Santo Tomás de Aquino |
Evangelho
(Mc 3,22-30): Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Belzebu
e expulsava os demônios pelo poder do chefe dos demônios. Jesus os chamou e
falou-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino se
divide internamente, ele não consegue manter-se. Se uma família se divide
internamente, ela não consegue manter-se. Assim também, se Satanás se levanta
contra si mesmo e se divide, ele não consegue manter-se, mas se acaba. Além
disso, ninguém pode entrar na casa de um homem forte para saquear seus bens,
sem antes amarrá-lo; só depois poderá saquear a sua casa. Em verdade, vos digo:
tudo será perdoado às pessoas, tanto os pecados como as blasfêmias que tiverem
proferido. Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será
perdoado; será réu de um ‘pecado eterno’». Isso, porque diziam: «Ele tem um
espírito impuro».
Comentário: Rev. D. Vicenç GUINOT i Gómez (Sitges,
Barcelona, Espanha)
Aquele, porém, que blasfemar
contra o Espírito Santo nunca será perdoado
Hoje,
ao ler o Evangelho do dia, você não deixa o seu espanto – “alucina”, como se
diz na linguagem da rua —. «Os escribas vindos de Jerusalém» veem a compaixão
de Jesus pelas pessoas e o seu poder que atua em favor dos oprimidos, e —
apesar de tudo—dizem-lhe que «estava possuído por Belzebu» e «expulsava os
demônios pelo poder do chefe dos demônios» (Mc 3, 22). Realmente é uma surpresa
ver até onde podem chegar a cegueira e a malícia humanas, neste caso de uns
letrados. Têm diante da bondade em pessoa, Jesus, o humilde de coração, o único
Inocente e não aprendem. Eles deviam ser os entendidos, os que conhecem as
coisas de Deus para ajudar o povo, e afinal não só não o reconhecem como o
acusam de diabólico.
Com
este panorama era caso para dar meia volta e dizer: «Ficai aí!». Mas o Senhor
sofre com paciência esse juízo temerário sobre a sua pessoa. Como afirmou João
Paulo II, Ele «é um testemunho insuperável de amor paciente de humildade e
mansidão». A sua condescendência sem limites leva-o, inclusive, a tratar de
remover os seus corações argumentando-lhes com parábolas e considerações da
razão. Até que, no final, adverte com a sua autoridade divina que esse fechar
de coração, que é rebeldia diante do Espírito Santo ficará sem perdão (cf Mc
3,29). E não porque Deus não queira perdoar, mas porque para ser perdoado,
primeiro, cada um tem que reconhecer o seu pecado.
Como
anunciou o Mestre, é longa a lista de discípulos que sofreram a incompreensão,
quando agiam com toda a boa intenção. Pensemos, por exemplo, em Santa Teresa de
Jesus quando tentava levar à mais alta perfeição as suas irmãs.
Não
estranhemos, por tanto, se no nosso caminhar aparecerem essas contradições.
Serão indício de que vamos no bom caminho. Rezemos por essas pessoas e peçamos
ao Senhor que nos dê resistência.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
Reflexão
*
O conflito cresce. Existe uma sequência progressiva no evangelho de Marcos. Na
medida em que a Boa Nova progride e é aceita pelo povo, nesta mesma medida
cresce a resistência por parte das autoridades religiosas. O conflito começa a
crescer e envolve vários grupos de pessoas. Por exemplo, os parentes de Jesus
acham que ele ficou louco (Mc 3,20-21), e os escribas que tinham vindo de
Jerusalém acham que ele é um possesso (Mc 3,22).
*
Conflito com as autoridades. Os escribas caluniam Jesus. Dizem que ele está
possesso e que expulsa os demônios com a ajuda de Belzebu, o príncipe dos
demônios. Eles tinham vindo de Jerusalém, a mais de 120 km de distância, para
vigiar o comportamento de Jesus. Queriam defender a Tradição contra as
novidades que Jesus ensinava ao povo (Mc 7,1). Achavam que o ensino dele era
contra a boa doutrina. A resposta de Jesus tem três partes.
*
Primeira parte: a comparação da família dividida. Jesus usa a comparação da
família dividida e do reino dividido para denunciar o absurdo da calúnia. Dizer
que Jesus expulsa os demônios com a ajuda do príncipe dos demônios é negar a
evidência. É o mesmo que dizer que a água é seca, e que o sol é escuridão. Os
doutores de Jerusalém caluniavam, porque não sabiam explicar os benefícios que
Jesus realizava para o povo. Estavam com medo de perder a liderança.
*
Segunda parte: a comparação do homem forte. Jesus compara o demônio com um
homem forte. Ninguém, a não ser uma pessoa mais forte, poderá roubar a casa de
um homem forte. Jesus é este mais forte que chegou. Por isso, ele consegue
entrar na casa e amarrar o homem forte. Consegue expulsar os demônios. Jesus
amarrou o homem forte e agora rouba a casa dele, isto é, liberta as pessoas que
estavam no poder do mal. O profeta Isaías já tinha usado a mesma comparação
para descrever a vinda do messias (Is 49,24-25). Lucas acrescenta que a
expulsão do demônio é um sinal evidente de que chegou o Reino de Deus (Lc
11,20).
*
Terceira parte: o pecado contra o Espírito Santo. Todos os pecados têm perdão,
menos o pecado contra o Espírito Santo. O que é o pecado contra o Espírito
Santo? É dizer: “O espírito que leva Jesus a expulsar o demônio, vem do próprio
demônio!” Quem fala assim torna-se incapaz de receber o perdão. Por quê? Quem
tapa os olhos pode enxergar? Não pode! Quem mantém a boca fechada pode comer?
Não pode! Quem não fecha o guarda-chuva da calúnia pode receber a chuva do
perdão? Não pode! O perdão passaria de lado e não o atingiria! Não é que Deus
não quer perdoar. Deus quer perdoar sempre! Mas é o pecador que se recusa a
receber o perdão!
Para um confronto
pessoal
1) As autoridades religiosas se fecham
e negam a evidência. Já aconteceu comigo eu me fechar contra a evidência dos
fatos?
2) Calúnia é a arma dos fracos. Você
já teve experiência neste ponto?
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