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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

XXI do Tempo Comum

São Bartolomeu, Apóstolo
 
1ª Leitura (Is 66,18-21):
Eis o que diz o Senhor: «Eu virei reunir todas as nações e todas as línguas, para que venham contemplar a minha glória. Eu lhes darei um sinal e de entre eles enviarei sobreviventes às nações: a Társis, a Fut, a Lud, a Mosoc, a Rós, a Tubal e a Javã, às ilhas remotas que não ouviram falar de Mim nem contemplaram ainda a minha glória, para que anunciem a minha glória entre as nações. De todas as nações, como oferenda ao Senhor, eles hão de reconduzir todos os vossos irmãos, em cavalos, em carros, em liteiras, em mulas e em dromedários, até ao meu santo monte, em Jerusalém – diz o Senhor – como os filhos de Israel trazem a sua oblação em vaso puro ao templo do Senhor. Também escolherei alguns deles para sacerdotes e levitas».
 
Salmo Responsorial: 116
R. Ide por todo o mundo, anunciai a boa nova.
 
Louvai o Senhor, todas as nações, aclamai-O, todos os povos.
 
É firme a sua misericórdia para conosco, a fidelidade do Senhor permanece para sempre.
 
2ª Leitura (Hb 12,5-7.11-13): Irmãos: Já esquecestes a exortação que vos é dirigida, como a filhos que sois: «Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, nem desanimes quando Ele te repreende; porque o Senhor corrige aquele que ama e castiga aquele que reconhece como filho». É para vossa correção que sofreis. Deus trata-vos como filhos. Qual é o filho a quem o pai não corrige? Nenhuma correção, quando se recebe, é considerada como motivo de alegria, mas de tristeza. Mais tarde, porém, dá àqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça. Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos vacilantes e dirigi os vossos passos por caminhos direitos, para que o coxo não se extravie, mas antes seja curado.
 
Aleluia. Eu sou o caminho, a verdade e a vida, diz o Senhor: ninguém vai ao Pai senão por Mim. Aleluia. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 13,22-30): Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?». Ele respondeu: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças!’ Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade!’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos».
 
«Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?»
 
Rev. D. Pedro IGLESIAS Martínez (Ripollet, Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho situa-nos diante o tema da salvação das almas. Esse é o núcleo da mensagem de Cristo e a “lei suprema da Igreja” (assim o afirma o Código de Direito Canônico). A salvação da alma é uma realidade enquanto é um dom de Deus, mas para quem ainda não tem ultrapassado os limites da morte é apenas uma possibilidade. Salvar-nos ou condenar-nos, ou seja, aceitar ou rejeitar a oferta do amor de Deus pela eternidade toda.
 
Santo Agostinho dizia que «se tornou digno dum mal eterno aquele que em si destruiu um bem que poderia ser eterno». Nesta vida existem apenas duas possibilidades: com Deus ou, a nada, porque sem Ele nada tem sentido. Desse jeito, vida, morte, alegria, dor, amor, etc. são conceitos que não tem lógica quando não participam do ser de Deus. Quando o homem peca, esquiva o olhar do Criador e centra o seu olhar em si mesmo. Deus olha incessantemente com amor o pecador e, para não forçar sua liberdade, espera um mínimo gesto de vontade de retorno.
 
«Senhor é verdade que são poucos os que se salvam?» (Lc 13,23). Cristo, não responde à pergunta. Então a pergunta fica sem resposta, e também hoje, pois «é um mistério inescrutável entre a santidade de Deus e a consciência do homem. O silêncio da “Igreja é, pois, a única posição do cristão» (João Paulo II). A Igreja não fala sobre os que habitam o inferno, mas —baseando-se nas palavras de Jesus Cristo— fala sobre sua existência e sobre o fato de que haverá condenados no juízo final. E todo aquele que negar isso, seja clérigo ou laico, incorre em heresia.
 
Somos livres para tornar o olhar com nossa alma ao Salvador e, também somos livres para obstinar-nos na sua rejeição. A morte petrificará essa opção pela eternidade toda...
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O Cristiano não é questão de persuasão, senão de grandeza» (Santo Inácio de Antioquia)
 
«A igreja não cresce por proselitismo senão “por atração”» (Francisco)
 
«Entra-se na oração como se entra na liturgia: pela porta estreita da fé. Através dos sinais da sua presença, é a face do Senhor que nós buscamos e desejamos, é a sua palavra que nós queremos escutar e guardar» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2656)
 
Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”
 
Pe. Orlandino Bom - Site da Diocese de Leiria-Fátima
 
* Jesus está a caminho de Jerusalém e aproveita esta pergunta que lhe é colocada: «Senhor, são poucos os que se salvam?», para falar da salvação.
Para o discípulo de Jesus Cristo a curiosidade em saber se são muitos que se salvam pode servir como distracção do que é essencial. A pergunta mais importante não é se são muitos ou poucos os que se salvam, mas o que devo fazer para alcançar a vida eterna. Mesmo com uma pergunta mal formulada, Jesus dá a resposta certa e necessária para quem o questiona. Ele diz qual o caminho a percorrer para chegar à vida em Deus, à Salvação. E utiliza a imagem da porta estreita para falar das dificuldades que enfrentamos para ser seus discípulos. Se a salvação é um dom de Deus, é também uma tarefa para cada ser humano. Jesus não esconde o que espera quem quer ser seu discípulo.
 
* Podemos andar muito pelos espaços da Igreja e nunca chegar a um verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo. Para isso necessitamos de tempos e espaços de intimidade com o Senhor. Precisamos de, ao longo do dia e em tempos especiais, desligar do que nos ocupa a mente e o coração para nos centrarmos no Senhor. Não esqueçamos que “onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”, como nos dizia Jesus ainda há 15 dias.
 
Ser salvo é centrar o coração no Senhor. Deixar de ter um tesouro perecível para acumular um tesouro “onde o ladrão não chega nem a traça rói”.
 
* A salvação não é um privilégio de predestinados: “Hão de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus.”
 
* «…Jesus dirigia-Se para Jerusalém e ensinava nas cidades e aldeias por onde passava.»  Em todos os momentos Jesus vive a urgência do anúncio do Evangelho. Está focado na sua caminhada para Jerusalém, mas não perde cada oportunidade para ensinar.
 
* «…Senhor, são poucos os que se salvam?»  Esta pergunta é colocada por um anónimo. Pela resposta de Jesus, parece uma pergunta desfocada.
 
* «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita…»  Jesus dá a volta à pergunta. Diz o que interessa e não responde à mera curiosidade se são muitos ou poucos os que se salvam. Convida-nos a manter o foco na caminhada iniciada no nosso baptismo.
 
* “‘Não sei donde sois” Resposta estranha dada a quem comeu e bebeu com o Senhor, a quem conviveu com Ele nas praças. Provavelmente a quem o escutou e o recebeu em tantas Eucaristias.
 
* «Hão de vir do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e sentar-se-ão à mesa no reino de Deus.» Jesus diz que a salvação é para todos. É universal e de todos os povos virão pessoas participar da mesa do Reino. Não há privilegiados. Se todos são convidados, todos se devem esforçar. O facto de ser batizado e possivelmente ter nascido numa família deve ser para mim grande fonte de alegria, mas não me dá qualquer privilégio diante de Deus.
 
MEDITAÇÃO
1– Sinto a urgência do apostolado, de dar a conhecer Jesus Cristo e a Sua mensagem? Como posso ser mais apóstolo?
2– Que perguntas eu faço a Jesus? Em que medida as minhas perguntas me ajudam a caminhar?
3– Que pontos de esforço o Senhor me tem apresentado? Em que preciso colocar mais atenção na minha vida espiritual?
4– Como conheço e sou conhecido pelo Senhor? Procuro, na minha oração, na participação eucarística, crescer em intimidade com o Senhor?
5– Tenho consciência que é quando vivo a palavra de Deus que me torno discípulo de Jesus Cristo? Para mim ser batizado é uma tarefa a realizar em cada dia da minha vida?

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Sábado XX do Tempo Comum

Santa Rosa de Lima, virgem
 
1ª Leitura (Rt 2,1-3.8-11; 4,13-17):
Noémi tinha um parente da parte do marido, homem importante pela sua fortuna. Era da família de Elimelec e chamava-se Booz. Um dia, Rute, a moabita, disse a Noémi: «Deixa-me ir ao campo apanhar espigas, atrás de quem me acolher favoravelmente». Noémi respondeu-lhe: «Vai, minha filha». Ela saiu para ir apanhar espigas no campo, atrás dos ceifeiros, e foi ter por acaso a um campo que era de Booz, parente de Elimelec. Booz disse a Rute: «Escuta, minha filha, não vás apanhar espigas noutro campo. Não te afastes daqui, fica com as minhas servas. Repara bem no terreno em que estão a ceifar e vai atrás delas, que eu dei ordens aos meus servos para não te incomodarem. Se tiveres sede, vai às bilhas beber da água que eles beberem». Então Rute prostrou-se de rosto em terra e disse-lhe: «Porque encontrei favor a teus olhos, de modo que te interessaste por mim, que sou uma estrangeira?». Booz respondeu-lhe: «Eu estou informado de tudo o que tens feito à tua sogra, depois da morte do teu marido. Deixaste pai e mãe e a terra onde nasceste e vieste para um povo que não conhecias». Depois desposou Rute, que se tornou sua mulher, e conviveu com ela. O Senhor deu-lhe a graça de conceber e ela deu à luz um filho. As mulheres disseram a Noémi: «Bendito seja o Senhor, que não te recusou hoje quem assegurasse a tua descendência. O seu nome seja celebrado em Israel! Será a consolação da tua alma e o amparo da tua velhice, pois nasceu da tua nora, que é tão tua amiga e vale mais para ti do que sete filhos». Noémi tomou o menino ao colo e foi ela que o criou. As vizinhas deram nome ao menino, dizendo: «Nasceu um filho a Noémi». E deram-lhe o nome de Obed. Obed foi o pai de Jessé, pai de David.
 
Salmo Responsorial: 127
R. Será abençoado o homem que teme o Senhor.
 
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.
 
Aleluia. Um só é o vosso Pai, o Pai celeste; um só é o vosso mestre, Jesus Cristo. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 23,1-12): Naquele tempo, Jesus falou às multidões e aos discípulos: “os escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas bem largas com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam do lugar de honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de "Rabi". Quanto a vós, não vos façais chamar de "Rabi", pois um só é vosso Mestre e todos vós sóis irmãos. Não chameis a ninguém na terra de "Pai", pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de "Guia", pois um só é o vosso Guia, o Cristo. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado».
 
«Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus Cristo chama-nos novamente à humildade, é um convite para situarmos no lugar certo, que nos pertence: «Quanto a vós, não vos façais chamar de ‘rabi’, (...). Não chameis a ninguém na terra de ‘pai’, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de ‘guia’, pois um só é o vosso Guia, o Cristo» (Mt 23,8-10). Antes de nos apropriar de todos esses títulos, procuremos dar graças a Deus, por tudo o que temos e que recebemos dele.
 
Como diz São Paulo, «Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido?» (I Cor 4,7). De maneira que, quando tenhamos consciência de ter agido corretamente, faremos bem em repetir: «Somos simples servos, fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,10).
 
O homem moderno padece de uma lamentável amnésia: vivemos e agimos como se fôssemos, nós mesmos, os autores da vida e os criadores do mundo. Ao contrário disto, Aristóteles provoca admiração, ele quem na sua teologia natural —desconhecia o conceito de "criação" (noção conhecida naqueles tempos somente pela Divina Revelação), ao menos, tinha claro que este mundo dependia da Divindade (a "causa incausada"). João Paulo II chama-nos a conservar a memória da dívida que temos contraída com nosso Deus: «É preciso que o homem dê honra ao Criador, oferecendo-lhe, em ação de graças e louvores, tudo o que dele tem recebido. O homem não pode perder o sentido desta dívida, que somente Ele, dentre todas as outras realidades terrestres, pode reconhecer».
 
Além do mais, pensando na vida sobrenatural, nossa colaboração — Ele não fará nada sem nossa autorização, sem nosso esforço!— consiste em não perturbar o trabalho do Espírito Santo: Deixar Deus fazer! Que a santidade não a "fabricamos" nós, mas Ele a outorga, Ele que é Mestre, Pai e Guia. Em todo caso, se acreditamos que somos e temos algo, esforcemo-nos em colocá-lo ao serviço dos outros: «o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve» (Mt 23,11).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Haverá algo mais triste que um mestre quando a única forma que tem para salvar os seus discípulos seja a de lhes dizer para não se concentrarem na vida do que lhes fala? Acreditarão nas nossas obras mais do que em qualquer outro discurso» (São João Crisóstomo)
 
«A verdadeira originalidade do Novo Testamento não consiste nas novas ideias mas sim, na própria figura de Cristo que dá a carne e o sangue aos [próprios] conceitos: um realismo inaudito» (Bento XVI)
 
«Pela sua submissão a Maria e a José, assim como pelo seu trabalho humilde em Nazaré durante longos anos, Jesus dá-nos o exemplo da santidade na vida quotidiana da família e do trabalho» (Catecismo da Igreja Católica, nº 564)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje faz parte da longa crítica de Jesus contra os escribas e fariseus (Mt 23,1-39).
Lucas e Marcos têm apenas alguns trechos desta crítica contra as lideranças religiosas da época. Só o evangelho de Mateus traz o discurso por inteiro. Este texto tão severo deixa entrever com era grande a polêmica das comunidades de Mateus com as comunidades dos judeus daquela época na Galileia e Síria.
 
* Ao ler estes textos fortemente contrários aos fariseus devemos tomar muito cuidado para não sermos injustos com o povo judeu. Nós cristãos, durante séculos, tivemos atitudes antijudaicas e, por isso mesmo, anticristãs. O que importa ao meditar estes textos é descobrir o seu objetivo: Jesus condena a incoerência e a falta de sinceridade no relacionamento com Deus e com o próximo. Ele está falando contra a hipocrisia tanto a deles de ontem, como a nossa de hoje!
 
* Mateus 23,1-3: O erro básico: dizem mas não fazem. Jesus se dirige à multidão e aos discípulos e faz uma crítica aos escribas e fariseus. O motivo do ataque é a incoerência entre a palavra e a prática. Falam e não praticam. Jesus reconhece a autoridade e o conhecimento dos escribas. “Estão sentados na cátedra de Moisés. Por isso, observai o que eles mandam! Mas não imitai suas ações, pois dizem mas não fazem!”
 
* Mateus 23,4-7: O erro básico se manifesta de várias maneiras. O erro básico é a incoerência: “Dizem mas não fazem”.  Jesus enumera vários pontos que revelam a incoerência. Alguns escribas e fariseus impunham leis pesadas ao povo. Eles conheciam bem as leis mas não as praticavam, nem usavam o seu conhecimento para aliviar a carga nos ombros do povo. Faziam tudo para serem vistos e elogiados, usavam roupas especiais de oração, gostavam dos lugares de honra e das saudações em praça pública. Queriam ser chamados de “Mestre!” Eles representavam um tipo de comunidade que mantinha, legitimava e alimentava as diferenças de classe e de posição social. Legitimava os privilégios dos grandes e a posição inferior dos pequenos. Ora, se há uma coisa de que Jesus não gostava é de aparências que enganam.
 
