cardeal
Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura
Para os católicos os exercícios
espirituais são uma oportunidade para "libertar a alma da lama do pecado,
da areia das banalidades, das urtigas daquelas conversas que, especialmente
nestes dias, ocupam continuamente os nossos ouvidos".
Os exercícios espirituais implicam
"ascese", palavra grega que significa precisamente
"exercício", e, ao mesmo tempo, podem ser alimentados pela
"criatividade" da oração, unida sempre ao rigor teológico.
Os momentos centrais do ato de
orar são identificados quatro verbos:
1) respirar,
2) pensar,
3) lutar,
4)
amar.
A oração, em primeiro lugar, é respiração:
um ato essencial para a fé, assim como a respiração o é para a vida. Como
afirmava o cardeal Yves Congar, a respiração é a oração, enquanto os
sacramentos são o alimento.
Pensar é um ato não menos
essencial na oração, que não é apenas "emoção" ou
"instinto", mas "envolvimento pessoal na nossa busca de
Deus". São Tomás de Aquino afirmou
que "a oração é um ato da razão que aplica o desejo da vontade naquele que
não está sob o nosso poder, mas é superior a nós": Deus.
O verbo lutar sugere a luta entre
Jacó e o anjo, "que Oseias, séculos mais tarde, interpreta como uma
oração". De acordo com o profeta, Jacó lutou com o anjo, "venceu,
chorou e pediu a graça" (Os 12,5).
A oração, especialmente quando é
autêntica, envolve sofrimento e súplica a Deus. Na oração há um componente de
luta que nasce da dificuldade de entender a vontade de Deus e que, às vezes,
"raia a blasfêmia". Mas Deus, que "lê no profundo", escuta
mais facilmente uma blasfêmia desabafada com fé e de coração do que
"tantas orações mecânicas de domingo de manhã".
O quarto verbo é amar. A
experiência do Deus-amor é distintamente cristã. Em outras religiões, "ele
não está perto de nós o suficiente para poder ser abraçado". Longe de ser
um "motor imóvel", como Aristóteles afirmava, o Deus cristão
"não é um Deus do qual se quer falar, mas um Deus a quem se quer
falar".
É por isso que, para o cristão,
"a oração deve ter essa dimensão de intimidade festiva, de colóquio",
sempre compatível com as três dimensões já citadas: a respiração, o pensamento
e a luta.
Um quinto componente, que, em
certo sentido, envolve os quatro verbos da oração, é o silêncio. “Dois
verdadeiros enamorados, quando já esgotaram todo o arsenal de clichês e
estereótipos do amor, se realmente estão enamorados, se olham nos olhos e não
dizem nada”.
A oração não é diferente: é um
"cruzar silencioso dos olhares, que derrama a verdadeira contemplação
orante”.
LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA QUINTA-FEIRA DA I SEMANA DA QUARESMA
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