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sábado, 31 de março de 2012

DOMINGO DE RAMOS: JESUS ENTRA EM JERUSALÉM
D. Javier Echevarría
 Começa a Semana Santa e recordamos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Escreve São Lucas. «Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto ao monte chamado das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos dizendo-lhes: "Ide a essa aldeia que está em frente e, ao entrar, encontrareis um burrico amarrado que nunca ninguém montou. Soltai-o e trazei-o. Se alguém vos perguntar porque o soltais, dir-lhe-eis: o Senhor tem necessidade dele". Foram e encontraram tudo como o Senhor lhes tinha dito».

Que pobre montaria Nosso Senhor escolhe! Talvez nós, presunçosos, tivéssemos escolhido um imponente cavalo. Porém, Jesus não se guia por razões meramente humanas, mas por critérios divinos. «Isto sucedeu – anota São Mateus – para que se cumprissem as palavras do profeta: "Dizei à filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti, manso e montado sobre um jumento, num burrico, filho de jumenta"».

Jesus Cristo, que é Deus, contenta-se com um burrico por trono. Nós, que não somos nada, mostramo-nos muitas vezes vaidosos e soberbos: procuramos sobressair, chamar a atenção; tratamos de que os outros nos admirem e louvem. São Josemaria Escrivá, canonizado por João Paulo II, ficou cativado com esta cena do Evangelho.

Dizia de si mesmo que era um burrico sarnento, que não valia nada; mas como a humildade é a verdade, reconhecia também que era depositário de muitos dons de Deus; especialmente, da tarefa de abrir caminhos divinos na terra, mostrando a milhões de homens e mulheres que podem ser santos no cumprimento do trabalho profissional e dos deveres ordinários.

Jesus entra em Jerusalém sobre um burrico. Temos de tirar conseqüências desta cena. Cada cristão pode e deve converter-se em trono de Cristo. E aqui servem como anel ao dedo umas palavras de São Josemaria. «Se a condição para que Jesus reinasse na minha alma, na tua alma, fosse contar previamente com um lugar perfeito dentro de nós, teríamos motivos para desesperar. Jesus contenta-se com um pobre animal por trono. (...).Há centenas de animais mais belos, mais hábeis e mais cruéis. Mas Cristo escolheu esse para se apresentar como rei diante do povo que o aclamava. Porque Jesus não sabe o que fazer com a astúcia calculista, com a crueldade dos corações frios, com a formosura vistosa, mas oca. Nosso Senhor ama a alegria de um coração jovem, o passo simples, a voz sem falsete, os olhos limpos, o ouvido atento à sua palavra de carinho. É assim que reina na alma.».

Deixemo-lo tomar posse dos nossos pensamentos, palavras e ações! Afastemos sobretudo o amor-próprio, que é o maior obstáculo ao reinado de Cristo! Sejamos humildes, sem nos apropriarmos de méritos que não são nossos. Imaginais o ridículo em que cairia o burrico, se se tivesse apropriado das aclamações e aplausos que as pessoas dirigiam ao Mestre?

Comentando esta cena evangélica, João Paulo II recorda que "Jesus não entendeu a sua existência terrena como procura do poder, como ânsia de êxito e de fazer carreira, ou como vontade de domínio sobre os outros. Pelo contrário, renunciou aos privilégios da sua igualdade com Deus, assumiu a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e obedeceu ao projeto do Pai até à morte na Cruz" (Homilia, 8-IV-2001).

O entusiasmo das pessoas não costuma ser duradouro. Poucos dias depois, os que o tinham aclamado pedirão aos gritos a sua morte. E nós deixar-nos-emos levar por um entusiasmo passageiro? Se nestes dias notamos o movimento divino da graça de Deus, que passa por nós, podemos dar-lhe lugar nas nossas almas. Estendamos no chão, mais que as palmas ou os ramos de oliveira, os nossos corações. Sejamos humildes. Sejamos mortificados. Sejamos compreensivos com os outros. Esta é a homenagem que Jesus espera de nós.

A Semana Santa oferece-nos a oportunidade de reviver os momentos fundamentais da nossa Redenção. Mas não esqueçamos que – como escreve São Josemaria –, «para acompanhar Cristo na sua glória, no fim da Semana Santa, é necessário que penetremos antes no seu holocausto, e que nos sintamos uma só coisa com Ele, morto sobre o Calvário». Para isso, nada melhor que caminhar pela mão de Maria. Que Ela nos obtenha a graça de que estes dias deixem uma marca profunda nas nossas almas. Que sejam, para cada uma e cada um, ocasião de aprofundar no Amor de Deus, para assim mostrá-lo aos outros.

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA PARA A SEMANA SANTA.

 LECTIO DIVINA PARA A SEMANA SANTA
«PAIXÃO DE CRISTO»

O evangelho de hoje narra-nos a paixão de Jesus, as suas últimas horas de vida. Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus (1,1; 15,39), que para cumprir a missão que o Pai lhe confiou tem de passar pela morte. Mas tudo sucede para que se cumpram as Escrituras (14,27.62; 15,34). Jesus aceita cumprir o projeto do Pai, mesmo quando esse projeto passa por um destino de cruz. Esta cruz, escândalo para a fidelidade dos discípulos, é o momento supremo da revelação da divindade de Jesus (15,39). Quem acreditar no crucificado, acreditará no Filho de Deus. Foi assim que o centurião, não tendo convivido com Jesus, se tornou num autêntico crente, testemunha da sua morte e anunciador da sua divindade. É isto que Marcos esperava da sua comunidade e da nossa, seus leitores.