* Mateus 23,8-12: Como combater o erro básico. Como deve ser uma comunidade cristã? Todas as funções comunitárias devem ser assumidas como um serviço: “O maior entre você será aquele que serve!” A ninguém devem chamar de Mestre (Rabino), nem de Pai, nem de Guia. Pois a comunidade de Jesus deve manter, legitimar e alimentar não as diferenças, mas sim a fraternidade. Esta é a lei básica: “Vocês todos são irmãos e irmãs!” A fraternidade nasce da experiência de que Deus é Pai, o que faz de todos nós irmãos e irmãs. “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado!”
 
* O grupo dos Fariseus. O grupo dos fariseus nasceu no século II antes de Cristo com a proposta de uma observância mais perfeita da Lei de Deus, sobretudo das prescrições da pureza. Eles eram mais abertos às novidades do que os saduceus. Por exemplo, aceitavam a fé na ressurreição e a fé nos anjos, coisa que os saduceus não aceitavam. A vida dos fariseus era um testemunho exemplar: rezavam e estudavam a lei durante oito horas por dia; trabalhavam durante oito horas para poder sobreviver; faziam descanso e lazer durante oito horas. Por isso, tinham grande liderança junto do povo. Deste modo, eles ajudaram o povo a conservar sua identidade e a não se perder, ao longo dos séculos.
 
* A mentalidade chamada farisaica.  Com o tempo, porém, os fariseus se agarraram ao poder e já não escutavam os apelos do povo nem deixavam o povo falar. A palavra “fariseu” significa “separado”. A observância deles era tão estrita e rigorosa, que eles se distanciavam do comum do povo. Por isso, eram chamados de “separados”. Daí nasce a expressão "mentalidade farisaica" É de pessoas que pensam poder conquistar a justiça através de uma observância estrita e rigorosa da Lei de Deus. Geralmente, são pessoas medrosas, que não têm coragem de assumir o risco da liberdade e da responsabilidade. Elas se escondem atrás das leis e das autoridades. Quando estas pessoas alcançam uma função de mando, tornam-se duras e insensíveis para esconder a sua imperfeição.
 
* Rabino, Guia, Mestre, Pai. São os quatro títulos que Jesus proíbe a gente de usar. Hoje, na igreja, os sacerdotes são chamados de “pai” (padre). Muitos estudam nas universidades da igreja e conquistam o título de “Doutor” (mestre). Muita gente faz direção espiritual e se aconselha com pessoas que são chamadas “Diretor espiritual” (guia). O que importa é que se tenha em conta o motivo que levou Jesus a proibir o uso destes títulos. Se forem usados para a pessoa se firmar numa posição de autoridade e de poder, ela estará errada e cai debaixo da crítica de Jesus. Se forem usados para alimentar e aprofundar a fraternidade e o serviço, não caem debaixo da crítica de Jesus.
 
Para um confronto pessoal
1. Quais as motivações que eu tenho para viver e trabalhar na comunidade?
2. Como a comunidade vem me ajudando a corrigir e melhorar minhas motivações?

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Sexta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

Virgem Santa Maria, Rainha
 
1ª Leitura (Rt 1,1.3-6.14b-16.22):
No tempo em que os juízes governavam, houve uma fome no país. Certo homem deixou Belém de Judá e emigrou para os campos de Moab, com a mulher e dois filhos. Ele chamava-se Elimelec e a mulher Noémi. Elimelec, marido de Noémi, faleceu e ela ficou só com os seus dois filhos. Ambos se casaram com esposas moabitas, uma chamada Orpa e a outra Rute. Permaneceram lá cerca de dez anos. Entretanto os filhos também morreram e Noémi ficou só, sem os dois filhos e sem o marido. Resolveu então voltar dos campos de Moab, juntamente com as noras, por ter sabido, nos campos de Moab, que o Senhor tinha abençoado o seu povo, dando-lhe pão. Orpa despediu-se da sogra e voltou para o seu povo; mas Rute ficou com Noémi. Disse-lhe Noémi: «Olha que a tua cunhada voltou para o seu povo e para o seu deus. Vai também com ela». Rute respondeu-lhe: «Não insistas comigo, para que te deixe e me afaste de ti, pois irei para onde fores e viverei onde viveres. O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus». Foi assim que Noémi regressou dos campos de Moab, trazendo consigo sua nora Rute, a moabita. Chegaram a Belém no início da ceifa da cevada.
 
Salmo Responsorial: 145
R. Ó minha alma, louva o Senhor.
 
Feliz o que tem por auxílio o Deus de Jacob, o que põe a sua confiança no Senhor, seu Deus, que fez o céu e a terra, o mar e quanto neles existe.
 
O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.
 
O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos.
 
O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores.
 
O Senhor reina eternamente; o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações.
 
Aleluia. Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, guiai-me na vossa verdade. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 22,34-40): Naquele tempo, os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então se reuniram, e um deles, um doutor da Lei, perguntou-lhe, para experimentá-lo: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos».
 
«Amarás o Senhor, teu Deus (...) Amarás teu próximo»
 
Rev. D. Pere CALMELL i Turet (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Mestre da Lei pergunta a Jesus: «Qual é o mandamento mais importante da Lei?» (Mt 22,36), o mais importante, o primeiro. A resposta, porém, fala do primeiro mandamento e do segundo, que lhe «é semelhante» (Mt 22,39). Dois elos inseparáveis, que são uma coisa só. Inseparáveis, mas uma primeira e outra segunda, uma de ouro, outra de prata. O Senhor nos leva ao âmago da catequese cristã, porque «toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos» (Mt 22,40).
 
Eis aqui a razão de ser do comentário clássico sobre as duas madeiras da Cruz do Senhor: a que está fincada na terra é a verticalidade, que olha na direção do Céu, a Deus. O transverso representa a horizontalidade, a relação com nossos iguais. Também nesta imagem há um primeiro e um segundo. A horizontalidade estaria em nível da terra, se antes não possuíssemos uma haste na vertical e, quando mais queremos elevar o nível dos nossos serviços aos nossos semelhantes —a horizontalidade— mais elevado deve ser nosso amor a Deus. Do contrário, virá facilmente o desânimo, a inconstância, a exigência de compensações quaisquer que elas sejam. Disse S. João da Cruz: «Quanto mais ama uma alma, mais perfeita é naquilo que ama; daqui que essa alma, que já é perfeita, toda ela é amor e, todas suas ações são amor».
 
