segunda-feira, 28 de novembro de 2011

2º DOMINGO DO ADVENTO:



JOÃO E A “CONVERSÃO”
Joaquim Manuel Garrido Mendes, scj
          Depois de termos refletido sobre o testemunho profético de João e as interpelações que esse testemunho nos traz, detenhamo-nos agora, um pouco, no convite que João faz aos homens (aos do seu tempo e aos de todos os tempos), no sentido da conversão.
           De fato, o essencial do anúncio do “profeta” João resume-se na palavra “conversão”. “Convertei-vos”,  diz ele, “porque está próximo o Reino dos Céus” (Mt 3,2; cf. Mt 3,11; Mc 1,4).

SIGNIFICADO DE “CONVERSÃO”
          Quando falamos, neste contexto, em “conversão”, não estamos a falar de uma penitência externa, feita de exercícios piedosos, ou de qualquer experiência intelectual ou sentimental...
          Estamos a falar de algo mais radical, expresso no texto pela palavra grega “metanoia” (“conversão”, “mudança” – a palavra usada neste contexto por Mateus e por Marcos): uma transformação da vontade, uma mudança radical de consciência, uma nova atitude de base, uma escala de valores onde o egoísmo, o orgulho, a vaidade não ocupam os primeiros lugares.
          Falar de “conversão” é falar de uma mudança radical de pensamento, de uma viragem total do homem, de uma postura vital inteiramente nova.
          No contexto bíblico, a palavra “metanoia” refere-se a um movimento radical, total, que leva o homem a re-orientar a sua vida para Deus. O nosso grande drama é que, com freqüência, deixamos que outros valores (às vezes não tão “valorosos”) sejam a nossa prioridade; e Deus passa para um plano absolutamente secundário na nossa vida
          A “conversão” é, pois, um re-equacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência do homem. É uma inflexão do sentido da existência, de forma a que nem o dinheiro, nem o poder, nem o sucesso, nem os amigos, nem a família tenham primazia; é uma inversão das prioridades, de forma a que Deus e os seus valores passem a ocupar o primeiro lugar. É por isso que João assume um estilo de vida pobre e simples, denunciador dos valores materiais.
          No Novo Testamento – e sobretudo nos evangelhos sinópticos – o conceito de “conversão” é entendido em referência a Cristo: converter-se é aderir à pessoa de Cristo, crer n’Ele segui-lo no caminho do amor e do dom da vida, acolher o seu projeto e os seus valores, entrar no “Reino” que Ele anuncia. É aderir a Cristo e à nova proposta de vida que Ele traz. Isso implica, naturalmente, despir-se do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência, do comodismo, do viver virado para os bens materiais; e implica construir a própria vida de acordo com outros critérios e outros valores – os valores do Reino, os valores de Jesus.
          É por isso que João fala de um “novo batismo” que Jesus traz, o “batismo no Espírito” (cf. Mc 1,8; Mt 3,11): trata-se de uma nova vida que Jesus vai propor aos homens e que se concretizará através desse Espírito de vida que Jesus quer transmitir a todos. Aceitar o “batismo” que Jesus traz é aceitar essa vida nova que Jesus propõe, que transforma o homem e o coloca numa nova atitude diante de Deus e diante dos outros homens.
          João é o “profeta” cuja missão é preparar os corações dos homens para que Deus lá tenha lugar. Propondo – com palavras e com gestos – uma nova atitude, João é aquele que prepara o caminho (cf. Mt 3,3; Mc 1,3; Lc 3,4-5) para que o Senhor possa chegar ao coração e à vida dos homens.

