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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Quinta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

 
Evangelho (Mt 13,47-53): Naquele tempo, disse Jesus ao povo: «Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que pegou peixes de todo tipo. Quando ficou cheia, os pescadores puxaram a rede para a praia, sentaram-se, recolheram os peixes bons em cestos e jogaram fora os que não prestavam. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isso?» — «Sim», responderam eles. Então Ele acrescentou: «Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.

Comentário: Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)

Recolhem em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta

Hoje, o Evangelho constitui uma chamada vital à conversão. Jesus não nos poupa da dura realidade: «Os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo» (Mt 13,49-50). E a advertência é clara! Não podemos fraquejar.

Agora devemos optar livremente: ou buscamos a Deus e ao bem com todas as nossas forças, ou colocamos nossa vidas à beira da morte. Ou estamos com Cristo ou estamos contra Ele. Converter-se significa, nesse caso, optar totalmente por fazer parte do grupo dos justos e levar uma vida digna de filhos. Porém, temos em nosso interior a experiência do pecado: sabemos o bem que deveríamos fazer, mas fazemos o mal; como podemos dar uma verdadeira unidade às nossas vidas? Sozinhos, não podemos fazer muito. Somente se nos colocamos nas mãos de Deus podemos fazer algum bem e pertencer ao grupo dos justos.

«Por não sabermos quando virá nosso Juiz, devemos viver cada dia como se não houvesse o dia seguinte» (São Jerônimo). Essa frase é um convite a viver com intensidade e responsabilidade nossa vida cristã. Não se trata de ter medo, mas sim de viver com esperança esse tempo de graça, louvor e glória.

 Cristo nos ensina o caminho para nossa própria glorificação. Cristo é o caminho, portanto, nossa salvação, nossa felicidade e tudo o que possamos imaginar passa por Ele. E se tudo o temos em Cristo, não podemos deixar de amar a Igreja que nos o apresenta e é seu corpo místico. Contra as visões puramente humanas dessa realidade é necessário que recuperemos a visão divino-espiritual: nada melhor do que Cristo e o cumprimento de sua vontade!

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

 * O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.

 * Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar
"O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”.   A história contada é bem conhecida do povo da Galileia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).

* Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola
Jesus aplica a parábola, ou melhor, dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes." Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava Geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da Geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo

* Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábolas
No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Eles responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:

(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas".  A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.

(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia, portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a ideia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. . O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!

Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?

terça-feira, 30 de julho de 2013

Obediência é escuta que liberta


Nas leituras, «aparece três vezes a palavra “obedecer”: fala-se da obediência. A primeira vez, quando Pedro responde “é preciso obedecer a Deus e não aos homens”» diante do sinédrio, como referem os Atos dos Apóstolos (5, 27-33).
O que significa  «obedecer a Deus? Significa que devemos ser como escravos, todos amarrados? Não, porque exatamente quem obedece a Deus é livre, não é escravo! E como se faz? Obedeço, não faço a minha vontade e sou livre? Parece uma contradição. Mas não é uma contradição».
De fato «obedecer vem do latim e significa escutar, ouvir o outro. Obedecer a Deus é escutá-Lo, ter o coração aberto para ir pela senda que Deus nos indica. A obediência a Deus é escutar Deus. E isto torna-nos livres».
«Diante destes escribas, sacerdotes e também do sumo sacerdote, dos fariseus» foi chamado a «tomar uma decisão». Pedro «ouvia o que os fariseus e os sacerdotes diziam, e ouvia o que Jesus dizia no seu coração: “o que faço?”. Disse: “Faço o que me diz Jesus, e não o que quereis que eu faça”. E assim foi em frente».
«Na nossa vida ouvimos também certas propostas que não vêm de Jesus, nem de Deus. Pode-se entender: as nossas debilidades às vezes levam-nos por este caminho. Ou também por outro que é ainda mais perigoso: estabelecemos um acordo, um pouco de Deus e um pouco de vós. Fazemos um acordo e assim continuamos com uma dupla vida: um pouco a vida daquilo que ouvimos de Jesus e um pouco a vida do que escutamos do mundo, os poderes do mundo e muito mais». Mas não é um «bom» sistema. De fato «no livro do Apocalipse, o Senhor diz: isto não é bom, porque assim não sois maus nem bons: sois tíbios. Condeno-vos». 
Se Pedro tivesse dito aos sacerdotes: “falemos como amigos e estabeleçamos um status vivendi”, talvez tivesse corrido bem». Mas não teria sido uma escolha própria «do amor que vem quando ouvimos Jesus». Uma escolha que tem consequências. «O que acontece quando escutamos Jesus? Às vezes os que nos fazem outra proposta enraivecem-se e a estrada acaba na perseguição. Neste momento temos muitas irmãs e irmãos que para obedecer, ouvir, escutar o que Jesus lhes pede estão sob perseguição. Recordemos sempre estes irmãos e irmãs que puseram a carne ao fogo e nos dizem com a própria vida: “Quero obedecer, ir pelo caminho que Jesus me indica”».
Hoje, «a Igreja convida-nos» a «ir pela senda de Jesus» e a «não ouvir as propostas que o mundo nos faz, propostas de pecado ou tíbias, a meias»: trata-se, reafirmou, de um modo de viver que «não é bom» e «não nos fará felizes».
Nesta escolha de obediência a Deus e não ao mundo, sem ceder a acordos, o cristão não está sozinho. «Onde encontramos a ajuda para ir pela estrada do ouvir Jesus? No Espírito Santo. Somos testemunhas desses fatos: foi o Espírito Santo que Deus doou aos que o obedecem». Portanto, disse, «é precisamente o Espírito Santo dentro de nós que nos dá força para continuar».
O Evangelho de João (3, 31-36), com uma bonita expressão, garante: «“Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus: Ele dá o Espírito incomensuravelmente”. O nosso Pai dá-nos o Espírito, sem medidas, para escutar Jesus, ouvir Jesus e ir pela senda de Jesus».Peçamos a graça da coragem.
Teremos sempre pecados: somos todos pecadores». Mas serve «a coragem de dizer: “Senhor, sou pecador, às vezes obedeço às coisas mundanas mas quero obedecer a ti, quero caminhar pela tua vereda”. Peçamos esta graça, de ir sempre pela estrada de Jesus. E quando não o fizermos, peçamos perdão: O Senhor perdoa-nos, porque Ele é muito bom».
Papa Francisco

