocorridos em Jerusalém e será um apóstolo habilitado para tal missão com a
força e a coragem derramadas pelo Espírito Santo que descerá sobre ele. Aquilo
que Deus promete, cumpre e realiza.
Ser
testemunhas é sempre uma escolha incômoda: é preciso coerência, verdade,
humildade e coragem. De fato, testemunha-se em primeiro lugar com a vida e
depois com as palavras… anunciar o Evangelho no mundo atual é cada vez mais
difícil, e talvez por isso, necessário: o Senhor precisa de mim e de ti!
Não
é necessária a demonstração de grandes manifestações que nada mais é que ruído;
cada dia é rico de ocasiões para se ser autênticas testemunhas da nossa fé.
Neste empenho não estamos sozinhos, não contemos apenas com as nossas forças: a
graça de Deus, todos os dias, desce sobre nós e nos encoraja. Acreditemos na
força desta presença divina.
“Por
isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto”.
Jesus
convida os seus discípulos a permanecerem, reunidos, na cidade, na espera
paciente do cumprimento da promessa. Deseja que estejam quietos, sem manifestar
agitação, preocupação, mas com confiança, em Jerusalém, cidade última da
História da Salvação; lugar sombrio onde decorreu a agonia, a prisão, o
processo, a flagelação, a coração e crucifixão. Mas Jerusalém é também o lugar
da luz fulgurante da ressurreição e das manifestações do Ressuscitado. Deste
modo, Jerusalém será também o lugar do Pentecostes.
Quando
penso na minha vida de cristã, sem dúvida, recordo-me de quantas vezes Deus já
veio ao meu encontro, diretamente ou indiretamente pelos acontecimentos e
situações diárias, através de pessoas e mediante inconvenientes que fazem parte
da vida.
E,
sem sombra de dúvidas, percebi que os dons de Deus não podem ser pretendidos
quando queremos, antecipados, vistos como deveres, mas são fruto da Sua
liberdade e benevolência. É preciso saber esperar com confiança e firmeza. Cada
um de nós é chamado a permanecer na cidade: a ficar com os outros, numa
paciente espera da Palavra.
Depois
Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos,
abençoou-os.
S.
Lucas conta a separação de Jesus dos seus discípulos de uma forma encantadora:
Jesus levou os discípulos para fora da cidade, para Betânia: é Ele que precede
como um pastor, que indica o caminho, que avança seguro. À imagem do pastor
surge outra significativa: erguendo as mãos, abençoou-os. A bênção é a última
imagem que os discípulos têm de Jesus depois de três anos com Ele. Jesus deixa
a sua última mensagem: tu és abençoado; tens o Bem dentro de ti, e cada Homem
tem o Bem dentro de si; é isto que devemos anunciar. Jesus deixou uma bênção,
não um juízo nem uma condenação. Aprendamos com Ele.
Deixemo-nos
conduzir para fora daquilo que não se cumpre no projeto de Deus, do que não é
santo; sigamos mais uma vez Jesus para receber o seu dom. Façamos tudo para que
em nós se viva a passagem da Antiga para a Nova Aliança. Como os discípulos,
temos necessidade de ser abençoados, de receber a graça de Deus. Por isso, ao
longo do nosso caminho devem existir paragens que nos revivifiquem como é o
caso dos sacramentos, e de um modo particular, a Eucaristia, a caridade e a
oração. Cada momento do itinerário de fé do cristão é um encontro em que as
mãos de Deus colocam-se sobre nós: lançam-nos para o Bem, incutem força e
perseverança, levantam-nos nas caídas da vida, protegem-nos do mal, e
guardam-nos no Amor.
Enquanto
os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao Céu.
Durante
o gesto da bênção, Jesus afasta-se e é elevado ao céu. Ele desaparece à vista
dos discípulos mas permanece a bênção. Portanto, a sua partida é um ir para
ficar, de um outro modo, junto deles. A presença de Jesus já não será
condicionada pelos limites do tempo e do espaço, será uma presença espiritual,
portanto, ilimitada, para sempre. Em João 16, 7 referiu: «Convém-vos que Eu vá»:
o seu partir apresenta um caminho, cria um vértice que nos atrai para Ele de
modo definitivo. Tudo acontece dentro de uma bênção que não tem fim e se
estende do céu à terra.
Jesus
é elevado ao céu: sabemos donde veio, mas não nos é concedido saber para onde
vai. Conhecemos o mistério da sua Encarnação, quando o céu de abre para a
grande manifestação terrena; com a Ascensão, o céu reabre-se para nos mostrar a
origem e o fim da nossa vida. Deste modo, Jesus pode abraçar toda a Humanidade.
Ascender/
elevar significa entrar em relação definitiva com Deus, é ter uma presença
forte e espalhada; como o céu cobre toda a terra, assim o Senhor, elevando-se
ao céu, envolve todos os homens. Não é um afastamento de Deus das suas
criaturas, mas muito mais: é uma aproximação mais profunda e envolvente.
Eles
prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria.
E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.»
Os
discípulos agora estão convictos e reforçados de uma experiência de fé profunda
e completa; numa atitude de adoração permanecem em oração no lugar da Ascensão
para iniciar ali o cântico de louvor e de alegria que é hoje a oração da
Igreja. Depois, em obediência para «ficar na cidade», voltam à centralidade da
oração hebraica, para reavivá-la e transfigurá-la, testemunhando com a alegria
tudo o que tinham vivido. Ali, em Jerusalém, saberão esperar o dom do Espírito
Santo prometido; ali, por sua vez, louvam Deus, fonte de toda a bênção.
Ao
medo e às dúvidas que tinham sobressaltado o coração dos discípulos no
Cenáculo, entra a alegria. Não existe saudades nem tristeza diante da presença-
ausência de Jesus. Todos somos chamados à plena alegria!
Jesus
não nos deixa órfãos, mas chama-nos para uma filiação plena, aquela do Espírito
Santo. Elevando-se ao Céu, Jesus termina a Sua missão. Hoje, somos nós, a
continuar a sua missão, no espaço e no tempo da história humana, até aos
confins do mundo, tendo presente sempre a oração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO