LECTIO DIVINA PARA A III SEMANA DA
QUARESMA
«DESTRUÍ ESTE TEMPLO E EM TRÊS DIAS O LEVANTAREI»
Pe. Tarcízio Morais,
sdb
Não
estamos habituados à violência de Jesus e a esta sua forma de atuar. O conforto
da sua paz torna-nos muitas vezes incapazes de uma reação, incapazes de uma
resposta, incapazes de atuar. Que nos move, então, no nosso agir? É o zelo pela
verdade de Jesus? É a procura do nosso “comércio” de mil coisas? Que sinais
esperamos ainda para deixarmos que o mistério da paixão e ressurreição de Jesus
plenifique a nossa vida?
EVANGELHO Jo 2, 13-25
Estava próxima a Páscoa dos
judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de
ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de
cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por
terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que
vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de
comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo
pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal
nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este
templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos
quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três
dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele
ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e
acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em
Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia,
acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a
todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem
sabia o que há no homem.
SEGUNDA FEIRA
PALAVRA - Estava
próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.
Para
a festa mais importante dos judeus, a Páscoa, chegavam a Jerusalém crentes de
todo o mundo conhecido. A Páscoa: para João é importante relacionar Jesus e a
sua comunidade no contexto das celebrações pascais. Assim sucederá ao longo de
todo o evangelho joanino. Este relato, porém, situa-se no início do ministério
público de Jesus (após as bodas de Caná) e não na proximidade da Paixão, como
fazem os sinópticos. Em Jerusalém: cidade habitação de Deus. Cidade do Templo.
Cidade de encontro e desencontro.
MEDITAÇÃO
Chego
cada dia à cidade de Deus na minha vida. Conhecidos e desconhecidos
entrecruzam-se a velocidades mil. Onde posso encontrar-Te? Onde poderei receber
o teu abraço? No conforto e na ternura do encontro, certamente. Do encontro
contigo. Na Páscoa da vida que se faz sorriso e partilha. Na certeza de estar
contigo. Na tua cidade. Na minha vida. Deus comigo. Na proximidade do meu tempo
que se faz teu. Na Páscoa que é memória de ti. No tempo e no espaço da
eternidade de ti.
ORAÇÃO
Senhor,
quero ser teu tempo e teu espaço. Mais: quero que sejas em mim tempo e espaço,
Sei que me amaste primeiro. Mas ao descobrir teu amor, na proximidade da tua
Páscoa, na cidade onde tu te fazes entrega, quero sentir a tua presença, na
certeza de te encontrar na simplicidade deste meu existir que se faz riqueza de
amor quando Tu estás. Dando-te tempo no meu tempo. Fazendo-Te Palavra nas
minhas palavras. Em ti, Senhor.
AÇÃO
Procura
ao longo do dia de hoje fazer-te cidade que acolhe a Jesus para no nosso tempo
ser testemunha de tudo aquilo que ele significa de verdade, justiça e
libertação.
TERÇA FEIRA
PALAVRA - Encontrou
no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados
às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com
as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes
as mesas.
O
Templo de Jerusalém era o lugar de Deus e da sua presença no meio do seu povo.
É o centro das instituições judaicas e símbolo da glória da nação judaica
(tanto a residente como a que se encontra na diáspora). Indignado com o que vê,
Jesus expulsa com um chicote de cordas (imagem messiânica) a todos. Ali estavam
ovelhas e bois para a oferta dos sacrifícios dos que chegavam e os postos dos
cambistas para que fosse paga em moeda própria a taxa do Templo (o
correspondente a um salário de dois dias), só ali cambiável em moeda local
própria e única do Templo.
MEDITAÇÃO
Jesus
reage de forma brusca e enfurecida diante do que encontra no Templo de Deus,
casa e habitação de seu Pai. Escândalo para uns, loucura para outros, donde lhe
é dado reagir de forma assim? Jesus indigna-se e toma uma posição. Reage diante
das injustiças, da falta de sentido, da mentira, do desajustado. Torna-se
imagem nova da presença de Deus. Verdadeira presença de amor. Verdadeiro Templo
de Deus. Livre. Comprometido com o que importava. Descomprometido para dizer e
fazer atuar a verdade. Que é necessário expulsar do meu coração para dele fazer
“templo de Deus”?
