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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DA QUARESMA



cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura

Para os católicos os exercícios espirituais são uma oportunidade para "libertar a alma da lama do pecado, da areia das banalidades, das urtigas daquelas conversas que, especialmente nestes dias, ocupam continuamente os nossos ouvidos".

Os exercícios espirituais implicam "ascese", palavra grega que significa precisamente "exercício", e, ao mesmo tempo, podem ser alimentados pela "criatividade" da oração, unida sempre ao rigor teológico.

Os momentos centrais do ato de orar são identificados quatro verbos: 
1) respirar, 
2) pensar, 
3) lutar, 
4) amar.

A oração, em primeiro lugar, é respiração: um ato essencial para a fé, assim como a respiração o é para a vida. Como afirmava o cardeal Yves Congar, a respiração é a oração, enquanto os sacramentos são o alimento.

Pensar é um ato não menos essencial na oração, que não é apenas "emoção" ou "instinto", mas "envolvimento pessoal na nossa busca de Deus". São Tomás de Aquino  afirmou que "a oração é um ato da razão que aplica o desejo da vontade naquele que não está sob o nosso poder, mas é superior a nós": Deus.

O verbo lutar sugere a luta entre Jacó e o anjo, "que Oseias, séculos mais tarde, interpreta como uma oração". De acordo com o profeta, Jacó lutou com o anjo, "venceu, chorou e pediu a graça" (Os 12,5).

A oração, especialmente quando é autêntica, envolve sofrimento e súplica a Deus. Na oração há um componente de luta que nasce da dificuldade de entender a vontade de Deus e que, às vezes, "raia a blasfêmia". Mas Deus, que "lê no profundo", escuta mais facilmente uma blasfêmia desabafada com fé e de coração do que "tantas orações mecânicas de domingo de manhã".

O quarto verbo é amar. A experiência do Deus-amor é distintamente cristã. Em outras religiões, "ele não está perto de nós o suficiente para poder ser abraçado". Longe de ser um "motor imóvel", como Aristóteles afirmava, o Deus cristão "não é um Deus do qual se quer falar, mas um Deus a quem se quer falar".

É por isso que, para o cristão, "a oração deve ter essa dimensão de intimidade festiva, de colóquio", sempre compatível com as três dimensões já citadas: a respiração, o pensamento e a luta.

Um quinto componente, que, em certo sentido, envolve os quatro verbos da oração, é o silêncio. “Dois verdadeiros enamorados, quando já esgotaram todo o arsenal de clichês e estereótipos do amor, se realmente estão enamorados, se olham nos olhos e não dizem nada”.

A oração não é diferente: é um "cruzar silencioso dos olhares, que derrama a verdadeira contemplação orante”.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA QUINTA-FEIRA DA I SEMANA DA QUARESMA

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