Lectio Divina para o XIX Domingo do Tempo Comum
«Quem
acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida.»
Este domingo refletimos sobre uma parte do capítulo
6 do Evangelho segundo S. João, na qual Jesus fala com a multidão na sinagoga
de Cafarnaum e propõe-se como o Filho de Deus, o pão da vida, o redentor da
humanidade.
Destaca-se a reação negativa dos
judeus face à afirmação de Jesus: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu”. Como é
possível que alguém tão próximo, familiar, conhecido por toda a gente de
Cafarnaum, cujo pai e mãe todos conhecem, pretenda ser “o pão do céu”? Os
judeus julgam conhecer a origem de Jesus, mas na realidade “não me conhecem a
mim nem a meu Pai” (8,19). Para conhecer o Pai há que conhecer Jesus, mas é o
Pai que atrai cada pessoa a este encontro com o Filho. Só Ele conhece o Pai e O
revela (cf. 1,18; 6,46). As palavras de Jesus são um apelo à fé e são também o
anúncio da Eucaristia, sacramento em que Ele se dá como Pão da vida.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João (Jo 6, 41-51)
Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus,
por Ele ter dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu». E diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não
conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do
Céu’?». Jesus respondeu-lhes: «Não
murmureis entre vós. Ninguém pode vir a
Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu ressuscitá-lo-ei no último
dia. Está escrito no livro dos Profetas:
‘Serão todos instruídos por Deus’. Todo
aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim. Não porque alguém tenha
visto o Pai; só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em
verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e
morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele
comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o
pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».
Palavra da salvação.
SEGUNDA-FEIRA
PALAVRA - Os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter
dito: «Eu sou o pão que desceu do Céu»
Logo que Jesus afirma “Eu sou o pão
da vida” (v. 35) e “desci do céu” (v. 38) gera-se uma onda de protestos e
murmurações entre a multidão. Mas para aqueles galileus incrédulos o pão do céu
não era um discurso estranho. Os filhos de Israel já estavam familiarizados com
o pão de Deus, o maná, que no deserto tinha saciado a fome física na
precariedade do caminho. A novidade é que só Cristo é o pão que sacia
totalmente. As palavras dos judeus são uma rejeição à pessoa de Jesus e a
murmuração que empreendem revela, não só a incredulidade, como também a
incapacidade de compreenderem Jesus.
MEDITAÇÃO
Não é a primeira vez que nos
deparamos com um Jesus não compreendido. Os judeus, que deviam ser os mais
próximos de Jesus, parecem ter compreendido muito pouco, ou mesmo nada, da sua
origem.
“Murmurar” parece ser a melhor
estratégia para não viver em profundidade aquilo que a Palavra do Senhor nos
diz, nos propõe e nos pede. É permitir a ação do ruído e da superficialidade, é
perdermo-nos em considerações que nos dispersam a atenção e afastam da escuta
autêntica. Diante de algo fundamental que o Senhor comunica, podemos até
invocar mil razões, justificações lógicas e motivações humanamente legítimas
para não fazer eco profundo da Palavra do Senhor… mas corremos, também nós, o
risco de sermos os “judeus” a que S. João se refere.
ORAÇÃO
Peço-te a graça Senhor, de
escutar a Tua Palavra não como palavra humana mas como palavra divina que me
move ao melhor de mim porque mais próximo/a de ti e dos irmãos, … Medito numa
passagem dos escritos de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) que
celebramos esta semana:
«A alma só se encontra
propriamente em casa no seu íntimo, na sua essência e no seu aspecto mais
escondido. Com a atividade natural das
suas faculdades, ela vai ao encontro do mundo exterior. Mediante a sua outra parte mais rica, ela vai
ao centro onde a alma se encontra verdadeiramente em casa, se contempla a si
mesma e à sua própria estrutura. A pessoa encontra a sua casa nesta
interioridade, porque é aqui que encontra Deus.» (A Ciência da Cruz)
AÇÃO
No desejo de cultivar um coração
puro e simples, onde a Palavra de Deus possa habitar e dar fruto, tomo
consciência das atitudes e justificações superficiais que me impedem de assumir
um compromisso coerente e vital com Jesus. Tomo como empenho vencer alguma
dessas atitudes pois reconheço o quanto me afastam do amor terno e sublime do
Senhor.
