«Não tentarás o Senhor
teu Deus!»
Iniciamos
o tempo da Quaresma. Tempo de Deus. Tempo de nos deixarmos converter ao Deus
centro do nosso existir. Sem cedermos à tentação, ao abandono, ao já gasto.
Para vivermos numa óptica que exige ajustes constantes do ser ao Ser. Da vida à
vida nova. Ao equilíbrio. À perseverança. À fé. Sem nos deixarmos tentar pela
tentação de tentarmos a Deus. Jesus ensina-nos o como. Nós só temos que colocar
o sentido e sermos coerentes com a resposta. No espírito da entrega, da
renovação, da vida em Deus. Colocando o Senhor no centro.
Pe. Tarcízio
Morais, sdb
EVANGELHO
(Lc 4,1-13) - Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens
do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e
foi tentado pelo diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo,
sentiu fome. O diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se
transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o
homem». O diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os
reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes
reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares
diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor
teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o demônio levou-O a
Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do Templo e disse-Lhe: «Se és Filho de
Deus, atira-te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus
Anjos a teu respeito, para que te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te
levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está
mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o diabo, tendo terminado toda
a espécie de tentação, retirou-Se da presença de Jesus, até certo tempo.
SEGUNDA-FEIRA
PALAVRA - Naquele tempo, Jesus, cheio do
Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve
no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo diabo.
Todos
sabemos a importância que o deserto e o número “quarenta” têm no contexto do
mundo de Israel. No deserto o povo foi também ele tentado ao abandono, a voltar
atrás na sua opção fundamental de caminhar para o encontro com Deus. Quarenta
anos de necessidades vencidas até chegar à terra da promessa. No mesmo deserto,
durante quarenta dias, Jesus sofre a tentação. Para fazer ver o sentido da sua
missão e a consciência da sua fidelidade ao mais importante. Um exemplo para
nós.
MEDITAÇÃO
Tentados,
nós? Muitas vezes e de muitos modos. Um e mesmo fim: afastar-nos do centro do
nosso existir – Deus e o seu amor. O problema não está na “tentação”. O segredo
está na vitória sobre a tentação. O mais fácil. O mais (in)coerente. O mal menor.
Tudo serve de desculpa para facilitarmos quando a tentação surge. Mesmo sabendo
que “ninguém é tentado acima das suas próprias forças” o que é certo é que na
primeira aí vamos nós… Porque é tão complicado dizer “não”? Porque é tão
difícil optar sempre pelo mais coerente? Porque é tão absurdo o nosso cair?
ORAÇÃO
Reconheço,
Senhor, a minha falta de força. Caio sem querer, querendo, a cada instante no
que me afasta de ti, colocando em causa a minha opção fundamental por ti. A
fraqueza deste meu existir faz-me resistir ao teu amor permanente que tudo
espera, tudo crê, tudo suporta em mim. Ajuda-me a ser forte e persistente. A
vencer. A vencer por ti, Senhor. Com o teu amor e a tua graça. Porque tentado
apenas e só pelo teu amor...
AÇÃO
Procura
viver este teu dia atento a tudo o que te leva ao arrependimento: à palavra
escondida, à ambiguidade, à falta de serenidade e seriedade, à falta de
verdade, à falta de Deus.
TERÇA-FEIRA
PALAVRA - Durante quarenta dias, esteve no deserto...
Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome.
Jesus
como que é guiado pelo Espírito até ao momento da tentação. Recorda-nos Moisés
(Ex 34,28; cfr 1 Re 19,1-8). Sem nada comer, chega o momento de ter fome. Na
humanidade de Jesus esta tentação de pão transfigura-se em tentação de
absoluto. Quem pode, neste contexto, tentar o próprio Deus entre nós? Quem ousa
fazer da humanidade de Jesus e da sua fome, uma oportunidade para proclamar um
outro querer e um outro existir de poder e necessidade?
MEDITAÇÃO
Na
humanidade de Jesus sentimos a sua proximidade e profundidade de existência.
Não lhe basta um só “plano” de configuração (esta de ser tão humanamente nosso
que chega a sentir a nosso fome) mas é apresentado outro “plano” (esse de ser
tão profundamente de Deus que qualquer provocação tudo se transforma em sem
sentido e limitação). Após a sua saciável e humana fome, procuramos em Jesus
esse outro rosto que nos transporta para a sua transcendência e absoluto. Quem é
este Jesus para ti? Tão humano que se torna insignificante? Tão de Deus que se
torna distante e inacessível? Jesus é mais…
ORAÇÃO
Dá-nos,
Senhor, sempre do teu alimento: para que a nossa fome de ti seja saciada pelo
teu amor. Para que em cada instante possamos vencer a tentação do eu absoluto.
