São Pedro de Alcântara |
Evangelho
(Lc 12,1-7): Entretanto, milhares de pessoas se ajuntaram, a ponto de uns
pisarem os outros. Jesus começou a falar, primeiro a seus discípulos: Cuidado
com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada de oculto que não
venha a ser revelado, e não há nada de escondido que não venha a ser conhecido.
Portanto, tudo o que tiverdes dito na escuridão, será ouvido à luz do dia; e o
que tiverdes pronunciado ao pé do ouvido, nos quartos, será proclamado sobre os
telhados. A vós, porém, meus amigos, eu digo: não tenhais medo dos que matam o
corpo e depois não podem fazer mais nada. Vou mostrar-vos a quem deveis temer:
temei Aquele que, depois de fazer morrer, tem o poder de lançar-vos no inferno.
Sim, eu vos digo, a este deveis temer. Não se vendem cinco pardais por duas
moedinhas? No entanto, nenhum deles é esquecido por Deus. Até mesmo os cabelos
de vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que
muitos pardais.
Comentário:
P. Raimondo M. SORGIA Mannai OP (San Domenico di Fiesole, Florencia, Italia)
Cuidado com o fermento dos fariseus, que é
a hipocrisia
Hoje o Senhor nos convida a refletir sobre um
tipo de má levedura que não fermenta o pão, mas sim o engrandece em aparência,
deixando-o cru e incapaz de nutrir: Cuidado com o fermento dos fariseus; (Lc
12,1). Chama-se hipocrisia e é somente aparência de bem, máscara feita com
farrapos de cores atraentes, mas encobrem vícios e deformidades morais,
infecções no espírito e micróbios que sujam o pensamento e, por tanto, a
própria existência.
Por
isso, Jesus, adverte ter cuidado com esses usurpadores que, ao predicar com
maus exemplos e com o brilho de palavras mentirosas, tentam semear ao redor uma
infecção. Lembro que um jornalista, brilhante por seu estilo e professor de
filosofia, quis afrontar a posição da Igreja sobre a questão do matrimônio
entre homossexuais. E, com passo alegre e uma grande quantidade de sofismas
enormes como elefantes, tentou contrariar as boas razões que o Magistério expôs
em um documento recente. Vemos aqui um fariseu de nossos dias, que depois de
ter-se declarado batizado e crente, afastou-se do pensamento da Igreja e do
espírito de Cristo, pretendendo passar por mestre, acompanhante e guia dos
fieis.
Passando a outro assunto, o Mestre aconselha
distinguir entre medo e medo: não tenhais medo dos que matam o corpo e depois
não podem fazer mais nada, (Lc 12,4), seriam os perseguidores da idéia cristã,
que matam a dezenas de fieis em tempos de caçar homens ou de vez em quando a
testemunhas singulares de Jesus Cristo.
Medo absolutamente diverso e motivado é o
poder perder o corpo e a alma e, isso está nas mãos do Juiz divino; não que
morra a alma (seria uma sorte para o pecador), mas sim que goste de uma
amargura que se pode chamar de mortal no sentido de absoluta e interminável. Se
escolheres viver bem aqui, não serás enviado às penas eternas. Aqui não podes
escolher não morrer, em quanto vives escolhe o não morrer eternamente (Santo
Agostinho).
Onipotente e sempre eterno Deus, que, por
vossos santos, vos dignas fazer sempre maravilhas: vos rogamos humildemente
que, assim como tens prometido escutar, misericordioso, os rogos dos que vos
implorem por meio de São Pedro de Alcântara, assim atendas agora, pelos méritos
do mesmo, as súplicas que vos fazemos, e derrames, sobre nós, o saudável
orvalho de vossa benção, para que, livres de todo mal, mereçamos chegar
felizmente ao porto de vossa misericórdia. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
Reflexões
de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Reflexão Lucas 12,1-7
(Mt 10,28-31)
* O
evangelho de hoje traz uma última crítica de Jesus contra as autoridades
religiosas do seu tempo.
* Lucas
12,1ª: Milhares buscam Jesus
“Enquanto
isso, milhares de pessoas se reuniram, de modo que uns pisavam nos outros”.
Esta frase deixa transparecer a enorme popularidade de Jesus e o desejo do povo
de encontrar-se com ele (cf. Mc 6,31; Mt 13,2). Deixa transparecer também o
abandono em que se encontrava o povo. “São como ovelhas sem pastor”, dizia
Jesus em outra ocasião quando via a multidão aproximar-se dele para ouvir a sua
palavra (Mc 6,34).
* Lucas 12,1b:
Cuidado com a hipocrisia
“Jesus
começou a falar, primeiro a seus discípulos: "Tomem cuidado com o fermento
dos fariseus, que é a hipocrisia”.