TERÇA-FEIRA
PALAVRA - «Não é Ele Jesus, o filho de José? Não
conhecemos o seu pai e a sua mãe? Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do
Céu’?».
Quanta ironia da parte dos
judeus. Incrédulos porque conhecem as origens terrenas de Jesus mas não O
reconhecem como Filho de Deus. Só se acede a este conhecimento pela fé. Tal
como o Povo de Israel quando caminhava pelo deserto não compreendeu que o maná
era o pão do céu, também os judeus na presença do Filho não reconhecem O dom de
Deus e recusam o Verbo Encarnado.
MEDITAÇÃO
Nesta passagem encontramos as
razões pelas quais os judeus recusaram Jesus: julgaram a pessoa de Jesus a
partir de uma escala de valores meramente humana e por motivos externos. A sua
reação diante da afirmação de Jesus era recordar que ele era filho do
carpinteiro e que o viram crescer em Nazaré. Eram incapazes de aceitar que o
Messias procedesse de uma família humilde. O que os judeus fizeram com Jesus
foi o erro de julgar pelas aparências. Mas quantas incredulidades possuo eu
diante do «Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gal
2,20)?
ORAÇÃO
Amo o SENHOR,
porque ouviu a voz do meu
lamento.
Ele inclinou para mim os seus ouvidos,
no dia em que o invoquei.
O SENHOR é bondoso e compassivo,
o nosso Deus é misericordioso.
O SENHOR guarda os simples;
eu estava sem forças e Ele
salvou-me.
Volta, minha alma, ao teu repouso,
porque o SENHOR foi bom para
contigo.
Ele livrou da morte a minha vida,
das lágrimas, os meus olhos,
da queda, os meus pés. (Sl 116, 1.5-8)
AÇÃO
Ao longo do dia procuro
descobrir e acolher com ternura e compaixão as pobrezas que experimento em mim
e em quem me rodeia: pobrezas de mentalidade, de pecado, de ignorância, de uma
visão pouco evangélica da vida, de falsas seguranças… quanta pobreza tenho a
levar diante de Jesus para que Nele tudo se renove.
QUARTA-FEIRA
PALAVRA - «Jesus respondeu-lhes: «Não murmureis entre
vós. Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer; e Eu
ressuscitá-lo-ei no último dia.»
Parece que Jesus não insiste na
sua origem divina mas reafirma que Dele só se aproxima quem é atraído pelo Pai.
Os judeus ouviram Jesus, mas não O escutaram. Optaram por continuar na sua
mentalidade antiga, nos seus esquemas rígidos e cépticos. Colocaram-se no
patamar de superioridade, de indiferença e fizeram o “favor” de escutar apenas
porque também teriam alguma coisa a dizer. Naquela disposição, nada do que
Jesus dissesse faria eco nos seus corações porque eram pobres de espírito.
MEDITAÇÃO
Jesus é o pão da vida, é nele que
possuímos a vida eterna. A única maneira de escutar a Deus é ouvir, acolher e
aprender, no plano da fé. A fé é um dom que tem como condição a abertura pela
parte do homem. A atração que o Pai realiza não retira qualquer margem de
liberdade ao homem, é o perfume que alcança o coração do homem. Daí que quando
o homem se coloca à escuta e se aproxima de Jesus leva em si essa adesão
espontânea à Fonte da vida. Mas os judeus resistiram à atração de Deus… quanta
liberdade o Senhor nos concede!
ORAÇÃO
Peço ao Senhor que me ajude a
perseverar na fé, quer a nível pessoal como de grupo, sem perder de vista o
olhar de bondade de Deus apesar das minhas fraquezas. Peço-lhe que me renove o
coração:
«SENHOR, o meu coração não é
orgulhoso,
nem os meus olhos são altivos;
não corro atrás de grandezas
ou de coisas superiores a mim.
