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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

LECTIO DIVINA DA III SEMANA DO TEMPO COMUM
 
     Nesta III semana do tempo comum, com a ocorrência da festa da conversão de S. Paulo, propomos a reflexão da sua conversão no caminho de Damasco. É uma experiência de mudança, de transformação, de encontro com Cristo, fonte de renovação. Além do mais, somos convidados por nossa Santa Regra em seu capítulo 20, a vermos o Apóstolo como modelo a ser imitado por todo carmelita: “tendes o ensinamento e exemplo do apóstolo S. Paulo, pela boca do qual falava Cristo, e que Deus constituiu e deu como pregador e mestre dos gentios na fé e na verdade: seguindo-o não vos podereis enganar”.
 
LEITURA – At 22, 3-16
"Naqueles dias, Paulo disse ao povo: «Eu sou judeu e nasci em Tarso da Cilícia. Fui, porém, educado nesta cidade de Jerusalém e recebi na escola de Gamaliel uma formação estritamente fiel à Lei dos nossos pais. Era tão zeloso no serviço de Deus, como vós todos sois hoje. Persegui até á morte esta nova religião, algemando e metendo na prisão homens e mulheres, Como podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todo o Sinédrio. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco e para lá me dirigi, com a missão de trazer algemados os que lá estivessem, a fim de serem castigados em Jerusalém. Sucedeu, porém, que, no caminho, ao aproximar-me de Damasco, por volta do meio-dia, de repente brilhou ao redor de mim uma intensa luz vinda do Céu. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque Me persegues?’ Eu perguntei: ‘Quem és Tu, Senhor?’. E Ele respondeu-me: ‘Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues’. Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. Então perguntei: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’. E o Senhor disse-me: ‘Levanta-te e vai a Damasco; lá te dirão tudo o que deves fazer’. Como eu deixei de ver, por causa do esplendor daquela luz, cheguei a Damasco guiado pelas mãos dos meus companheiros.Entretanto, veio procurar-me um certo Ananias, homem piedoso segundo a Lei e de boa fama entre os judeus que ali viviam. Ele veio ao meu encontro e, ao chegar junto de mim, disse-me: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista’. E, no mesmo instante, pude vê-lo. Ele acrescentou: ‘O Deus dos nossos pais destinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e ouvires a voz da sua boca. Tu serás sua testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste.Agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome’».

SEGUNDA-FEIRA
Palavra“Naqueles dias, Paulo disse ao povo: «Eu sou judeu e nasci em Tarso da Cilícia. Fui, porém, educado nesta cidade de Jerusalém e recebi na escola de Gamaliel uma formação estritamente fiel à Lei dos nossos pais. Era tão zeloso no serviço de Deus, como vós todos sois hoje. Persegui até à morte esta nova religião, algemando e metendo na prisão homens e mulheres, como podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todo o Sinédrio. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco e para lá me dirigi, com a missão de trazer algemados os que lá estivessem, a fim de serem castigados em Jerusalém.”
Paulo testemunha a sua conversão a Cristo procurando mostrar que ela não representa uma ruptura total com o seu passado religioso, nem uma ruptura com o Deus dos seus antepassados, nem um aniquilamento da sua pessoa. Era um jovem culto e profundamente religioso, de formação superior na escola de Gamaliel, conhecedor da Lei de Deus e da Tradição das Escrituras, versado na interpretação da Bíblia, líder nato e membro activo da comunidade judaica. Pertenceu ao partido que mais se esforçava por levar a sério o cumprimento da Lei de Moisés: os fariseus. O seu zelo pela Lei levou-o a entregar-se com vigor e entusiasmo à perseguição dos cristãos, até ao dia em que Jesus Cristo se manifestou, de forma decisiva, na sua vida.
Meditação
Paulo, interpelado por Deus e chamado a ser seu Apóstolo, assume profundamente a sua história e a sua nova identidade! Testemunha com clareza e simplicidade a conversão que o Senhor operou na sua vida! Na missão de anunciar o Evangelho, com frequência faz referência ao seu passado e à experiência do encontro determinante com Jesus Cristo. É importante assumir a nossa pessoa e a nossa história, com fracassos, erros, quedas, desafios...com verdade e humildade. É fundamental reler os nossos encontros com Cristo nas estradas da vida e as pequenas grandes transformações que Ele vai operando pela Sua Graça. Como é belo narrar, a partir da experiência pessoal, a surpresa e a gratuidade do Amor de Deus!
Oração
Senhor, Tu examinas-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto;
à distância conheces os meus pensamentos.
Vês-me quando caminho e quando descanso; estás atento a todos os meus passos.
Ainda a palavra me não chegou à boca, já Tu, Senhor, a conheces perfeitamente.
Tu me envolves por todo o lado e sobre mim colocas a Tua mão.
É uma sabedoria profunda, que não posso compreender;tão sublime, que a não posso atingir!
Examina-me, Senhor, e vê o meu coração; põe-me à prova para saber os meus pensamentos.
Vê se é errado o meu caminho e guia-me pelo caminho eterno. (Sl 138, 1-6. 23-24)
Ação
Com coragem e verdade, vou reler a história da minha vida e ver, como tenho gasto o tempo, em que tenho investido as minhas energias e capacidades, como tenho posto a render os meus talentos?...


