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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sexta-feira da 26ª semana do Tempo Comum


Evangelho (Lc 10,13-16): Naquele tempo, disse Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Se em Tiro e Sidônia se tivessem realizado os milagres feitos no meio de vós, há muito tempo teriam demonstrado arrependimento, vestindo-se de saco e sentando-se sobre a cinza. Pois bem: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que vós. E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Até inferno serás rebaixada! Quem vos escuta, é a mim que está escutando; e quem vos despreza, é a mim que está desprezando; ora, quem me despreza, está desprezando aquele que me enviou».
 
Comentário: Rev. D. Jordi SOTORRA i Garriga (Sabadell, Barcelona, Espanha)
 
Quem vos escuta, é a mim que está escutando
 
Hoje, vemos Jesus dirigir o seu olhar para aquelas cidades da Galiléia que tinham sido a causa das suas preocupações e nas quais Ele tinha pregado e realizado as obras do Pai. Em nenhum destes locais como Corazim, Betsaida e Cafarnaum tinha pregado ou feito milagres. A semeadura tinha sido abundante, mas a colheita não foi boa. Nem Jesus os pode convencer...! Que mistério o da liberdade humana! Podemos dizer não a Deus... A mensagem evangélica não se impõe pela força, apenas se oferece e eu posso fechar-me a ela; posso aceitá-la ou recusa-la. O Senhor respeita totalmente a minha liberdade. Que responsabilidade a minha!
    As expressões de Jesus: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!» (Lc 10,13) ao terminar a sua missão apostólica expressam mais sofrimento que condenação. A proximidade ao Reino de Deus não foi para aquelas cidades uma chamada à penitência e à mudança. Jesus reconhece que em Sidônia e em Tiro teriam aproveitado melhor toda a graça dispensada aos galileus.
    A decepção de Jesus é maior quando se trata de Cafarnaum. «Serás elevada até o céu? Até inferno serás rebaixada!» (Lc 10,15). Aqui tinha Pedro a sua casa e Jesus tinha feito desta cidade o centro da sua pregação. Mais uma vez vemos mais um sentimento de tristeza que uma ameaça com estas palavras. O mesmo poderia dizer de muitas cidades e pessoas da nossa época. Julgam que prosperam quando na realidade estão se afundando.
    «Quem vos escuta, é a mim que está escutando» (Lc 10,16). Estas palavras com que o Evangelho termina são uma chamada à conversão e trazem esperança. Se ouvirmos a voz de Jesus ainda estamos a tempo. A conversão consiste em que o amor supere progressivamente o egoísmo na nossa vida, o qual é um trabalho sempre inacabado. São Máximo diz-nos: «Não há nada tão agradável e amado por Deus como o fato dos homens se converterem a Ele com sincero arrependimento».
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
 Reflexão Lucas 10,13-16 (Mt 11,20-24)
   *O evangelho de hoje dá continuidade ao envio dos setenta e dois discípulos e discípulas (Lc 10,1-12). No final deste envio Jesus falava de sacudir o pó dos sapatos quando os missionários não fossem bem recebidos (Lc 10,10-12). O evangelho de hoje acentua e amplifica as ameaças aos que se recusam de receber a Boa Nova.
* Lucas 10,13-14: Ai de você Corazin e Betsaida!
   O espaço por onde Jesus andou durante aqueles três anos da sua vida missionária era pequeno. Abrangia uns poucos quilômetros quadrados ao longo do Mar da Galileia em torno das cidades Cafarnaum, Betsaida e Corazin. Foi neste espaço tão pequeno que Jesus realizou a maior parte dos seus discursos e milagres. Ele veio salvar a humanidade inteira, e quase não saiu do limitado espaço da sua terra. Tragicamente, Jesus teve que constatar que o povo daquelas cidades não quis aceitar a mensagem do Reino e não se converteu. As cidades se fixaram na rigidez das suas crenças, tradições e costumes e não aceitaram o convite de Jesus para mudar de vida. “Ai de você, Corazin! Ai de você, Betsaida! Porque se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que foram feitos no meio de vocês, há muito tempo teriam feito penitência, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas”. Jesus compara as duas cidades com Tiro e Sidônia que, no passado, foram inimigos ferrenhos de Israel, maltrataram o povo de Deus. Por isso, foram amaldiçoadas pelos profetas (Is 23,1; Jr 25,22; 47,4; Ez 26,3; 27,2; 28,2; Jl 4,4; Am 1,10). E agora, Jesus diz que estas mesmas cidades, símbolos de toda a malvadeza feita ao povo no passado, já teriam feito conversão se nelas tivessem acontecido tantos milagres como em Cozaim e Betsaida.