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 13,44-46): Naquele tempo, Jesus disse às pessoas: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola».

Comentário: Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)

Vai vender todos os seus bens e compra aquele campo

 Hoje, Mateus põe à nossa consideração duas parábolas sobre o Reino dos Céus. O anúncio do Reino é essencial na prédica de Jesus e na esperança do povo eleito. Mas é notório que a natureza desse Reino não era entendida pela maioria. Não a entendia o sinédrio que o condenaram à morte, não a entendiam Pilatos, nem Herodes, também não a entenderam de início os próprios discípulos. Só se encontra uma compreensão como a que Jesus pede ao bom ladrão, cravado junto dele na Cruz, quando lhe diz: «Jesus, Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). Ambos tinham sido acusados como malfeitores e estavam quase a morrer; mas, por um motivo que desconhecemos, o bom ladrão reconhece Jesus como Rei de um Reino que virá depois daquela terrível morte. Só podia ser um Reino espiritual.

Jesus, na sua primeira prédica, fala do Reino como um tesouro escondido cuja descoberta causa alegria e estimula à compra do campo para poder gozar dele para sempre: «cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo» (Mt 13,44). Mas, ao mesmo tempo, alcançar o Reino requer procurá-lo com interesse e esforço, ao ponto de vender tudo o que se possui: «Ao encontrar uma de grande valor, ele vai vende todos os bens e compra aquela pérola» (Mt 13,46). «A propósito de que se diz buscai e quem busca. Encontra? Arrisco a ideia de que se trata das perolas e a pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo» (Orígenes).

O Reino é de paz, amor justiça e liberdade. Alcançá-lo é, por um lado, dom de Deus e por outro lado, responsabilidade humana. Diante da grandeza do dom divino constatamos a imperfeição e instabilidade dos nossos esforços, que às vezes ficam destruídos pelo pecado, as guerras e a malicia que parecem insuperáveis. Não obstante, devemos ter confiança, pois o que parece impossível para o homem é possível para Deus.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas. As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.

* Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo
Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri:
(1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondida. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta.
(2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando.
(3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo!
(4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor.
(5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas.
O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as conseqüências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto. 

* Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas
A segunda parábola é semelhante à primeira mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri:
(1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca.
(2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixa enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria.
(3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.
*Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.
 
 Para um confronto pessoal
1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?
2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?

 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Terça-feira da 17ª Semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 13,36-43): Naquele tempo, Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Explica-nos a parábola do joio». Ele respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos.  Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça».

Comentário: Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Rubí, Barcelona, Espanha)

Explica-nos a parábola do joio

Hoje, com a parábola do joio e do trigo, a Igreja nos convida a meditar sobre a convivência do bem e do mal. O bem e o mal dentro do nosso coração; o bem e o mal que vemos em outros, que vemos existir neste mundo.

«Explica-nos a parábola» (Mt 13,36), pedem os discípulos a Jesus. E nós, hoje, podemos fazer o propósito de ter mais cuidado com a nossa oração pessoal, com o nosso trato cotidiano com Deus. Senhor, podemos dizer-lhe, explique-me por que não avanço suficientemente em minha vida interior. Explique-me como posso lhe ser mais fiel, como posso buscar-lhe em meu trabalho, ou através dessa circunstância que não entendo, ou não quero. Como posso ser um apóstolo qualificado. A oração é isso, pedir explicações a Deus. Como é minha oração? É sincera? É constante? É confiante?

Jesus Cristo nos convida a ter os olhos fixos no céu, nossa morada eterna. Freqüentemente, vivemos enlouquecidos pela pressa, e quase nunca nos detemos para pensar que um dia próximo ou não, não o sabemos deveremos prestar contas a Deus de nossa vida, de como temos feito frutificar as qualidades que Ele nos tem dado. E o Senhor nos diz que no fim dos tempos haverá uma triagem. Devemos ganhar o Céu na terra, no dia-a-dia, sem esperar situações que possivelmente nunca virão. Devemos viver heroicamente o que é ordinário, o que aparentemente não possui nenhuma transcendência. Viver pensando na eternidade e ajudar os outros a pensar nela!: paradoxalmente, «esforça-se para não morrer o homem que há de morrer; e não se esforça para não pecar o homem que há de viver eternamente» (São João de Toledo).