TERÇA-FEIRA
Palavra“Sucedeu, porém, que, no caminho, ao aproximar-me de Damasco, por volta do meio-dia, de repente brilhou ao redor de mim uma intensa luz vinda do Céu. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque Me persegues?’ Eu perguntei: ‘Quem és Tu, Senhor?’. E Ele respondeu-me: ‘Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues”.
Não se sabe ao certo o que aconteceu. O que nos é descrito (cf. Act 9,1-22) é a forma de dizer uma profunda experiência mística de encontro com o Senhor Ressuscitado, certamente colhida a partir do testemunho do próprio Paulo que encontramos neste e noutros textos.
É curioso que o chamamento de Saulo (assim era chamado antes) nos seja narrado precisamente nesta situação, a caminho de Damasco para perseguir, e não num momento de oração na Sinagoga, ou no estudo da Palavra! O Senhor chama-o a partir da sua realidade, da sua condição, da sua identidade! Deus manifestou-lhe o Seu amor, quando ele estava a ser blasfemo e insolente. A interpelação que o Senhor lhe dirige proferindo o seu nome fere-o profundamente: “Saulo, porque me persegues?”. Jovem habituado a enfrentar grandes desafios, deixa-se tocar pela luz e pela voz. Entre em diálogo para discernir o que está a acontecer: “Quem és tu, Senhor?”. E na resposta está a Revelação: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues…”
Meditação
O exemplo de Paulo garante-nos que uma verdadeira experiência de encontro com Cristo é uma experiência transformadora e revitalizante; abre-nos perspectivas novas de vida plena, de realização e de salvação e nos faz ver com olhos novos os projectos que Deus tem para nós! Atenção! Os encontros com Cristo na estrada da vida não são raros, nem estão reservados a pessoas especiais… Cristo passa continuamente ao nosso lado, interpela-nos, questiona-nos, desafia-nos, faz-nos cair das nossas certezas e instalações, convida-nos a olhar para além dos horizontes que nos limitam. Resta-nos estar atentos e disponíveis para O reconhecer, escutar e acolher as Suas novas propostas de vida.
Oração
Fala, Senhor! Revela-me o Teu Amor, mostra-me a Tua proximidade, comunica-me a Tua Vida. Vem surpreender-me na monotonia dos meus dias, no vazio da minha vida, no acomodamento das minhas capacidades, na futilidade dos meus empreendimentos!... Fala-me, Senhor! Diz-me quem sou eu e quem és Tu! Diz-me o que queres de mim!
Ação
Vou contemplar e reviver os encontros com Jesus Cristo nas ‘estradas’ da minha vida: um momento de oração, uma celebração, uma conversa, uma experiência de sofrimento, uma alegria... O Senhor vem ter comigo de tantas maneiras para me surpreender!