* Lucas 10,15: Ai de você Cafarnaum!
   “Ai de você, Cafarnaum! Será erguida até o céu? Será jogada no inferno, isso sim!” Jesus evoca a condenação que o profeta Isaías lançou contra a Babilônia. Orgulhosa e prepotente, Babilônia pensava: ”Vou subir até o céu, vou colocar meu trono acima das estrelas de Deus; vou sentar-me na montanha da Assembleia, no cume da montanha celeste. Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual ao Altíssimo" (Is 14,13-14). Pensava! Mas enganou-se redondamente. Aconteceu o contrário. Diz o profeta: “Agora, aí está você precipitado na mansão dos mortos, nas profundezas do abismo” (Is 14,15). Jesus compara Cafarnaum a esta terrível Babilônia que destruiu monarquia e o templo e levou o povo para o cativeiro do qual nunca mais se recuperou. Como Babilônia, Cafarnaum pensava ser alguma coisa, mas foi parar no inferno mais profundo. O evangelho de Mateus compara Cafarnaum com a cidade de Sodoma, símbolo da pior perversão, que foi destruída pela ira de Deus (Gn 18,16 a 19,29). Sodoma teria feito a conversão se tivesse visto os milagres que Jesus fez em Cafarnaum (Mt 11,23-24). Hoje continua o mesmo paradoxo. Muitos de nós, que somos católicos desde criança, temos tantas convicções consolidadas, que ninguém é capaz de nos converter. E em alguns lugares, o cristianismo, em vez de ser fonte de mudança e de conversão, tornou-se o reduto das forças mais reacionárias da política do país.
 * Lucas 10,16: Quem rejeita vocês, rejeita a mim!
   “Quem escuta vocês, escuta a mim, e quem rejeita vocês, rejeita a mim; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou." A frase acentua a identificação dos discípulos com Jesus enquanto rejeitado pelas autoridades. Em Mateus a mesma frase de Jesus, colocada em outro contexto, acentua a identificação dos discípulos com Jesus enquanto acolhido pelo povo (Mt 10,40). Tanto num como noutro, é na doação total de si que os discípulos se identificam com Jesus e que se realiza o encontro deles com Deus, e que Deus se deixa encontrar por quem o procura.
 Para um confronto pessoal
1) Minha cidade e meu país merecem a advertência de Jesus contra Cafarnaum, Corazim e Betsaida?
2) Como me identifico com Jesus?
 
 
VIDA COMUNITÁRIA NO CARMELO
DOM E SINAL DE ALEGRIA E ESPERANÇA
A fraternidade na Regra do Carmo
ei
1. Olhando de perto o texto da Regra
Nossa Regra não nasceu como Regra propriamente dita, mas é fruto de um trabalho comunitário do grupo dos primeiros carmelitas. Eles se reuniram, discutiram sua maneira de viver o evangelho de Jesus e elaboraram uma proposta para ser aprovada pelo Patriarca de Jerusalém. A Regra é fruto de um dialogo fraterno dos irmãos carmelitas entre si e dos carmelitas com o Patriarca Alberto
Nossa Regra não é formulada em termos jurídicos anônimos de regra, de norma ou de lei, mas em forma de uma carta amiga, escrita na segunda pessoa do plural. Esta dimensão quase coloquial permeia o texto todo, do começo ao fim. Até hoje, a Regra conserva este contexto amigo da sua origem comunitária.
2. Olhando o texto da Regra dentro do contexto de sua origem
Nossa Regra surgiu como proposta do grupo de peregrinos que viviam no Monte Carmelo e que pediram ao Alberto para que confirmasse sua vida em nome de Igreja. A forma de vida que eles adotaram, desde o começo, era a nova maneira de vida religiosa que estava surgindo na Europa a partir de São Francisco de Assis e que se chamava Movimento Mendicante.
