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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

MÊS DE SÃO JOSÉ - Quarta-feira de Cinza

ORAÇÃO PREPARATÓRIA - Com humildade e respeito aqui nos reunimos, ó Divino Jesus, para oferecer, todos os dias deste mês, as homenagens de nossa devoção ao glorioso Patriarca S. José. Vós nos animais a recorrer com toda a confiança aos vossos benditos Santos, pois que as honras que lhes tributamos revertem em vossa própria glória. Com justos motivos, portanto, esperamos vos seja agradável o tributo quotidiano que vimos prestar ao Esposo castíssimo de Maria, vossa Mãe santíssima, a São José, vosso amado Pai adotivo. Ó meu Deus, concedei-nos a graça de amar e honrar a São José como o amastes na terra e o honrais no céu. E vós, ó glorioso Patriarca, pela vossa estreita união com Jesus e Maria; vós que, à custa de vossas abençoadas fadigas e suores, nutristes a um e outro, desempenhando neste mundo o papel do Divino Padre Eterno; alcançai-nos luz e graça para terminar com fruto estes devotos exercícios que em vosso louvor alegremente começamos. Amém.

LECTIO DIVINA
Evangelho (Mt 6,1-6.16-18): «Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.  E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.  Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente».

«Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles»

Pbro. D. Luis A. GALA Rodríguez (Campeche, México)

Hoje começamos o nosso recorrido à Páscoa, e o Evangelho nos lembra os deveres fundamentais do cristão, não só como preparação a um tempo litúrgico, mas em preparação à Páscoa Eterna: «Cuidado! não pratiqueis vossa justiça na frente dos outros, só para serdes notados. De outra forma, não recebereis recompensa do vosso Pai que está nos céus» (Mt 6,1). A justiça da que Jesus nos fala consiste em viver conforme aos princípios evangélicos, sem esquecer que «Eu vos digo: Se vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus» (Mt 5,20).

A justiça nos leva ao amor, manifestado na esmola e em obras de misericórdia: «Tu, porém, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita» (Mt 6,3). Não é que se devam ocultar as obras boas, mas que não se deve pensar em elogio humano ao fazê-lo, sem desejar nenhum outro bem superior e celestial. Em outras palavras, devo dar esmola de tal modo que nem eu tenha a sensação de estar fazendo uma boa ação, que merece uma recompensa por parte de Deus e elogio por parte dos homens.

Bento XVI insistia em que socorrer aos necessitados é um dever de justiça, mesmo antes que um ato de caridade: «A caridade supera a justiça (…), mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é "dele", o que lhe pertence em razão de seu ser e do seu agir». Não devemos esquecer que não somos proprietários absolutos dos bens que possuímos, e sim administradores. Cristo nos ensinou que a autêntica caridade é aquela que não se limita a "dar" esmola, e sim que o leva a "dar" a própria pessoa, a oferecer-se a Deus como culto espiritual (cf. Rom 12,1) esse seria o verdadeiro gesto de justiça e caridade cristã, «de modo que tua esmola fique escondida. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa» (Mt 6,4).

«Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles»

Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)

Hoje iniciamos a Quaresma: «É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação» (2Cor 6,2). A imposição da cinza — que devemos receber— é acompanhada por uma destas duas fórmulas. A antiga: «Lembre-se de que és pó e pó serás»; e a que introduziu a liturgia renovada do Concilio: «Converta-se e creia no Evangelho». Ambas as fórmulas são um convite a contemplar de uma maneira diferente — normalmente tão superficial — nossa vida. O Papa São Clemente I nos lembra que «o Senhor quer que todos os que o amam se convertam».

No Evangelho, Jesus pede a pratica da esmola, o jejum e a oração longe de toda hipocrisia: «Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa» (Mt 6,2). Os hipócritas, energicamente denunciados por Jesus Cristo, se caracterizam pela falsidade de seu coração. Mas, Jesus adverte hoje não só da hipocrisia subjetiva senão também da objetiva: cumprir, inclusive de boa fé, tudo o que manda a Lei de Deus e a Escritura Santa, mas fazendo de maneira que fique na mera prática exterior, sem a correspondente conversão interior.

Então, a esmola reduzida — à “gorjeta”— deixa de ser um ato fraternal e se reduz a um gesto tranqüilizador que não muda a maneira de ver o irmão, nem faz sentir a caridade de prestar-lhe a atenção que ele merece. O jejum, por outro lado, fica limitado ao cumprimento formal, que já não lembra em nenhum momento a necessidade de moderar nosso consumismo compulsivo, nem a necessidade que temos de ser curados da “bulimia espiritual”. Finalmente, a oração — reduzida a estéril monólogo — não chega a ser autêntica abertura espiritual, colóquio íntimo com o Pai e escuta atenta do Evangelho do Filho.

A religião dos hipócritas é una religião triste, legalista, moralista, de uma grande pobreza de espírito. Pelo contrario, a Quaresma cristã é o convite que cada ano nos faz a Igreja a um aprofundamento interior, a una conversão exigente, a una penitência humilde, para que dando os frutos pertencentes que o Senhor espera de nós, vivamos com a máxima plenitude de alegria e o gozo espiritual da Páscoa.

Reflexão

Mt 6,1: A chave geral para entender o ensinamento que se segue.
Jesus disse: 'Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. A justiça de que Jesus fala consiste em chegar ao lugar onde Deus nos quer. O caminho para chegar a ela está expresso na lei de Deus. Jesus adverte que não se deve observar a lei com o objetivo de ser elogiado pelos homens. Anteriormente ele havia dito: "Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus." (Mt 5,20) Ao ler esta frase, não devemos apenas pensar só nos fariseus do tempo de Jesus, mas sobretudo no fariseu que dorme em cada um de nós. Se José, esposo de Maria, tivesse seguido a justiça da lei dos fariseus, ele teria denunciado Maria. Mas ele era "justo" (Mt 1,19), já vivia a nova justiça anunciada por Jesus. Por isso transgrediu a antiga lei e salvou a vida de Maria e de Jesus. A nova justiça proclamada por Jesus está alicerçada sobre uma base diferente, provém de outra fonte. Precisamos construir a nossa segurança de dentro, não naquilo que fazemos para Deus, mas naquilo Deus faz por nós. Esta é a chave geral para a compreensão do ensinamento de Jesus sobre as obras de misericórdia. No que se segue, Mateus aplica este princípio geral à prática da esmola, da oração e do jejum. Do ponto de vista didático, primeiro diz como não deve ser, e logo em seguida ensina como deve ser.