Colheremos o que houvermos semeado. Devemos lutar para dar 100% hoje. Para que quando Deus nos chame a sua presença Lhe apresentemos as mãos cheias: de atos de fé, de esperança, de amor. Que se concretizam em coisas muito pequenas e em pequenos vencimentos que, vividos diariamente, nos fazem mais cristãos, mais santos, mais humanos.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz a explicação que Jesus, a pedido dos discípulos, deu da parábola do joio e do trigo. Alguns estudiosos acham que esta explicação, dada por Jesus aos discípulos, não seja de Jesus, mas sim da comunidade. É possível e provável, pois uma parábola, por sua própria natureza, pede o envolvimento e a participação das pessoas na descoberta do sentido. Assim como a planta já está dentro da sua semente, assim, de certo modo, a explicação da comunidade já está dentro da parábola. É exatamente este o objetivo que Jesus queria e ainda quer alcançar com a parábola. O sentido que nós hoje vamos descobrindo na parábola que Jesus contou dois mil anos atrás já estava implicado na história que Jesus contou, como a flor já está dentro da sua semente.

* Mateus 13,36: O pedido dos discípulos para explicar a parábola do joio e do trigo
Os discípulos, em casa conversam com Jesus e pedem uma explicação da parábola do joio e do trigo (Mt 13,24-30). Várias vezes se informa que Jesus, em casa, continuava o seu ensinamento aos discípulos (Mc 7,17; 9,28.33; 10,10). Naquele tempo não havia televisão e nas longas horas das noites do inverno o povo reunia para conversar e tratar dos assuntos doa vida. Jesus fazia o mesmo. Era nestas ocasiões que ele completava o ensinamento e a formação dos discípulos.

* Mateus 13,38-39: O significado de cada um dos elementos da parábola
Jesus responde retomando cada um dos seis elementos da parábola e lhes dá um sentido: o campo é o mundo; a boa semente são os membros do Reino; o joio são os membros do adversário (maligno); o inimigo é o diabo; a colheita é o fim dos tempos; os ceifadores são os anjos. Experimente você agora ler de novo a parábola (Mt 13,24-30) colocando o sentido certo em cada um dos seis elementos: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Aí, a história toma um sentido totalmente diferente e você alcança o objetivo que Jesus tinha em mente ao contar esta história do joio e do trigo ao povo. Alguns acham que esta parábola que deve ser entendida como uma alegoria e não como uma parábola propriamente dita.

* Mateus 13,40-43: A aplicação da parábola ou da alegoria
Com estas informações dadas por Jesus você entenderá a aplicação que ele dá: Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”. O destino do joio é a fornalha, o destino do trigo bom é o brilho do sol no Reino do Pai. Por de trás destas duas imagens está a experiência das pessoas. Depois que elas escutaram Jesus e o aceitaram em suas vidas, tudo mudou para elas. O fim chegou. Ou seja, em Jesus chegou aquilo que, no fundo, todos esperavam: a realização das promessas. A vida agora se divide em antes e depois que escutaram e aceitaram Jesus em suas vidas. A nova vida começou como o brilho do sol. Se tivessem continuado a viver como antes, seriam como o joio jogado na fornalha, vida sem sentido e sem serventia para nada.

* Parábola e Alegoria.
Existe a parábola. Existe a alegoria. Existe a mistura das duas que é a forma mais comum. Geralmente tudo é chamado de parábola. No evangelho de hoje temos o exemplo de uma alegoria. Uma alegoria é uma história que a pessoa conta, mas enquanto conta, ela não pensa nos elementos da história, mas sim no assunto que deve ser esclarecido. Ao ler uma alegoria não é necessário olhar primeiro a história como um todo, pois numa alegoria a história não se constrói em torno de um ponto central que depois serve como meio de comparação. mas cada elementos tem a sua função independente a partir do sentido que recebe. Trata-se de descobrir o que cada elemento das duas histórias nos tem a dizer sobre o Reino como fez a explicação que Jesus deu da parábola: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Geralmente, as parábolas são alegorizantes. Mistura das duas.

Para um confronto pessoal
1) No campo existe tudo misturado: joio e trigo. No campo da minha vida, o que prevalece: o joio ou o trigo?
2) Você já tentou conversar com outras pessoas para descobrir o sentido de alguma parábola?

domingo, 28 de julho de 2013

A ORAÇÃO

Era uma vez um amigo, que tinha um amigo, que por sua vez tinha outro amigo… E esta bem podia ser a história de três amigos, à volta de três pães, numa noite, de surpresas e incômodos! Mas é uma parábola, sobre a oração! Nela Jesus vinca muito mais a certeza de ser atendido pelo amigo, do que a insistência de quem pede. Jesus quer falar-nos de Deus, de seu Pai, e de como Ele se porta e comporta conosco, quando batemos à porta trancada! À luz da parábola, permitam-me dez sugestões na ementa, antes de pedirem o que querem sobre a mesa. São dez provocações, para uma verdadeira arte de rezar e de pedir.

1. Não tenhas medo, nem vergonha de pedir ou de suplicar, na tua oração. Afinal Tu és um ser incompleto, uma criatura frágil, que clama, chama e reclama a atenção amorosa de alguém. Estás tu bem consciente de quem sem Deus, nada podes alcançar! Pedir é colocares-te na posição correta, diante de Deus! Afinal todo «o homem é um pobre, que tudo precisa pedir a Deus» (Santo Cura d’Ars)!

2. Não rezarás nem pedirás seja o que for a Deus, com o medo infantil de um estranho que se dirige a outro Ser ainda mais estranho. Atreve-te a pedir a Deus, como um «pobre amigo» a um «rico amigo», com quem tens toda a intimidade e confiança! «A Oração é afinal um tratado de amizade, com Aquele que sabemos que nos ama»! (Santa Teresa de Ávila)!

3. Não rezarás nem pedirás, como um escravo ou ceguinho, medroso do seu senhor, que permanece um eterno desconhecido. Pedirás, humilde e confiante, como um filho a um Pai, que conhece as tuas necessidades, antes de as confessares, mesmo se não reconhece algumas das tuas necessidades artificiais.

4. Não rezes, apresentando a Deus, com petulância, os teus pedidos, como se tivesses de instruir a sua ignorância, explicando-lhe, com detalhes, tudo quando, quanto, como e o que deve fazer! “Quanto menos palavras, mais perfeita é a oração” (Lutero)!

5. Não cairás na tentação, que te leva a crer que Deus está às tuas ordens, ao teu serviço, e à tua disposição, pronto a atender a todos os teus humanos caprichos! Se rezas, é para pedir a Deus, não o que tu queres, mas o que Deus quer, e assim conformares os teus desejos à vontade de Deus. A oração é assim uma oficina do desejo! Pedirás “não o que te irrompe o coração, mas o que rompe o coração de Deus”! (Margaret Gibb).

6. Não reduzirás a tua oração e os teus pedidos a Deus, a momentos aflitivos de urgência ou de emergência, mas acordarás tu para Deus, que te está presente no quotidiano da tua vida, sempre e em toda a parte! Não rezes, portanto, para «acordares» ou «recordares a Deus» alguma coisa. Reza para te acordares e te despertares, tu que dormes, e assim a luz de Cristo, brilhará na noite da tua indigência” (cf. Ef. 5,14)!

7. Não desconfiarás nunca do interesse de Deus por ti. Deus quer escutar-te e não deseja senão escutar-te. Não tentes forçá-lo a ouvir-te, quando Ele o faz sem cessar. Não queiras tê-lo à mão. Ele leva-te e eleva-te sempre mais além de Ti. A Oração é como um raio laser, que concentra a mente e dilata a alma! Se Deus te demora a responder, é para que, entretanto, a tua alma se dilate, para receberes tudo o que ele tem para te dar, em tempo oportuno.

8. Não digas nunca que Deus não te ouve, que não atende o teu pedido. “O que se passa é que Ele te lança o desafio, de viveres agora a vida, de modo diferente”. (J. Chittister). No seu silêncio, Deus dir-te-á: «continua o caminho, as dificuldades são as mesmas. Mas agora irás enfrentá-las, com a minha força».

9. Não peças nada a Deus, que tu próprio possas, responsavelmente, alcançar. Não peças nada a Deus, que tu próprio devas dar. Não lhe peças senão o essencial pão de cada dia, o perdão dos pecados e auxílio na luta. Ou melhor, de Deus, espera apenas Deus! Deseja a Deus, sobre todas as coisas, mais do que todas as coisas, que lhe pedes! Olha que “se vertem mais lágrimas, pelas preces atendidas, do que pelas preces não correspondidas” (Santa Teresa de Ávila).

10. Não julgues saber com clareza o que pedir, na oração! Pede, em primeiro lugar, o Espírito Santo, o dom de Deus, essa pessoal e divina prenda, que ultrapassa todas as coisas boas, que possas pedir ou imaginar. Ele vem em auxílio da tua fraqueza (cf. Rom.8,26). Reza em ti e intercederá por ti, para pedires o que mais convém: a glória do nome de Deus, a vinda do seu reino, a começar dentro de ti e a irradiar a partir de ti, à tua volta!

E eu dir-te-ia, para terminar, pensando ainda na parábola dos três amigos: vale mais ter a Deus como companheiro de viagem, do que um desconto no bilhete! Quem a Deus tem, nada lhe falta! Nestes dias, faz da tua oração «a chave da manhã e o ferrolho da noite» (Gandi)! Mantém-te desperto, que «a oração é realmente uma história de amigos inoportunos» (cf. A. Maillot)!

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA SEGUNDA-FEIRA DA XVII SEMANA DO TEMPO COMUM.

Segunda-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 13,31-35): Naquele tempo Jesus apresentou-lhes outra parábola ainda: «O Reino dos Céus é como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior que as outras hortaliças e torna-se um arbusto, a tal ponto que os pássaros do céu vêm fazer ninhos em seus ramos». E contou-lhes mais uma parábola: «O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até que tudo ficasse fermentado». Jesus falava tudo isso em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar de parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: «Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo».

Comentário: Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca (Les Fonts del Vallès, Barcelona, Espanha)

Nada lhes falava sem usar de parábolas

Hoje, o Evangelho apresenta-nos Jesus predicando aos seus discípulos. E o faz do jeito que nele é habitual, através das parábolas, quer dizer, empregando imagens simples e comuns para explicar os grandes mistérios escondidos do Reino. Assim todo mundo podia entender, desde as pessoas com maior formação até as menos formadas.

«O Reino dos Céus é como um grão de mostarda...» (Mt 13,31). Os grãos de mostarda não se vêem, são muito pequenos, mas se temos cuidado deles e os regamos... Acabam se tornando em grandes árvores. «O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha...» (Mt 13,33). O fermento não se vê, mas se não estivesse aí, a massa não subiria. Assim também é a vida cristã, a vida da graça: não se percebe no exterior, não faz barulho, mas... Se você deixa que se introduza no seu coração, a graça divina vai fazendo frutificar a semente e transformando assim às pessoas pecadoras em santas.

