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domingo, 20 de janeiro de 2013

CONSTITUIÇÃO PASTORAL “GAUDIUM ET SPES” I



INTRODUÇÃO

Pe. Vilmar Adelino Vicente

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes representa, no conjunto do fantástico evento que foi o Concilio Vaticano II, um enorme avanço no que tange a concepção da Igreja sobre o mundo moderno e suas principais configurações políticas, econômico-sociais, culturais e antropológicas.

Não é por menos que este Documento teve uma difícil tramitação, no conjunto das sessões conciliares, dado a sua concepção revolucionaria sobre diversos aspectos do mundo secular, diante dos quais a Igreja tinha pouca experiência nos séculos antecedentes, pois se voltava quase exclusivamente para questões eclesiais e espirituais.

A ideia de um Documento sobre o mundo moderno surge no final da 1° sessão conciliar, em 1962, por iniciativa do Cardeal belga Joseph Suenens, num célebre discurso pronunciado em 4 de dezembro, na Aula conciliar. Na verdade, somente em 1963 a comissão teológica e a comissão sobre os leigos produziram, conjuntamente, um texto sobre a presença da Igreja no mundo. Este primeiro texto foi totalmente rejeitado pelos Padres conciliares, cabendo ao Cardeal Suenens, com apoio dos teólogos da Universidade de Louvaina, redigir um novo texto, que serviu de base para a discussão dos bispos, em 1964, na 3° sessão do Concílio, merecendo mais de uma centena de intervenções discursivas e inúmeras sugestões por escrito.

Somente em 1965, um novo texto revisado foi entregue aos Bispos na 4° sessão conciliar, sendo ainda muito discutido com inúmeras intervenções e sugestões. Finalmente, o texto foi então votado, capítulo por capítulo, em 4 de dezembro de 1965 e, enfim votado in totum em 7 de dezembro, véspera do encerramento do Concílio Vaticano II, obtendo 2.309 votos favoráveis, 75 votos negativos e 07 votos nulos dos Padres conciliares.

Como se vê, o processo de elaboração e discussão desse Documento foi muito difícil para uma Igreja secularmente voltada para questões espirituais e pastorais, equidistante dos problemas concretos do mundo.

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes está estruturada num proêmio e introdução sobre a condição do homem no mundo moderno. Segue-se uma 1° parte que enfoca a Igreja e a vocação do homem na caminhada histórica sob o impulso do Espírito. O 1° capitulo dessa parte é inteiramente dedicado à dignidade da pessoa humana, destacando a consciência moral e a grandeza da liberdade humana. Conclui o capítulo abordando a questão do mistério da morte e o problema do ateísmo moderno.

O 2° capitulo aborda o tema da comunidade humana, destacando o significado do bem comum, da igualdade social e da justiça social, bem como a necessidade de superação da ética individualista. O capítulo 3° se volta para a riqueza da atividade humana contingenciada pelos seus limites, pecados, mas também pelos seus valores. No capitulo 4° o documento contempla a relação mútua entre a Igreja e o mundo em favor da sociedade humana.

Prossegue o Documento com uma segunda parte onde são privilegiados alguns dos desafios do mundo moderno. O 1° capítulo valoriza a dignidade do matrimônio e da família, máxime da santidade da família e do amor conjugal como fonte da vida humana. O 2° capítulo enfoca o desafio da cultura e sua relação com a fé e os valores evangélicos, salientando o significado da educação cristã e as tensões entre fé e civilização. O capitulo 3° aborda a questão econômico-social na ótica do desenvolvimento a serviço do homem e problematiza as acentuadas diferenças entre nações pobres a ricas, os conflitos do trabalho e da propriedade privada. No 4° capítulo o Documento se volta para a questão da paz e da solidariedade internacional, criticando a desumanidade das guerras e a corrida armamentista. Valoriza a cooperação econômica entre as nações e o papel dos organismos internacionais. Finalmente, revela sua preocupação com a explosão demográfica e o papel dos cristãos na construção da comunidade internacional.

O Documento conclui com uma exortação final, conclamando todos os homens para a construção de um mundo mais humano e justo, em sintonia com a vontade de Deus.

Nos próximos artigos comentaremos os antecedentes históricos desse Documento e cada uma das suas partes essenciais, além de suas consequências históricas nestes 50 anos que nos separam do início do Concílio Ecumênico Vaticano II.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA SEGUNDA-FEIRA DA II SEMANA DO TEMPO COMUM

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