A INTERPELAÇÃO QUE JOÃO NOS FAZ

          Em termos pessoais, falar de conversão significa, em primeiro lugar, expulsar do nosso coração esses esquemas egoístas e esses interesses pessoais que açambarcaram a nossa atenção e que usurparam o lugar que Deus devia ocupar na nossa vida. Significa identificar e banir da nossa vida esses valores que impedem a irrupção do “Reino” no mundo e na vida de cada homem.
          Quais são esses interesses?
          Seguindo o itinerário de João (Lc 3,11-14), pensemos, em primeiro lugar, na escravidão dos bens materiais…
          Constatamos, hoje, que o verdadeiro motor da história é o dinheiro: ele compra consciências, compra poder, compra bem-estar, compra projeção social, compra reconhecimento e até compra amor… Por ele, mata-se, calcam-se aos pés os valores mais fundamentais, renuncia-se à própria dignidade, destrói-se a natureza, envenena-se o ambiente (que interessa o buraco do ozônio, a poluição dos rios, o desaparecimento da floresta amazônica, se isso fizer mais ricos os donos do mundo?), escravizam-se os irmãos... O dinheiro tornou-se o verdadeiro centro de poder no mundo; é a ele que tudo se subordina e submete.
          No entanto, quando a lógica do “ter” domina o coração de alguém, nasce a escravidão que aliena, que causa injustiça, sofrimento e morte. O homem é envolvido numa lógica de “ter sempre mais” que o torna obcecado com os bens… Quando o homem se deixa apanhar por essa lógica, o dinheiro passa a ser o seu deus fundamental e a verdadeira “medida” que define a realização e a felicidade do homem. Ter mais dinheiro (mesmo quando já o temos em excesso) significa obter mais reconhecimento, mais valor, mais posição.
         Entra-se numa viagem que nunca termina e que torna o coração do homem progressivamente  surdo a outros valores. Ele deixa de ter tempo para Deus, para a família e para si próprio. Não acompanha o crescimento dos filhos, não tem tempo para os amigos, não tem tempo para saborear as coisas simples da vida, não tem tempo para o amor; e, algures durante essa cavalgada louca em direção à terra do “ter”, ele deixa pelo caminho todas aquelas coisas pelas quais vale a pena viver e lutar. Torna-se uma máquina de dinheiro, em cujos olhos brilham cifrões, não a felicidade.
          João convida a não deixar que o “ter” nos escravize, nos aliene, nos feche num egoísmo frio e estéril. João convida-nos a descobrir “o outro lado”, o oposto do açambarcamento egoísta dos bens. Ele garante-nos que a salvação do homem não está no egoísmo, mas num coração aberto aos irmãos. Por isso, João avisa que a “conversão” passa pela partilha…
          Os bens que temos à nossa disposição devem ser sempre vistos como um dom de Deus e que, por isso mesmo, pertencem a todos: ninguém tem o direito de se apropriar deles em seu benefício exclusivo.
          A busca desenfreada e obcecada dos bens materiais, a indiferença que nos leva a fechar o coração aos gritos de quem vive abaixo do limiar da dignidade humana, o egoísmo que nos impede de partilhar com quem nada tem, significam que no nosso coração ainda não há lugar para acolher Jesus e a sua proposta. Dessa forma, não podemos celebrar o Natal, a vinda de Jesus à nossa vida e ao nosso mundo.
          Pensemos, em segundo lugar, na proposta que João faz aos publicanos: “não exijais além do que vos foi estabelecido”.
          Os publicanos são, neste contexto, o protótipo daqueles que conduzem a sua vida por caminhos de desonestidade, de corrupção, de roubo, de exploração. Trata-se, infelizmente, de um clube com muitos adeptos, muitas vezes disfarçados e escondidos, mas sempre ativos e em busca de oportunidades de negócios.