De fato, nos santos que conhecemos vemos como o amor a Deus, que sabem manifestar-lhe de muitas maneiras, lhes outorga uma grande iniciativa no momento de ajudar o próximo. Peçamos hoje à Virgem Santíssima que nos encha de desejo de surpreender ao Nosso Senhor com obras e palavras de afeto. Assim nosso coração será capaz de descobrir como surpreender com algum detalhe simpático aos que vivem e trabalham ao nosso lado e, não somente fazer isso nos dias assinalados, que isso todos sabem como agir. Surpreender!: Forma prática de pensar menos em nós mesmos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Perguntas-me por que razão e com que método ou medida deve ser Deus amado. Eu respondo: a razão para amar a Deus é Deus; o método e a medida é amá-Lo sem método nem medida» (São Bernardo)
 
«Nada se deve antepor ao serviço de Deus. Tal “submissão” a Deus não é destrutivo da criatura. A criação está configurada de tal forma que convida a esta adoração. O ritmo da nossa vida só vibra corretamente se estiver imbuído por essa força» (Bento XVI)
 
«(...) A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar sobre si próprio, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.097)
 
Reflexão
 
a. O texto se ilumina.
Jesus está em Jerusalém e, especificamente no Templo, onde há um confronto entre ele e seus adversários, sumos sacerdotes e escribas (20,18; 21,15), entre os sumos sacerdotes e os anciãos do povo (21,23) e entre os sumos sacerdotes e os fariseus (21,45). O ponto de controvérsia do debate é: a identidade de Jesus ou do filho de David, a origem de sua identidade, e, portanto, a questão sobre a natureza do reino de Deus. O evangelista apresenta este entrelaçamento de debates com uma sequência de controvérsias que apresentam um ritmo crescente: o tributo que se deve pagar a César (22,15-22), a ressurreição dos mortos (22,23-33), o maior mandamento (22,34-40), o Messias, o filho e Senhor de Davi (22,41-46). Os protagonistas das três primeiras discussões são expoentes do judaísmo oficial que tentam colocar Jesus em dificuldades sobre questões cruciais. Estas disputas são dirigidas a Jesus como "Mestre" (rabi), este título diz ao leitor sobre o entendimento que os interlocutores têm de Jesus. Mas Jesus aproveita a oportunidade para levá-los a perguntar-se uma questão mais crucial: a última tomada de posição sobre sua identidade (22,41-46).
 
b. O maior mandamento. Na esteira dos saduceus que os precederam, novamente, os fariseus propõem a Jesus uma questão entre as mais evidentes: o maior mandamento. Dado que os rabinos sempre evidenciavam a multiplicidade das prescrições (248 mandamentos), foi feita a pergunta a Jesus sobre qual é o preceito fundamental. No entanto, os próprios rabinos tinham criado uma verdadeira casuística para reduzi-los tanto quanto possível: David elenca onze (Sl 15,2-5), Isaías, seis (Is 33,15), Miquéias, três (Mi 6,8), Amós, dois (Am 5,4) e Habacuc, apenas um (Hab 2,4). Mas na intenção dos fariseus a questão vai além da pura casuística, trata-se da própria essência das prescrições. Jesus respondendo une o amor a Deus e o amor ao próximo, ao ponto de fundi-los em um só, mesmo sem renunciar a dar prioridade ao primeiro, ao qual subordina de modo estreito o segundo. Na verdade todas as prescrições da lei chegavam a 613, são postos em relação com este único mandamento: a lei inteira encontra significado e fundamento naquele amor. Jesus faz um processo de simplificação de todos os preceitos da lei: aquele que põe em prática o mandamento do amor não só está de acordo com a lei, mas também com os profetas (v. 40). No entanto, a novidade da resposta não está tanto no conteúdo material como na sua realização: em Jesus, o amor a Deus e ao próximo encontram o seu contexto próprio, sua última solidez. Isso quer dizer que o amor a Deus e ao próximo, mostrado e realizado de alguma forma em sua pessoa, direciona o homem a colocar-se diante de Deus e dos outros mediante o amor. O único mandamento em dois, o amor a Deus e ao próximo, se tornam os pilares principais, não só das Escrituras, mas também da vida do cristão.
 
Para um confronto pessoal
1. O amor a Deus e ao próximo é para você apenas um vago sentimento, uma emoção, um estímulo passageiro ou uma realidade que envolve toda a sua pessoa: coração, vontade, inteligência e traço humano?
2. Você foi criado para amar. Você está ciente de que a sua realização acontece no amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente? Tal amor exige uma constatação de caridade para com os irmãos e as suas situações de vida. Você vive isto na prática diária?

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Quinta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

São Pio X, papa
 
1ª Leitura (Jz 11,29-39a):
Naqueles dias, o espírito do Senhor veio sobre Jefté, que percorreu Galaad e Manassés, atravessou Mispá de Galaad e dali passou ao território dos amonitas. Jefté fez este voto ao Senhor: «Se me entregardes os amonitas nas minhas mãos e eu voltar em paz da campanha contra eles, a primeira pessoa que sair da porta da minha casa, para vir ao meu encontro, pertencerá ao Senhor, e eu a oferecerei em holocausto». Jefté passou então ao território dos amonitas, para travar combate com eles, e o Senhor entregou-os nas suas mãos. Desbaratou-os desde Aroer até perto de Minit, tomando vinte cidades, e chegou até Abel-Queramin. Com esta enorme derrota, os amonitas ficaram humilhados perante os filhos de Isarel. Quando Jefté voltava para casa, em Mispá, sua filha saiu ao seu encontro, dançando ao som de tamborins. Era filha única; além dela não tinha outros filhos ou filhas. Logo que a viu, Jefté rasgou as vestes e disse: «Ai, minha filha, que me trazes tanta angústia! És a causa da minha desgraça! Eu tomei um compromisso diante do Senhor e não posso voltar atrás». Ela respondeu-lhe: «Meu pai, se te comprometeste com o Senhor, trata-me segundo o compromisso que tomaste, uma vez que o Senhor te concedeu a desforra contra os filhos de Amon, teus inimigos». Depois disse ao pai: «Apenas te peço um favor: Deixa-me livre durante dois meses, para eu ir pelos montes, com as minhas companheiras, e chorar por ter de morrer virgem». O pai respondeu-lhe: «Então vai!». E deixou-a partir por dois meses. Ela foi com as suas companheiras e andou a chorar pelos montes, por ter de morrer virgem. Passados os dois meses, voltou para junto do pai e ele cumpriu o voto que fizera.
 
Salmo Responsorial: 39
R. Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.
 
Feliz de quem pôs a sua confiança no Senhor e não se voltou para os arrogantes. Feliz de quem pôs a sua confiança no Senhor e não se voltou para os que seguem a mentira.
 
Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações, mas abristes-me os ouvidos; não pedistes holocaustos nem expiações, então clamei: «Aqui estou».
 
«De mim está escrito no livro da Lei que faça a vossa vontade. Assim o quero, ó meu Deus, a vossa lei está no meu coração».
 
Proclamei a justiça na grande assembleia, não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi a vossa justiça no fundo do coração, proclamei a vossa fidelidade e salvação.
 
Aleluia. Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 22,1-14): Naquele tempo, Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, dizendo: «O Reino dos Céus é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho. Mandou seus servos chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir. Mandou então outros servos, com esta ordem: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’. Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para seu campo, outro para seus negócios, outros agarraram os servos, bateram neles e os mataram. O rei ficou irritado e mandou suas tropas matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles. Em seguida, disse aos servos: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados. Quando o rei entrou para ver os convidados, observou um homem que não estava em traje de festa, e perguntou-lhe: ‘Meu caro, como entraste aqui sem o traje de festa?’. Mas o homem ficou sem responder. Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e lançai-o fora, nas trevas! Ali haverá choro e ranger de dentes’. Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos».
 
«Já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!»
 
Rev. D. David AMADO i Fernández (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a parábola evangélica nos fala do banquete do Reino. É uma figura recorrente na predicação de Jesus. Trata-se dessa festa de casamento que acontecerá ao final dos tempos e que será a união de Jesus com a sua Igreja. Ela é a esposa de Cristo que caminha pelo mundo, mas que vai se unir finalmente ao seu Amado para sempre. Deus Padre tem preparado essa festa e quer que todos os homens assistam a ela. Por isso diz a todos os homens: «Vinde para a festa!» (Mt 22,4).
 
A parábola, no entanto, tem um desenvolvimento trágico, pois muitos, «não deram a menor atenção: um foi para seu campo, outro para seus negócios... » (Mt 22,5). Por isso, a misericórdia de Deus vai se dirigindo a pessoas cada vez mais distantes. É como um noivo que vai se casar e convida a seus familiares e amigos, mas eles não querem assistir; chama depois a conhecidos e colegas de trabalho e vizinhos, mas todos dão desculpas; finalmente convida qualquer pessoa que encontra, pois tem preparado um banquete e quer que haja convidados na mesa. Algo parecido acontece com Deus.
 