Evangelho segundo São João (Mc 15, 1-39).
Naquele tempo, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho, logo de manhã, com os anciãos e os escribas, isto é, todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-lo a Pilatos. Pilatos perguntou-lhe: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-o de novo: «Não respondes nada? “Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos, que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu: «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?». Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes o tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes: «Então, que hei de fazer daquele que chamais o Rei dos judeus?» Eles gritaram de novo: «Crucifica-o!». Pilatos insistiu: «Que mal fez ele?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!». Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou- para ser crucificado. Os soldados levaram-no para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-no com um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-lo: «Salve, Rei dos judeus!» Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e vestiram-lhe as suas roupas. Em seguida levaram-no dali para o crucificarem. Requisitaram, para lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-lhe vinho misturado com mirra, mas ele não o quis beber. Depois o crucificaram. E repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um. Eram nove horas da manhã quando o crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». Crucificaram com ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos». Até os que estavam crucificados com ele o injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?» que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-lhe a beber e disse: «Deixa ver se Elias vem tirá-lo dali». Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-lo expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus». 

SEGUNDA-FEIRA

PALAVRA - Naquele tempo, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho, logo de manhã, com os anciãos e os escribas, isto é, todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-lo a Pilatos.

MEDITAÇÃO - Na sua missão, Jesus entrou em choque com a atmosfera de egoísmo e opressão que dominava o povo. As autoridades não estavam dispostas a renunciar aos mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, e privilégios; não estavam dispostas a desinstalar-se e a aceitar Jesus como o Filho de Deus (Mc 1,1; 15,39). Tantas vezes de costas voltadas, os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas estão, finalmente, de acordo: não querem perder a oportunidade para acabar com Jesus. Os inimigos juntam-se na mesma condenação. A partir daqui, Jesus torna-se um “objeto”, com as mãos atadas, mas que vai passando de mão em mão: os que o prenderam levam-no ao sinédrio, estes entregam Jesus a Pilatos, este aos soldados e, por fim, os soldados levam-no à cruz! O seu corpo, entregue por nós, passa de uns para outros, de maneira que todas as mãos dos pecadores recebam o dom.

ORAÇÃO - Preocupa-me, Senhor, que no nosso mundo não haja lugar para ti, para o teu projeto de amor, para os Teus gestos que provocam inveja, para as Tuas palavras que desinstalam e incomodam, porque são verdadeiras. Mas o que mais me preocupa é que tantas vezes, também no meu coração, não há lugar para ti! Estás consciente das consequências e do sofrimento e da tua entrega. O teu caminho de cruz já começou. E esse caminho é comprido. O caminho é sempre interminável quando o sofrimento é muito. Mas nesta humilhação, nesta fraqueza, manifesta-se a fortaleza do teu amor, sem limites, até às últimas consequências. Como é bom ter um Deus assim, capaz de se entregar por amor, mesmo sem eu merecer! Obrigado, Senhor!

AÇÃO - Em tantos lugares Jesus continua de mãos atadas, sem espaço! Vou libertar Jesus, vou desatar tudo o que o impeça de se manifestar como verdadeiro Filho de Deus e irmão nosso.

TERÇA-FEIRA

PALAVRA - Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-o de novo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas te acusam». Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos, que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu: «Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?». Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes o tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes: «Então, que hei de fazer daquele que chamais o Rei dos judeus?» Eles gritaram de novo: «Crucifica-o!». Pilatos insistiu: «Que mal fez ele?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!». Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-o para ser crucificado.

MEDITAÇÃO - Na praça como no Sinédrio, todos condenam Jesus. Pilatos admira-se do seu silêncio: como cordeiro mudo levado ao matadouro (Is 53,7). Defender-se de quê? Da verdade que disse ou da nossa violência? Se Ele respondesse, todos seriamos condenados como injustos. O seu silêncio é a Palavra de misericórdia que nos salva: em vez de acusar-nos justamente, sofre a injusta acusação. E assim, a morte injusta do Justo, liberta o injusto da sua morte justa. Barrabás, significa “filho do Pai” (bar abbá). É o nome que se dá a quem tem uma paternidade desconhecida. Barrabás, filho de ninguém e irmão de ninguém. A sua situação é metáfora da condição humana: todos ignoramos o Pai, não somos nem filhos nem irmãos, mas gastamos a vida em luta uns com os outros…

ORAÇÃO - Como um criminoso ante o tribunal, és condenado à morte, Jesus. És acusado de falar mal de Deus, tu que és a Palavra de Deus! Quantas vezes também eu te julguei, Senhor! Quantas vezes desconfiei do teu amor e Te entreguei nas mãos dos teus inimigos! Quantas vezes escolhi “Barrabás” para poder continuar a viver sem compromissos de filiação e fraternidade! Quantas vezes lavei as minhas mãos quando tu me pedias um testemunho! Perdoa a minha cobardia. Perdoa o meu egoísmo.

AÇÃO - Jesus continua a ser julgado e condenado na praça pública e são poucos os discípulos que, nos momentos difíceis, estão por perto! Escolher Barrabás é lavar as mãos pelos irmãos; escolher Jesus é abraçar incondicionalmente o irmão. Que fazer? Os gestos concretos o dirão…

QUARTA-FEIRA

PALAVRA - Os soldados levaram-no para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-n’O com um manto de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-lo: «Salve, Rei dos judeus!» Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele. Depois de o terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Em seguida levaram-no dali para o crucificarem.

MEDITAÇÃO No pretório, lugar da guarnição militar é convocada toda a corte: no centro da violência que se segue está o inocente. A narração revela a gratuidade e brutalidade do mal! Já haviam tirado a dignidade a Jesus; - agora tiram-lhe as vestes. É despido e coberto com um manto de púrpura, veste de rei, hábito de sangue. Ah, faltava ainda uma coisa para ser rei: cravam-lhe, por isso, uma coroa de espinhos… prostram-se em atitude de súbditos, e batem-lhe com a cana, cetro, na cabeça ferida! Esta comédia diante de Jesus desvela a tragédia do poder… que despreza o sentimento do outro. Transfigurado pela nossa desfiguração, a sua beleza é a nossa brutalidade, o seu esplendor as nossas trevas.