Para que sejas sempre a luz, o caminho, a vida. Para que sejas, em nós, certeza
de futuro e abundância saciada daquilo que mais necessitamos… Para que sejas
Senhor e Mestre, exemplo e caminho. Vida e abundância.
AÇÃO
Diante
da tentação da indiferença com o outro, procura estar atento, ajudar, partilhar
o que és e sentes.
QUARTA-FEIRA
PALAVRA - O diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus,
manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito:
‘Nem só de pão vive o homem».
O
tentador é aqui identificado com o “diabo”. Noutros momentos, o mesmo pedido é
apresentado por outras palavras “se é na verdade o Filho de Deus, salve-se a si
mesmo”! Não importa a origem, importa o fim e o objetivo: mostrar agora que é
autenticamente Deus conosco, capaz do milagre, capaz de transformar (qual
prodígio!) pedras em pão. Mas “nem só de pão vive o homem”: vivemos de algo
mais, marcados pela “marca” de Jesus Salvador.
MEDITAÇÃO
Duras
são as pedras de uma existência que não se transformam em pão! O milagre maior
de Jesus não está na capacidade de transformar “pedras” em “pão”, mas de
transformar o nosso “coração de pedra” em pão transformado de amor e vida nova.
O que é necessário não é o “pão que sacia a fome”, mas o pão de eternidade que
sacia para sempre o nosso ser, transformando-nos, porque alimentados pelo pão
da vida. Ele mesmo, o Senhor. Porque nem só de pão vivemos. Vivemos desse amor
e dessa graça oferecida a cada instante por Cristo, nosso Salvador. Que pão
tens tu para oferecer, já que tão tocado pelo amor de Jesus?
ORAÇÃO
Transforma,
Senhor, o nosso coração de pedra. Liberta-nos dos egoísmos, das falsas
liberdades, da falta de sentido. Liberta-nos de tudo o que não nos deixa
aproximar do que é fundamental, do que procede de ti, de todo o teu amor.
Transforma-nos, Senhor, em homens e mulheres novos capazes sempre de amar e
viver na disponibilidade da tua vontade. Transformados por ti em ti.
Alimentados pelo pão da vida que és tu.
AÇÃO
Nem
só de pão vive o homem, mas há muitos homens que padecem a sua falta. O tempo
da Quaresma é também um tempo de penitência e renúncia. Partilha a tua renúncia
de hoje com quem sabes necessitado do “pão de cada dia”.
QUINTA-FEIRA
PALAVRA - O diabo levou-O a um lugar alto e
mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei
todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a
quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus
respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás
culto’».
Dois
mundos, dois horizontes de existência. O que se faz “poder” e o que se faz
“partilha”. Um habitado por domínios de mentira, conflito de interesses, mil
poderes. Outro que é oferta de si mesmo, preocupação pelo mais pobre, na
indigência da vida que passa. A tentação de adorar as coisas do mundo ou a Deus
em pessoa confronta o viver humano de todos os tempos. Uma só pode ser a
resposta....
MEDITAÇÃO
Neste
mundo em que vivemos muito nos afasta daquilo que mais importa. As “coisas do
mundo” prendem-nos ao que é essencial, à procura do bem maior, à certeza de
sabermos em quem (e em que) colocamos a razão do nosso sentir e existir.
Prostrados diante dos mil e um ídolos que o mundo oferece (poder do dinheiro,
do status, do controle) não deixa ver aquilo que é mais importante: esse Deus
em nós que é Jesus Cristo, espelho de verdade, coerência de existir, felicidade
em primeira pessoa. Um Deus que quero hoje e sempre adorar como Senhor do meu
existir!
ORAÇÃO
Senhor,
meu Deus, a ti elevo a minha alma e todo o meu ser. Quero adorar-te e cantar os
teus louvores. Reconhecer-te como Pai que nos dá a vida, desde a criação.
Reconhecer-te como Cristo na salvação que ofereceste a cada um de nós.
Reconhecer-te como Senhor na força transformante do teu Espírito. Porque és o
meu Senhor, eis-me aqui para adorar-te e cantar os teus louvores.