Marcos já falava do fermento dos fariseus e dos herodianos e sugeria que
se tratava da mentalidade ou da ideologia dominante da época que esperava um
messias glorioso e poderoso (Mc 8,15; 8,31-33). Aqui no nosso texto, Lucas
identifica o fermento dos fariseus com a hipocrisia. Hipocrisia é uma atitude
que inverte os valores. Esconde a verdade. Mostra uma casca bonita que encobre
e disfarça a podridão dentro da casca. No caso, a hipocrisia era a casca
aparente da fidelidade máxima à palavra de Deus que escondia a contradição da
vida deles. Jesus quer o contrário. Quer a coerência que não deixa no
escondido.
* Lucas
12,2-3: O escondido será revelado
“Não há
nada de escondido que não venha a ser revelado, e não há nada de oculto que não
venha a ser conhecido. Pelo contrário, tudo o que vocês tiverem feito na
escuridão, será ouvido à luz do dia; e o que vocês tiverem pronunciado em
segredo, nos quartos, será proclamado sobre os telhados". É a segunda vez que Lucas fala deste assunto
(cf. Lc 8,17). Em vez da hipocrisia dos fariseus que esconde a verdade, os
discípulos devem ter a sinceridade. Não devem ter medo da verdade. Jesus os
convida a partilhar com os outros os ensinamentos que dele aprenderam. Os
discípulos não podem conservá-los só para si, mas devem divulgá-los. Um dia, as
máscaras vão cair e tudo será revelado às claras, proclamado sobre os telhados
(cf. Mt 10,26-27).
* Lucas 12,4-5:
Não ter medo
“Pois bem,
eu digo a vocês, meus amigos: não tenham medo daqueles que matam o corpo, e
depois disso nada mais têm a fazer. Vou mostrar a quem vocês devem temer:
tenham medo daquele que, depois de ter matado, tem poder de jogá-los no inferno.
Eu lhes digo: é a este que vocês devem temer”. Aqui Jesus se dirige aos seus
amigos, os discípulos e discípulas. Eles não devem ter medo daqueles que matam
o corpo, que torturam, machucam e fazem sofrer. Os torturadores podem até matar
o corpo, mas não conseguem matar neles a liberdade e o espírito. Devem ter
medo, isto sim, de que o medo do sofrimento os leve a esconder ou a negar a
verdade e, assim, os faça ofender a Deus. Pois quem se afasta de Deus se perde
para sempre.
* Lucas
12,6-7: Vocês valem mais que muitos pardais
“Não se
vendem cinco pardais por alguns trocados? No entanto, nenhum deles é esquecido
por Deus. Até mesmo os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não
tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais”. Os discípulos não devem
ter medo de nada, pois eles estão na mão de Deus. Jesus manda olhar os
passarinhos. Dois pardais se vendem por poucos centavos e no entanto nenhum
pardal cai no chão sem o consentimento do Pai. Até os cabelos na cabeça estão
contados. Lucas diz que nenhum cabelo cai sem a licença do Pai (Lc 21,18). E
caem tantos cabelos! Por isso, “não tenham medo. Vocês valem muito mais que
muitos pardais”. É a lição que Jesus tirou da contemplação da natureza. (cf Mt
10,29-31)
* A
contemplação da natureza
No Sermão da Montanha, a mensagem mais
importante, Jesus a tirou da contemplação da natureza. Eles diz: "Vocês
ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!' Eu, porém,
lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês!
Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol
nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. Portanto,
sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu." (Mt
5,43-45.48). A observação do ritmo do sol e da chuva levaram Jesus e esta
afirmação revolucionária: “Eu lhes digo amem os seus inimigos!” O mesmo vale
para o convite de olhar os lírios do campo e as aves do céu (Mt 6,25-30). Esta
surpreendente atitude contemplativa diante da natureza levou Jesus a criticar
verdades aparentemente eternas. Seis vezes em seguida ele teve a coragem de
corrigir publicamente a Lei de Deus: “Antigamente foi dito, mas eu digo...”. A
descoberta feita na contemplação renovada da natureza tornou-se para ele uma
luz muito importante para reler a história com outros olhos e descobrir nela
luzes que antes não eram percebidas. Hoje está em andamento uma nova visão do
universo. As descobertas da ciência a respeito da imensidão do macro-cosmo e do
micro-cosmo estão sendo fonte de uma nova contemplação do universo, Já está
começando a crítica de muitas verdades aparentemente eternas.
Para um confronto pessoal
1) O escondido será revelado. Tem em mim algo do
qual tenho medo de que seja revelado?
2) A contemplação dos pardais e das coisas da
natureza levaram Jesus a atitudes novas e surpreendentes que revelavam a
bondade gratuita de Deus. Tenho costume de contemplar a natureza?