ORAÇÃO - Os golpes, os espinhos e o desprezo, sem defesa, tiram-te as forças Jesus. Estás só. Está-se sempre assim quando se é rejeitado, ou se sofre por causa dos outros. És, também, despojado das tuas vestes. Já te haviam tirado a tua dignidade. Agora tiram-te também as tuas roupas. Estás despido de tudo, menos do teu propósito de amor. Podem tirar-te as vestes, mas o teu amor por nós, ninguém to pode arrancar. Obrigado, Senhor!

AÇÃO - Apesar de tanto sofrimento, Jesus resiste porque tem sempre presente a sua missão de amor sem limites. Ser cristão, ser de Cristo, é amar sem limites. Que a nossa vida exprima esta realidade em gestos concretos.

QUINTA-FEIRA

PALAVRA - Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-lhe vinho misturado com mirra, mas ele não o quis beber. Depois crucificaram-no. E repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um. Eram nove horas da manhã quando o crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». Crucificaram com ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda.

MEDITAÇÃO - No momento mais alto da história de Deus e do homem, Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz. O verdadeiro discípulo é aquele que toma a sua cruz e segue Jesus (Mc 8,34). O que Jesus faz conosco, fez o Cireneu com ele: torna-se discípulo perfeito, uma vez que se identificou com o seu mestre. Só mais tarde compreenderá o grande dom que lhe foi oferecido. As vestes do Filho são repartidas e cobrirão os crucificadores. São eles os primeiros que, revestidos dele, darão glória a Deus. Na cruz, condenação dos escravos rebeldes, Jesus, o Filho de Deus, para cumprir a missão que o Pai lhe confiou tem de passar pela cruz, pela morte (Mc 8,31).

ORAÇÃO - No caminho para o Calvário, não há senão gente que faz troça e mãos que te empurram, Jesus. Ninguém levanta a voz para te apoiar, ninguém levanta uma mão para te amparar. Por fim aparece Simão de Cirene. Como é reconfortante, quando a cruz se torna mais pesada, encontrar alguém disposto a ajudar. Tantas vezes desejei fazer evaporar a cruz… Mas hoje compreendo que, abraçando-a plenamente, me sentirei mais salvo que nunca. Toma os meus braços, Senhor, também eu quero ajudar-te e ser Cireneu na vida dos que colocaste a meu lado.

AÇÃO - Os rostos de tantos à nossa volta, trazem bem estampados o grito de socorro: “Cireneus precisam-se”. Jesus está à espera no rosto dessas pessoas.

SEXTA-FEIRA

PALAVRA - Os que passavam insultavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos». Até os que estavam crucificados com ele o injuriavam.

MEDITAÇÃO - Antes os soldados e o povo, agora os que passavam, até os príncipes dos sacerdotes e escribas troçam dele e o insultam. Mas o maior insulto é, sem dúvida, não reconhecer Cristo. Jesus não se quer salvar a si mesmo. Salvar-se a si mesmo é a origem do egoísmo que comanda as nossas ações. Mas só quem perde a sua vida, a poderá salvar (Mt 16,25). Querer tirar Jesus da cruz é tirar-nos a salvação. Se Jesus descesse da cruz, estaríamos nós no seu lugar, pagando a nossa condenação justa. Mas Jesus entrega-se, perde-se a si próprio, para nos ganhar, porque o seu amor não tem limites, vai até às últimas consequências, a cruz. Não deixa de ser curioso que até os que estavam crucificados com ele o insultavam. A cruz é escândalo até para aqueles a quem o Senhor se tornou próximo. Mas esta é a melhor oportunidade de nos sentirmos salvos por Deus. Não a deitemos a perder.

ORAÇÃO - Tanto desprezo à tua volta, Senhor. E onde estou eu para te defender? Que espero ter para te defender? Uma “arma atômica”… ou a força da Tua mansidão? Tantos insultos, tantos olhares sem misericórdia… para ti que usaste de tanta bondade e que revelaste o coração misericordioso de Deus. E estás crucificado, Jesus! As tuas mãos não se podem mover. As tuas mãos que se estendiam para os humilhados e para os doentes e para todos os sem esperança. Aqui tens as minhas mãos, aqui tens os meus braços para continuares a abençoar e a acolher, não têm a tua bondade, mas são todas para ti.

AÇÃO - Jesus está crucificado, com as mãos cravadas. Ele que as usou sempre para o bem. Mas Jesus tem agora as minhas mãos. Que estou disposto a fazer com elas? A semear sofrimento e morte nos outros ou a estendê-las para que outros se levantem? Que sejam os gestos concretos a dar a resposta!

SÁBADO

PALAVRA - Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lamá sabachtháni?» que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?» Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse: «Deixa ver se Elias vem tirá-lo dali». Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-lo expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

MEDITAÇÃO - As trevas envolveram a terra ao meio dia; o mal atingiu o seu ápice: a luz, princípio da criação, está “prisioneira” das trevas (Am 8,9). E toda a terra faz luto pelo Filho. As trevas, que ofuscam o sol, são o regresso do caos primordial e, a partir da cruz de Seu Filho, Deus realiza uma nova criação. Jesus está só (Sal 22). Todos o abandonaram. Diante da cruz, apenas o centurião, um desconhecido, responsável pela execução de Jesus, se fez crente. Deveria impressionar-nos que todos os discípulos fracassaram onde um pagão resistiu. Diante da cruz tornou-se crente. Bom exemplo para esta Páscoa. Não tenhamos dúvidas: a nossa fé não será madura enquanto não aceitarmos a cruz de Cristo.

ORAÇÃO - Quiseste, Jesus, anunciar a bondade de Deus. Quiseste distribuir a ternura de Deus, quiseste oferecer o perdão de Deus a todos, dignos ou indignos. Cumpriste a tua missão. Agora gritas e morres na cruz. Que o teu grito de entrega, Senhor, solte a minha voz para te anunciar como verdadeiro Filho de Deus; que a tua morte, Jesus, revigore as minhas forças, para que vivas em mim e eu viva para tantos que confiaste a meu cuidado.