ORAÇÃO
Quero
ouvir tua voz, quero sentir o teu amor, caminhar a teu lado na procura da
verdade. Gritando ao mundo a bondade do teu ser que tudo transforma. Que tudo é
em mim. No silêncio, palavra certa. No ruído, silêncio consolador. Na vida,
certeza de que tudo não acaba aqui, mas tem raízes no mistério de um amor que
se faz eternidade. Liberto de tudo o que nada importa, para ser riqueza de
bondade e transparência de amor. Por ti.
AÇÃO
Procura
ao longo do dia de hoje expulsar do teu coração tudo aquilo que não te faz
templo e acolhimento do amor de Deus, em Jesus.
PALAVRA - E disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da
casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava
escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa».
Quase
todos os peregrinos desejavam oferecer um pequeno (ou grande) animal em
sacrifício que deviam ser idôneos e por isso compradas no lugar sagrado. Jesus
não aceita que se faça da casa de Deus comércio, pois como diz o Salmo,
devora-o o “zelo pela casa de Deus”, pela sua intimidade, pela sua riqueza que
nenhum comércio pode confundir.
MEDITAÇÃO
O
gesto forte (e inquietante) de Jesus incomoda-nos. Mas mais do que o seu gesto,
somos convidados a refletir sobre as motivações que o movem: o respeito, a
harmonia, a justiça, a verdade, a “liturgia” de Deus. Muitas vezes também nós
somos protagonistas de um comércio com Deus: pedimos (e exigimos) “em troca
de”. Nem sempre o que nos move é o “zelo”, a atenção, a vontade de Deus, mas os
nossos pequenos (grandes) interesses que transformam o saudável em doentio, a
vida em sensaborias, o tempo em perda. Quando nos move autenticamente o zelo
pelas coisas de Deus? Que nos move, hoje, a sermos profundas testemunhas do
amor do Senhor?
ORAÇÃO
Enche-me
desse teu zelo, Senhor, que destrói o que não importa para se centrar no que é
fundamental. Enche-me desse zelo que me faz encontradiço com as necessidades
dos irmãos que me rodeiam, em mil desassossegos e inquietudes. Enche-me desse
zelo que me faz esquecer de mim, para me enriquecer de ti. Enche-me desse teu
zelo que tudo transforma para tornar evidente... todo o teu amor. Resposta de
ti.
ACÃO
Na
certeza de te deixar “devorar por Jesus Cristo”, enche-te do zelo apostólico de
Jesus para transformares em amor maior o que ti ainda é preciso reconstruir em
Jesus.
QUINTA FEIRA
PALAVRA - Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás
de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo
e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e
seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?».
Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.
Não
bastam palavras: são necessários sinais, manifestações claras e fantásticas da
demonstração da verdade. Porque age Jesus como age? Porque Ele é o novo Templo
de Deus que na sua Paixão e Morte de Cruz, culminará, pela ressurreição, na
demonstração do mistério de amor mais profundo que Deus pode oferecer à
humanidade. Em três dias. Mais do que quarenta e seis anos…
MEDITAÇÃO
Os
milagres e as outras ações taumatúrgicas de Jesus são em João “sinais”.
Qualquer coisa que vai para além do que se vê. Manifestação e revelação de
autenticidade. Maior sinal que o da Páscoa de Jesus? Que mais se necessita? O
seu corpo, destruído pelas mãos dos homens, pelo pecado, na cruz, tornar-se-á,
na ressurreição, o lugar de encontro universal entre Deus e os homens. Que
sinais são ainda necessários na nossa vida para percebermos o dom de Jesus para
nós? Que mais é ainda necessário destruir e retirar das nossas vidas para que
possa construir em nós o templo do seu amor?
ORAÇÃO
Que
sinais te posso ainda dar? Sou pequeno em minhas palavras, grande em muitos
silêncios. Que sinais te posso ainda dar se Tu és o sinal maior de tudo em mim?