QUARTA-FEIRA
Palavra “Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz que me falava. Então perguntei: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’. E o Senhor disse-me: ‘Levanta-te e vai a Damasco; lá te dirão tudo o que deves fazer’. Como eu deixei de ver, por causa do esplendor daquela luz, cheguei a Damasco guiado pelas mãos dos meus companheiros.”
Paulo bem sabia o que ia fazer a Damasco: perseguir era a sua missão. No entanto, agora cego, estonteado, desorientado, lá vai, sem perceber nada! É espectacular a sua humildade: deixa-se conduzir pela mão. Invertem-se os papéis. O líder teve de ser conduzido pelos seus companheiros. Passa 3 dias sem ver, privado de comida e bebida ( cf. Act 9, 1-22). São os 3 dias da escuridão e da morte que antecedem a ressurreição que tudo muda; os 3 dias que preparam a Vida Nova.
A luz e a voz indicam o teor de revelação com que o Senhor agracia Paulo. É uma experiência tão intensa e até violenta ao ponto de o ‘derrubar por terra’ (cf 9, 1-22). Como Jeremias, Paulo poderia dizer: “Vós me seduzistes, Senhor! Dominaste-me e derrubaste-me” (Jr 20, 7).
Meditação
Deus chama de forma gratuita; aposta naqueles que escolhe, sem olhar à sua condição. Um mistério de amor que nos ultrapassa. Porquê, Saulo, se era um acérrimo perseguidor ‘sempre no contra’…? Ou, porquê eu, se estava tão bem…, se sou assim…!? Se não tenho qualidades, se não sou capaz, se tenho este feitio…Só Deus sabe o porquê. Ele sabe que pode contar com aqueles que chama, ainda que tenha de lhes virar a vida do avesso! E chama-nos sempre e a todos! Para cada um tem um projecto de amor! O que importa é escutá-lo; deixar que Ele nos vire a vida do avesso! Ele próprio concede a graça da abertura e colaboração para que o Seu projecto se torne uma realidade. Discernimento, abertura, disponibilidade… são condições necessárias. Coloquemo-nos assim, diante de nós e diante de Deus!
Oração
Em silêncio, coloco-me diante do Senhor, agora mais consciente da minha vida e da presença de Deus no meu viver; procuro escutar a resposta de Jesus à minha pergunta: que hei-de fazer, Senhor?
Ação
Vou ler calmamente e com atenção a narrativa da conversão e chamamento de S. Paulo em Act 9, 1-22 e deixar que esta experiência ilumine a minha vida.


QUINTA-FEIRA
Palavra “Entretanto, veio procurar-me um certo Ananias, homem piedoso segundo a Lei e de boa fama entre os judeus que ali viviam. Ele veio ao meu encontro e, ao chegar junto de mim, disse-me: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista’. E, no mesmo instante, pude vê-lo”.
Ajudado por Ananias, Paulo “recupera a vista” – quer dizer, reconhece Jesus como o seu Senhor, descobre a sua paixão por Cristo e percebe que a sua missão será, doravante, anunciar a Boa Nova de Jesus. Eis o momento de viragem da sua existência. ‘Ressuscitou’ para uma vida nova exactamente no momento em que foi acolhido na comunidade como irmão: “Saulo, meu irmão!” Morreu o perseguidor, ressuscitou o apóstolo!
Meditação
A figura de Ananias confirma a importância da comunidade cristã no caminho de descoberta de Jesus Cristo e crescimento na fé. Ninguém é cristão sozinho; ninguém vive de uma fé isolada, sem referências, não questionada ou não confrontada. Não esqueçamos: a nossa fé vive-se em Igreja, e é no enquadramento comunitário que ela encontra o campo favorável para crescer. Deus pode tudo, mas serve-se de mediadores para nos revelar o Seu projecto e nos orientar numa resposta de compromisso. Importa procurá-los, reconhecê-los e acolhê-los.
Oração
Eu Te agradeço, Senhor, porque tantas vezes me falas, interpelas e iluminas, através de pessoas que colocas ao meu lado ou que surgem no meu caminho: um amigo, um professor, um sacerdote, os pais, um colega, um irmão da comunidade...! Obrigado, Senhor, porque me envias mensageiros do Teu amor, quais ‘Ananias’ que me ajudam a reconhecer-Te tão perto de mim!
Ação
Vou ter uma palavra ou gesto de gratidão para com alguma pessoas que tem sido ‘Ananias’ na minha vida, ou seja, mediador o amor e da vontade de Deus para comigo.