Pelo contrário, estou sossegado e tranquilo,
como criança saciada ao colo da
mãe;
a minha alma é como uma criança
saciada!
Israel, espera no Senhor,
desde agora e para sempre!» (Sl
131)
AÇÃO
Interrogo-me sobre as situações
em que sou fechado/a a uma perspectiva de vida diferente da minha. Tenho tanto
a descobrir e a aprender. Procuro exercitar uma escuta autêntica pois sei que
só assim vou poder acolher a luz de Deus para agir em relação a mim ou aos
outros.
QUINTA-FEIRA
PALAVRA - «Está escrito no livro dos Profetas: ‘Serão
todos instruídos por Deus’. Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino
vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai; só Aquele que vem de junto de
Deus viu o Pai.»
Um dos aspectos que Jesus
salienta é que a iniciativa da salvação procede do Pai. Ninguém se faz
discípulo de Jesus se não for designado por Deus seu Pai. João usa o termo “vem
a Mim” para indicar o “acreditar”. E acreditar significa seguir Jesus. Não se
trata de um convite pois Jesus coloca-o num tom imperativo. «Todo aquele que
ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim.» Seguir Jesus não é fruto de uma
decisão autônoma e pessoal, mas do encontro com a pessoa de Jesus. É um
acontecimento de graça, é um dom que vem de Deus.
MEDITAÇÃO
Jesus é um pão que ensina, é a
Palavra de Deus. Por isso, é “ingerido” quando se acredita Nele. O fundamento
desta adesão ao Senhor é a fé, aquela fé que não é esforço humano mas luz
interior que vem de Deus. Reconheço na minha vida este grandioso dom de Deus,
que é a fé em Jesus Cristo? Sinto-me sedento deste dom? Rezo para que os meus
amigos e colegas acolham este dom na sua vida? Sou testemunha credível da fé
que recebi e que professo? A minha fé é alimentada no encontro com Jesus na
oração e nos sacramentos?
ORAÇÃO
A fé em Jesus é experiência de
encontro com Alguém que nos toca profundamente. Rezo com as palavras de S.
João:
«O que existia desde o princípio,
o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas
mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, – de fato, a Vida manifestou-se;
nós vimo-la, dela damos testemunho e vos anunciamos a Vida eterna que estava
junto do Pai e que se manifestou a nós – o que nós vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também vós estejais em comunhão conosco. E nós estamos em
comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.» (1 Jo 1, 1-3)
AÇÃO
Tomo como alimento a Palavra de
Deus da liturgia desta quinta-feira. O texto de Mateus fala sobre a experiência do
perdão. Perdão concedido e perdão recebido: «Não te digo que perdoes até sete
vezes, mas até setenta vezes sete». Verifico na minha vida as situações que
carecem de perdão e empenho-me em algo de concreto… nutro-me do pão do perdão.
SEXTA-FEIRA
PALAVRA - «Em verdade, em verdade vos digo: Quem
acredita tem a vida eterna.»
O horizonte da vida cristã é
caminhar para a plenitude da vida, participando já na vida de Cristo
ressuscitado. O próprio Jesus diz que veio para que todo aquele que acredita
n’Ele tenha a vida eterna (cf. Jo. 2,2) “Eu vim para que as ovelhas tenham vida
e a tenham em abundância” (Jo. 10).
A vida que Cristo nos dá
exprime-se na comunhão de amor, cresce com ela e nela nos impele ao amor do
próximo, dos irmãos. Acreditar na Palavra de Jesus, na sua revelação, é
condição fundamental para chegar à vida em plenitude e para ser atraída por
Deus em cada momento.
MEDITAÇÃO
Quem acredita em Jesus, quem O
aceita como verdadeiro Pão do Céu, participa já de toda a riqueza de vida que é
própria de Deus.
Jesus vai dar a sua “carne”, a
sua Pessoa, para que todos os homens tenham acesso a essa vida plena,
definitiva. A vida não nos pertence, ela é o dom mais valioso que temos a
administrar todos os dias em gestos concretos de amor, de bondade, de
solicitude, de misericórdia. Eis o que implica seguir Jesus: aderir Àquele que
é o Caminho, a Verdade e a Vida (cf. Jo 14,16), nas atitudes, nas palavras, nos
silêncios, no modo de olhar o mundo e as situações, no jeito de amar como Deus
ama. Acreditar em Jesus é fazer da vida um dom e um serviço de amor.