AÇÃO - Como o centurião, vou confessar-te com a minha vida que tu, Senhor, és o Filho de Deus! A partir de agora, a partir desta Páscoa, “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). O meu agir será o meu garante.

sexta-feira, 30 de março de 2012

MÊS SÃO JOSÉ,
PROTETOR PRINCIPAL DE NOSSA ORDEM.
31º dia 
Querido (a) irmão (ã) carmelita:
Se, durante este mês de março, você, todos os dias, prestou homenagem a nosso Pai e Senhor São José, poderá ganhar uma indulgência plenária para si ou para as almas do Purgatório, rezendo, depois da confissão e da comunhão, um Pai-Nosso, uma Ave Maria e um Glória, nas intenções do Santo Padre Bento XVI.

ORAÇÃO PREPARATÓRIA - Com humildade e respeito aqui nos reunimos, ó Divino Jesus, para oferecer, todos os dias deste mês, as homenagens de nossa devoção ao glorioso Patriarca S. José. Vós nos animais a recorrer com toda a confiança aos vossos benditos Santos, pois que as honras que lhes tributamos revertem em vossa própria glória. Com justos motivos, portanto, esperamos vos seja agradável o tributo quotidiano que vimos prestar ao Esposo castíssimo de Maria, vossa Mãe santíssima, a São José, vosso amado Pai adotivo. Ó meu Deus, concedei-nos a graça de amar e honrar a São José como o amastes na terra e o honrais no céu. E vós, ó glorioso Patriarca, pela vossa estreita união com Jesus e Maria; vós que, à custa de vossas abençoadas fadigas e suores, nutristes a um e outro, desempenhando neste mundo o papel do Divino Padre Eterno; alcançai-nos luz e graça para terminar com fruto estes devotos exercícios que em vosso louvor alegremente começamos. Amém.

M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
6ª Palavra de Jesus na cruz.

     Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito (João 19.30).

    Quando jovem Davi enfrentou a Golias somente com sua funda, houve um suspiro nas fileiras dos soldados de Israel (1Samuel 17). Este suspiro se transformou em júbilo quando o gigante Golias tombou ao chão.
     Igual suspiro e brado de vitória circunda nossos corações ao ouvirmos da boca de nosso substituto, nosso Salvador, as palavras: Está consumado!  Ele não disse o que estava consumado. No momento não adiantaria. Os incrédulos não o aceitam, os fiéis ainda não compreenderiam.
     Com que humildade nosso Salvador anunciou sua vitória. Ele não disse: Eu concluí a grande obra. Ele diz simplesmente: Está consumado! Estava consumada a grande obra da salvação da humanidade; obra planejada por Deus desde e eternidade. Minuciosamente anunciada através de milênios por muitos profetas. Esperado pacientemente por muitos fiéis. Agora, a grande obra estava terminada.
     Estava consumada aquela obra que só o Filho de Deus poderia realizar. Ninguém pode salvar-se a si mesmo. Mesmo se alguém desse todos seus bens aos pobres e deixasse queimar seu corpo (1 Coríntios 13). Tudo seria em vão. O salmista diz: Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Salmos 49.7).
     O apóstolo Paulo esclarece e resume esta obra assim: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.  De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2Coríntios 5.19-20). É a palavra mais importante pronunciada na terra. É a pregação do evangelho. O Cordeiro que foi morto e é digno de receber força e glória (Apocalipse 7.10,12).
     Está consumado! Pecado, morte e Satanás foram vencidos. É um profundo consolo para todos os pecadores que arrependidos de seus pecados se volta para Cristo. Nele eles têm perdão, vida e eterna salvação.
    Está consumado! O caminho aos céus está aberto. Deus mesmo o abriu e convida todas as pessoas, dizendo: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mateus 11.28). Agora, por amor a Cristo, Deus perdoa os pecados, aceita as pessoas de volta em sua comunhão como filhos e herdeiros da vida eterna. O apóstolo Paulo afirma: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei (Romanos 3.28). E: Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Efésios 2.8-9). Tudo isso Deus nos oferece em sua Palavra e por seus sacramentos. Bem-aventurado aquele que crê.
     Ao mesmo tempo, essas palavras são uma séria advertência: 
    1. A todos os pecadores para que reconheceram sua culpa e o quanto a reconciliação custou a Deus. 
     2. Que a justiça própria não salva ninguém. 
     3. Que somente em Cristo há perdão, vida e eterna salvação. 
     4. Consolo e força para todos os pecadores. 
   A obra está completa, nada precisa ser acrescentada, somos salvos unicamente pela graça de Cristo, por meio da fé.

ORAÇÃO - Ó glorioso S. José, a bondade de vosso coração é sem limites e indizível, e neste mês que a piedade dos fiéis vos consagrou mais generosas do que nunca se abrem as vossas mãos benfazejas. Distribui entre nós, ó nosso amado Pai, os dons preciosíssimos da graça celestial da qual sois ecônomo e o tesoureiro; Deus vos criou para seu primeiro esmoler. Ah! que nem um só de vossos servos possa dizer que vos invocou em vão nestes dias. Que todos venham, que todos se apresentem ante vosso trono e invoquem vossa intercessão, a fim de viverem e morrerem santamente, a vosso exemplo nos braços de Jesus e no ósculo beatíssimo de Maria. Amém.

LADAINHA DE SÃO JOSÉ
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo tende piedade de nós.
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, escutai-nos.
Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria,  rogai por nós.
São José,
Ilustre Filho de Davi,
Luz dos Patriarcas,
Esposo da mãe de Deus,
Guarda da puríssima Virgem,
Sustentador do Filho de Deus,
Zeloso defensor de Jesus Cristo,
Chefe da Sagrada Família,
José justíssimo,
José castíssimo,
José prudentíssimo,
José fortíssimo,
José obedientíssimo,
José fidelíssimo,
Espelho de paciência,
Amante da pobreza,
Modelo dos operários,
Honra da vida de família,
Guarda das virgens,
Amparo das famílias,
Alívio dos sofredores,
Esperança dos doentes,
Consolador dos aflitos,
Patrono dos moribundos,
Terror dos demônios,
Protetor da Santa Igreja,
Patrono da Ordem Carmelita,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade nós.