A novidade da vida mendicante é a insistência na fraternidade como revelação da Boa Nova do amor de Deus para com os “menores”, os pobres. Fraternidade mendicante era a fraternidade dos “menores”, isto é, do povo pobre que necessitava criar entre si laços de solidariedade para poder sobreviver nas cidades. Ser mendicante significava optar em viver numa fraternidade pobre, de “menores”. Por isso, eles eram chamados frades menores.
Este contexto de origem mendicante está dentro da Regra, desde a sua primeira redação e interpenetra tudo. Esta raiz não pode ser esquecida, pois ela é a característica básica. É importante ressaltar estas características mendicantes que afeta a nossa vida desde a sua raiz. Enumeramos aqui sete características da fraternidade mendicante que existem dentro da Regra:
1. Ter um prior a ser escolhido entre os confrades (Rc 4).
      A primeira coisa que a Regra estabelece é ter um prior e não um abade. O prior é eleito pelos frades e não imposto de cima. Ele exerce a sua autoridade em conjunto com os outros frades, na escolha do lugar (Rc 5), na indicação da cela (Rc 6). Assim, envolve a todos e cria neles um senso de co-responsabilidade e de participação. O prior é eleito por um período de poucos anos. Depois disso, ele torna a ser irmão igual aos outros. O que prevalece não é a autoridade, mas sim a fraternidade.
2. Não mudar de “lugar” (convento) (Rc 8).
      Numa fraternidade mendicante, o compromisso não é, como no eremitismo anterior, com um determi­nado monge eremita mais santo, mas sim com a comunidade e com o ideal expresso na Regra. Para impedir o retorno a esse eremitismo a Regra estabelece: Não é permitido a nenhum irmão, a não ser com licença do prior em exercício, mudar-se de lugar de moradia que lhe foi indicado ou trocá-lo com outro. O eremita carmelita renuncia à itinerância e submete sua vida ao julgamento da comunidade.
3. A cela do prior que deve ficar na entrada (Rc 9)
      O mesmo vale para a cela do prior que deve ficar na entrada. Tanto os novos candidatos como os visitantes e peregrinos que vêm ao lugar, todos são acolhidos e orientados pelo prior que representa a comunidade.
4. Não ter propriedade, mas possuir tudo em comum (Rc 12)
      A comunhão de bens era um ponto característico das fraternidades mendicantes. A preocupação, para que tudo seja distribuída de acordo com as necessidades de cada um, é uma expressão desta fraternidade.
5. Por serem evangelizadores itinerantes dos pobres, podem ter jumentos (Rc 13)
      Este número foi acrescentado em 1247. Como acontecia em todas fraternidades mendicantes, os frades carmelitas se ausentavam de casa para o trabalho da evangelização. Em vista deste trabalho se permitia que eles tivessem jumentos para poder viajar. Príncipes viajavam de cavalo. Os pobres usavam jumentos.
6. Todos são responsáveis pelo todo e pelo bem-estar de cada um (Rc 15)
      A reunião semanal é uma expressão típica da cultura capitular, própria das fraternidades mendicantes. Nela se tratava de três coisas: do bem comum e do bem-estar de cada um e da correção fraterna.
7. Nas viagens missionárias podem comer carne que o povo lhes oferece (Rc 17)
      Inicialmente, não podiam comer carne, mas a vida mendicante os levou a pedir reformulação deste ponto e a licença de comer carne foi aprovada pelo papa em 1247.
3. Olhando de perto o conteúdo da Regra
*  In Obsequio Iesu Christi: o modelo da comunidade dos primeiros Cristãos
Os números 10 a 15 da Regra descrevem o miolo da vida carmelitana, o ideal da fraternidade orante e profética. A proibição de ter propriedade e a comunhão de bens (Rc 12 e 13) estão no centro desta descrição. São o centro do miolo. A própria estrutura literária o revela:
            A  Tarefa de cada um: Oração e vigília individual (RC 10)
                               B  Oração litúrgica em comum (RC 11)
                                       C  Comunhão de bens e proibição de ter coisa própria (RC 12 e 13)
                               B´ Celebração Eucarística em comum (RC 14)
                        A´ Tarefa da comunidade: Revisão e zelo pelo bem comum (RC 15)
Alberto tinha diante de si o modelo da comunidade dos primeiros cristãos de Jerusalém, da qual se diz nos Atos dos Apóstolos: "Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles" (At 4,32). Assim também entre os carmelitas: tudo era de todos! Naquele tempo, este era também o ideal que animava a renovação da Igreja e da Vida Religiosa.