ORAÇÃO
«Dou graças àquele que me
confortou, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter considerado digno de
confiança, pondo-me ao seu serviço, a mim que antes fora blasfemo, perseguidor
e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, sem ter fé
ainda. E a graça de Nosso Senhor manifestou-se em mim com superabundância,
juntamente com a fé e o amor que está em Cristo Jesus. Eis uma palavra digna de
fé e de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,
dos quais eu sou o primeiro. E justamente por isso alcancei misericórdia, para
que, em mim primeiramente, Cristo Jesus mostrasse toda a sua magnanimidade,
como exemplo para aqueles que haviam de crer nele para a vida eterna.» (1Tim 1,
12-16)
AÇÃO
As notícias que invadem o nosso
dia-a-dia estão cheias de pessimismo sensacionalista. Deixo que esta
interrogação faça eco em mim: estou apto/a a descobrir os sinais da vida eterna
que pulsa no coração da humanidade ou vivo na sombra de um sol sem esperança? O
que posso concretamente fazer para que a vida em abundância chegue a quem
duvida, dela carece ou a ignora? Envio uma mensagem ou um sms a alguém como
partilha de algo belo e divino que descubro ou experimento.
SÁBADO
PALAVRA - «Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos
pais comeram o maná e morreram. Mas este
pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer.»
Jesus é o verdadeiro Pão da vida.
O tema do Pão da vida é apresentado paralelamente ao tema da fé e da vida
eterna. E todo aquele escuta a sua palavra e procura fazer a vontade daquele
que o enviou é introduzido na vida que nunca mais terá fim. Por outro lado,
Jesus faz referência ao maná como um alimento que matou a fome física do povo de
Israel na sua marcha pelo deserto. Contudo, recorda que esse pão não lhes deu a
vida definitiva e verdadeira. Só o “pão” que Jesus oferece sacia
verdadeiramente a fome de vida autêntica que o homem experimenta.
MEDITAÇÃO
O que significa hoje alimentar-se
de Jesus? É seguir os seus passos, aprofundar a sua vida e segui-lo no sim a
Deus e no amor aos irmãos, entrar em profunda adesão de coração com Cristo
Senhor, até ao ponto de experimentarmos o que S. Paulo nos comunica: “Já não
sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Quando alguém acolhe
Jesus como o pão que desceu do céu, torna-se um Homem Novo.
O maná a que Jesus se refere pode
representar hoje aquelas propostas de vida que, tantas vezes, nos atraem pelos
aplausos recebidos no palco do mundo, pelo poder e fama que a moda ou a opinião
pública dominantes nos oferecem, pela ilusão de uma felicidade fácil adquirida
em cada fragmento de tempo…Mas o momento passa e o sentimento de vazio ganha
espaço na nossa vida quando nos alimentamos de experiências que não geram vida
plena. É preciso aprender a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança
nesse “pão” demasiado leve. Pode parecer difícil treinarmo-nos nesta
experiência de fé, mas não nos esqueçamos de que é nesse espaço de fé que o
mistério do Amor se revela como vida autêntica.
ORAÇÃO
Rezo, medito e contemplo esta
passagem de S. Paulo aos Efésios:
«É por isso que eu dobro os
joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na
terra: que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais
cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem
interior; que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais
enraizados e alicerçados no amor, para terdes a capacidade de apreender, com
todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... a
capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento,
para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus. Àquele que
pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder
que eficazmente exerce em nós, 21a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus,
em todas as gerações, pelos séculos dos séculos! Amém.» (Ef 3,14-21)
AÇÃO
Faço hoje uma “dieta de alimentos
que não nutrem”: encontros, programas que normalmente vejo, experiências que,
no fundo, reconheço não trazerem felicidade verdadeira… Peço a Jesus que me
ajude a fazer opções que me tragam mais vida e vida em abundância.
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