Mt 6,2: Como não dar esmolas.
A maneira errada, seja naquele tempo como hoje, é dar esmolas para ser visto e aclamado pelos outros. Muitas vezes se pode ver em bancos de igrejas escritas estas palavras: "Presente da família tal." Na televisão, os políticos gostam de se mostrar como grandes benfeitores da humanidade nas inaugurações de obras públicas para servir a comunidade. Jesus diz: Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa (Mt 6,2).

Mt 6,3-4: Como dar esmolas.
A maneira correta de fazer isso é caridade: "quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita". Ou seja, devo dar esmolas de tal forma que nem mesmo eu tenho a sensação de estar fazendo algo bom ou que mereça uma recompensa de Deus e elogios dos outros. A esmola é uma obrigação. É uma forma de compartilhar algo, que possuo, com aqueles que nada têm. Numa família, o que é de um é todos. Jesus elogia o exemplo da viúva que deu mesmo o que lhe era necessário (Mc 12,44).

Mt 6,3-4: Como dar esmolas.
A maneira correta de fazer isso é caridade: "quando deres esmola, que a tua mão esquerda nóo saiba o que faz a tua mão direita". Ou seja, devo dar esmolas de tal forma que nem mesmo eu tenho a sensação de estar fazendo algo bom ou que mereça uma recompensa de Deus e elogios dos outros. A esmola é uma obrigação. É uma forma de compartilhar algo, que possuo, com aqueles que nada têm. Numa família, o que é de um é todos. Jesus elogia o exemplo da viúva que deu mesmo o que lhe era necessário (Mc 12,44).

Mt 6,5: Como não rezar.
Falando de uma maneira errada de orar, Jesus cita alguns hábitos e costumes estranhos da época. Quando era tocada a trombeta para a oração da manhã, do meio-dia e da tarde, havia pessoas que procuravam ficar no meio da rua para orar solenemente de braços abertos para que todos a vissem, e assim serem consideradas como as pessoas piedosas. Outros na sinagoga assumiam atitudes extravagantes para chamar a atenção da comunidade.

Mt 6,6: Como orar.
Para não deixar nenhuma dúvida, Jesus exagera sobre como orar. Ele diz que devemos orar em segredo, apenas diante de Deus Pai. Ninguém vai vê-lo. Talvez para os outros, você vai ser uma pessoa que não reza. Não importa! Mesmo de Jesus disseram: "Não é de Deus!" E isso porque Jesus rezava muito à noite e não se importava com a opinião dos outros. O que importa é ter a paz de consciência e ter a certeza de que Deus é o Pai que me acolhe, e não a partir do que eu faço para Deus ou da satisfação que eu tenho ao ser apreciado como uma pessoa piedosa e que reza.

Mt 06,16: Como não fazer jejum.
Jesus critica as práticas erradas de jejum. Havia pessoas que ficavam com rosto tristes, não se lavavam, usavam roupas rasgadas, não se penteavam, para que todos pudessem ver que elas estavam jejuando e de uma forma perfeita.

Mt 6,17-18: Como fazer o jejum.
Jesus recomenda o contrário: Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto.
Como dissemos antes, esta é uma nova forma de acesso ao coração de Deus que se abre diante de nós. Jesus, para garantir interiormente, não pergunta o que fazemos para Deus, mas o que Deus faz por nós. A esmola, a oração e o jejum não são dinheiro para comprar o favor de Deus, mas a resposta de gratidão para com o amor recebido e experimentado.

Para um confronto pessoal
a) Qual é o ponto do texto que mexeu mais ou que você gostou mais?
b) Como entender o alerta feito por Jesus?
c) O que Jesus critica e o que ensina sobre a esmola? Faça um resumo para você.
d) O que Jesus critica e o que ensina sobre a oração? Faça um resumo para você.
e) O que Jesus critica e o que ensina sobre o jejum? Faça um resumo para você.

ORAÇÃO - Ó glorioso S. José, a bondade de vosso coração é sem limites e indizível, e neste mês que a piedade dos fiéis vos consagrou mais generosas do que nunca se abrem as vossas mãos benfazejas. Distribui entre nós, ó nosso amado Pai, os dons preciosíssimos da graça celestial da qual sois ecônomo e o tesoureiro; Deus vos criou para seu primeiro esmoler. Ah! que nem um só de vossos servos possa dizer que vos invocou em vão nestes dias. Que todos venham, que todos se apresentem ante vosso trono e invoquem vossa intercessão, a fim de viverem e morrerem santamente, a vosso exemplo nos braços de Jesus e no ósculo beatíssimo de Maria. Amém.

LADAINHA DE SÃO JOSÉ
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo tende piedade de nós.
Senhor tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, escutai-nos.
Deus Pai do Céu, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, rogai por nós.
São José,
Ilustre Filho de Davi,
Luz dos Patriarcas,
Esposo da mãe de Deus,
Guarda da puríssima Virgem,
Sustentador do Filho de Deus,
Zeloso defensor de Jesus Cristo,
Chefe da Sagrada Família,
José justíssimo,
José castíssimo,
José prudentíssimo,
José fortíssimo,
José obedientíssimo,
José fidelíssimo,
Espelho de paciência,
Amante da pobreza,
Modelo dos operários,
Honra da vida de família,
Guarda das virgens,
Amparo das famílias,
Alívio dos sofredores,
Esperança dos doentes,
Consolador dos aflitos,
Patrono dos moribundos,
Terror dos demônios,
Protetor da Santa Igreja,
Patrono da Ordem Carmelita,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade nós.

V. - O Senhor o constituiu dono de sua casa.
R. - E fê-lo príncipe de todas as suas possessões.

ORAÇÃO: Deus, que por vossa inefável Providência vos dignastes eleger o bem-aventurado São José para Esposo de vossa Mãe Santíssima concedei-nos, nós vos pedimos, que mereçamos ter como intercessor no céu aquele a quem veneramos na terra como nosso Protetor. Vós que viveis e reinais com Deus Padre na unidade do Espírito Santo. Amém.