AÇÃO
Procura
um tempo de conversão do teu tempo para a intimidade com Deus, para a adoração
profunda. Com palavras e sentimentos simples. Com todo o teu ser.
SEXTA-FEIRA
PALAVRA - Então o demônio levou-O a Jerusalém,
colocou-O sobre o pináculo do Templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus,
atira-te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a
teu respeito, para que te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado:
‘Não tentarás o Senhor teu Deus’».
Jerusalém
e o templo de Deus são espaço novo de tentação. Jesus vem do deserto para a
cidade. Aqui se dará o espetáculo que o tentador pretende: lançar-se do alto do
Templo. Não está em causa o salvar-se a si mesmo, mas o salvar a todos os
homens. Não é o centramento sobre si que Jesus pretende, mas sobre a humanidade
necessitada de um tempo novo.
MEDITAÇÃO
A
curiosidade do nosso olhar ajuda-nos a compreender o espetáculo que pretende o
tentador: quando se para no trânsito para “ver” um acidente, uma briga ou o que
quer que seja. É muito forte o desejo de ver “prodígios” a propósito e a
despropósito. Em Cristo Jesus encontramos um outro olhar sobre o sentido da
vida, o sentido da palavra, do olhar, do fazer. O seu Evangelho será a
testemunha maior do seu querer, da sua forma de atuar. Do seu ser em nós. Para
contemplarmos a Deus vivo e verdadeiro, cujo mandamento respeitamos: “não
tentarás o Senhor teu Deus. Ou será que sim?
ORAÇÃO
Quero
ser tua morada, Senhor. Nos caminhos que percorro, nas certezas e incertezas
que encontro, a cada instante, ensina-me a escutar e a viver a Tua Palavra. Faz
de mim e da tua Igreja tua morada. Uma morada de vida: da vida que me dás. Uma
morada de paz: da paz que tu és. Uma morada de amor: do teu amor…
AÇÃO
A
vaidade, o aparecer (e todos os mundos das aparências), a mentira, o espetáculo
são dimensões do nosso ser a precisar de mudança. Procura hoje ser discreto no
teu agir, no teu amar. Que a tua mão direita não saiba o que faz a tua
esquerda...
SÁBADO
PALAVRA - Então o diabo, tendo terminado toda a
espécie de tentação, retirou-Se da presença de Jesus, até certo tempo.
Vencido
pela atitude e argumentação de Jesus, o tentador abandona o espaço “até certo
tempo”, por agora. Portanto, voltará. Porque volta sempre. Neste paralelo de
tentações de Jesus com as “tentações de Israel” vemos como Jesus vence (ao
contrário de Israel que sempre cai). Onde Israel é infiel, Cristo Jesus
triunfa. Outrora Israel e Cristo Jesus. Hoje nós…
MEDITAÇÃO
Para
isso existe a Quaresma: para que possamos olhar a vida e olhar-nos na nossa
vida; para que saibamos prestar atenção aos caminhos onde Jesus triunfa e optar
pelos projetos onde Cristo é vitória, para caminharmos os caminhos de Deus.
Este é o tempo de apagarmos os ruídos que ensurdecem, para escutarmos a voz de
Deus. Para nos deixarmos seduzir por Deus nos desertos do nosso ser e voltar às
fontes originais da vida que significam fidelidade e entrega permanente. Para
isto existe a Quaresma: que farás de novo na tua Quaresma de 2010?
ORAÇÃO
Caminho
na procura de um tempo que seja só teu, meu Senhor. Ando vazio, correndo de
lado para lado, sem encontrar tranquilidade para o teu abraço e a tua presença.
Desconfio que já não sei rezar e de ti me esquecer. Caminho longe desse amor
que me aconchega, perdoa e acolhe. Longe de ti entre palavras que nada dizem da
intimidade que em ti espero, que me alenta, que me enche. Caminho na tua
procura, sem perceber que aqui estás, caminhando a passos mil, acompanhando meu
andar desprevenido. Tão desprevenido que te não vejo, cego por meus cuidados…
Tentado sou a retirar-me da tua presença. Mas tu nunca desistes de me encontrar
porque me queres teu. Teu filho predileto. Mesmo como sou…
AÇÃO
Qual
é a tentação de fundo maior na tua vida? Que deves fazer para a eliminar?
Procura fazer um tempo de jejum das coisas que te afastam de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO