Santa Agueda |
Comentário:
Rev. D. Francesc PERARNAU i Cañellas (Girona, Espanha)
Filha, a tua fé te
salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença
Hoje o Evangelho apresenta-nos dois milagres
de Jesus que nos falam da fé de duas pessoas bem diferentes. Tanto Jairo —um
dos chefes da sinagoga— quanto aquela mulher doente mostram uma grande fé:
Jairo tem a certeza de que Jesus pode curar a sua filha, enquanto aquela boa
mulher confia em que um mínimo de contato com a roupa de Jesus será suficiente
para ficar liberada de uma doença grave. E Jesus, porque são pessoas de fé,
concede-lhes o favor que buscavam.
A
primeira foi a mulher, aquela que pensava não era digna de que Jesus lhe
dedicara tempo, aquela que não se atrevia a incomodar o Mestre nem a aqueles
judeus tão influentes. Sem fazer barulho, aproxima-se e, tocando a borla do
manto de Jesus, "arranca" sua cura e ela em seguida o nota em seu
corpo. Mas Jesus, que sabe o que aconteceu, quer lhe dizer umas palavras:
«Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença» (Mc 5,34).
A
Jairo, Jesus pede-lhe uma fé ainda maior. Como já Deus tinha feito com Abraham
no Antigo Testamento, pedirá uma fé contra toda esperança, a fé das coisas
impossíveis. Comunicaram-lhe a Jairo a terrível notícia que sua filha acabara
de morrer. Podemo-nos imaginar a grande dor que sentia nesse momento, e talvez
a tentação da desesperação. E Jesus, que o ouviu, lhe diz: «Não tenhas medo,
somente crê» (Mc 5,36). E como aqueles patriarcas antigos, crendo contra toda
esperança, viu como Jesus devolvia-lhe a vida a sua amada filha.
Duas
grandes lições de fé para nós. Desde as paginas do Evangelho, Jairo e a mulher
que sofria hemorragias, juntamente com tantos outros, falam-nos da necessidade
de ter uma fé imóvel. Podemos fazer nossa aquela bonita exclamação evangélica:
«Eu creio, Senhor, ajuda-me na minha falta de fé» (Mc 9,24).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
Reflexão
*
No evangelho de hoje, vamos meditar sobre dois milagres de Jesus em favor de
duas mulheres. O primeiro, em favor de uma senhora, considerada impura por
causa de uma hemorragia que já durava doze anos. O outro, em favor de uma
menina de doze anos, que acabava de falecer. Conforme a mentalidade da época,
qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada impura.
Sangue e morte eram fatores de exclusão! Por isso, aquelas duas mulheres eram
pessoas marginalizadas, excluídas da participação na comunidade.
*
O ponto de partida. Jesus chega de barco. O povo se junta. Jairo, o chefe da
sinagoga, pede pela filha que está morrendo. Jesus vai com ele e o povo todo o
acompanha, apertando-o de todos os lados. Este é o ponto de partida para as
duas curas, que seguem: a cura da mulher e a ressurreição da menina de doze
anos.
*
A situação da mulher. Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída,
pois, naquele tempo, o sangue tornava a pessoa impura, e quem tocasse nela
também ficava impura. Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua
economia com os médicos. Em vez de ficar melhor, ficou pior. Situação sem
solução!
*
A atitude da mulher. Ela ouviu falar de Jesus. Nasceu uma nova esperança. Ela
disse consigo: “Se ao menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O
catecismo da época mandava dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará
impuro”. A mulher pensa exatamente o contrário! Sinal de que as mulheres não
concordavam com tudo o que as autoridades religiosas ensinavam. A mulher meteu-se
no meio da multidão e, de maneira desapercebida, tocou em Jesus, pois todo
mundo o apertava e tocava nele. No mesmo instante ela sentiu no corpo que
estava curada.
*
A reação de Jesus e dos discípulos. Jesus também sentiu que uma força tinha
saído dele e perguntou: “Quem foi que me tocou?” Os discípulos reagem: “O
senhor está vendo essa multidão que o aperta de todos os lados e ainda pergunta
‘Quem foi que me tocou?’” Aqui aparece o desencontro entre Jesus e os
discípulos. Jesus tinha uma sensibilidade que não era percebida pelos
discípulos. Estes reagiram como todo mundo e não entenderam a reação diferente
de Jesus. Mas Jesus nem liga, e continua indagando.
* A cura pela fé. A mulher percebeu que tinha sido descoberta. Foi um momento difícil e perigoso. Pois, conforme a crença da época, uma pessoa impura que, como aquela senhora, se metia no meio de uma multidão, contaminava todo mundo através do toque. Fazia todos ficar impuro diante de Deus (Lv 15,19-30). Por isso, como castigo, ela poderia ser apedrejada. Mas a mulher teve a coragem de assumir o que fez. “Cheia de medo e tremendo” caiu aos pés de Jesus e contou toda a verdade. Jesus dá a palavra final: “Minha filha, sua fé curou você. Vai em paz e fique curada dessa doença!” (1) “Minha filha”, isto é, Jesus acolhe a mulher na nova família, na comunidade, que se formava ao seu redor. (2) Aquilo que ela acreditava aconteceu de fato. (3) Jesus reconhece que sem a fé daquela mulher ele não poderia ter feito o milagre.
*
A notícia da morte da menina. Neste momento o pessoal da casa de Jairo informa
que a filha tinha morrido. Já não adiantava molestar Jesus. Para eles, a morte
era a grande barreira. Jesus não conseguiria ir além da morte! Jesus escuta,
olha para Jairo e aplica o que acabava de presenciar, a saber, que a fé é capaz
de realizar o que a pessoa acredita. E ele diz: “Não tenha medo! Crê somente!”
*
Na casa de Jairo. Jesus só permite três discípulos com ele. Vendo o alvoroço
dos que fazem luto pela morte da menina, ele diz: “A criança não morreu. Está
dormindo!”. O pessoal deu risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está
dormindo ou quando está morta. É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que
não conseguem crer que para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc
1,37). Também para eles, a morte era uma barreira que ninguém poderia
ultrapassar! As palavras de Jesus têm ainda um significado mais profundo. A
situação das comunidades perseguidas do tempo de Marcos parecia uma situação de
morte. Elas tinham que ouvir: “Não é morte! Vocês é que estão dormindo!
Acordem!” Jesus não dá importância à risada e entra no quarto onde está a
menina, só ele, os três discípulos e os pais da menina.
*
A ressurreição da menina. Jesus toma a criança pela mão e diz: “Talita kúmi!”
Ela levantou-se. Grande alvoroço! Jesus conserva a calma e pede que lhe dêem de
comer. Duas mulheres são curadas! Uma tem doze anos de vida, a outra tem doze
anos de hemorragia, doze anos de exclusão! Aos doze anos começa a exclusão da
menina, pois começa a menstruação, começa a morrer! Jesus tem poder maior e
ressuscita: “Levante-se!”
Para um confronto
pessoal
1) Qual o ponto deste texto de que
você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por que?
2) Uma mulher foi curada e reintegrada
na convivência da comunidade. Uma menina foi levantada do seu leito de morte. O
que esta ação de Jesus nos ensina para nossa vida em família e na comunidade,
hoje?
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