Terça-feira da 8ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mc 10,28-31): Pedro começou a dizer-lhe: «Olha, nós deixamos tudo e te seguimos». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida — casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, vida eterna. Muitos, porém, que são primeiros, serão últimos; e muitos que são últimos serão primeiros».

«Todo aquele que deixa casa, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida ,e, no mundo futuro, vida eterna»

Rev. D. Jordi SOTORRA i Garriga (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Hoje, como aquele amo que ia todas as manhãs à praça procurar trabalhadores para a sua vinha, o Senhor procura discípulos, seguidores, amigos. A sua chamada é universal. É uma oferta fascinante! O Senhor dá-nos confiança. Mas põe uma condição para ser seus discípulos, condição essa que nos pode desanimar: temos que deixar «casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do evangelho» (Mc 10,29).

Não há contrapartida? Não haverá recompensa? Isto aporta algum benefício? Pedro, em nome dos Apóstolos, recorda ao Maestro: «Nós deixamos tudo e te seguimos» (Mc 10,28), como querendo dizer: que ganharemos com tudo isto?

A promessa do Senhor é generosa: «recebe cem vezes mais agora, durante esta vida (…); e, no mundo futuro, vida eterna» (Mc 10,30). Ele não se deixa ganhar em generosidade. Mas acrescenta: «com perseguições». Jesus é realista e não quer enganar. Ser seu discípulo, se o formos de verdade, nos trarão dificuldades, problemas. Mas Jesus considera as perseguições e as dificuldades como um prêmio, pois nos fazem crescer, se as soubermos aceitar e vive-las como uma ocasião para ganhar maturidade e responsabilidade. Tudo aquilo que é motivo de sacrifício assemelha-nos a Jesus Cristo que nos salva pela sua morte em Cruz.

Estamos sempre a tempo para revisar a nossa vida e aproximar-nos mais de Jesus Cristo. Estes tempos, todo o tempo permitem-nos — através da oração e dos sacramentos— averiguar se entre os discípulos que Ele procura estamos nós, e veremos também qual deve ser a nossa resposta a esta chamada. Ao lado de respostas radicais (como a dos Apóstolos) há outras. Para muitos, «deixar casa, irmãos, irmãs, mãe…» significará deixar tudo aquilo que nos impeça de viver em profundidade a amizade de Jesus Cristo e, como consequência, ser-lhe seus testemunhos perante o mundo. E isso é urgente, não achas?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

*  No evangelho de ontem, Jesus falava da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais: desapegar-se das coisas, vender tudo, dar para os pobres e seguir Jesus. Ou seja, como Jesus, devem viver na total gratuidade, entregando sua vida na mão de Deus e servindo aos irmãos e irmãs (Mc 10,17-27). No evangelho de hoje Jesus explica melhor como deve ser esta vida de gratuidade e de serviço dos que abandonam tudo por causa dele, Jesus, e do Evangelho (Mc 10,28-31).

*  Marcos 10,28-31: Cem vezes mais desde agora, mas com perseguições
Pedro observa: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos". É como se dissesse: “Fizemos o que o senhor pediu ao jovem rico. Deixamos tudo e te seguimos. Explica para nós como deve ser esta nossa vida?” Pedro quer que Jesus explicite um pouco mais o novo modo de viver no serviço e na gratuidade. A resposta de Jesus é bonita, profunda e simbólica: "Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mãe, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna”. O tipo de vida que resulta da entrega de tudo é a amostra do Reino que Jesus quer realizar:
(1) Alarga a família e cria comunidade, pois aumenta cem vezes o número de irmãos e irmãs.
(2) Provoca a partilha dos bens, pois todos terão cem vezes mais casas e campos. A providência divina se encarna e passa pela organização fraterna, onde tudo é de todos e já não haverá mais necessitados. Eles realizam a lei de Deus que pede “entre vocês não pode haver pobres” (Dt 15,4-11). Foi o que fizeram os primeiros cristãos (At 2,42-45). É a vivência perfeita do serviço e da gratuidade.
(3) Não devem esperar nenhuma vantagem em troca, nem segurança, nem promoção de nada. Pelo contrário, nesta vida terão tudo isto, mas com perseguições. Pois os que, neste nosso mundo organizado a partir do egoísmo e dos interesses de grupos e pessoas, vivem a partir do amor gratuito e da entrega de si, estes, como Jesus, serão crucificados.
(4) Serão perseguidos neste mundo, mas, no mundo futuro terão a vida eterna de que falava o jovem rico.

Jesus e a opção pelos pobres
Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21) A pobreza, que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9).

4) Para um confronto pessoal
1) Como você, na sua vida, realiza a proposta de Pedro: “Deixamos tudo e te seguimos”?
2) Partilha, gratuidade, serviço, acolhida aos excluídos são sinais do Reino. Como as vivo hoje?

Segunda-feira da 8ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mc 10,17-27): Jesus saiu caminhando, quando veio alguém correndo, caiu de joelhos diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?». Disse Jesus: «Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não prejudicarás ninguém, honra teu pai e tua mãe!». Ele então respondeu: «Mestre, tudo isso eu tenho observado desde a minha juventude». Jesus, olhando bem para ele, com amor lhe disse: «Só te falta uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me». Ao ouvir isso, ele ficou pesaroso por causa desta palavra e foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens. Olhando em volta, Jesus disse aos seus discípulos: «Como é difícil, para os que possuem riquezas, entrar no Reino de Deus». Os discípulos ficaram espantados com estas palavras. E Jesus tornou a falar: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!». Eles ficaram mais admirados e diziam uns aos outros: «Quem então poderá salvar-se?». Olhando bem para eles, Jesus lhes disse: «Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível!».

«Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres; (…) vem e segue-me»

P. Joaquim PETIT Llimona, L.C. (Barcelona, Espanha).

Hoje a liturgia apresenta-nos um evangelho, onde é difícil ficar indiferente se o encaramos com sinceridade de coração.