Esta graça divina dá-se nos pela fé, pela oração, pelos sacramentos, pela caridade. Mas a vida da graça é, sobretudo, um dom que devemos esperar e desejar com humildade. Um dom que sábios e eruditos deste mundo não sabem valorar, mas que Deus Nosso Senhor quer fazer chegar aos humildes e simples.

Tomara que quando nos procure, encontre-nos não no grupo dos orgulhosos, mas naquele dos humildes, que se reconhecem fracos e pecadores, mas muito agradecidos e confiando na bondade do Senhor. Assim, o grão de mostarda chegará a ser uma grande árvore; assim o fermento da Palavra de Deus dará em nós frutos de vida eterna. Porque, «quanto mais se abaixa o coração pela humildade, mais se levanta até a perfeição» (São Agostinho).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Estamos meditando o Sermão das Parábolas, cujo objetivo é revelar, por meio de comparações, o mistério do Reino de Deus presente na vida do povo. O evangelho de hoje traz duas pequenas parábolas, da semente de mostarda e do fermento. Nelas Jesus conta duas histórias tiradas da vida de cada dia que vão servir como meio de comparação para ajudar o povo a descobrir o mistério do Reino. Ao meditar estas duas histórias não se deve logo querer descobrir o que cada elemento das histórias nos tem a dizer sobre o Reino. Antes disso, se deve olhar, primeiro, a história em si mesma como um todo e procurar descobrir qual o ponto central em torno do qual a história foi construída, pois é este ponto central que servirá como meio de comparação para revelar o Reino de Deus. Vamos ver qual o ponto central das duas parábolas.

* Mateus 13,31-32: A parábola da semente de mostarda
Jesus diz: "O Reino do Céu é como uma semente de mostarda“ e, em seguida, ele conta a história: uma semente bem pequena é lançada no campo; mesmo sendo pequena, ela cresce, fica maior que as outras plantas e chega a atrair os passarinhos para fazer nela seus ninhos. Jesus não explica a história. Aqui vale o que ele disse em outra ocasião: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça!” Ou seja: “É isso. Vocês ouviram e agora tratem de entender!” Compete a nós descobrir o que esta história nos revela sobre o Reino de Deus presente em nossas vidas. Assim, por meio desta história da semente de mostarda Jesus provoca nossa fantasia, pois cada um de nós entende algo de semente. Jesus espera que as pessoas, nós todos, comecemos a partilhar o que cada um descobriu. Partilho aqui três pontos que descobri sobre o Reino a partir desta parábola:
(1) Jesus diz: "O Reino do Céu é como uma semente de mostarda“. O Reino não é algo abstrato, não é uma ideia. É uma presença no meio de nós (Lc 17,21). Como é esta presença? Ela é como a semente de mostarda: presença bem pequena, humilde, que quase não se vê. Trata-se do próprio Jesus, um pobre camponês carpinteiro, andando pela Galileia, falando do Reino ao povo das aldeias. O Reino de Deus não segue os critérios dos grandes do mundo. Tem outro modo de pensar e de proceder.
(2) A parábola evoca uma profecia de Ezequiel, onde se diz que Deus vai pegar um pequeno broto de cedro e plantá-lo nas alturas da montanha de Israel. Este pequeno broto de cedro ”vai soltar ramos e produzir frutos, e se transformará num cedro gigante. Os passarinhos farão nele seus ninhos, e os pássaros se abrigarão à sombra de seus ramos E todas as árvores do campo saberão que sou eu, Javé, que rebaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa, seco a árvore verde e faço brotar a árvore seca. Eu, Javé, falo e faço". (Ez 17,22-23).
(3) A semente de mostarda, mesmo sendo pequena, cresce e suscita esperança. Como a semente de mostarda, assim o Reino tem uma força interior e cresce. Cresce como? Cresce através da pregação de Jesus e dos discípulos e discípulas nos povoados da Galileia. Cresce, até hoje, através do testemunho das comunidades e se torna uma boa notícia de Deus que irradia e atrai o povo. A pessoa que chega perto da comunidade, se sente acolhida, em casa, e faz nela seu ninho, a sua morada.
No fim, a parábola deixa uma pergunta no ar: quem são os passarinhos? A pergunta vai ter resposta mais adiante no evangelho. O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar no Reino (Mt 15,21-28).

* Mateus 13,33: A parábola do fermento
A história da segunda parábola é esta: uma mulher pega um pouco de fermento e o mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado. Novamente, Jesus não explica. Só diz: "O Reino do Céu é como o fermento...”. Como na primeira parábola, fica por nossa conta de descobrir o significado para nós hoje. Partilho alguns pontos que descobri e me fizeram pensar:
(1) O que cresce não é o fermento, mas sim a massa.
(2) Trata-se de uma coisa bem caseira, do trabalho da mulher em casa.
(3) Fermento tem algo de podre que é misturado na massa pura da farinha.
(4) O objetivo é fazer levedar a massa toda e não apenas uma parte.
(5) Fermento não tem finalidade em si mesma, mas serve apenas para fazer crescer a massa.