V. - O Senhor o constituiu dono de sua casa.
R. - E fê-lo príncipe de todas as suas possessões.

ORAÇÃO
Deus, que por vossa inefável Providência vos dignastes eleger o bem-aventurado São José para Esposo de vossa Mãe Santíssima concedei-nos, nós vos pedimos, que mereçamos ter como intercessor no céu aquele a quem veneramos na terra como nosso Protetor. Vós que viveis e reinais com Deus Padre na unidade do Espírito Santo. Amém.

quinta-feira, 29 de março de 2012

M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
5ª Palavra de Jesus na cruz.

Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!  Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca (João 19.28-29).

     Sede é um dos piores sofrimentos humanos. Só quem já passou por isso, conhece o que é sede. Muitas vezes ouvimos de enfermos, que estão à porta da morte, o pedido: Dê-me um pouco de água, molhe meus lábios um pouco. Também esse sofrimento nosso salvador padeceu por nós. Sua sede era grande. Desde a quinta-feira à noite até agora, sexta-feira às três horas da tarde, não havia provado nem comida, nem bebida. Seu alimento foi o amargo sofrer e a zombaria da multidão. O Salmo 22 descreveu seu sofrimento assim: Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim.  Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte (Salmos 22.14-15).
      Tenho sede! Jesus é verdadeiro homem e como tal sentiu sede. Ele havia sofrido as dores infernais e agora sente sede. Quem não lembra imediatamente o pedido do rico no inferno: Pai Abraão... manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama (Lucas 16.24).
     Tenho sede! Imediatamente um soldado correu e trouxe fel e vinho. E lhe alcançou esse líquido uma esponja. Os soldados, que normalmente não se importavam com os pedidos e os clamores dos crucificados, dessa vez atenderam. Tudo para que se cumprisse a Escritura (Salmo 68.12), até os mínimos detalhes.
     Tenho sede! São as palavras daquele que havia dito: Quem tem sede vem a mim e beba (João 7.37). Ele sofre esta sede para poder saciar a sede humana por perdão e paz e para  poder dar água para nunca mais terem sede (Jo 4.14).
    Quão sedenta é a humanidade? Procuram matar a sede em coisas mil, no saber, no trabalho, nos prazeres, em vícios, e voltam desiludidos. Só Cristo pode matar a sede da humanidade. Só ele pode matar a sede do coração humano. Por isso o salmista suspira: Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma (Salmos 42.1). A alma humana, separada de Deus pelo pecado, só encontra paz com Deus por meio de Jesus Cristo.
     E após termos bebido desse maravilhoso perdão que traz a paz à nossa alma, sem dúvida não ficaremos com esta água da vida para nós. Antes vamos dizer aos outros dessa fonte maravilhosa.

quarta-feira, 28 de março de 2012

FESTA DE SÃO BERTOLDO
FUNDADOR DA ORDEM DO CARMO E PRIMEIRO PRIOR GERAL
29 DE MARÇO
São Bertoldo, carmelita (*Lomoges ou Solignac, França –  +Monte Carmelo, Palestina, 1198).
Por volta de 1142 viajou ara a Síria com seu primo Aimérico de Malafaida, nomeado patriarca de Antioquia.
Os eremitas no Carmelo viviam agrupados ou independentes. Levavam os monges cada um sua vida autônoma e regime de vida próprio. Não havia leis jurídicas que os unissem.
Na Idade Média essa vida independente foi desaparecendo e o modo de viver no Carmelo começou a ser regulado juridicamente, através de constituições canônicas sociais.
Entre 1153 e 1159, Bertoldo dirige-se para o Monte Carmelo. Aí, com o auxílio do seu tio, o Patriarca  Aymerico de Malafaida, constrói uma pequena capela em honra da Virgem Maria, perto da gruta de Elias. Aos poucos, cresce o número de eremitas que se espalham por todo o Monte, vivendo separados uns dos outros em pequenas cavernas, procurando assim imitar Elias.
S. Bertoldo reuniu num convento os eremitas espalhados pelas grutas do Monte Carmelo e os fez prometer obediência a um superior  e assumirem uma regra (regra primitiva).
Foi o primeiro geral latino da Ordem (por volta de 1154).

COMUM DOS SANTOS HOMENS, PARA RELIGIOSOS. 

Leia, abaixo, a meditação quaresmal e o mês do glorioso São José

M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
4ª Palavra de Jesus na cruz.

     Desde a hora sexta até à hora nona, houve trevas sobre toda a terra.  Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?  E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Ele chama por Elias (Mateus 27.45-47).