Mas também, os diferentes personagens que aparecem na parábola podem ser imagem dos estados da nossa alma. Pela graça batismal somos amigos de Deus e coerdeiros com Cristo: temos um lugar reservado no banquete. Se esquecermos nossa condição de filhos, Deus passa a nos tratar como conhecidos, mas continua nos convidando. Se deixarmos morrer em nós a graça, convertemo-nos em gente do caminho, transeuntes sem ofício nem benefício sob as coisas do Reino. Mas Deus segue chamando.
 
A chamada chega a qualquer momento. É por convite. Ninguém tem direito. É Deus quem presta atenção em nós e diz: «Vinde para a festa!». E o convite há de ser aceito com palavras e fatos. Por isso aquele convidado malvestido é expulso: «Meu caro, como entraste aqui sem o traje de festa?» (Mt 22,12).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Reconhece, oh cristão, a altíssima dignidade desta tua sabedoria, e entende bem qual há de ser a tua conduta e quais os prêmios que te são prometidos» (São Leão Magno)
 
«O cristão é aquele que está convidado a uma festa, à alegria, à alegria de ser salvo, à alegria de ser redimido, à alegria de participar da vida com Jesus. Tu estás convidado à festa!» (Francisco)
 
«Entra-se no povo de Deus pela fé e pelo Baptismo. ‘Todos os homens são chamados a fazer parte do povo de Deus’ (260), para que, em Cristo, ‘os homens constituam uma só família e um único povo de Deus’ (261)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 804)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a parábola do banquete que se encontra em Mateus e em Lucas, mas com diferenças significativas, provenientes da perspectiva de cada evangelista.
O pano de fundo, porém, que levou os dois evangelistas a conservar esta parábola é o mesmo. Na comunidades dos primeiros cristãos, tanto de Mateus como de Lucas, continuava bem vivo o problema da convivência entre judeus convertidos e pagãos convertidos. Os judeus tinham normas antigas que os impediam de comer com os pagãos. Mesmo depois de terem entrado na comunidade cristã, muitos judeus mantinham o costume antigo de não se sentar à mesma mesa com um pagão. Assim, Pedro teve conflitos na comunidade de Jerusalém, por ter entrado na casa de Cornélio, um pagão, e ter comido com ele (At 11,3). Este mesmo problema, porém, era vivido de maneira diferente nas comunidades de Lucas e nas de Mateus. Nas comunidades de Lucas, apesar das diferenças de raça, classe e gênero, eles tinham um grande ideal de partilha e de comunhão (At 2,42; 4,32; 5,12). Por isso, no evangelho de Lucas (Lc 14,15-24), a parábola insiste no convite feito a todos. O dono da festa, indignado com a desistência dos primeiros convidados, mandou chamar os pobres, os aleijados, os cegos, os mancos para virem participar do banquete. Mesmo assim sobrava lugar. Então, o dono da festa mandou convidar todo mundo, até que a casa ficasse cheia. No evangelho de Mateus, a primeira parte da parábola (Mt 22,1-10) tem o mesmo objetivo de Lucas. Ele chega a dizer que o dono da festa mandou entrar “bons e maus” (Mt 22,10). Mas no fim ele acrescenta uma outra parábola (Mt 22,11-14) sobre o traje de festa, que insiste no que é específico dos judeus, a saber, a necessidade da pureza para poder comparecer diante de Deus.
 
* Mateus 22,1-2: O convite para todos. Alguns manuscritos dizem que a parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo.  Esta afirmação pode até servir como chave de leitura, pois ajuda a compreender alguns pontos estranhos que aparecem na história que Jesus conta. A parábola começa assim: "O Reino do Céu é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Esta afirmação inicial evoca a esperança mais profunda: o desejo do povo de estar com Deus para sempre. Várias vezes nos evangelhos se alude a esta esperança, sugerindo que Jesus, o filho do Rei, é o noivo que veio preparar o casamento (Mc 2,19; Ap 21,2; 19,9).
 
* Mateus 22,3-6:  Os convidados não quiseram vir. O rei fez dois convites muita insistentes, mas os convidados não quiseram vir. “Um foi para o seu campo, outro foi fazer os seus negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles, e os mataram”.  Em Lucas são os deveres da vida cotidiana que impedem os convidados de aceitar o convite. O primeiro diz: “Comprei um terreno. Preciso vê-lo!” O segundo: “Comprei cinco juntas de bois! Vou experimentá-las!” O terceiro: “Casei. Não posso ir!” (cf. Lc 14,18-20). Dentro das normas e costumes da época, aquelas pessoas tinham o direito e até o dever de recusar o convite que lhes foi feito (cf Dt 20,5-7).
 
* Mateus 22,7: Uma guerra incompreensível. A reação do rei diante da recusa surpreende. “Indignado, o rei mandou suas tropas, que mataram aqueles assassinos, e puseram fogo na cidade deles. Como entender esta reação tão violenta? A parábola foi contada para os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (Mt 22,1), os responsáveis pelos da nação. Muitas vezes, Jesus tinha falado a eles sobre a necessidade da conversão. Ele chegou a chorar sobre a cidade de Jerusalém e dizer: "Se também você compreendesse hoje o caminho da paz! Agora, porém, isso está escondido aos seus olhos! Vão chegar dias em que os inimigos farão trincheiras contra você, a cercarão e apertarão de todos os lados. Eles esmagarão você e seus filhos, e não deixarão em você pedra sobre pedra. Porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 14,41-44). A reação violenta do rei na parábola refere-se provavelmente ao que aconteceu de fato de acordo com a previsão de Jesus. Quarenta anos depois, Jerusalém foi destruída (Lc 19,41-44; 21,6;).
 
* Mateus 22,8-10:  O convite permanece de pé.
Pela terceira vez, o rei convida o povo. Ele disse aos empregados: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não a mereceram. Portanto, vão até as encruzilhadas dos caminhos, e convidem para a festa todos os que vocês encontrarem. Então os empregados saíram pelos caminhos, e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados“. Os maus que eram excluídos como impuros da participação no culto dos judeus, agora são convidados, especificamente, pelo rei para participar da festa. No contexto da época, os maus eram os pagãos. Eles também são convidados para participar da festa de casamento.
 
* Mateus 22,11-14: O traje de festa. Estes versos contam como o rei entrou na sala da festa e viu alguém sem o traje da festa. O rei perguntou: 'Amigo, como foi que você entrou aqui sem o traje de festa?' Mas o homem nada respondeu.  A história conta que o homem foi amarrado e jogado fora na escuridão. E conclui: “Muitos são chamados, e poucos são escolhidos”.  Alguns estudiosos acham que aqui se trata de uma segunda parábola que foi acrescentada para abrandar a impressão que ficou da primeira parábola onde se disse que “maus e bons” entraram para a festa (Mt 22,10). Mesmo admitindo que já não é a observância da lei que nos traz a salvação, mas sim a fé no amor gratuito de Deus, isto em nada diminui a necessidade da pureza do coração como condição para poder comparecer diante de Deus.
 
Para um confronto pessoal
1. Quais as pessoas que normalmente são convidadas para as nossas festas? Por que?  Quais as pessoas que não são convidadas para as nossas festas? Por que?
2. Quais os motivos que hoje limitam a participação de muitas pessoas na sociedade e na igreja?  Quais os motivos que certas pessoas alegam para se excluir do dever de participar na comunidade? Será que são motivos justos?

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Quarta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

São Bernardo, abade e doutor da Igreja
Georg Häfner, presbítero, mártir e terceiro carmelita
 
1ª Leitura (Jz 9,6-15):
Naqueles dias, todos os chefes de Siquém e todo o Bet-Milo se reuniram junto do carvalho da estela que está em Siquém e proclamaram rei Abimelec. Quando deram a notícia a Joatão, ele foi colocar-se no cimo do monte Garizim e levantou a voz, dizendo: «Escutai-me, chefes de Siquém e Deus também vos escutará. Certo dia, as árvores resolveram escolher um rei. Disseram à oliveira: ‘Reina sobre nós’. A oliveira respondeu-lhes: ‘Terei de renunciar ao meu azeite, que dá honra aos deuses e aos homens, para me baloiçar por cima das árvores?’. Então as árvores disseram à figueira: ‘Vem tu reinar sobre nós’. Mas a figueira respondeu-lhes: ‘Terei de renunciar à doçura do meu saboroso fruto, para ir balançar-me por cima das árvores?’. E as árvores disseram à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós’. Mas a videira respondeu-lhes: ‘Terei de renunciar ao meu vinho novo, que alegra os deuses e os homens, para ir balançar-me por cima das árvores?’. Então todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu reinar sobre nós’. E o espinheiro respondeu às árvores: ‘Se é de boa-fé que me quereis ungir como vosso rei, vinde acolher-vos à minha sombra. Se não, sairá fogo do espinheiro e devorará os cedros do Líbano’».
 
Salmo Responsorial: 20
R. O vosso triunfo, Senhor, é a alegria do rei.
 
Senhor, o rei alegra-se com o vosso poder e exulta de contente com o vosso auxílio. Satisfizestes os anseios do seu coração, não rejeitastes o pedido de seus lábios.
 
Vós o cumulastes de bênçãos preciosas, cingistes sua fronte com uma coroa de ouro fino. Pediu-vos a vida e Vós lha concedestes, uma vida longa para muitos anos.
 
Graças à vossa proteção, é grande a sua glória, Vós o revestistes de esplendor e majestade. Para sempre o abençoastes e enchestes de alegria na vossa presença.
 
Aleluia. A palavra de Deus é viva e eficaz, conhece os pensamentos e intenções do coração. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 20,1-16): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: «Pois o Reino dos Céus é como o proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. Em plena manhã, saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha. Eu pagarei o que for justo’. E eles foram. Ao meio-dia e em plena tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’. Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. E ele lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e faze o pagamento, começando pelos últimos até os primeiros!’. Vieram os que tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, pensando que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu apenas a diária. Ao receberem o pagamento, começaram a murmurar contra o proprietário: ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor ardente’. Então, ele respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não combinamos a diária? Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo que dei a ti. Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?’. Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos».
 
«Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a Palavra de Deus nos convida a perceber que a “lógica” divina vai muito além da lógica meramente humana. Enquanto nós homens calculamos («Pensando que iam receber mais»: Mt 20,10), Deus —que é Pai entranhável— simplesmente, ama («Ou estás com inveja porque estou sendo bom?» : Mt 20,15.) E a medida do Amor é não ter medida: «Amo porque amo, amo para amar» (São Bernardo).
 
Mas isso não torna a justiça inútil: «Eu pagarei o que for justo» (Mt 20,4). Deus não é arbitrário e quer nos tratar como filhos inteligentes: por isso é lógico que tenha “acordos” conosco. De fato, em outros momentos, os ensinamentos de Jesus deixam claro que quem recebe mais também será mais exigido (lembremos da parábola dos talentos). Enfim, Deus é justo, mas a caridade não se desentende da justiça, mas sim, a supera. (cf. 1Cor 13,5).
 
Um ditado popular afirma que «a justiça por justiça é a pior das injustiças». Felizmente para nós, a justiça de Deus —repitamos, transbordante de seu Amor— supera nossos esquemas. Se unicamente se tratasse de estrita justiça, nós, então, estaríamos pendentes de redenção. Além disso, não teríamos nenhuma esperança de redenção. Em justiça estrita não mereceríamos nenhuma redenção: simplesmente, ficaríamos despossuídos daquilo que se nos tinha dado no momento da criação e que rejeitamos no momento do pecado original. Examinemo-nos, portanto, como agimos nos julgamentos, comparações e cálculos quando tratamos os demais.
 
Além disso, se falarmos de santidade, temos que partir da base de que tudo é graça. A mostra mais clara é o caso de Dimas, o bom ladrão. Inclusive a possibilidade de merecer diante de Deus, é também uma graça (algo que nos é concedido gratuitamente). Deus é o amo, nosso «proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha» (Mt 20,1). A vinha (quer dizer, a vida, o céu...) é dele; nós somos convidados, e não de qualquer maneira: é uma honra poder trabalhar aí e, assim “ganhar” o céu.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O Senhor chamou a todos quando estavam com disposição para obedecer, o mesmo fez com o ladrão bom, a quem o Senhor chamou quando viu que obedeceria. O Salvador no excluiu ninguém» (São João Crisóstomo)
 
«A parábola não foi transmitida para os trabalhadores de outro tempo, mas para nós, que achamos que o "desemprego espiritual” —uma vida sem fé e sem oração— é mais agradável que o serviço espiritual» (Bento XVI)
 
«O homem é o autor; o centro e o fim de toda a vida económica e social. O ponto decisivo da questão social é que os bens criados por Deus para todos, cheguem de facto a todos, segundo a justiça e com a ajuda da caridade» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.459)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz uma parábola que só é relatada por Mateus
. Ela não existe nos outros três evangelhos. Como em todas as parábolas, Jesus conta uma história feita de elementos do dia a dia da vida do povo. Ele retrata a situação social do seu tempo, na qual os ouvintes se reconhecem. Mas ao mesmo tempo, na história desta parábola, acontecem coisas que nunca acontecem na realidade da vida do povo. É que, ao falar do patrão, Jesus pensa em Deus, seu Pai. Por isso, na história da parábola, o patrão faz coisas surpreendentes que não acontecem no dia a dia da vida dos ouvintes. É nesta atitude estranha do patrão, que deve ser procurada a chave para a compreensão do mensagem da parábola.
 
* Mateus 20,1-7: As cinco vezes que o patrão sai em busca de operários. "O Reino do Céu é como um patrão, que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha” Assim começa a história que fala por si e nem precisaria de muito comentário. No que segue, o patrão sai mais quatro vezes chamando operários para trabalhar na sua vinha. Jesus alude ao terrível desemprego daquela época. Alguns detalhes da história: (1) O próprio patrão sai pessoalmente cinco vezes para contratar operários. (2) Na hora de contratar os operários, é só com o primeiro grupo que ele acerta o salário: um denário por dia. Com os da nona hora ele diz: Eu lhes pagarei o que for justo. Com os outros ele não acertou nada. Apenas os contratou para trabalhar na vinha. (3) No fim do dia, na hora de acertar as contas com os operários, o patrão manda que o administrador faça o serviço.
 
* Mateus 20,8-10: A estranha maneira de acertar as contas no fim do dia. Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: Chame os trabalhadores, e pague uma diária a todos. Comece pelos últimos, e termine pelos primeiros. Aqui, na hora de acertar as contas, acontece algo estranho que não acontece na vida comum. Parece a inversão das coisas. O pagamento começa com os que foram contratados por último e que trabalharam apenas uma única hora. O pagamento é o mesmo para todos: um denário, como tinha sido combinado com os que foram contratados no começo do dia. No fim, chegaram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um deles recebeu também uma moeda de prata.  Por que o patrão faz isso? Você faria assim? É aqui neste gesto surpreendente do patrão que está escondida a chave da mensagem desta parábola.
 