* Mateus 13,34-35: Por que Jesus fala em parábolas.
Aqui, no fim do Sermão das Parábolas, Mateus traz um esclarecimento sobre o motivo que levava Jesus a ensinar o povo em forma de parábolas. Ele diz que era para se cumprir a profecia que dizia: "Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo". Na realidade, o texto citado não é de um profeta, mas de um salmo (Sl 78,2). É que para os primeiros cristãos todo o Antigo Testamento era uma grande profecia a anunciar veladamente a vinda do Messias e a realização das promessas de Deus. Em Marcos 4,34-34, o motivo que levava Jesus a ensinar o povo por meio de parábolas era para adaptar a mensagem à capacidade do povo. Por serem exemplos tirados da vida do povo, Jesus ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava a vida transparente. Fazia perceber que o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus. No fim do Sermão das Parábolas, em Mateus 13,52, como ainda veremos, vai ser dado outro motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas.

Para um confronto pessoal
1. Qual o ponto destas duas parábolas de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2. Qual a semente que, sem você se dar conta, cresceu em você e na sua comunidade?

XVII Domingo do Tempo Comum

«Ensina-nos a orar»

A caminho de Jerusalém, com o propósito de cumprir o plano do Pai e de amadurecer os discípulos na fé, Jesus fala de um tema fulcral para o cristão: a oração. Os discípulos já tinham visto Jesus rezar muitas vezes, mas hoje Jesus desvenda-lhes o conteúdo da sua oração, põe a descoberto a sua intimidade com Deus que revela como Abbá, Paizinho! Quem se sabe filho, não se sente nunca inoportuno porque encontrará um Pai sempre disponível, mesmo fora de horas, mesmo quando todos os outros descansam. E como filhos podemos atrever-nos a pedir até o seu próprio Espírito de Pai, que nos transformará definitivamente em filhos.

EVANGELHO: Lc 11,1-13 - Naquele tempo, estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’». Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa. Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».

PALAVRA

Naquele tempo, estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos».
Jesus está em oração, como em tantas outras ocasiões. O Filho de Deus, está em oração! A caminho de Jerusalém, ao encontro da vontade do Pai, do seu projeto, Jesus vai formando os discípulos, vai fortalecendo a sua fé com palavras e gestos. Tantas outras vezes os discípulos tinham visto Jesus rezar, tinham presenciado o seu modo de rezar, mas nunca tinham tido acesso aos sentimentos de Jesus na oração. Hoje, Jesus vai mostrar-lhes o maior dos tesouros: Deus é Pai! Como é importante orar! A minha fé, a minha caridade, a minha esperança, medem-se pela importância que dou à oração. Não tenho tempo para ir a um espaço próprio!? “Um certo lugar” qualquer, era suficiente para Jesus... Não sei rezar? Serve-te das palavras de Jesus, interioriza-as e encontrarás o abraço que precisas do Pai.

Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino…
Os evangelhos apresentam-nos Jesus sempre próximo das pessoas, dos seus sofrimentos, fortalecendo a sua fé, amadurecendo-as no verdadeiro seguimento. Provavelmente, o gesto e as palavras de Jesus, nesta oração, são das mais importantes, das mais belas e decisivas para os discípulos naquele dia e para mim e para ti, hoje! Deus é Pai! Sim, Deus é Pai! Porque desconfiamos, então, das suas intenções a nosso respeito? Porque temos receio que venha a nós o seu reino? Porque continuamos a rezar-lhe como se Ele estivesse tão longe de nós, e desenquadrado do que só o nosso coração sente? Deus é Pai! Como isto é importante! Deus está à nossa disposição como Pai e não como ‘curandeiro’, para nos satisfazer os mais pequenos caprichos. Deus é Pai. Ele conhece-nos, sabe os anseios do coração dos filhos. Entrega-te, com confiança, nos braços do Pai.

… dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’».
Pedir, todos os dias, o pão da nossa subsistência, ao Pai, recorda-nos que é das suas mãos que recebemos as graças. É o Pai que alimenta os filhos. Alimenta o corpo e o espírito. Se o nosso corpo necessita ser alimentado, todos os dias e várias vezes ao dia, também a nossa relação com o Pai deve ser alimentada, todos os dias e várias vezes ao dia, com o risco de perecermos! E o nosso grande pecado é, precisamente, renunciarmos a viver como filhos e como irmãos. Por isso necessitamos pedir perdão ao Pai, quando não agimos como verdadeiros filhos e desculpar o irmão, quando não se comporta como verdadeiro irmão. Quantas vezes somos tentados, só num dia, a abandonar o Pai e o irmão? É essa, de facto, a grande tentação do cristão. Abraça o Pai, pois és filho. Abraça o irmão, pois és irmão.

Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa.
Para melhor fazer compreender aos discípulos a necessidade e a força da oração, Jesus serviu-se da lei da hospitalidade judaica que não deixava de atender os amigos hóspedes. Se alguém se sacrifica quanto pode para fazer um serviço a um amigo que se encontra em necessidade, que não fará Deus Pai, por nós? Ele, na sua bondade infinita, no seu amor de Pai, atenderá gratuitamente as nossas necessidades, não porque nos possamos tornar incômodos, mas porque é Pai e, como tal, atento a quanto necessitamos. No entanto, desconfiamos deste Pai; ao encontrarmos a porta fechada não nos atrevemos a bater ou a chamar… achamos que não nos ouvirá! No entanto, Deus está disposto a “levantar-se” e a ‘dar-nos tudo aquilo de que precisamos’, como filhos. Que bom é o nosso Pai!

Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á.
Não poucas vezes andamos angustiados, desesperados, porque os nossos muitos esforços não colmam tudo aquilo de que precisamos. Porém, uma vez mais, caímos na tentação de querer ‘prescindir’ de Deus Pai; caímos na tentação de não querer incomodar o nosso Pai, todos os dias, com a necessidade de pão que temos. E só perdemos. Perdemos o Pai e perdemos a oportunidade de ver satisfeitas as nossas necessidades de filhos. ‘Pedi, procurai, batei à porta’ com insistência e Deus não nos deixará de mãos vazias. ‘Porque quem pede recebe, quem procura encontra, quem bate à porta abrir-se-á’. Deus Pai, segundo Jesus, só espera que peçamos, só espera que procuremos, só espera que batamos… para o milagre acontecer! Tão pouco, para o muito que receberemos. O Pai continua à espera.

Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».
Com uma nova comparação simples, Jesus revela uma vez mais a forma de atuar de Deus, como Pai, e a confiança que devemos ter na oração. É verdade que nós, como pais, procuramos dar o melhor para os filhos, em todos os aspectos: carinho, alimento, fé, educação, saúde, etc.. ‘Se nós que somos maus damos o melhor para os nossos filhos, quanto bem nos dará o Pai do Céu’! A limitação do nosso bem-fazer, não encontra n’Ele limites. Ele está até disposto a dar o seu Espírito, o Espírito Santo àqueles que Lho pedem; ou seja, está disposto a dar-se a Ele próprio, no melhor que o define, como Pai, sempre presente, sempre disponível. Não seremos “maus” porque não somos bons orantes? E não seremos maus orantes porque não nos atrevemos a pedir a Deus o que realmente vale a pena?

sexta-feira, 26 de julho de 2013

27 de julho

BEATO TITO BRANDSMA
PRESBÍTERO NOSSA ORDEM E MÁRTIR
Memória

Nasceu na cidade de Bolsward, na Frísia (Holanda), no ano de 1881. Ainda muito jovem, entrou para a Ordem do Carmo e foi ordenado sacerdote em 1905. Estudou em Roma, onde conseguiu o grau de Doutor em Filosofia na Universidade Gregoriana. Retomando para a Holanda, ensinou em diversas escolas e foi nomeado professor de Filosofia, Teologia Mística e sua história, na Universidade Católica de Nimega, da qual também foi eleito "Reitor Magnífico". Salientou-se pela sua afabilidade para com todos. Foi jornalista profissional e, em 1935, foi designado Assistente Eclesiástico dos jornalistas católicos. Opôs-se à ocupação nazista da Holanda e, baseando-se no Evangelho, combateu tenazmente a ideologia do Nacional Socialismo (Nazismo), defendeu a liberdade da Educação e da Imprensa católicas e protestou contra a perseguição às crianças de origem judaica. Por estas razões foi preso: começa desta forma o seu Calvário de campo em campo, de prisão em prisão e, depois de tantos sofrimentos e humilhações, foi assassinado em Dachau, no ano de 1942. Até o seu último suspiro, não se cansou de levar a paz e o conforto espiritual a todos os seus colegas de prisão. No meio de inúmeros e atrozes sofrimentos soube comunicar o bem, o amor e a paz. No dia 3 de novembro de 1985 foi proclamado beato da Igreja de Cristo pelo Papa João Paulo lI.

Comum de um Mártir.

LAUDES
Hino
Ó Jesus, quando te contemplo,
eu redescubro, a sós contigo,
que te amo e que teu coração
me ama como a um dileto amigo.

Ainda que a descoberta exija
coragem, faz-me bem a dor:
por ela me assemelho a ti,
que ela é o caminho redentor.

Na minha dor me rejubilo;
já não a julgo sofrimento,
mas sim predestinada escolha,
que me une a ti neste momento.

Deixa-me, pois, nesta quietude,
malgrado o frio que me alcança.
Presença humana não permitas,
que a solidão já não me cansa,

pois de ti sinto-me tão próximo
como jamais antes senti.
Doce Jesus, fica comigo,
que tudo é bom junto de ti.

Salmos, Cântico, Leitura, Responsório e Preces do Comum de um Mártir

Cântico evangélico
Ant. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, conservei a minha fé!

Preces do Comum de um Mártir.

Oração
Senhor Deus, fonte e origem da vida, infundistes no Beato Tito a força do vosso Espírito e a coragem, para, mesmo durante a crueldade da perseguição e do martírio, proclamar a liberdade da Igreja e a dignidade da pessoa humana. Concedei-nos, por sua intercessão, empenharmo-nos na construção do Reino da justiça e da paz, sem nos envergonharmos do Evangelho, e que, em cada momento da vida, reconheçamos a vossa presença misericordiosa. Por N.S. J.C.

VÉSPERAS
Hino
Seguir os passos de Cristo,
imitando a Virgem Maria,
tendo de Elias o espírito,
é lema do Carmo, nossa alegria.

Maria, ó Mãe da nossa alma
acende em nós o fulgor
da luz ardente e calma,
que a Tito deu força, coragem e amor.

Viver no Carmo é contemplar
o Deus a Elias revelado.
Vi ver no Carmo é habitar
no Tabor com Cristo Transfigurado.

Viver no Carmelo é aceitar
ser holocausto, que se deixa consumir,
sem temer, mas antes desejar
os raios divinos atrair.