    Era meio dia. No monte Gólgota um céu límpido. O sol ardia impiedosamente sobre os crucificados. As três primeiras horas passaram. A cena no Gólgota não sofreu alterações. A zombaria continuava. Curiosos vinham e saíam. Ao pé da cruz as mulheres, menos Maria, continuavam em sua tristeza.
     De repente, em pleno meio dia, o sol se escureceu. Não eram nuvens que encobriram o sol. Não era um eclipse solar, mas o sol perdeu seu brilho. Densas trevas cobrir a terra, não somente naquela região de Jerusalém. O evangelista Marcos acentua: Houve trevas sobre toda a terra (Marcos 15.33). Os anais do império romano confirmam o acontecimento. No Egito, quando Dionísio o areopagita viu o sol escurecer, exclamou: “Deus está sofrendo, ou tem piedade de alguém que muito sofre”. Deve ter sido assustador: Sol, lua, estrelas pararam de brilhar em reverência ao seu Criador, em reverência ao autor e fonte de toda a luz e vida. Nos campos os animais mugiam, os pássaros se recolheram às árvores. Nos corações humanos palpitava medo e pavor. Muitos que se encontravam ao pé da cruz, fugiram para Jerusalém.
     A escuridão durou três horas. O que Jesus sofreu nestas horas nenhum olho humano viu. Também a Escritura não o descreve. Quando o sol voltou a brilhar, Jesus exclamou em alta voz, as palavras em hebraico: Eli, Eli, lama sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste. Que palavras? Não era queixa, nem irritação. Era uma confissão. Estas palavras revelam o que Jesus sofreu nessas horas. O abandono de Deus. Jesus suportou em seu corpo e sua alma a maldição divina. O apóstolo afirma: Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro, (Gálatas 3.13). Satanás tentou, com todo seu poder, destruir o plano da salvação. Em vão.
     Lutero, após meditar três dias sobre estas palavras: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste, exclamou: Deus por Deus desamparado, que o compreenderá? Grande é este mistério. Jesus é Deus. Ele não deixou de ser Deus em sua humilhação. A Trindade não foi desfeita. Mesmo assim, Jesus sentiu em seu corpo e sua alma, o abandono de Deus. Nossa razão não o pode compreender. A Bíblia nos diz: O SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos (Isaías 53.6). Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5).
     Jesus sofreu o abandono de Deus por nós, para nos reconciliou com Deus. Agora, ninguém pode dizer: Deus me abandonou. Deus ama a todos e quer que todos cheguem ao pleno conhecimento da verdade, se arrependam, creiam em Cristo e voltem à comunhão com Deus. Mas, aquele que rejeitar o amor de Deus em Cristo e permanece incrédulo, esse permanece escravo de Satanás e será condenado ao sofrimento eterno. Que Deus nos livre disso. Ainda é tempo da graça. Ainda Deus chama e estende sua mão. Apega-se à graça de Cristo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo.

terça-feira, 27 de março de 2012


M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
3ª Palavra de Jesus na cruz.

    Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.  Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa (João 19.26-27).

     Ao pé da cruz está um pequeno grupo de fiéis. Algumas mulheres e o discípulo amado de Jesus. As mulheres são: Maria, a mãe de Jesus, sua irmã e Maria mãe de Cléopas, Maria Madalena e o apóstolo João. Quanta tristeza, angústia, dúvidas em suas almas. Não compreendem os caminhos de Deus e o porquê dos sofrimentos de Cristo. Sua fé era como um pavio que fumega.
     Vendo Jesus sua mãe e o discípulo amado, disse-lhes: Mulher, eis aí teu filho.  Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.
     Mulher! disse Jesus. É a segunda vez que ele usa essa expressão em relação à sua mãe. A primeira vez foi por ocasião do primeiro milagre, em Caná da Galiléia (João 2.4). Seria para ocultar a identidade de Maria? Não. Ela nada tinha a temer. Ao Jesus chamar sua mãe, a humilde serva do Senhor, simplesmente, de mulher, ele estava indicando que aqui, com sua morte, termina sua missão de mãe. Em breve, após sua ressurreição, terminará a humilhação de Jesus, passará para o estado da exaltação. Neste estado, Maria deveria olhar para ele como seu Salvador, pois também ela depende da graça de Cristo. Isto ela sabia. Mas ao romper o laço de mãe e filho, Jesus não deixa de cumprir o quarto mandamento. Mesmo em meio aos seus sofrimentos, não se esqueceu de dar à sua mãe o devido amparo. Visto que nada lhe poderia dar, pois até suas vestes os soldados repartiram entre si, ele a entrega aos cuidados do seu discípulo amado, João, ao qual diz: Eis aí tua mãe. Sabemos que João compreendeu as palavras e cuidou dela até ao fim, como ele mesmo afirma em seu evangelho: Dessa hora em diante o discípulo a tomou para casa (João 19.27). Importa tomar estas palavras também literalmente. João tomou Maria imediatamente e a levou para sua casa, de modo que ela não estava mais ali durante as horas da escuridão e também não viu a morte de Jesus.  
     O pai, José, pelo que parece, já havia falecido. E quanto aos outros irmãos de Jesus - alguns interpretam os textos como primos – sabemos que só após a ressurreição de Jesus, vieram realmente a crer nele.
    Com isto Jesus nos dá exemplo de como devemos cuidar de nossos pais. Pois diz a Escritura: Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente (1 Timóteo 5.8). Sendo nós, a comunhão dos santos, a grande família de Deus, queremos cuidar uns dos outros em amor. No juízo final, ouviremos de Jesus as palavras: Estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me.  Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?  E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos?  E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar?  O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes (Mateus 25.36-40).
ORAÇÃO - Ó glorioso S. José, a bondade de vosso coração é sem limites e indizível, e neste mês que a piedade dos fiéis vos consagrou mais generosas do que nunca se abrem as vossas mãos benfazejas. Distribui entre nós, ó nosso amado Pai, os dons preciosíssimos da graça celestial da qual sois ecônomo e o tesoureiro; Deus vos criou para seu primeiro esmoler. Ah! que nem um só de vossos servos possa dizer que vos invocou em vão nestes dias. Que todos venham, que todos se apresentem ante vosso trono e invoquem vossa intercessão, a fim de viverem e morrerem santamente, a vosso exemplo nos braços de Jesus e no ósculo beatíssimo de Maria. Amém.

segunda-feira, 26 de março de 2012


M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
2ª Palavra de Jesus na cruz.
      
      Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também.  Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença?  Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez.  E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino.  Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lucas 23.39-43).