Comparando o ideal da Regra (Rc 10 a 15) com o que dizem os Atos dos Apóstolos a respeito da comunidade dos primeiros cristãos (At 2,42-47; 4,32-35), aparece o seguinte esquema:
Regra do Carmo                                                    Atos dos Apóstolos
1. Oração e vigilância (Rc 10)
2. Oração litúrgica (Rc 11)
3. Comunhão de bens (Rc 12 e 13)
4. Celebrar eucaristia (Rc 14)
5. Revisão semanal (Rc 15)
"Perseveravam na oração" (At 2,42; 4,24)
"Freqüentavam o Templo" (At 2,46-47)
"Tinham tudo em comum" (At 2,42.44; 4,32.34-35)
"Fração do pão nas casas" (At 2,42.46)
"Eram um só coração e uma só alma" (At 4,32; 1,14)
Estes cinco pontos, que marcaram a vida comunitária dos primeiros cristãos, formam também a base da fraternidade do jeito que esta deve ser vivida pelos frades Carmelitas no Monte Carmelo. Vejamos:
1. A fraternidade deve alimentar-se da Palavra de Deus e da oração permanente: isto exige Leitura Orante e meditação constante (Rc 10).
2. A fraternidade deve ter a sua expressão comunitária: oração litúrgica ou celebração comunitária da Palavra de Deus (Rc 11).
3. A fraternidade deve ter a sua expressão econômica bem concreta na partilha dos bens, na igualdade básica real, na pobreza que os leva a ficar do lado dos "menores" (pobres) (Rc 12 e 13).
4. A fraternidade deve alimentar-se da Eucaristia, que é a participação na Morte e Ressurreição: doação radical de si a Deus e aos irmãos (Rc 14).
5. A fraternidade se consolida e se aprofunda através da revisão semanal, que promove a co-respon­sabilidade de todos no andamento do conjunto e no bem-estar de cada um dos irmãos (Rc 15).
Este ideal de fraternidade orante e profética no meio do povo, próprio dos carmelitas, está situado dentro do conjunto da Regra da seguinte maneira:
A 1ª parte (Rc 4 a 9) lhe assegura o espaço ou lhe fornece a infra-estrutura necessária.
A 2ª parte (Rc 10 a 15) o descreve como sendo cópia da comunidade de Jerusalém.
A 3ª parte (Rc 16 a 21) lhe proporciona os meios necessários para poder realizá-lo.
 
Rc 4 a 9
A infra-estrutura da vida
Garante as condições necessárias
Rc 10 a 15
O ideal a ser realizado
Imita a comunidade de Jerusalém
Rc 16 a 21
Os meios para realizar o ideal
A riqueza da tradição Monacal
 
*  Dimensão mística: ser fraternidade orante e profética no meio do povo
A fraternidade no Carmelo não é uma tarefa a mais ao lado das outras, mas sim uma atitude de vida que deve permear tudo. Fraternidade é como “meditar dia e noite na lei do Senhor”. Assim como Deus é presença constante, também o irmão e a irmã devem ser presença constante. O exercício da fraternidade nasce da experiência de Deus e conduz para uma experiência mais profunda de Deus.
A fraternidade é como uma árvore. Para crescer bem, ela deve lançar raízes para baixo, para dentro da terra. Assim ela crescerá para cima e dará frutos. Lançar raízes para dentro do chão é a inculturação, a encarnação. Crescer e dar frutos significa irradiar para além de si mesma para os outros: é a missão.
Fraternidade, Encarnação e Missão: os três temas estão no centro da Boa Nova que Jesus nos trouxe e ajudam a realizar nosso projeto de Vida Comunitária no Carmelo como “DOM E SINAL DE ALEGRAI E ESPERANÇA”.
4. Olhando de perto a sede dos que hoje buscam água
Quem bebe de uma fonte e gostou da água, quando sente sede, volta para lá e bebe de novo. Foi o que fez o profeta Elias (1Rs 17,2-6). Bebeu de uma fonte que brota no Monte Carmelo e recebeu o nome de “Fonte do Profeta Elias”. Matou aí a sua sede.