Ninguém pode duvidar das boas intenções daquele jovem que se aproximou diante de Jesus para fazer-lhe uma pergunta: «Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?» (Mc 10,17). Segundo o que nos expressa São Marcos, é claro que nesse coração havia uma necessidade de algo mais, pois é fácil supor que — como bom israelita — conhecia bem o que dizia a Lei ao respeito, mas no seu interior havia uma inquietação, uma necessidade de ir mais além, e por isso, interpela a Jesus.

Na nossa vida cristã temos que apreender a superar essa visão que reduz a fé a uma questão de mero cumprimento. Nossa fé é mais que isso. É uma adesão a Alguém, que é Deus. Quando pomos o coração em algo, pomos também a vida, e no caso da fé, superamos o conformismo que hoje parece sufocar a existência de tantos crentes. Quem ama não se conforma com dar qualquer coisa. Quem ama busca uma relação pessoal, próxima, leva em conta os detalhes e sabe descobrir em tudo uma ocasião para crescer no amor. Quem ama se entrega.

Em realidade, a resposta de Jesus à pergunta do jovem é uma porta aberta a essa entrega total por amor: «Vende tudo o que tens, dá-lhe tudo aos pobres (…); depois, vem e segue-me» (Mc 10,21). Não é um deixar porque sim, esse deixar é um dar-se, e é um dar-se que é expressão genuína do amor. Abramos, pois, o nosso coração a esse amor-doação. Vivamos a nossa relação com Deus nessa chave. Orar, servir, trabalhar, superar-se... Todos são caminhos de entrega e, por tanto, caminhos de amor. Que o Senhor encontre em nós, não só um coração sincero, também um coração generoso e aberto às exigências do amor. Porque - em palavras de João Paulo II— «O amor que vem de Deus, amor terno e esponsal, é fonte de exigências profundas e radicais»

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) conta a história do homem rico que perguntou pelo caminho da vida eterna (Mc 10,17-22), e (2) Jesus chama a atenção para o perigo das riquezas (Mc 10,23-27). O homem rico não aceitou a proposta de Jesus, pois era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza lhe dá. Ela tem dificuldade em abrir mão desta segurança. Agarrada às vantagens dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses. Uma pessoa pobre não costuma ter esta preocupação. Mas pode haver pobres com cabeça de rico. Então, o desejo de riqueza cria neles uma dependência e faz com que eles também se tornem escravos do consumismo. Ficam devendo prestações em todo canto e já não têm mais tempo para dedicar-se ao serviço do próximo. Com esta problemática na cabeça, tanto das pessoas como dos países, vamos ler e meditar o texto do homem rico.

* Marcos 10,17-19: A observância dos mandamentos e a vida eterna. 
Alguém chega perto de Jesus e pergunta: “Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” O evangelho de Mateus informa que se tratava de um jovem (Mt 19,20.22). Jesus responde bruscamente: “Por que me chamas bom. Ninguém é bom senão só Deus!” Jesus desvia a atenção de si mesmo e aponta para Deus, pois o que importa é fazer a vontade de Deus, revelar o Projeto do Pai. Em seguida, Jesus afirma: “Você conhece os mandamentos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não defraudar ninguém, honrar pai e mãe”. É importante olhar bem a resposta de Jesus. O jovem tinha perguntado pela vida eterna. Queria a vida junto de Deus! Mas Jesus não mencionou os três primeiros mandamentos que definem nosso relacionamento com Deus! Ele só lembrou aqueles que dizem respeito à vida junto do próximo! Para Jesus, só conseguimos estar bem com Deus, se soubermos estar bem com o próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar até Deus é o próximo.

* Marcos 10,20: Observar os mandamentos, para que serve? 
O homem responde dizendo que já observava os mandamentos desde a sua juventude. O curioso é o seguinte. Ele tinha perguntado pelo caminho da vida. Ora, o caminho da vida era e continua sendo: fazer a vontade de Deus expressa nos mandamentos. Quer dizer que ele observava os mandamentos sem saber para que serviam. Do contrário, não teria feito a pergunta. É como muitos católicos de hoje: não sabem dizer para que serve ser católico. ”Nasci num país católico, por isso sou católico!” Coisa de costume!

* Marcos 10,21-22: Partilhar os bens com os pobres e seguir Jesus.
Ouvindo a resposta do jovem, “Jesus olhou para ele, o amou e lhe disse: Só uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu, e em seguida vem e segue-me!” A observância dos mandamentos é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para ela poder chegar à doação total de si a favor do próximo. Jesus pede muito, mas ele o pede com muito amor. O moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, “pois era muito rico”.

* Marcos 10,23-27: O camelo e o fundo da agulha.
Depois que o jovem foi embora, Jesus comentou a decisão dele: Como é difícil um rico entrar no Reino de Deus! Os discípulos ficaram admirados. Jesus repete a mesma frase e acrescenta: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino! A expressão “entrar no Reino” diz respeito, não só e nem em primeiro lugar à entrada no céu depois da morte, mas também e sobretudo à entrada na comunidade ao redor de Jesus. A comunidade é e deve ser uma amostra do Reino. A alusão à impossibilidade de um camelo passar pelo buraco de uma agulha vem de um provérbio popular da época usado pelo povo para dizer que uma coisa era humanamente impossível e inviável. Os discípulos ficaram chocados com a afirmação de Jesus e perguntavam uns aos outros: "Então, quem pode ser salvo?" Sinal de que não tinham entendido a resposta de Jesus ao homem rico: “Vai vende tudo, dá para os pobres e vem e segue-me!” O jovem tinha observado os mandamentos desde a sua juventude, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Eles já tinham abandonado todos os bens conforme o pedido de Jesus ao jovem rico, mas sem entender o porquê do abandono! Se o tivessem entendido, não teriam ficado chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! Jesus olhou para os discípulos e disse: "Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível."

Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive preocupada com a sua riqueza ou que vive querendo adquirir aquelas coisas da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha? Como é que você faz?
2. Conhece alguém que conseguiu largar tudo por causa do Reino? O que significa para nós hoje: “Vai vende tudo, dá aos pobres”? Como entender e praticar hoje os conselhos que Jesus deu ao jovem rico?

Domingo VIII do Tempo Comum

Evangelho (Mt 6,24-34): «Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou aderir ao primeiro e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro!  Por isso, eu vos digo: não vivais preocupados com o que comer ou beber, quanto à vossa vida; nem com o que vestir, quanto ao vosso corpo. Afinal, a vida não é mais que o alimento, e o corpo, mais que a roupa? Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Será que vós não valeis mais do que eles? Quem de vós pode, com sua preocupação, acrescentar um só dia à duração de sua vida? Não trabalham, nem fiam. No entanto, eu vos digo, nem Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um só dentre eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje está aí e amanhã é lançada ao forno, não fará ele muito mais por vós, gente fraca de fé? Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal».

«Não vivais preocupados quanto à vossa vida»

Rev. Pe. Floyd L. McCOY Jordán (Hormigueros, Porto Rico)

Hoje, Jesus, recorreu a metáforas tomadas da natureza, próprias do seu entorno nas terras mais férteis da Galileia, onde passou sua infância e sua adolescência — os lírios do campo e os pássaros do céu — nos lembram que Deus Pai é providente e que, se vela pelas suas criaturas mais débeis, tanto mais o fará pelos seres humanos, suas criaturas prediletas (cf. Mt 6,26.30).

O texto de Mateus é de um caráter alegre e otimista, onde encontramos um Filho muito orgulhoso do seu Pai porque este é providente e vela constantemente pelo bem-estar da sua criação. Esse otimismo de Jesus não somente deve ser o nosso para que nos mantenhamos firmes na esperança — «Não vivais preocupados» (Mt 6,31) — quando surgem as situações duras em nossas vidas. Também deve ser um incentivo para que nós sejamos providentes num mundo que necessita viver o que é a verdadeira caridade, ou seja, o oferecimento do amor em ação.

Geralmente, nos dizem que temos de ser os pés, as mãos, os olhos, os ouvidos, a boca de Jesus em meio do mundo, mas, no sentido da caridade a situação e ainda mais profunda: Temos de ser isso mesmo, mas do Pai providente dos céus. Os seres humanos estamos chamados a fazer realidade essa Providência de Deus, sendo sensíveis e acundido em auxílio dos mais necessitados.

Em palavras de Bento XVI, «Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a caridade de Deus e tecer redes de caridade». Mas, também lembrou-nos o Santo Pai que a caridade tem que ir acompanhada da Verdade que é Cristo, para que não se transforme num mero ato de filantropia, despojada de todo o sentido espiritual cristão próprio dos que vivem segundo nos ensinou o Mestre.
  
"A gratuidade do amor".

Jesus exalta a gratuidade do amor do Pai. Amor que cuida até das menores criaturas, como os lírios do campo, cuja existência se apresenta tão ínfima: “que de manhã nascem e à tarde secam”; amor providente: “que não deixa nenhum passarinho morrer de fome”. Desse modo é que Jesus Cristo sente e vê o Pai e nos convida a permitir que ele cuide de nós.

a) Dois senhores
Jesus adverte os seus discípulos de que não podemos servir a dois senhores. Essa  impossibilidade decorre do fato de que o nosso coração não se deixa guiar por dois amores: “ou odiará um e amará o outro, ou aderirá a um e desprezará o outro” (v. 24).
O coração, no Segundo Mandamento, salvo as atribuições fisiológicas que ainda persistem, apresenta-se como o nosso ser mais profundo, a nossa consciência moral. Não se trata, portanto, de um órgão do corpo humano, mas de uma faculdade espiritual. Ora, o nosso ser naturalmente busca o seu bem. Aplicamos o nosso amor, cuja sede é o coração, àquilo que julgamos ser um bem para nós. Disso decorre que tudo o que não concorrer ao nosso bem, nós o excluímos. A busca natural do nosso bem nos coloca diante de uma escolha: a qual bem meu coração adere? “Onde está teu tesouro aí estará teu coração.”

b) Deus ou dinheiro
“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (v. 24). Deus e o dinheiro se excluem. Enquanto o Pai, por sua absoluta gratuidade, deixa-nos livres de todas as preocupações cotidianas, uma vez que se desdobra em cuidados, o dinheiro nos aprisiona. Quanto mais temos, mais queremos ter. Nessa busca desenfreada, não medimos esforços para acumular. Toda a nossa segurança e, portanto, confiança estão na conta bancária.
O dinheiro, invenção humana para representar valores, passou a ser em si mesmo um valor, a tal ponto que o próprio valor da pessoa humana passou a ser relativo: o ter é exaltado em detrimento do ser! Julga-se pelo que se tem e não pelo que se é!
Ora, o ter distancia-nos de Deus por três razões principais: 1) o ter é fruto do nosso esforço (na melhor das hipóteses), logo não é dom (gratuidade); 2) o ter embota no ser humano a imagem e semelhança de Deus, pois apaga nele a gratuidade (dom). Só o ser pode ser dom, jamais o ter; enfim, 3) o ter tira do ser humano a liberdade, portanto nega nele a filiação divina!
Com o termo “dinheiro”, Jesus quer nos alertar sobre tudo aquilo que nos escraviza, ou, em outras palavras, tudo o que nos leva a excluir Deus e os nossos irmãos de nossa vida. Assim, um elemento bastante atual que podemos associar ao termo “dinheiro”, entre outras coisas, é o eu como fruto do próprio egoísmo. Este eu, enfeitamos com qualidades que apreciamos e que os outros também apreciam. É um eu imaginário, não o nosso eu verdadeiro. Conscientes de que a exibição de um pequeno defeito de nosso eu leva os outros a não o estimar, escondemos dos outros e de nós mesmos todas as nossas fraquezas. Preocupados em embelezar o nosso eu imaginário, esquecemos o nosso eu verdadeiro. Consumimos toda a nossa vida em função desse eu que é fruto da nossa imaginação.
Assim como o dinheiro, o eu imaginário é tirânico. Sua tirania consiste em exigir de nós dedicação exclusiva e, por isso, desvia-nos de nós mesmos, dos outros e de Deus.

c) O que tem valor maior?
“A vida não é mais que o alimento, e o corpo, mais que a roupa?” (v. 25). Ocupamo-nos com tantas coisas no nosso dia a dia que acabamos invertendo o real valor das coisas. A preocupação com os alimentos nos desvia de nos atermos ao verdadeiro valor da vida; a preocupação com a roupa faz com que esqueçamos a importância do corpo: ocupamo-nos previamente com algumas coisas e negligenciamos o essencial.
Evidentemente, Jesus não está dizendo que não devemos nos preocupar com alimento e vestuário. Devemos nos ocupar também dessas coisas, mas sem jamais ater toda a nossa vida a elas. Pois se assim fizermos, vamos nos asfixiar no mundo da necessidade (trabalho, preocupações cotidianas) e não o transcenderemos para abraçar o Reino destinado aos filhos e filhas de Deus. Por ser um ser espiritual, o ser humano só se realiza transcendendo o mundo da necessidade. Somente nesse transcender podemos encontrar o real valor das coisas. Jesus apresenta o que de fato tem sentido na vida!

d) O Reino de Deus
“Os pagãos vivem preocupados com o que comer e com o que vestir. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso” (v. 32). Os pagãos de hoje são todos os que se prendem ao mundo da necessidade, os que encontram segurança no que possuem, os que estabelecem com os outros uma relação mercantil, e não uma relação de gratuidade, os que só valorizam o que for útil, os que rejeitam a Providência porque seus celeiros estão cheios, enfim, os que veem a vida como propriedade e não como dom. O Pai cuidador, porque ama gratuitamente, nos dá tudo do que precisamos. Mas de que modo Deus nos dá? Como entender sua Providência?
“Buscai o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (v. 33). Quando entendermos que a vida é dom de Deus, pura gratuidade, e, por ser assim, defendermos toda forma de vida: humana, animal e vegetal, sem impor condições, fruto dos nossos preconceitos; quando as nossas relações inter-humanas se pautarem pelo princípio da fraternidade, na qual todos são inclusos: o pobre ser convidado à mesa – do pão, da educação, da saúde, da dignidade – e o rico partilhar, e não ser escravo do dinheiro; quando, enfim, Deus for o nosso único Senhor, então nos deixaremos conduzir pela providência divina. Onde há fraternidade, onde Deus reina como único Senhor, ninguém ficará sem comida ou sem o que vestir.
Todos poderão contemplar a gratuidade divina na beleza dos lírios do campo e o cuidado de Deus com as aves do céu. Todos aprenderão o que é a gratuidade, pois experimentarão, no recebimento e na doação, a providência divina! 

Sábado VII do Tempo Comum

Evangelho (Mc 10,13-16): Algumas pessoas traziam crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos, porém, as repreenderam. Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: «Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele!». E abraçava as crianças e, impondo as mãos sobre elas, as abençoava.

«Deixai as crianças virem a mim»

Rev. D. Josep Lluís SOCÍAS i Bruguera (Badalona, Barcelona, Espanha).

Hoje, as crianças são notícia. Mais que nunca, as crianças têm muito que dizer, porém que a palavra "criança" significa "aquele que não fala". O vemos nos meios tecnológicos: eles são capazes de fazê-los funcionar, de usá-los e, até, ensinar aos adultos sua correta utilização. Já dizia um articulista que, «apesar de que as crianças não falam, elas pensam».

No fragmento do Evangelho de Marcos encontramos varias considerações. «Algumas pessoas traziam crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos, porém, as repreenderam» (Mc 10,13). Mas o Senhor, a quem no Evangelho lido nos últimos dias o vimos fazer de tudo para todos, com maior certeza se faz com as crianças. Assim, «Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus» (Mc 10,14).

A caridade é ordenada: começa pelo mais necessitado. Quem está, pois, mais necessitado, mais "pobre" do que uma criança? Todo mundo tem direito a aproximar-se a Jesus; e a criança é a primeira que gozara deste direito: «Deixai as crianças virem a mim» (Mc 10,14).

Mas vejamos que, ao acolher aos mais necessitados, nós somos os primeiros beneficiados. Por isto, o Mestre adverte: «Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele!» (Mc 10,15). E, correspondendo ao talante simples e aberto das crianças, Ele as «abraçava (...) e, impondo as mãos sobre elas, as abençoava» (Mc 10,16).

Temos de aprender a arte de acolher o Reino de Deus. Quem for como uma criança — como os antigos "pobres de Yaveh"— percebe com facilidade que tudo é um dom, tudo é uma graça. E, para "receber" o favor de Deus, ouvir e contemplar com "silêncio receptivo". Segundo São Inácio de Antioquia, «vale mais calar e ser, do que falar e não ser (...). Aquele que possui a palavra de Jesus pode também, em verdade, escutar o silêncio de Jesus».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de anteontem trazia conselhos de Jesus sobre o relacionamento dos adultos com os pequenos e excluídos (Mc 9,41-50). O evangelho de ontem trazia conselhos sobre o relacionamento entre homem e mulher, marido e esposa (Mc 10,1-12). O evangelho de hoje traz conselhos sobre o relacionamento com as mães e as crianças. Com os pequenos e excluídos Jesus pedia o máximo de acolhimento. No relacionamento homem-mulher, pedia o máximo de igualdade. Agora, com as crianças e suas mães, ele pede o máximo de ternura.

* Marcos 10,13-16: Receber o Reino como uma criança.
Trouxeram crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos tentam impedir. Por que impedem? O texto não diz. Talvez seja pelo fato de, conforme as normas rituais da época, crianças pequenas com suas mães, viverem quase constantemente na impureza legal. Tocar nelas significaria contrair impureza! Elas tocando em Jesus, ele também ficaria impuro! Mas Jesus não se incomoda com estas normas rituais da pureza legal. Ele corrige os discípulos e acolhe as mães com as crianças. Toca nelas, lhes dá um abraço dizendo: "Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas”. E ele comenta: “Eu garanto a vocês: quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele." Então Jesus abraçou as crianças e abençoou-as, pondo a mão sobre elas. O que significa esta frase? 1) A criança recebe tudo dos pais. Ela não consegue merecer o que recebe, mas vive do amor gratuito. 2) Os pais recebem a criança como um dom de Deus e cuidam dela com todo carinho. A preocupação dos pais não é dominar a criança, mas sim amá-la e educá-la, para que cresça e se realize!