* Mateus 20,11-12: A reação normal dos operários diante da estranha atitude do patrão. Os últimos a receber o salário eram os que foram contratados por primeiro. Estes, assim diz a história, ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão e disseram: “Esses últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor do dia inteiro!”  É a reação normal do bom senso. Creio que todos nós teríamos a mesma reação e diríamos a mesma coisa ao patrão. Ou não?
 
* Mateus 20,13-16: A explicação surpreendente do Patrão que fornece a chave da parábola. A resposta do patrão é esta: “Amigo, eu não fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?”  Estas palavras trazem a chave que explica a atitude do patrão e aponta a mensagem que Jesus quer comunicar: (1) O patrão não foi injusto, pois ele agiu de acordo com o que tinha sido combinado com o primeiro grupo de operários: um denário por dia. (2) É decisão soberano do patrão de dar aos últimos o mesmo que tinha sido combinado com os da primeira hora. Estes não têm direito de reclamar. (3) Atuando dentro da justiça, o patrão tem o direito de fazer o bem que ele quer com as coisas que lhe pertencem. O operário da parte dele tem este mesmo direito. (4) A pergunta final toca no ponto central: Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?' Deus é diferente mesmo! Ele não cabe nos nossos pensamentos (Is 55,8-9).
 
* O pano de fundo da parábola é a conjuntura daquela época, tanto de Jesus como de Mateus. Os operários da primeira hora são o povo judeu, chamado por Deus para trabalhar em sua vinha. Eles sustentaram o peso do dia, desde Abraão e Moisés, bem mais de mil anos. Agora, na undécima hora, Jesus chama os pagãos para ir trabalhar na sua vinha e eles chegam a ter a preferência do coração de Deus. “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.
 
Para um confronto pessoal
1) Os da undécima hora chegam, levam vantagem e recebem prioridade na fila diante da entrada do Reino de Deus. Quando você espera duas horas numa fila e chega alguém que, sem mais, se coloca na frente de você, você aceitaria? Dá para comparar as duas situações?
2) A ação de Deus ultrapassa nossos cálculos e nosso jeito humano de atuar. Ele surpreende e às vezes incomoda. Isto já aconteceu alguma vez na sua vida? Qual a lição que tirou?

domingo, 17 de agosto de 2025

20 de agosto

 Georg Häfner
Presbítero, Mártir e Terceiro Carmelita
 

Nasceu em Würzburg no dia 19 de outubro de 1890, onde estudou até 1918. No dia 11 de janeiro de 1920 entrou na Ordem Terceira dos Carmelitas descalços, tomando o nome de Aloísio do Santíssimo Sacramento. Depois de seus estudos na Universidade de Würzburg, se ordenou Sacerdote em 13 de abril de 1924. Celebrou sua Primeira Missa no dia 21 de abril no Convento das Carmelitas Descalças, em Himmelspforten, onde havia sido coroinha quando criança. Passou vários anos em diversas paróquias como capelão e posteriormente como Pároco. Como bom sacerdote, sério e convencido, dedicou-se às suas obrigações e deveres. Mas foi inevitável que seu zelo pastoral o fizesse entrar em conflito com os nacional-socialistas, ao ponto de que ele, sacerdote tão bom e verdadeiramente disponível com todos, se convertesse em um ‘inimigo’ político, em um perseguido, até ser preso em 31 de outubro de 1941. No dia 12 de dezembro desse mesmo ano foi levado para o Campo de Concentração de Dachau. É o Preso nº 28876. Alí morreu em 20 de agosto de 1942 às 7h e 20 min., devido às consequências da falta de alimentação que provocaram o definhamento orgânico abrindo a porta a infecções generalizadas. Em uma de suas últimas cartas, desde Dachau, escrevia a seus pais: “Não queremos nem condenar um ser humano, nem semear o rancor contra quem quer que seja. Pelo contrário, queremos ser bons com todos”. Seus restos mortais descansam na Cripta da Basílica de Würzburg.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus Pai todo-poderoso, que destes ao mártir Georg Häfner a graça de combater até dar a vida pela fé, concedei que a sua intercessão nos ajude a suportar a adversidade por vosso amor e a caminhar corajosamente para Vós, fonte da verdadeira vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo

Terça-feira da 20ª semana do Tempo Comum

São João Eudes, presbítero
 
1ª Leitura (Juí 6,11-24a):
Naqueles dias, o Anjo do Senhor veio sentar-se debaixo do carvalho de Ofra, que pertencia a Joás, da família de Abiezer. Seu filho Gedeão estava a malhar trigo no lagar, para o esconder dos madianitas. O Anjo do Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: «O Senhor está contigo, valente guerreiro». Gedeão respondeu-lhe: «Perdão, meu senhor. Se o Senhor está conosco, por que nos têm sucedido todas estas desgraças? Onde estão todos esses prodígios, que os nossos pais nos contaram, dizendo: ‘O Senhor libertou-nos da terra do Egipto’? Mas agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos de Madiã». Então o Senhor voltou-Se para ele e disse-lhe: «Vai com essa tua força salvar Israel das mãos de Madiã. Não sou Eu que te envio?». Gedeão respondeu: «Perdão, meu Senhor. Como poderei salvar Israel? A minha família é a mais humilde de Manassés e eu sou o último da casa de meu pai». O Senhor disse-lhe: «Eu estarei contigo e tu vencerás Madiã como se ele fosse um só homem». Disse Gedeão: «Se encontrei graça a vossos olhos, dai-me um sinal de que sois Vós que me falais. Não Vos afasteis daqui, até que eu volte para junto de Vós, trazendo a minha oferta, para a colocar na vossa presença». O Senhor respondeu: «Ficarei até que voltes». Gedeão entrou em casa, preparou um cabrito e com uma medida de farinha fez pães ázimos. Colocou a carne num cesto, deitou o molho num tacho, levou tudo para debaixo do carvalho e ofereceu-lhe. Disse-lhe o Anjo do Senhor: «Toma a carne e os pães ázimos, coloca-os sobre essa pedra e derrama o molho sobre eles». Gedeão assim fez. O Anjo do Senhor estendeu a ponta da vara que tinha na mão e tocou na carne e nos pães ázimos. Saiu então fogo da rocha e consumiu a carne e os pães. E o Anjo do Senhor desapareceu da sua vista. Gedeão reconheceu que era o Anjo do Senhor e disse: «Ai de mim, Senhor Deus! Eu vi face a face o Anjo do Senhor». Mas o Senhor respondeu-lhe: «A paz esteja contigo. Não tenhas medo, porque não morrerás». Gedeão ergueu ali um altar ao Senhor e chamou-lhe «O Senhor é a paz».
 
Salmo Responsorial: 84
R. O Senhor anuncia a paz ao seu povo.
 
Escutemos o que diz o Senhor: Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis e a quantos de coração a Ele se convertem.
 
Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade, abraçaram-se a paz e a justiça. A fidelidade vai germinar da terra e a justiça descerá do Céu.
 
O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos. A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos.
 
Aleluia. Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 19,23-30): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus». Ouvindo isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: «Quem, pois, poderá salvar-se?». Jesus olhou bem para eles e disse: «Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível». Em seguida, Pedro tomou a palavra e disse-lhe: «Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber?». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo, quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, havereis de sentar-vos em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. Ora, muitos que são primeiros serão últimos, e muitos que são últimos serão primeiros».
 
«Dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus (...) Quem, pois, poderá salvar-se?»
 
Rev. D. Fernando PERALES i Madueño (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, contemplamos a reação que suscitou entre os ouvintes o diálogo do jovem rico com Jesus: «Quem, pois, poderá salvar-se?» (Mt 19,25). As palavras do Senhor dirigidas ao jovem rico são manifestamente duras, pretendem surpreender, despertar as nossas sonolências. Não se tratam de palavras isoladas, acidentais no Evangelho: repete vinte vezes este tipo de mensagem. Devemos recordá-lo: Jesus adverte contra os obstáculos que implicam as riquezas, para entrar na vida...
 