     Como vimos, o grupo dos zombadores era grande, até hoje o número é grande. Impressionante, no início os dois malfeitores crucificados com Cristo zombavam dele. Lemos em Mateus: Os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele (Mateus 27.44). Eles diziam: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. De repente silêncio. Jesus proferiu suas primeiras palavras na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Isto fez com que um dos malfeitores silenciou, o outro continuou zombando. Então o seu companheiro lhe disse: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. Que confissão! Temer a Deus. Eles conheciam a palavra de Deus. Sabiam: Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hebreus 10.31).
     Eles eram judeus e havia aprendido como criança as profecias e os salmos. Desviaram-se de Deus na juventude, enveredaram pelo caminho do crime. Agora estavam na cruz. De repente as palavras de Jesus e sua oração começaram a fazer efeito num dos malfeitores. Tudo o que ele ouviu de Jesus e ouviu a respeito dele, como por exemplo: Filhas de Jerusalém, não chorais por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos... Porque, se em lenho verde fazem isto, que será no lenho seco? (Lucas 23.28,31). E o letreiro que Pilatos mandou colocar: Este é o Rei dos judeus (Lucas 23.38). Ele sem dúvida começou a lembrar-se das profecias, o Espírito Santo trabalhou em seu coração e o iluminou.
     Ele se arrependeu de seus pecados e disse a Jesus: Lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Impressionante! Ele reconheceu nesse homem sofredor ao seu lado o Messias prometido, o Filho de Deus, o Salvador da humanidade. E mais. Ele teve a coagem para pedir que seu nome sujo e imundo fosse lembrado no céu. De onde lhe veio esta coragem? Das promessas e especialmente da oração que ele ouviu de Jesus: Pai, perdoa-lhes! Ao mesmo tempo, a oração deste malfeitor expressa profunda humildade e firme confiança: Lembra-te. Ele sabe quem for lembrado por Jesus no céu será salvo. E Jesus lhe responde: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Isto significa: Perdoados são os teus pecados. Pois onde há remissão dos pecados, há vida e eterna salvação. A paz de Cristo que o mundo não pode dar, inundou sua alma. Esta paz deu-lhe também forças para suportar os sofrimentos finais. E ele sofreu bastante. No final, os soldados romanos ainda lhe quebraram as pernas. Que sofrimento, que dor. Mas tudo isso ele suportou na força das palavras: Hoje estarás comigo no paraíso.
     Hoje temos muito mais palavras do que este malfeitor na cruz. Temos toda a Bíblia, profecias, salmos, o Novo Testamento. Quanto consolo.
     Ainda hoje Jesus chama e consola por sua Palavra. O mundo ri e zomba, mas bem-aventurado o que crê. E enquanto estamos aqui na terra, queremos testemunhar a nossos parentes, amigos e colegas. Chamá-los ao arrependimento e à fé em Cristo.

domingo, 25 de março de 2012

M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
1ª Palavra de Jesus na cruz.
Pai, perdoa-lhes

     Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.  Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes (Lucas 23.34).

     O tumulto em torno da cruz era grande. A zombaria, o escárnio continuava. Enquanto isso, Jesus permanecia em silêncio. Este silêncio era anormal. O historiador da época, Flávio Josefo, descreve a crucificação de muitos e diz que eles gritavam, berravam horas a fio de dor. Desesperados amaldiçoavam seus inimigos e deuses. Jesus guarda silêncio. E quando pela primeira vez abre sua boca na cruz, profere uma oração. Penso que, quando Jesus começou a falar, os inimigos ao pé da cruz silenciaram para ouvir o que ele diria. Jesus orou: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
     Pai! – Assim Jesus invocou a Deus desde o princípio. No rio Jordão, por ocasião do batismo, Deus se manifestou e disse do céu: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mateus 3.17). Jesus afirmou: Quem me vê a mim vê o Pai (João 14.9). Isto é consolador, saber que aqui está o Filho de Deus sofrendo por nós, para nos reconciliar com Deus Pai.
     Pai, perdoa-lhes. No Jardim Getsêmani, Jesus orou por si, agora suplica ao Pai em favor de seus inimigos. Jesus conhece o coração do Pai. Ele vê, o que os inimigos não viam, a ira de Deus que está prestes a desabar sobre eles. E Jesus, com os braços abertos, entre céu e terra, clama ao Pai: Pai, perdoa-lhes. Não os punes em tua ira. Cada pecado é uma bofetada no rosto de Deus. Nenhum pecado permanece impune. Freqüentemente Deus tem punido os pecados no ato. Quando o bando de Coré se revoltou contra Moisés, Deus fez a terra se abrir e engolir os rebeldes (Nm 16). Sodoma e Gomorra foram castigados com fogo do céu. Sem dúvida, agora Deus não silenciará diante das atrocidades que as criaturas estavam praticando contra seu Filho unigênito. Mas Jesus se opõe à ira de Deus e clama por perdão. Não coloca nenhuma condição nesta sua oração como no Getsêmani: Se for da tua vontade. Não! Pai, perdoa-lhes. Para que isso fosse possível, ele estava sofrendo na cruz. Sim, seu sangue nos purifica de todos os pecados (1 Jo 1.7), ainda que sejam como a escarlate (Is 1.18).
    Pai,... não sabem o que fazem. – O que eles não sabem? Eles não sabiam que Jesus é o Filho de Deus, o Senhor da glória. Eles não sabiam que Deus estava executando aqui o seu plano da salvação. Eles não sabiam que eram instrumentos de Satanás. O povo cegado estava agindo na cegueira. Os próprios apóstolos não compreenderam o que estava acontecendo e vacilaram na fé. O apóstolo Pedro lhes diz no dia de Pentecostes: Eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades (Atos 3.17). O apóstolo Paulo, que perseguiu a Igreja cristã, confessa mais tarde: O fiz na ignorância, na incredulidade (1 Timóteo 1.13). Observemos bem. Ele chama a inimizade contra Deus de incredulidade. Aqui Jesus interpreta, até onde possível, da melhor maneira, chamando também a inimizade de: Não sabem o que fazem. Quão bondoso é nosso Salvador. Isto nos consola. Também nós, quando somos enganados e puxamos pelo pecado – agimos como que cegados, por ignorância e incredulidade.
     Mas lembremos, não sabiam, porque não queriam saber. Estavam cegados pelo ódio a Jesus, pela astúcia de Satanás. Eles tinham as profecias lidas no templo, viram os milagres de Jesus que eram “sinais” do cumprimento das profecias, tinham os ensinos de Jesus. Eles não tinham desculpas. Ignorância não inocenta ninguém. Eles eram culpados.
     Quantos andam ainda hoje na ignorância? Mesmo assim, quantas igrejas por toda a parte. O evangelho anunciado pelas ondas do rádio, pela televisão, por revistas, folhetos e jornais. A Bíblia à venda. Não! Não terão desculpas.
     Por isso Jesus ora: Pai, perdoa-lhes! O pecado é grande. A ira estava prestes a desabar sobre eles. Perdoa-lhes! Isto é, não os castigos imediatamente. Concede-lhes mais um tempo da graça, para que possam presenciar a ressurreição, ouvir a mensagem no dia de Pentecostes, para chegarem ao conhecimento da verdade, arrepender se, chegarem à fé para serem salvos.
    Pai, perdoa-lhes! Esta oração, Jesus não a fez somente em favor de todos seus inimigos, soldados romanos, os fariseus e o povo em geral, mas também por nós. Quantas vezes temos pecado, merecendo o castigo imediato de Deus, mas Deus nos foi gracioso. Ele nos concedeu tempo para arrependimento e nos perdoou? Recebemos muito amor, por isso queremos amar nossos inimigos. Conta-se que o rei Luiz XII da França fez um sinal da cruz diante dos nomes de seus inimigos políticos para lembrar que deve amá-los. Assim Jesus diz a todos nós: Sede misericordiosos como também é misericordioso vosso Pai (Lucas 6.36).
M E D I T A Ç Õ E S    Q U A R E S M A I S
O SERVO SOFREDOR - A história da paixão de Cristo XXXIII
Ali, pois,... depositaram o corpo de Jesus.

     Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi José de Arimatéia e retirou o corpo de Jesus.  E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés.  Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro.  No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto.  Ali, pois, por causa da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus. (João 19.38-42)

     Tendo Jesus falecido e os soldados atestado sua morte, José de Arimatéia foi a Pilatos e pediu autorização para tirar o corpo de Jesus da cruz, a fim de o sepultar com dignidade. Os romanos permitiam que familiares ou amigos pudessem sepultar com dignidade, mesmos malfeitores. Se não houvesse interessado, iriam para uma vala comum. Por isso, José de Arimatéia recebeu de Pilatos a licença para tanto.
     O sepultamento tem um alto significado tanto para Jesus como para todos nós. O corpo de Jesus foi depositar numa sepultura nova, de José de Arimatéia. O ser deitado na sepultura foi o último degrau na humilhação de Jesus. O Filho de Deus, o Verbo, o Criador e Mantenedor de todas as coisas, a luz do mundo, sepultado numa gruta escura, lavrado numa rocha. Esta humilhação é indescritível para o Príncipe e autor da vida (João 5.26). Ele, que já na vida não tinha onde reclinar sua cabeça (Mateus 8.20), também na morte não tem um lugar que pudesse denominar de seu. Ele se fez pobre para nos enriquecer (2 Coríntios 8.9).
     Ao contemplarmos sua morte, precisamos fazê-lo à luz da Escritura, e notaremos o conforto e a esperança que dela nos brotam.
     Nós nos alegramos que José de Arimatéia, um homem rico e honrado, membro do Sinédrio, que esperava o reino de Deus. Ele concedeu sua sepultura a Jesus, para o descaso e não se importou com o que diriam seus colegas, que sentenciaram a Jesus. Não se importou se isto lhe trará desprezo e zombarias. Ele confessou sua fé. Diz o evangelista Marcos: Ele se encheu de coragem (Marcos 15.43) para pedir o corpo a Pilatos. Conseguida a ordem, volta ao Gólgota para retirar o corpo. Ali se encontrou com Nicodemos (João 3), seu colega no Sinédrio, que veio para ajudar. Ele trouxe também mirra e aloés (João 19.39). Eles enrolaram o copo num lençol branco de linha e o depositaram no túmulo, lavrado numa rocha, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado. Estavam ali também Maria Madalena a e Maria mãe de José (Marcos 15.47). O profeta Isaías declarou: Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca (Isaías 53.9). Assim se cumpriu a Escritura (1 Coríntios 15.4).
     Rolaram uma grande pedra para fechar a sepultura. Não havia flores, nem cantos, nem uma prédica. Nos corações das pouco as pessoas ali presentes, no entanto, havia profundo amor, tristeza, bem como gratidão por tudo o que Jesus fez. Mesmo que tudo isso ainda estava envolto em muitas perguntas e incertezas, mas a centelha da fé, como uma pequena brasa acessa, estava em seus corações.
     Precisamos lembrar ainda o significado do seu sepultamento para nós. Talvez José de Arimatéia e Nicodemos gostariam ter sepultado Jesus em outro lugar, em Betânia, Belém, ou até em Nazaré. A brevidade do tempo, no entanto, não o permitiu, pois em mais ou menos duas horas iniciava o grande sábado e tudo deveria estar pronto. Assim Deus o quis, que o lugar de onde brotaria a vida, por sua ressurreição, devesse estar bem perto do lugar de sua paixão e morte.
    E mais um detalhe. Deus queria que ele fosse sepultado num jardim. Jardins tiveram destaque na obra da salvação. No jardim do Édem, Adão e Eva caíram em pecado e lá Deus lhes prometera salvação. No jardim do Getsêmani Jesus iniciou sua amarga caminhada para a cruz. Agora é sepultado num jardim, para ali ressuscitar e triunfar sobre todos seus inimigos.
    Mas aqui está também uma advertência. Jesus não nos libertou somente da dívida, mas do poder do pecado e da escravidão de Satanás. Por isso o apóstolo Paulo escreve: Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida (Romanos 6.4). Fomos sepultados com Cristo. Recebemos esta bênção pelo batismo e a retemos enquanto estivermos na fé. Isto nos leva a uma luta diária de nosso novo homem (a fé) contra as inclinações de nossa carne pecaminosa, o velho homem. Confessamos “que o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que vive em justiça e pureza diante de Deus eternamente”. (Cat. Menor Batismo, 4ª parte).