* Um sinal do Reino: Acolher os pequenos e os excluídos
Há muitos sinais da presença atuante do Reino na vida e na atividade de Jesus. Um deles é a sua maneira de acolher as crianças e os pequenos. Além do episódio do evangelho de hoje, eis uma lista de alguns outros momentos de acolhida aos pequenos e crianças:

1. Acolher e não escandalizar. Uma das palavras mais duras de Jesus é contra aqueles que causam escândalo nos pequenos, isto é, que são o motivo pelo qual os pequenos deixam de crer em Deus. Para estes, melhor seria ter uma pedra de moinho amarrada no pescoço e ser jogado nas profundezas do mar (Mc 9,42; Lc 17,2; Mt 18,6).

2. Identificar-se com os pequenos. Jesus abraça as crianças e identifica-se com elas. Quem recebe uma criança, é a "mim que recebe" (Mc 9,37). “E tudo que vocês fizerem a um destes mais pequenos foi a mim que o fizeram” (Mt 25,40).

3. Tornar-se como criança. Jesus pede que os discípulos se tornem como criança e aceitem o Reino como criança. Sem isso não é possível entrar no Reino (Mc 10,15; Mt 18,3; Lc 9,46-48). Ele coloca a criança como professor de adulto! O que não era normal. Costumamos fazer o contrário.

4. Defender o direito da criança de gritar. Quando Jesus, entrando no Templo, derruba as mesas dos cambistas, são as crianças as que mais gritam. “Hosana ao filho de Davi!” (Mt 21,15). Criticadas pelos chefes dos sacerdotes e escribas, Jesus as defende e, em sua defesa, invoca até as Escrituras (Mt 21,16).

5. Agradecer pelo Reino presente nos pequenos. A alegria de Jesus é grande, quando percebe que as crianças, os pequenos, entendem as coisas do Reino que ele anunciava ao povo. “Pai, eu te agradeço!” (Mt 11,25-26) Jesus reconhece que os pequenos entendem melhor as coisas do Reino do que os doutores!

6. Acolher e curar. São muitas as crianças e jovens que ele acolhe, cura ou ressuscita: a filha do Jairo de 12 anos (Mc 5,41-42), a filha da mulher cananeia (Mc 7,29-30), o filho da viúva de Naim (Lc 7, 14-15), o menino epilético (Mc 9,25-26), o filho do Centurião (Lc 7,9-10), o filho do funcionário público (Jo 4,50), o menino dos cinco pães e dois peixes (Jo 6,9).

Para um confronto pessoal
1) Na nossa sociedade e na nossa comunidade, quem são os pequenos e os excluídos? Como está sendo o acolhimento que nós damos a eles?
2) Na minha vida, o que já aprendi das crianças sobre o Reino de Deus?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

24 de fevereiro: Festa de Nossa Senhora da Confiança.

A devoção a Nossa Senhora da Confiança surgiu na Itália há quase três séculos, vinculada à venerável Irmã Clara Isabella Fornari, monja clarissa falecida em 1744, e com processo de beatificação em andamento. Abadessa do mosteiro da cidade de Todi, a Irmã Clara foi privilegiada por Deus com graças místicas, entre as quais a de receber em seus membros os estigmas da Paixão.

Nutrindo uma devoção muito particular à Mãe de Deus, portava sempre consigo um milagroso quadro que A representa com o Menino Jesus nos braços. A essa pintura se atribuíam graças e curas muito numerosas, e já no século XVIII começaram a circular pela Itália cópias dela, dando origem à devoção à Santíssima Virgem sob o título de Mãe da Confiança.

Uma das cópias acabou por se tornar mais célebre que a original. Foi ela levada para o Seminário Maior de Roma, o principal do mundo, por ser o seminário do Papa, de onde se tornou padroeira. Todos os anos é venerada pelo próprio Pontífice, que vai visitá-la na festa da "Madonna della Fiducia", em 24 de fevereiro.

Quando o famoso quadro do Seminário Romano ali chegou, vinha acompanhado de um antigo pergaminho, que ainda se conserva, o qual traz consoladoras palavras da Irmã Clara Isabel: "A divina Senhora dignou-Se conceder-me que toda alma que com confiança se apresentar ante este quadro, experimentará uma verdadeira contrição dos seus pecados, com verdadeira dor e arrependimento, e obterá de seu diviníssimo Filho o perdão geral de todos os pecados. Ademais, essa minha divina Senhora, com amor de verdadeira Mãe, se comprouve em assegurar-me que, a toda alma que contemplar esta sua imagem, concederá uma particular ternura e devoção para com Ela".

A devoção à “Madonna della Fiducia” mostra-se particularmente benéfica quando se reza a jaculatória: "MINHA MÃE, MINHA CONFIANÇA"!

E o divino Menino, também fitando o fiel, aponta decididamente o dedo indicador para a Santíssima Virgem, como a dizer: "Coloque-se sob a proteção dela, recorra a Ela, seja inteiramente dEla, e você conseguirá chegar até Mim".

TERÇO DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA

Pai Nosso, Ave Maria e Glória.

Nas contas do Pai Nosso:
Ó Maria, em vossas mãos eu ponho esta súplica. Abençoai-a e depois apresentai-a a Jesus. Fazei valer o vossso amor de Mãe e o vosso poder de Rainha.

Nas contas da Ave Maria:
Ó Maria, eu conto com vosso auxílio, cofio em vosso poder.

No final de cada mistério:
Entrego-me à vossa vontade, tenho confiança em vossa misericórdia.  Ó Mãe de Deus e minha Mãe, rogai por mim.

No final do terço:
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, vós sois o nosso perpétuo socorro. Valei-nos; nós confiamos em vós.
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, vós sois a consoladora dos aflitos. Valei-nos; nós confiamos em vós.
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, vós sois o auxílio dos cristãos. Valei-nos; nós confiamos em vós.