E, no entanto, Jesus amou e chamou homens ricos, sem lhes exigir que abandonassem as suas responsabilidades. A riqueza em si mesma não é má, a não ser que a sua origem tenha sido adquirida de forma injusta, ou o seu destino, que se utilize de forma egoísta sem ter em conta os mais desfavorecidos, se fecha o coração aos verdadeiros valores espirituais (onde não há necessidade de Deus).
 
«Quem, pois, poderá salvar-se?». Jesus responde: «Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível». (Mt 19,26). «Senhor, tu conheces bem as habilidades dos homens para atenuar a tua Palavra. Tenho que o dizer, Senhor ajuda-me! Converte o meu coração».
 
Depois do jovem rico ter ido embora, entristecido pelo seu apego às suas riquezas, Pedro tomou a palavra e disse: «Concede, Senhor, à tua Igreja, aos teus Apóstolos que sejam capazes de deixar tudo por Ti».
 
«Quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória?» (Mt 19,28). O Teu pensamento dirige-se para esse “dia”, até esse futuro. Tu és um homem com tendência para o fim do mundo, para a plenitude do homem. Nesse tempo, Senhor, tudo será novo, renovado, belo.
 
Jesus Cristo diz-nos: «Vós que deixastes tudo pelo Reino, vos sentareis com o Filho do Homem... Recebereis cem vezes mais do que tiveres deixado... E herdareis a vida eterna...» (cf. Mt 19,28-29).
 
O futuro que Tu prometes aos teus, aos que te seguiram renunciando a todos os obstáculos... É um futuro feliz, é a abundância da vida, é a plenitude divina.
 
«Obrigado, Senhor. Conduz-me até esse dia!».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«É mais fácil o sol não brilhar ou não aquecer do que um cristão deixar de iluminar. Não inflija uma ofensa a Deus!: se ordenarmos bem a nossa conduta, tudo o resto se seguirá como consequência natural» (São João Crisóstomo)
 
«A vocação cristã é antes de tudo um apelo de amor que atrai e remete para algo além de si mesmo, para a sua libertação na entrega de si» (Bento XVI)
 
«A Igreja ora para que ninguém se perca: ‘Senhor [...], não permitais que eu me separe de Vós’. Sendo verdade que ninguém se pode salvar a si mesmo, também é verdade que ‘Deus quer que todos se salvem’ (1Tm 2,4) e que a Ele ‘tudo é possível’ (Mt 19, 26)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1058)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje é a continuação imediata do evangelho de ontem.
Traz o comentário de Jesus a respeito da reação negativa do jovem rico.
 
* Mateus 19,23-24: O camelo e o fundo da agulha. Depois que o jovem foi embora, Jesus comentou a decisão dele e disse: "Eu garanto a vocês: um rico dificilmente entrará no Reino do Céu. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus". Duas observações a respeito desta afirmação de Jesus: 1) O provérbio do camelo e do buraco da agulha se usava para dizer que uma coisa era impossível e inviável, humanamente falando. 2) A expressão “um rico entrar no Reino” trata, não em primeiro lugar da entrada no céu depois da morte, mas sim da entrada na comunidade ao redor de Jesus. E até hoje é assim. Os ricos dificilmente entram e se sentem em casa nas comunidades que tentam viver o evangelho de acordo com as exigências de Jesus e que procuram abrir-se para os pobres, os migrantes e os excluídos da sociedade.
 
* Mateus 19,25-26: O espanto dos discípulos. O jovem tinha observado os mandamentos, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Quando Jesus os chamou, fizeram exatamente o que Jesus tinha pedido ao jovem: largaram tudo e foram atrás de Jesus (Mt 4,20.22). Mesmo assim, ficaram espantados com a afirmação de Jesus sobre a quase impossibilidade de um rico entrar no Reino de Deus. Sinal de que não tinham entendido bem a resposta de Jesus ao moço rico: “Vai vende tudo, dá para os pobres e vem e segue-me!” Pois, se o tivessem entendido, não teriam ficado tão chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido da vida e do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! "Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível."
 
* Mateus 19,27: A pergunta de Pedro. O pano de fundo da incompreensão dos discípulos transparece na pergunta de Pedro: “Olhe, nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos receber?” Apesar da generosidade tão bonita do abandono de tudo, eles mantinham a mentalidade anterior. Abandonaram tudo para receber algo em troca. Ainda não entendiam bem o sentido do serviço e da gratuidade.
 
* Mateus 19,28-30: A resposta de Jesus. "Eu garanto a vocês: no mundo novo, quando o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, vocês, que me seguiram, também se sentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e terá como herança a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros, serão os últimos; e muitos que agora são os últimos, serão os primeiros".  Nesta resposta, Jesus descreve o mundo novo, cujos fundamentos estavam sendo lançados pelo trabalho dele e dos discípulos. Jesus acentua três pontos importantes: (1) Os discípulos vão sentar-se nos doze tronos junto com Jesus para julgar as doze tribos de Israel (cf. Ap 4,4). (2) Vão receber em troca muitas vezes aquilo que tinham abandonado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, e terão a herança da vida eterna garantida. (3) O mundo futuro será a inversão do mundo atual. Nele os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. A comunidade ao redor de Jesus é semente e amostra deste mundo novo. Até hoje as pequenas comunidades dos pobres continuam sendo semente e amostra do Reino.
 
* Cada vez que, na história do povo da Bíblia, surge um movimento para renovar a Aliança, ele começa restabelecendo os direitos dos pobres, dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele denuncia o sistema antigo que, em nome de Deus, excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que, em nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos pobres. Ela atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.
 
Para um confronto pessoal
1) Abandonar casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do nome de Jesus.  Como isto acontece na sua vida? O que já recebeu de volta?
2) Hoje, a maioria dos países pobres não é da religião cristã, enquanto a maioria dos países ricos é da religião cristã. Como se aplica hoje o provérbio do camelo que não passa pelo fundo de uma agulha?

sábado, 16 de agosto de 2025

18 de agosto

 BB. João Baptista Duverneil, Miguel Luís Brulard e Tiago Gagnot
Presbíteros e mártires
 

Na pequena baía de Rochefort, diocese de La Rochelle (França) morreram amontoados em dois navios 547 sacerdotes e religiosos durante a Revolução Francesa. Entre eles estavam, pelos menos, três carmelitas descalços: P. João Baptista Duverneuiln, nascido em Limoges em 1759, que morreu por padecimentos e doenças no dia 1 de julho de 1794, na idade de 35 anos; P. Miguel Luís Brulard, nascido em Chartres no dia 26 de julho de 1758, que morreu no dia 25 de julho de 1794, na idade de 36 anos; e P. Tiago Gagnot, nascido em Frolois em 1753, e que morreu no dia 10 de setembro de 1794, na idade de 41 anos. O amor incondicional a Cristo, o apego e a fidelidade à Igreja, a compaixão para com todos, o perdão para com os próprios perseguidores foram algumas das virtudes destes filhos de Santa Teresa. Foram beatificados no dia 1º de outubro de 1995, juntamente com outros 61 mártires, mortos na mesma circunstância.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, nosso Deus, que destes aos bem-aventurados João Baptista, Miguel Luís, Tiago e companheiros mártires, a graça da fidelidade e do perdão no meio dos mais duros tormentos, concedei-nos, por sua intercessão e exemplo, que permaneçamos sempre fiéis à Igreja e prontos para a reconciliação com os nossos irmãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.