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BEATO JOÃO SORETH

BULA “CUM NULLA”
    “Nicolau, Bispo, Servo de Deus, em perpétua memória.
    Visto que nenhum grupo de fiéis, sob qualquer forma de religião, pode organizar-se, sem autorização do Sumo Pontífice, e para que os grupos de religiosas, virgens, viúvas, beguinas, manteladas ou outras formas particulares que vivem sob o título e proteção da Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, ou que no futuro assim queiram viver, não pareçam bem sem a aprovação da autoridade apostólica. Nós, pelas presentes letras, decretamos que para a recepção, modo de viver, admissão e proteção das supracitadas, a Ordem, o Mestre Geral da mesma e os Priores Provinciais gozem e usem dos mesmos e idénticos privilégios concedidos à Ordem dos Pregadores e à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, de modo que as sobreditas virgens, viúvas, beatas e manteladas, vivam em continência e honestamente, guardem o jejum e façam todas as demais coisas, como soem fazer, de acordo com seu regulamento e estatutos. Que ninguém, por isto, ouse infringir ou contradizer esta nossa constituição. Se, contudo, alguém cogitasse contrariá-la, saiba que incorreria na ira de Deus onipotente e de seus santos apóstolos Pedro e Paulo.
    Dado em Roma, em São Pedro no ano de 1452 da Encarnação de Nosso Senhor, no dia 07 de outubro, sexto ano de nosso Pontificado” (o texto original da Bula “Cum Nuila” se encontra no Arquivo Público de Florença sob o número 400, lis. 14v-146r, Reg. Vaticano. Está endereçada:”Ao Revmo Geral da Ordem de Santa Maria dos Carmelítas, Roma”)

 João Soreth, nasceu em Caen, na Normandia, França, em 1394; ingressou no Convento Carmelita de Caen, estudou Teologia na Universidade de Paris e recebeu o Ministério Sacerdotal em 1417. Em 1440 foi eleito Superior Provincial da França e, em 1451 foi eleito Superior Geral da Ordem do Carmo. Religioso muito culto e dotado de muitas virtudes, como Reformador do Carmelo reconduziu a Ordem do Carmo a seu antigo esplendor conquistando seus religiosos a uma observância mais rigorosa da Regra de Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém. O Papa Nicolau V (1447-1455), concedeu à Ordem do Carmo a Bula intitulada “Cum Nulla Fidelium” que permitiu ao Beato João Soreth fundar a Ordem Carmelita das Monjas de Clausura, a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e as Confrarias do Escapulário do Carmo. A data da outorga dessa Bula “Cum Nulla” foi no dia 07 de outubro de 1452. O Beato João Soreth incorporou as Monjas de Clausura na Regra de Santo Alberto. Para a Ordem Terceira do Carmo Soreth elaborou, em 1455, uma Regra própria, baseada em elementos da Regra de Santo Alberto, adaptados ao movimento laical dos Terceiros Carmelitas. Essa primeira Regra dos Terceiros continha apenas 15 artigos. Essa Regra dos Terceiros, através dos séculos, passou por muitas reformas entre as quais se destacou a Regra de 1948 que vigorou até 1977. Neste ínterim, de 1962 a 1965, realizou-se o Concílio Vaticano 11, cujos documentos determinaram a todas as Ordens Terceiras uma revisão adaptada aos documentos do Vaticano II, e dessa revisão resultou a Regra da OTC de 1977 que deveria ser observada a título de experiência até 1987, mas esta experiência prolongou-se até a Assembléia Geral da Ordem do Carmo no ano de 1995. Nessa Assembléia o Governo Geral da Ordem nomeou uma comissão internacional para proceder à revisão da Regra de 1977 e, desta revisão, que durou anos de estudo cuidadoso da comissão internacional, resultou a nova Regra da Ordem Terceira do Carmo que, formalmente foi aprovada pela Santa Sé no dia 11 de abril de 2003 e promulgada pelo Governo Geral da Ordem do Carmo sob o Protocolo 115/2003 assinado em Roma no dia 16 de julho de 2003 pelo Pe. Geral José Chalmers Ord. Carm.. Esta nova Regra da Ordem Terceira do Carmo entrou em vigor no dia 08 de dezembro de 2003. João Soreth faleceu a 25 de julho de 1471; com fama de santidade, governou a Ordem do Carmo durante 20 anos e foi beatificado pelo Papa hoje Beato, Pio IX em 1866. A sua iconografia o representa segurando na mão direita uma âmbula de hóstias consagradas, alusão a um fato histórico de sua vida: as tropas de Carlos, o temerário duque de Borgonha e conde de Flandres, invadiram uma igreja em Liege - Bélgica, o povo enraivecido, profanou o sacrário, as hóstias consagradas foram espalhadas pelo piso da igreja em chamas, e o Beato João Soreth, com o risco da própria vida, juntou as hóstias, colocou-as na âmbula e levou-a à sua igreja conventual. E representado ainda calcando com o pé direito algumas setas, alusão ao suposto martírio; pela tradição, ele teria morrido em conseqüência de um envenenamento. Na mão esquerda Soreth segura um bastão símbolo de seu cargo de Superior Geral e na mesma mão, ele segura um cartaz, referência à Bula “Cum Nulla” e ao lado do pé esquerdo, no chão, há um chapéu cardinalício e sua mitra episcopal, alusão ao fato: o Papa Calixto III ter-lhe-ia oferecido uma rica diocese, que ele, muito humildemente, rejeitou.

Frei Nuno Alves Corrêa Ord. Carm.