19 de outubro
São Pedro de Alcântara descrito por Santa Teresa de Jesus
Livro da Vida – cap 27
São Pedro de Alcântara aparece a Sta Teresa de Jesus |
16. E, que bom aquele que Deus nos levou agora no
bendito Frei Pedro de Alcântara! Não está já o mundo para sofrer tanta
perfeição. Dizem que estão as saúdes mais fracas e que não estamos nos tempos
passados. Este santo homem era deste tempo; estava tão robusto o seu espírito como
em outros tempos e, por isso, tinha o mundo debaixo dos pés. Pois, embora não
andem desnudos nem façam tão áspera penitência como ele, muitas coisas há, como
outras vezes tenho dito, para se pisar o mundo e o Senhor as ensina quando vê
ânimo. E que grande lho deu Sua Majestade a este santo que digo, para fazer
quarenta e sete anos tão áspera penitência, como todos sabem! Quero dizer algo
dela, porque sei que tudo é verdade.
17. Foi ele que mo disse a mim e a outra pessoa de
quem pouco se encobria. A causa de mo dizer era a amizade que me
tinha, porque quis o Senhor que a tivesse para acudir por mim e me animarem
tempos de tanta necessidade, como tenho dito e direi. Parece-me que me
disse que em quarenta anos só tinha dormido hora e meia entre noite e dia, e o
maior trabalho de penitência que teve nos princípios foi o de vencer o sono, e
para isto estava sempre de joelhos ou de pé. Só dormia sentado e a cabeça
encostada a um madeirozito que tinha pregado à parede. Deitado, embora
quisesse, não podia, porque sua cela, como se sabe, não tinha de comprimento
mais que quatro pés e meio.
Em todos estes anos jamais pôs o capuz, por grandes
sóis e chuvas que houvesse, nem nada nos pés, nem vestido, a não ser um hábito
de estamenha, sem nenhuma outra coisa sobre a carne, e este tão apertado que
mal se podia sofrer e uma capa do mesmo pano por cima. Dizia-me que, nos
grandes frios, a tirava e deixava a porta e o postigo da cela abertos para que,
pondo depois a capa e cerrando a porta, contentava o corpo, para que sossegasse
com mais abrigo. Comer de três em três dias era o mais normal, e perguntou-me
porque me espantava, pois era muito possível a quem se acostumava a isso. Um
seu companheiro disse-me que lhe acontecia estar oito dias sem comer. Devia ser
estando em oração, porque tinha grandes arroubamentos e ímpetos de amor de
Deus, de que uma vez fui testemunha?
18. Sua pobreza era extrema, e foi tal a sua
mortificação na mocidade, que me disse que lhe havia acontecido estar três anos
numa casa da sua Ordem e não conhecera frade, a não ser pela fala; porque não
levantava nunca os olhos, e assim nem aos lugares aonde de necessidade tinha de
ir sabia, a não ser indo atrás dos frades. Isto também lhe acontecia pelos
caminhos. A mulheres jamais fitava; e isto durante muitos anos. Dizia-me que já
tanto se lhe dava ver como não ver. Já era muito velho quando o vim a conhecer,
e tão extrema a sua fraqueza, que não parecia senão feito de raízes de árvores.
Com toda esta santidade era muito afável, embora de
poucas palavras, a menos que fosse interrogado. Nestas era muito ameno, porque
tinha um mui lindo entendimento. Outras muitas coisas quisera eu dizer, mas
tenho medo de que V. Mercê me diga para que me meto nisto, e com este medo
tenho escrito. Assim termino dizendo que foi o seu fim como a sua vida:
pregando e admoestando os seus frades. Quando viu que já se acabava disse o
Salmo: Laetatus sum in his quae dicta sunt mihi; e, posto de joelhos, morreu.
19. Depois tem sido o Senhor servido que eu tenha
mais ajuda dele que em vida, aconselhando-me em muitas coisas. Tenho-o visto
muitas vezes com grandíssima glória. Disse-me, a primeira vez em que me
apareceu: bem-aventurada penitência que tanto prêmio lhe havia merecido,
e outras muitas coisas. Um ano antes de morrer, apareceu-me estando ausente, e
eu soube que havia de morrer e o avisei, estando a algumas léguas daqui. Quando
expirou, apareceu-me e disse-me que ia descansar. Eu não o acreditei e disse-o
a algumas pessoas; e, passados oito dias, veio a notícia de que tinha morrido,
ou que tinha começado a viver para sempre, para melhor dizer.
20. Ei-la aqui acabada esta aspereza de vida com
tão grande glória. Parece-me que muito mais me consola agora, do que quando cá
estava. Disse-me uma vez o Senhor que não se Lhe pediria coisa alguma em seu
nome que não a ouvisse. Muitas que lhe tenho encomendado para que as peça ao
Senhor, as tenho visto cumpridas. Seja bendito para sempre. Amem.
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