SEXTA-FEIRA
Palavra“Ele acrescentou: ‘O Deus dos nossos pais destinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e ouvires a voz da sua boca. Tu serás sua testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste”.
Ananias é a voz que manifesta a Paulo a vontade de Deus: ser testemunha do Ressuscitado a partir da própria experiência! É chamado a uma nova missão. Da ruptura com o seu passado, ou seja, da sua conversão, brilhou para Paulo a certeza da gratuidade do amor de Deus. Reconhece em Jesus o Messias, vivo e próximo do homem. Deixa-se possuir plenamente por Ele: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”(Gl 2, 20). Doravante, nada o separará deste Amor(cf. Rm 8,35); jamais calará o que viu e ouviu!
Meditação
O encontro com Cristo é uma experiência verdadeiramente transformadora; leva-nos a questionar e a reequacionar toda a existência, a “abrir os olhos” para ver, com uma luz completamente nova, o projecto que Deus tem para nós. A experiência de encontro com Cristo lança-nos para os outros, para o mundo! É aí que descobrimos e acolhemos a nossa vocação e a nossa missão. Porquê adiar a riqueza de um encontro profundo com Aquele que nos espera na estrada da vida?
Oração
Senhor, é este encontro que eu quero marcar! Tu sabes quando será oportuno. Conto com a Tuas graça! Eu apenas quero estar disponível, atento, aberto! O resto ultrapassa-me! Só Tu me podes transformar profundamente, ainda que aos poucos e devagar, ao ponto de conhecer a Tua vontade e me tornar Tua testemunha! Senhor, está combinado. O encontro fica marcado para o dia e horas que só Tu sabes. Vou ficar atento! Não quero perder nenhuma oportunidade.
Ação
É o Senhor quem converte, mas precisa da minha liberdade e do meu empenho. Vou dar um passo de conversão, aquele que o Espírito me indicar: celebrar o sacramento da Confissão, fazer as pazes com alguém, acolher as orientações dos pais, ou outras pessoas, ser mais responsável...


SÁBADO
Palavra “Agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome’».
Estes imperativos são o reforço do chamamento de Paulo. Levantar, receber o batismo, purificar-se, invocar o nome de Deus… expressões fortes que apelam à transformação! Com a revelação do Senhor veio ao de cima o nada de Paulo, para realçar o tudo de Deus! “Tudo posso naquele que me dá força” (Fl 4,13). Esta transformação terá sido um processo que levou o seu tempo, teve o seu percurso. Uma experiência de abertura, docilidade, entrega humilde e confiante ao querer de Deus. Isto não acontece automaticamente. Deus antecede-se sempre, concedendo luz e graça.
Meditação - Ser escolhido e chamado, como cristão, implica percorrer um caminho novo, numa nova direcção. Levantarmo-nos para uma vida nova, deixando cair por terra os antigos projectos que nos fecham e esvaziam. Deixemos que Cristo nos surpreenda nos nossos caminhos e nos fale, ilumine, cegue, atire por terra… deixemo-nos encandear pela sua luz e transformar pelo seu Amor! Ser encontrado por Cristo e acolhe-Lo na Sua novidade implica não encerrar num cofre fechado o tesouro da Graça que recebemos, mas comunicá-lo com a vida de modo que a verdade libertadora de Cristo atinja e transforme outros. Todo o cristão tem de ser missionário, todo o cristão tem de ser testemunha de Cristo e do seu projecto no meio dos seus irmãos.
Oração
Bendito sejas, ó Pai, que nos concedes todas as bênçãos espirituais.
Bendito sejas, porque nos escolhes para sermos dos teus, santos e irrepreensíveis no amor; porque nos chamas, em Jesus Cristo, a ser teus filhos adoptivos, segundo a riqueza da graça que Ele nos concede em abundância!
Com plena sabedoria e inteligência dá-nos a conhecer o mistério da Sua vontade!
Bendito sejas, Senhor, porque nos amas, chamas e implicas no Teu projecto de salvação! (cf. Ef 1, 3-10)
Ação
Vou ser testemunha da surpresa e proximidade de Jesus Cristo junto de alguém com quem me encontre hoje, através de uma partilha, uma palavra, um gesto, um olhar...!

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