Sexta-feira da 7ª semana do Tempo Comum

Nossa Senhora da Confiança
24 de fevereiro
Evangelho (Mc 10,1-12): Jesus se pôs a caminho e foi dali para a região da Judeia, pelo outro lado do rio Jordão. As multidões mais uma vez se ajuntaram ao seu redor, e ele, como de costume, as ensinava. Aproximaram-se então alguns fariseus e, para experimentá-lo, perguntaram se era permitido ao homem despedir sua mulher Jesus perguntou: «Qual é o preceito de Moisés a respeito?». Os fariseus responderam: «Moisés permitiu escrever um atestado de divórcio e despedi-la». Jesus então disse: «Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés escreveu este preceito. No entanto, desde o princípio da criação Deus os fez homem e mulher. E os dois formarão uma só carne; assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!».  Em casa, os discípulos fizeram mais perguntas sobre o assunto. Jesus respondeu: «Quem despede sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se uma mulher despede seu marido e se casar com outro, comete adultério também».

«Como de costume, as ensinava»

Rev. D. Miquel VENQUE i To (Barcelona, Espanha)

Hoje, Senhor, gostaria de fazer um momento de oração para te agradecer os teus ensinamentos. Tu ensinavas com autoridade e fazia-lo sempre que te deixávamos, aproveitavas todas as ocasiões: claro! Compreendo-te, a tua missão básica era transmitir a Palavra do Pai. E assim o fizeste.

Hoje, “pendurado” na Internet digo-te: Fala-me, quero fazer um momento de oração como fiel discípulo. Em primeiro lugar, queria pedir-te capacidade para aprender o que nos ensinas e em segundo, para saber ensiná-lo. Reconheço que é muito fácil cometer o erro de fazer-te dizer coisas que Tu não disseste e, com ousadia malévola, tentar que Tu digas aquilo que eu gosto. Reconheço que provavelmente sou mais duro de coração que esses ouvintes.

Eu conheço o teu Evangelho, o Magistério da Igreja, o Catecismo, e recordo aquelas palavras do Papa João Paulo II, na Carta às Famílias: «O projeto do utilitarismo assente numa liberdade orientada segundo o sentido individualista, quer dizer, uma liberdade vazia de responsabilidade, é o constitutivo da antítese do amor». Senhor, rompe o meu coração desejoso de felicidade utilitarista e faz-me entrar na tua verdade divina, que tanto necessito.

Neste local de observação, como desde o cimo da montanha, compreendo que Tu digas que o amor matrimonial é definitivo, que o adultério — apesar de ser pecado como toda a ofensa grave cometida contra ti, que és o Senhor da Vida e do Amor — é um caminho errado para a felicidade: «Quem despede sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira» (Mc 10,11).

Recordo um jovem que dizia: «Mossèn o pecado promete muito, não dá nada e rouba tudo». Que eu te compreenda bom Jesus, e que o saiba explicar: Aquilo que Tu uniste, o homem não o pode separar (cf. Mc 10,9). Fora daqui, fora dos teus caminhos, não encontrarei a autêntica felicidade. Jesus ensina-me de novo!

Obrigado Jesus, sou duro de coração, mas sei que tens razão.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de ontem trazia conselhos de Jesus sobre o relacionamento entre adultos e crianças, entre os grandes e os pequenos da sociedade. O evangelho de hoje traz conselhos sobre como deve ser o relacionamento entre homem e mulher, entre marido e mulher.

* Marcos 10,1-2: A pergunta dos fariseus: “o marido pode mandar a mulher embora?”
A pergunta é maliciosa. Ela pretende colocar Jesus à prova: “É lícito a um marido repudiar sua mulher?” Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois do contrário os fariseus não iriam interrogá-lo sobre este assunto. Não perguntam se é lícito a esposa repudiar o marido. Isto nem passava pela cabeça deles. Sinal claro da forte dominação machista e da marginalização da mulher na sociedade daquele tempo.

* Marcos 10,3-9: A resposta de Jesus: o homem não pode repudiar a mulher.
Em vez de responder, Jesus pergunta: “O que diz a lei de Moisés?” A lei permitia o homem escrever uma carta de divórcio e repudiar sua mulher. Esta permissão revela o machismo. O homem podia repudiar a mulher, mas a mulher não tinha este mesmo direito. Jesus explica que Moisés agiu assim por causa da dureza de coração do povo, mas a intenção de Deus era outra quando criou o ser humano. Jesus volta ao projeto do Criador e nega ao homem o direito de repudiar sua mulher. Ele tira o privilégio do homem frente à mulher e pede o máximo de igualdade entre os dois.

* Marcos 10,10-12: Igualdade homem e mulher.
Em casa, os discípulos fazem perguntas sobre este assunto. Jesus tira as conclusões e reafirma a igualdade de direitos e deveres entre homem e mulher. Ele propõe um novo tipo de relacionamento entre os dois. Não permite o casamento em que o homem pode mandar a mulher embora, nem vice-versa. O evangelho de Mateus acrescenta um comentário dos discípulos sobre este assunto. Eles dizem: “Se a situação do homem com a mulher é assim, então é melhor não se casar” (Mt 19,10). Preferem não casar, a casar sem o privilégio de poder continuar mandando na mulher e sem o direito de poder pedir divórcio caso ela não lhe agradar mais. Jesus vai até o fundo da questão e diz que há somente três casos em que se permite uma pessoa não casar: "Nem todos entendem isso, a não ser aqueles a quem é concedido. De fato, há homens castrados, porque nasceram assim; outros, porque os homens os fizeram assim; outros, ainda, se castraram por causa do Reino do Céu. Quem puder entender, entenda" (Mt 19,11-12). Os três casos são: “(1) impotência, (2) castração e (3) por causa do Reino. Não casar só porque o homem se recusa a perder o domínio sobre a mulher, isto, a Nova Lei do Amor já não o permite! Tanto o casamento como o celibato, ambos devem estar a serviço do Reino e não a serviço de interesses egoístas. Nenhum dos dois pode ser motivo para manter o domínio machista do homem sobre a mulher. Jesus modificou o relacionamento homem-mulher, marido-esposa.

Para um confronto pessoal
1) Na minha vida pessoal, como vivo o relacionamento homem-mulher?
2) Na vida da minha família e da minha comunidade, como está sendo o relacionamento homem-mulher?