LECIO DIVINA DO X DOMNGO DO TEMPO COMUM
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus chegou a casa
com os seus discípulos. E de novo acorreu tanta gente,de modo que nem sequer
podiam comer.Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O
deter, pois diziam: «está fora de Si». Os escribas que tinham descido de
Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu, e ainda: «É pelo chefe dos
demónios que Ele expulsa os demónios». Mas Jesus chamou-os e começou a
falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás?» Se um reino
estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se. E se uma casa
estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode aguentar-se. Portanto, se
Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está
perdido. Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens,
sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa. Em verdade vos digo:
Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem
proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será
réu de pecado eterno». Referia-se aos que diziam: «Está possesso dum espírito
impuro». Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora,
mandaram-n’O chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe
disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus
respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?» E, olhando para aqueles que
estavam à sua vota, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade
de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».
BREVE COMENTÁRIO E INTERPELAÇÕES
Jesus continua
a percorrer o espaço geográfico da Galileia e a cumprir a sua missão de
anunciar o “Reino”. Começa, no entanto, a crescer a onda de contestação à sua
pregação. Tomando como pretexto alguns casos particulares cada vez mais
insignificantes, os líderes judaicos manifestam a sua firme oposição à novidade
do “Reino”. As polêmicas e controvérsias marcam esta fase da caminhada de
Jesus.
De uma forma
geral, Marcos narra as controvérsias seguindo um esquema fixo e sempre igual:
começa com a apresentação da questão, continua com a discussão e termina com um
“dito” final de Jesus. Este “dito” não oferece a mera solução do “caso” em
questão, mas é sempre uma auto-revelação de Jesus, de importância decisiva para
a comunidade cristã do tempo de Marcos e de todos os tempos.
Toda a cena se
passa numa “casa”. Que casa é essa? É uma casa onde Jesus está a pregar a
Palavra e é uma casa onde «de novo acorreu tanta gente, de modo que nem sequer
podiam comer». É também uma casa onde estão sentados/instalados alguns
especialistas da Lei (escribas). A “casa” onde Jesus prega, onde se congrega a
comunidade judaica e onde há escribas instalados, poderia ser uma figura da
sinagoga, entendida como assembleia do Povo de Deus. O fato de se referir que
a “casa” em questão estava situada na cidade de Cafarnaum (o centro a partir do
qual irradia a atividade de Jesus na Galileia) poderia indicar que Marcos está
a falar da comunidade judaica da Galileia, em cujas sinagogas Jesus acabou de
passar (cf. Mc 1,39), anunciando a Boa Nova do Reino. Em qualquer caso, a
“casa” representa essa comunidade judaica a quem Jesus dirige a pregação do
“Reino”.
A mensagem
evangélica de hoje apresenta três diálogos de Jesus: dois com os seus
familiares, no princípio e no fim, outro com os escribas, no meio
Fiquemo-nos
pelos familiares de Jesus. Diz-se que vão a Cafarnaum para levar Jesus desta
casa onde está para a sua casa em Nazaré. Muitas são as razões: muito tempo
fora da família, notícias contraditórias sobre a sua atividade, mensagem em
contraste com a doutrina oficial dos escribas e fariseus, contato com os
pecadores de quem é amigo, não seguimento da tradição dos antigos nem respeito
pelo sábado; enfim, Jesus é considerado louco e herético. A intenção principal
é reconduzi-lo ao caminho recto de um autêntico judeu.
Há os que ficam
de fora e os que estão dentro. Imagem actualíssima para nós hoje. Podemos andar
por fora, arredios, ficar à porta, até nos chamarmos “católicos não
praticantes”. Que significa isso? Faz sentido? Ou se é ou não se é. Aí está de
novo a radicalidade da opção por Jesus. Ou ficamos fora, ou estamos dentro da
casa, unidos a Jesus, a escutá-lo e a segui-lo com todo o nosso ser, com todo
o nosso coração.
Em outubro
próximo inicia-se a celebração do Ano Fé, anunciado há meses por Bento XVI
através de um breve mas belíssimo documento. Aí está: ou entramos na porta da
casa, na Porta da Fé, e continuamos o caminho apenas com Jesus como único nas
nossas vidas, ou ficamos à porta ou a espreitar pelas janelas, continuando a
apanhar ou a soprar outros ventos que não nos centram em Jesus.
Na caminhada da
fé, cada um é livre de optar pela família que quiser: ou ficar pelas famílias
que dispersam do sentido da vida, ou permanecer na única família de Jesus, de
«quem quiser fazer a vontade de Deus».
O Senhor, pois, nos ensina também que segui-Lo nos leva a compartilhar a Sua vida até tal ponto de intimidade que consistiu um vínculo mais forte que o familiar.
A verdadeira família de Jesus é formada pelos que estão ao redor dele e que fazem a vontade de Deus.
Maria era mãe duplamente: porque gerou Jesus e porque mais do que ninguém soube fazer sempre a vontade de Deus.
LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO DO 10º DIA DO MÊS DO CORAÇÃO DE JESUS
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