Que sinais podes ainda esperar deste coração inquieto de ti? Que sinais te
posso dar quando espero ainda tua paixão e ressurreição transformantes para me
tornar tua luz? Que sinais te posso dar, se não a pequenez deste meu acreditar?
Que sinais, procuras ainda em mim?
AÇÃO
Procura
com o teu testemunho, dar um sinal de Jesus no mundo em que te inseres (no
trabalho, na escola, na família) de modo que se possa contemplar em ti o
esplendor da verdade de Jesus.
SEXTA FEIRA
PALAVRA - Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele
ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e
acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.
Na circunstância (pré-pascal) é
impossível ainda (também) aos discípulos entender este anúncio de Jesus. É a
posteriori dos acontecimentos fundantes da fé que os discípulos se lembram do
que Jesus tinha dito e como n’ele se realizaram as Escrituras. A partir daqui,
o lugar da presença de Deus entre os homens deixa de ser o Templo, para ser o
templo do corpo de Cristo, redenção plena da humanidade inteira.
MEDITAÇÃO
O
tempo da Quaresma que estamos a viver é também para nós a oportunidade de
purificarmos o nosso interior, numa “violência” positiva que arrede de nós tudo
o que não nos deixa aproximar do templo de Jesus, na vida da sua Palavra, dos
seus gestos de amor, da sua gratuidade, que transforma o nosso jejum em
purificação, a partilha em ágape de amor, a nossa vida em autêntica sequela
Christi (seguimento de Jesus). Num passo importante: deixarmos o que é aparente
para chegarmos ao que é evidência do amor de Deus em nós. Lembrando-nos do que
Jesus significa para nós.
ORAÇÃO
Acreditar.
Viver. Sentir. Pertencer-te. Viver-te. Sentir-te. Redescobrir. Ressuscitar.
Caminhar. Testemunhar. Verbos de ações que querem ser manifestação da tua
profundidade. Rezo em mim a tua paixão e morte, nesta sexta-feira, para
preparar com sentido de esperança e eternidade a tua ressurreição. Fazendo
minha a tua Palavra. Tornando verbo a tua mensagem. Acreditando, vivendo,
sentindo, pertencendo-te, vivendo-te, sentindo-te, redescobrindo-te,
ressuscitando para esse caminhar que me faz tua testemunha. Tua Palavra.
AÇÃO
Acreditar
que é possível. Enche o teu dia de otimismo para em Cristo dar sentido a tudo o
que em ti é dom do amor do Senhor.
SÁBADO
PALAVRA - Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos,
ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava
deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações
sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.
Para
muitos, o testemunho de Jesus foi motivo de seguimento e fé (“muitos
acreditaram no seu nome”) devido aos milagres que fazia. Mas Jesus não se deixa
entusiasmar: conhece o que vai no interior de cada homem. Sabe que estas são “aparências”
pouco profundas, sem a raiz colocada no centro do que mais vale: a sua Palavra
e o seu testemunho de amor, que terá o seu fim no mistério pascal, à luz da fé
nova.
MEDITAÇÃO
Nestas
circunstâncias Jesus não teme ser impopular: age em conformidade com a verdade
que lhe nasce do seu profundo ser. Muitos reconhecem neste seu agir o sentido
da esperança na mudança e “ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu
nome”. Como seria o comportamento de Jesus entre nós os cristãos seus seguidores?
Que látegos iriam movê-lo? Que iria querer afastar do seu templo? Que milagres
faria para manifestar o seu amor por nós?
ORAÇÃO
Tenho
ainda que vencer, Senhor, muitos obstáculos que me afastam de ti. Deixar para
trás mil perguntas e mil incertezas na procura dos teus sinais, para me
mergulhar na consistência do teu amor que se faz entrega na tua paixão e
ressurreição. Para ser mais fiável. Para ter a tua confiança e o teu acreditar.
Para ser tua pertença hoje e sempre, na Páscoa da eternidade que nos ofereces
ser.
AÇÃO
Torna-te
confiante. Faz com que as tuas atitudes façam despertar em todos os que te
envolvem um motivo de acreditar. Um motivo de confiança.
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