A
GAUDIUM ET SPES E O ATEÌSMO
Pe. Vilmar Adelino Vicente
A
razão principal da dignidade humana é a comunhão com Deus! Afinal, homem e
mulher são frutos do amor de Deus!
A
Verdade e o Amor são dois anseios antropológicos perenes e universais. Todavia,
muitos seres humanos não têm essa concepção teísta e até rejeitam,
explicitamente, a possibilidade da existência de Deus, ao menos do Deus
revelado no cristianismo ou no judaísmo. O mesmo se diga das divindades
manifestas por inspiração e cultuados nas grandes expressões religiosas. Esse
fenômeno merece um exame mais diligente da Igreja (GS 252).
O
ateísmo é um fenômeno diversificado envolvendo não só os que negam expressamente
a Deus, como também os que pensam que sobre Deus nada podemos declarar. Alguns
negam claramente todo o pensamento filosófico metafísico e afirmam apenas o
reinado das ciências positivas que tudo explicam. Não haveria, portanto,
verdades absolutas, mas apenas saber científico relativo. Neste processo
histórico, geralmente, há uma exaltação do homem e uma negação de Deus. Alguns
reduzem a concepção de Deus a uma fantasia; não chegam a compreender o Deus
revelado nos Evangelhos (GS 253). Na verdade, num mundo secularizado, sequer o
problema de Deus causa inquietação e, o fenômeno religioso, não merece atenção
ou investigação.
Todavia,
há de se reconhecer que, muitas vezes, o ateísmo se origina da indignação
diante do mal no mundo e de expressões religiosas alienantes e repressoras, ou
da absolutização de bens humanos atribuídos a Deus.
É
preciso considerar que, os que negam a Deus e a religião, nem sempre seguem os
ditames de sua consciência e, por isso, não são isentos de culpa moral.
Portanto, o ateísmo não é algo inato à consciência humana, mas tem origem em
causas diversas, entre estas a crítica da religião em diversas perspectivas e
até mesmo movimentos contra a religião católica.
Nesta
gênese do ateísmo, os crentes que negligenciam a educação da fé promovendo a
distorção doutrinal, ou vivendo uma heresia vital no campo espiritual, moral e
social têm grande responsabilidade porque obscurecem a genuína face de Deus e
da religião (GS 254).
O
ateísmo sistemático moderno busca uma autonomia radical do homem sem Deus.
Nesta ótica, a liberdade é o próprio fim do ser humano, único artífice e
demiurgo da própria história. Com isto afirmam que sua posição existencial não
reconhece um Senhor, autor e fim de todas as coisas. Prefere-se confiar na
potência do progresso científico e tecnológico. A tendência, nesse caso, é de
um reducionismo da libertação humana à libertação econômico-social e
político-cultural.
A
religião, nessa ótica, é vista com restrição e rechaço, como um impeditivo que
aposta apenas numa libertação futura e quimérica, sem compromisso com a
construção da cidade terrestre. Não raro os governos que assumiram esta
concepção perseguem a experiência religiosa autêntica e apostam na educação
atéia da juventude.
A
Igreja busca simultaneamente ser fiel a Deus e aos seres humanos e, por isso
mesmo, reprova dolorosamente tudo o que impede a experiência universal de
transcendência, pois isso contradiz a razão histórica e priva a pessoa humana
de sua grandeza inata. Descobrindo nas raízes do pensamento ateu as motivações
mais profundas da negação de Deus, a Igreja reconhece a gravidade destas
questões e deseja, com extrema caridade, examinar seriamente os argumentos do
ateísmo. Não há, na verdade, nenhuma incongruência entre a emancipação humana e
o reconhecimento de Deus, pois decorrem daí exatamente a liberdade e a
inteligência dos seres humanos como partícipes da felicidade e da comunhão
divina.
De
outro lado, a esperança escatológica em nada diminui o sentido humano da vida e
dos valores imanentes, antes, apóia e fornece motivos novos. Sem essa dimensão
meta-histórica o problema humano da dor e da morte se torna insolúvel, a
dignidade humana é prejudicada e o desespero redunda em solução final. Só Deus
dá uma resposta plena e total aos enigmas da vida das pessoas, também dos
ateus, nos quais a graça opera de modo invisível (Lumen Gentium II, l6).
Os
Padres Conciliares afirmam que o remédio para o ateísmo está não só na clareza
da doutrina cristã, mas também na autenticidade e pureza da Igreja e de seus
membros como testemunhas vivas e visíveis do Pai, do Filho encarnado e das
moções do Espírito Santo. Esta é a fé testemunhada pelos mártires e pelos
confessores na prática do amor radical e no compromisso pela justiça, que
tornam presentes no mundo profano a fé do Evangelho.
Embora
a Igreja rejeite o ateísmo, acolhe com sinceridade todos os não crentes como
protagonistas da construção de um mundo justo e fraterno. Um diálogo sincero e
prudente contribui para a superação de toda a forma de discriminação entre
crentes e não crentes. A Igreja denuncia governantes que não respeitam a
liberdade essencial das pessoas no campo da fé e conclama os não crentes a
refletirem com objetividade sobre o Evangelho de Jesus Cristo, que responde às
aspirações mais profundas do coração humano: “Fizeste-nos para vós, Senhor, e o
nosso coração permanece inquieto enquanto em vós não descansar!” (Agostinho de
Hipona – Confissões l, 1).
LEIA,
ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA QUARTA-FEIRA DA II SEMANA DO TEMPO COMUM
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