No século XII um grupo de peregrinos, na sua maioria leigos, chegou a abandonar a Europa e se mandou para o Monte Carmelo, lá na Terra de Jesus. Ao redor daquela fonte de Elias e da Capela de Santa Maria do Monte Carmelo, iniciaram uma vida nova “em obséquio de Jesus Cristo”. Elaboraram um programa de vida para o qual pediram a aprovação de Alberto, o Patriarca de Jerusalém. Este programa tornou-se a Regra do Carmo, aprovada pelo Papa Inocêncio no dia 1 de outubro de 1247, e que está em vigor até hoje, animando muita gente a beber da mesma fonte.
O Monte Carmelo marcou a vida deles de tal maneira, que deixou de ser um lugar geográfico para tornar-se um ideal de vida. Por isso, em vez de Albertinos, quiseram ser chamados de Carmelitas, Moradores do Carmelo. Cada pequena comunidade deve ser um Pequeno Carmelo, onde todos possam reencontrar a mesma fonte, o mesmo ideal de vida, o mesmo ambiente acolhedor, a mesma hospitalidade e a mesma fraternidade, que marcou a vida deles para sempre, desde aquele primeiro início no Monte Carmelo. Até hoje, tentamos recriar em nós e entre nós o mesmo ideal de vida para que seja uma resposta para a busca de tantos que hoje procuram a Deus e um sentido para a vida.
De fato, para além das imagens tradicionais de Deus, para além das conclusões da ciência, existe nos povos e em todos nós uma intuição teimosa que sempre renasce. Trata-se de uma fonte, uma intuição mística, anterior a tudo que fazemos na ciência ou na religião. De vez em quando, em certos momentos da vida, esta fonte brota também dentro de cada um de nós. Eco silencioso, frágil, que sobe do fundo do inconsciente coletivo da humanidade e nos diz: “Deus existe, ele está conosco, ele nos ouve; dele dependemos, nele vivemos, nos movemos e existimos. Somos da raça do próprio Deus” (cf. At 17,28). E o coração humano responde murmurando: “Sim, Tu nos fizeste para ti, e o nosso coração estará irrequieto até que não descanse em Ti!”
Hoje, mais do que nunca, em cada nova geração que nasce na face da terra, este murmúrio da alma levanta a cabeça em busca de uma resposta: Por que existimos? Quem nos fez? Quem é Deus? Qual o sentido da nossa vida? Deus, onde estás? As imagens de Deus mudam, devem mudar, para que não nos impeçam de descobrir Deus na vida.
A água que Elias aí bebeu ajudou-o a redescobrir a presença de Deus quando ele, perdido e desanimado, deitou debaixo da árvore e pediu para morrer (1Rs 19,4). Ele imaginava Deus de um jeito: poderoso, forte, ameaçador, como terremoto, tempestade e fogo. Mas Deus já não estava no terremoto, nem na tempestade, nem no fogo (1Rs 19,11-12). A água que Elias tinha bebido na fonte do Monte Carmelo ajudou-o a superar as imagens antigas de Deus e o levou a discernir a presença divina, para além das imagens, na brisa leve (1Rs 19,12), no silêncio sonoro, na noite escura, mais clara que o sol do meio dia (Sl 139,12). Esta fonte brota sempre, até hoje, mesmo de noite!  Venha Beber desta fonte!
Quem tiver sede, venha beber, disse Jesus à Samaritana, ao povo de Jerusalém e a todos nós (Jo 4,14; 7,37-39). No Monte Carmelo existe a fonte que, ao longo dos séculos, matou a sede do profeta Elias, do profeta Eliseu, dos filhos dos profetas, dos Santos e Santas. Venha beber desta fonte!
Questionamentos para nossa reflexão:
 Em nossa vida quotidiana, como comunidade carmelita, sentimos o influxo direto da Regra na formação e na dinâmica de nossa vida fraterna?
  1. Quais os desafios concretos que hoje enfrentamos para vivermos e testemunharmos o ideal de fraternidade proposto pela Regra?
  2. De que forma podemos reconstruir o tecido de nossa vida fraterna enquanto testemunho e profecia para o mundo?

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