22 de outubro - João Paulo II, Papa, Terceiro Carmelita
Memória
Comum dos Pastores (para os Papas)
João Paulo II, Teceiro Carmelita |
Evangelho (Lc 12,13-21): Alguém do meio da multidão disse a Jesus:
Mestre, diz ao meu irmão que reparta a herança comigo. Ele respondeu: Homem,
quem me encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?. E disse-lhes: Atenção!
Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a
vida não consiste na abundância de bens. E contou-lhes uma parábola: A terra de um
homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: Que vou fazer?
Não tenho onde guardar minha colheita. Então resolveu: Já sei o que fazer! Vou
derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo,
junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens uma boa
reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! Mas Deus lhe diz:
Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem ficará o que
acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se
torna rico diante de Deus.
Comentário: Fray Lluc TORCAL Monje del Monastério de Sta. Mª de Poblet
(Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje, o Evangelho, se não nos tapamos os ouvidos e não fechamos os
olhos, provocará em nós uma grande comoção pela sua clareza: E disse então ao
povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um
homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas (Lc
12,15). Que é o que garante a vida do homem?
Sabemos
muito bem em que está garantida a vida de Jesus, porque Ele mesmo disse: Pois
como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si
mesmo (Jn 5,26). Sabemos que a vida de Jesus não somente procede do Pai, mas
que consiste em fazer sua vontade, já que este é seu alimento, e a vontade do
Pai equivale a realizar sua grande obra de salvação entre os homens, dando a
vida por seus amigos, signo do mais sublime amor. A vida de Jesus é, pois, uma
vida recebida totalmente do Pai e entregada totalmente ao mesmo Pai e, por amor
ao Padre, aos homens. A vida humana poderá ser então suficiente em si mesma?
Poderá negar-se que nossa vida é um dom, que a recebemos e que, somente por
isso, já devemos agradecer? Que ninguém pense que é dono de sua própria vida
(São Jerônimo).
Seguindo esta lógica, só falta perguntar-nos:
Que sentido pode ter nossa vida se se encerra em si mesma, se tem prazer ao
dizer: E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para
muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19) Se a vida de
Jesus é um dom recebido e entregue sempre em amor, nossa vida; que não podemos
negar ter recebido; deve converter-se, seguindo à de Jesus, em uma doação total
a Deus e aos irmãos, porque, Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a
sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jn 12,25).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
O episódio narrado no
evangelho de hoje só se encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos
outros evangelhos. Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a
Galiléia até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte
das informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se encontram nos outros três
evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a resposta de Jesus à
pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma herança.
* Lucas 12,13: Um pedido para
repartir herança
“Do meio da multidão, alguém disse a Jesus:
"Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". Até hoje, a
distribuição da herança entre os familiares sobreviventes é sempre uma questão
delicada e, muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a
herança tinha a ver também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a
sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição
das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o
perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não
poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o
esfacelamento ou desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o
mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17. cf. 2Rs 2,11).
* Lucas 12,14-15: Resposta de
Jesus: cuidado com a ganância
“Jesus respondeu:
"Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre
vocês?" Na resposta de Jesus transparece a consciência que ele tinha da
sua missão. Jesus não se sente enviado por Deus para atender ao pedido de
arbitrar entre os parentes que brigam entre si por causa da repartição da
herança. Mas o pedido do homem despertou nele a missão de orientar as pessoas,
pois “ele falou a todos: Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância.
Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus
bens". Fazia parte da sua missão esclarecer as pessoas a respeito do
sentido da vida. O valor de uma vida não consiste em ter muitas coisas mas sim
em ser rico para Deus (Lc 12,21). Pois, quando a ganância toma conta do
coração, não há como repartir a herança com equidade e paz.
* Lucas 12,16-19: Parábola que
faz pensar no sentido da vida
Em seguida, Jesus conta uma parábola para ajudar as pessoas a refletir
sobre o sentido da vida: "A terra de um homem rico deu uma grande
colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha
colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro da preocupação com os
seus bens que aumentaram de repente por causa de uma colheita abundante. Ele só
pensa em acumular para garantir-se uma vida despreocupada. Ele diz: “Já sei o
que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar
todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu
caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma
e beba, alegre-se!”
*Lucas 12,20: Primeira
conclusão da parábola
“Mas Deus lhe disse: Louco!
Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você
preparou, para quem vão ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir
o sentido verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o
que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte.
Aqui transparece um pensamento muito freqüente nos livros sapienciais: para que
acumular bens nesta vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você
acumulou, nem sabe o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para
ele (Ecl 2,12.18-19.21).
* Lucas 12,21: Segunda
conclusão da parábola
“Assim acontece com quem
ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus”. Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu
várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt20,27;
Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor (Mt
18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc
8,35; Lc 9,24).
Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus para
ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas orações?
2) O consumismo cria necessidades e desperta em nós a ganância. Como
você faz para não ser vítima da ganância provocado pelo consumismo?
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