Viver no Carmelo é fitar
a Cruz, que se ama e se deseja,
para nela e por ela alcançar
que Cristo viva nos membros da Igreja.

Salmos, Cântico, Leitura, Responsório e Preces do Comum de um Mártir

Cântico evangélico
Ant. Na dureza do combate o Senhor lhe deu a vitória, pois mais forte do que tudo é a força do amor.

Oração
Senhor Deus, fonte e origem da vida, infundistes no Beato Tito a força do vosso Espírito e a coragem, para, mesmo durante a crueldade da perseguição e do martírio, proclamar a liberdade da Igreja e a dignidade da pessoa humana. Concedei-nos, por sua intercessão, empenharmo-nos na construção do Reino da justiça e da paz, sem nos envergonharmos do Evangelho, e que, em cada momento da vida, reconheçamos a vossa presença misericordiosa. Por N.S. J.C.

Sábado XVI do Tempo Comum

Evangelho (Mt 13,24-30): Jesus apresentou-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus é como alguém que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora. Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os servos foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio? ’ O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar o joio?’ ‘Não!’, disse ele. ‘Pode acontecer que, ao retirar o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita. No momento da colheita, direi aos que cortam o trigo: retirai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! O trigo, porém, guardai-o no meu celeiro!'».

Comentário: Rev. D. Manuel SÁNCHEZ Sánchez (Sevilla, Espanha)

Deixai crescer um e outro

Hoje consideramos uma parábola como uma ocasião para referir-nos à vida da comunidade onde se misturam, continuamente, o bem e o mal, o Evangelho e o pecado. A atitude lógica seria acabar com esta situação, tal como o pretendem os servos: «O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar o joio?» (Mt 13,28). Mas a paciência de Deus é infinita, espera até o último momento — como um pai bom— a possibilidade de mudança: «Deixai crescer um e outro até a colheita» (Mt 13,30).

Uma realidade ambígua e medíocre, mas nela cresce o Reino. Trata-se de sentir-nos chamados a descobrir os sinais do Reino de Deus para potencializá-lo. E, por outro lado, não favorecer nada que ajude a contentar-nos na mediocridade. No entanto, o fato de viver em uma mescla de bem e de mal não deve impedir o progresso em nossa vida espiritual; o contrário seria converter nosso trigo em intriga. «Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?» (Mt 13,27). É impossível crescer de outro modo, nem podemos procurar o Reino em nenhum outro lugar, senão nesta sociedade em que vivemos. Nossa tarefa será fazer com que nasça o Reino de Deus.

O Evangelho nos chama a não acreditar nos “puros”, a superar os aspectos de puritanismo e de intolerância que possam existir na comunidade cristã. Facilmente ocorrem atitudes deste tipo em todas as coletividades, por mais sadias que tentem ser. Em frente a um ideal, temos todos a tentação de pensar que alguns já o alcançamos e que outros estão longe. Jesus constata que todos estamos no caminho, absolutamente todos.

Vigiemos para que o maligno não se introduza em nossas vidas, coisa que ocorre quando nos acomodamos ao mundo. Dizia Santa Ângela da Cruz que «não devemos dar ouvidos às vozes do mundo, de que em todos os lugares se faz isto ou aquilo; nós sempre fazemos o mesmo, sem inventar variações, e seguindo a maneira de fazer as coisas, que são um tesouro escondido; são as que nos abrirão as portas do céu». Que a Santíssima Virgem Maria nos conceda acomodar-nos somente ao amor.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz a parábola do joio e do trigo.
Tanto na sociedade como nas comunidades e na nossa vida familiar e pessoal, existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúnem pessoas de várias origens, cada uma com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Há pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros erradas. A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós.

* O pano de fundo da parábola do joio e do trigo.
Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, assim diziam. Mas outros como Paulo ensinavam que a Nova Lei de Deus trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: "Não pode haver tolerância com o pecado, sim, mas deve haver tolerância com o pecador!"

* Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos
A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vem? Esta era a discussão, o mistério, que levou a conservar e lembrar a parábola do joio e do trigo.

* Mateus 13,27-28a: A origem da mistura que existe na vida.
Os empregados perguntam ao patrão: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?” O dono respondeu: Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro da comunidade e existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.

* Mateus 13,28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade.
Diante desta mistura do bem e do mal, os empregados queriam arrancar o joio. Pensavam: "Se deixarmos todo mundo dentro da comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!" Queriam expulsar os que pensavam diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: "Deixa crescer juntos até a colheita!" O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas sim o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará (Mt 12,33). A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona nem proprietária do Reino, nem pode considerar-se totalmente justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter uma opção clara pela justiça do Reino e, ao mesmo tempo, junto com a luta pela justiça, ter paciência e aprender a conviver e dialogar com as contradições e as diferenças. Na hora da colheita se fará a separação.

* O ensino em parábolas.
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida e, por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo mundo tem alguma experiência. O ensinamento em parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, passarinho, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Ele deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, como fez com a parábola do joio e do trigo (Mt 13,36-43).

Para um confronto pessoal
1) Como a mistura do joio e do trigo se manifesta na nossa comunidade? Que consequências traz para a nossa vida?
2) Olhando no espelho da parábola, com quem sou mais parecido: com os empregados que querem arrancar o joio antes do tempo, ou com o dono que manda esperar até à hora da colheita?