PROÊMIO E INTRODUÇÃO
Pe. Vilmar Adelino Vicente
A
Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje enfoca, como o próprio
titulo alude, as relações da Igreja com o mundo de hoje, na perspectiva de alguns
parâmetros essenciais: família, trabalho, cultura, economia, política,
comunidade internacional, analisados na ótica da dignidade da pessoa humana (GS
200).
A
Gaudium et Spes (GS) consta de duas partes essenciais: a Igreja e a vocação do
homem, alguns problemas mais urgentes. As duas constituem um todo doutrinário e
pastoral, que busca iluminar a trajetória humana no século XX (GS 201/202).
A
abertura da Constituição é antológica, dando o tom de toda a teologia
subjacente no documento: “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo”. Assume-se que nada há de verdadeiramente humano que não seja do
interesse e da preocupação da Igreja. A comunidade cristã se sente
verdadeiramente solidária com a humanidade e a sua historia (GS 203). Essa profunda identidade com a
caminhada de toda humanidade, cristãos e não cristãos, perpassa a linha dorsal
da Constituição, buscando no mistério de Cristo encarnado, crucificado e
ressuscitado, a libertação da servidão do pecado e a transformação da pessoa
humana e do mundo. O Concilio Vaticano II deseja dialogar com todas as
realidades humanas à luz do Evangelho, guiado pelo Espírito Santo, buscando
salvar a pessoa humana e renovar a sociedade moderna. Eis a colaboração sincera
da Igreja para edificar a fraternidade universal, no espírito de servir e não
ser servido (GS 205).
No
exercício de sua missão, a Igreja tem o dever perscrutar os sinais dos tempos e
interpretá-los à luz do Evangelho, de modo particular as mudanças profundas e
rápidas que atingem a humanidade. Se, de um lado, as sociedades dispõem de
tantas riquezas e possibilidades de poder econômico, de outro lado, ainda
padecem de fome, miséria e analfabetismo. Nunca se exaltou tanto a liberdade
humana, mas, ao mesmo tempo, se constata um processo tão vasto de escravidão
social e psicológica. De um lado se verifica um sonho de unidade e comunhão e,
de outra parte, observamos profundas divisões políticas, sociais, econômicas e
ideológicas. Enfim, o mundo experimenta
tanto progresso material sem o correspondente crescimento espiritual (GS
206/208).
A
evolução do pensamento cientifico e tecnológico gerou um sistema cultural com
uma matriz de pensamento diverso dos séculos precedentes. A técnica transforma
a face da terra e o espaço interplanetário. A inteligência humana tem novas
concepções sobre o tempo e a historia, as ciências biológicas, psicológicas e
sociais, prevendo e regulando o próprio crescimento demográfico. Supera-se,
assim, uma visão mais estática em prol de uma concepção mais dinâmica da
historia (GS 210/212).
A
consequência de todo esse processo histórico da modernidade foram profundas
mudanças sociais, psicológicas, morais e religiosas, que resultaram nos
desequilíbrios do mundo moderno. A sociedade industrial gerou a civilização
urbana, multiplicando cidades, concentrando populações, com vários fatores
consequentes: êxodo rural e migração, comunicação social, autonomia humana e
social. Este conjunto de mudanças tem seus reflexos maiores entres os jovens,
que desafiam o processo educacional dos pais e da sociedade. O valor das
instituições, as leis, os valores éticos e filosóficos é questionado, advindo
dai consequências graves no comportamento social. O espírito critico do homem
moderno atingiu a religião exigindo uma fé mais pessoal, esclarecida e
comprometida. A secularização parece revelar um humanismo sem Deus com consequências
profundas na cultura (GS 213/220).
A
consciência critica das discrepâncias da realidade produz contradições e
desequilíbrios que atingem a essência da pessoa humana. Há uma dicotomia entre
a inteligência prática e o pensamento teórico e filosófico; um distanciamento
entre eficácia e consciência ética; uma crise entre os imperativos da vida
coletiva e o valor da pessoa humana; um fosso entre ação e contemplação;
egoísmos coletivos de nações ao lado de programas de solidariedade e
desenvolvimento. Enfim, nesse processo histórico, o homem é ao mesmo tempo
causa e vitima (GS 221/225).
É
neste cenário que o gênero humano explicita suas aspirações mais legitimas e
universais na defesa, afirmação e cultivo da própria dignidade. Daí a
reivindicação de justiça social e participação nos bens da civilização, levando
os povos mais oprimidos pela fome a interpelarem os povos mais ricos. Nesta mesma perspectiva, as mulheres
pleiteiam a paridade dos direitos com os homens; os operários e lavradores
desejam melhor qualidade de vida e participação na gestão da sociedade (GS
226/229).
Face
às ambiguidades do mundo moderno, surgem as interrogações mais profundas da
humanidade, que encontra no coração do próprio ser humano as contradições mais
significativas que o induzem a fazer o que não deseja e a não construir o que
sonha (RM 7,14). Decorre daí o materialismo prático, fonte de opulência para
uns e miséria absoluta para outros; alguns apostando no reino de todos os
desejos deste mundo, e outros vivendo o desespero da falta de sentido de vida.
Em
suma, questiona-se o homem moderno: qual o sentido da dor, da morte, do mal, de
tanto progresso e miséria? Só Jesus
Cristo, morto e ressuscitado, pode responder as angústias do ser humano! Ele é
a chave de toda a historia! (GS 230/231).
LEIA,
ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA TERÇA-FEIRA DA II SEMANA DO TEMPO COMUM
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