          João Batista não fica indiferente nem calado diante de um quadro de desonestidade, de especulação, de exploração. Ele sabe que numa sociedade onde alguns, para salvaguardarem os seus interesses egoístas, prejudicam toda a comunidade, não há lugar para Jesus nem para o “Reino”.
          Pensemos, em terceiro lugar, na questão da violência, da opressão, da injustiça. A pergunta dos soldados (“e nós, que devemos fazer?”) dá a João, a oportunidade para abordar esta questão.
          No séc. I, o Povo de Deus conhecia a dura experiência da opressão. Os mercenários romanos comportavam-se verdadeiramente como senhores absolutos em terra conquistada. Impunham-se pela força, aterrorizando as populações; mal pagos, exigiam com freqüência tributos para deixar as aldeias e as pessoas em paz. É o problema da violência gratuita e injustificada por parte daqueles que detêm o poder das armas, frente aos pobres e débeis.
          Este problema continua a ser de uma atualidade impressionante. Os militantes de qualquer grupinho terrorista fazem explodir aviões cheios de inocentes, destroem prédios onde vivem milhares de pessoas, colocam bombas que matam indiscriminadamente, em nome da luta pela a justiça e pela liberdade; os governos instituídos respondem na mesma moeda, lançam toneladas de bombas sobre “alvos seletivos”, massacram populações inteiras e justificam-se dizendo que são os “danos colaterais” da guerra contra o terrorismo…
         Os estados promulgam leis violentas, que reduzem os direitos dos trabalhadores e que saqueiam os bolsos dos pobres; reprimem os imigrantes clandestinos e repatriam-nos, condenando-os a uma vida sem qualquer perspectiva, de miséria e de morte…
         Nos tribunais, os pobres têm de esperar vários anos, antes que lhes seja feita justiça (e, muitas vezes, não há justiça, porque o crime prescreveu, ou o juiz não tem a coragem de afrontar os direitos dos ricos e dos poderosos); nas repartições públicas, os funcionários gastam o tempo a tomar café ou a conversar sobre assuntos triviais e deixam as pessoas a esperar, durante várias horas, que alguém se digne prestar-lhes atenção; nos hospitais, as pessoas fragilizadas pela doença têm de esperar várias horas nos corredores, antes que alguém se digne atendê-las e tomar conta dos seus padecimentos…
          Nas próprias famílias, acontecem casos de crianças maltratadas, impedidas de viver uma infância normal; e, tantas vezes, a violência familiar derrama-se sobre as pessoas mais frágeis, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista psicológico, quer do ponto de vista econômico…
          É neste contexto que continua a ecoar a palavra de João: “não exerçais violência sobre ninguém”…
          É um apelo a respeitar o outro, a respeitar a sua dignidade e integridade, a respeitar os direitos de todos aqueles que vivem ao nosso lado numa situação de fragilidade e de debilidade. É um apelo a substituir as relações baseadas no poder, na prepotência, por relações baseadas no amor e no serviço.
          O apelo do profeta João é claro: não é possível acolher o Senhor que vem e embarcar na proposta do “Reino”, enquanto houver nos nossos corações sinais de intolerância, de prepotência, de abusos de autoridade, de indiferença pela sorte dos irmãos que sofrem e que dependem de nós; não é possível Jesus nascer no nosso coração e na nossa vida quando ainda não nos livramos da tendência para a injustiça, para a violência e não assumimos uma atitude de humildade, de simplicidade, de amor e de serviço.
PARA UM QUESTIONAMENTO PESSOAL OU EM GRUPO:


• Diante do apelo à “conversão”: estou disposto a pôr em causa os meus esquemas (se chegar à conclusão que eles não se regem pelos critérios de Jesus)?
• Aceito tentar a ruptura com os valores egoístas e comodistas que ainda podem residir em mim?
• O que é que eu teria – prioritariamente – de mudar, a fim de que Jesus encontre um lugar acolhedor no meu coração e na minha vida?
• Tenho lugar para as propostas libertadoras que Ele traz, ou estou demasiado apegado às minhas coisas, aos meus interesses, aos meus pequenos egoísmos?
• Estou disposto a acolher Jesus – sabendo que acolher Jesus é aderir aos seus valores e às suas propostas – e, depois, a anunciá-lo, a dá-lo aos meus irmãos?
• As nossas comunidades e nós próprios damos testemunho desta partilha que é sinal do Reino proposto
por Jesus?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PREPARANDO O NATAL COM JOÃO BATISTA E MARIA,
MODELOS DE QUEM ESPERA O SENHOR QUE VEM
Joaquim Manuel Garrido Mendes, scj

          Em si, a palavra “advento” significa “vinda”. Para os cristãos, esta “vinda” refere-se à chegada d’Aquele que lhes traz a salvação, a libertação, a esperança: Jesus Cristo, o Deus que veio ao nosso encontro com uma proposta de vida plena e eterna.
          No entanto, a palavra “advento” começou a designar, no contexto litúrgico, um tempo de preparação, durante o qual os crentes são convidados a preparar o seu coração para acolher o Senhor que vem.
          Mas o Senhor não veio já? Não celebramos neste Natal os dois mil e onze anos do seu nascimento? Por que, então, preparar-nos como se ele estivesse para nascer outra vez, no presépio de Belém?
          Na realidade, o Senhor veio, vem e virá sempre ao nosso encontro. Mas a sua “vinda” só se tornará efetiva e só terá um real impacto no mundo e na vida dos homens, se O soubermos acolher.
          Não chega que Ele tenha nascido em Belém, há cerca de dois mil anos; é preciso que Ele continue a nascer, a encontrar todos os dias lugar no nosso coração, a ser acolhido e a ter impacto na nossa vida.
          O “advento” é precisamente o tempo em que somos convidados a equacionar esta realidade, a preparar o nosso coração e a nossa vida para reconhecer e acolher o Senhor que vem.
          Que significa, exatamente, prepararmo-nos para acolher o Senhor que vem? Significa “convertermo-nos”. Falar em “conversão” não significa fazer a lista dos nossos pecados e escolher uma ou outra coisa que vamos evitar fazer, a partir de agora; mas significa uma transformação profunda da nossa vida, dos nossos valores, das nossas prioridades, de forma a que Deus ocupe, na nossa existência, o lugar que merece.
          Só eliminando esses pequenos interesses egoístas que ocupam, tantas vezes, o centro da nossa existência, só saindo desse comodismo que nos aliena, só mudando os nossos esquemas de vida centrados em nós próprios, só percebendo o que é que é secundário e o que é importante, teremos espaço e disponibilidade para acolher a proposta renovadora, libertadora e salvadora que Deus nos faz, continuamente, em Jesus.
          Para nos ajudar nesta caminhada de conversão e de preparação para acolher o Senhor, a liturgia deste tempo de “advento” propõe-nos duas figuras bíblicas: João Batista e Maria de Nazaré.
          São, possivelmente, as figuras que mais se distinguem (além de Jesus) no chamado “Evangelho da Infância”. Quer uma, quer outra, aparecem em contextos de preparação para a “vinda” de Jesus.
          João Batista é o profeta que prega no deserto, que acorda os corações dos homens para o acolhimento do Senhor e que convida os homens à conversão.
          Maria de Nazaré é a mulher do “sim” a Deus, cuja disponibilidade tornou possível a encarnação de Jesus; e é a mulher do “sim” aos irmãos, que é capaz de se deixar desafiar pelo Senhor e partir ao encontro das necessidades, das angústias, dos sofrimentos dos outros e dar a mão a quem necessita.
          São figuras – cada uma a seu modo – interpelativas, que nos desafiam a estar atentos ao Senhor que vem e que nos fazem pensar no modo como O devemos acolher.

Ó Jesus, que viveis em Maria,
vinde viver em vossos servos,
no espírito de vossa santidade;
na plenitude de vossa força,
na perfeição de vossos caminhos,
na verdade de vossas virtudes,
na comunhão de vossos mistérios,
dominai sobre todo o poder inimigo,
em vosso Espírito e para a glória do Pai.
Amém.

1º DOMINGO DO ADVENTO:

JOÃO, O PROFETA

          João Batista é uma autêntica figura profética, que DEUS ESCOLHEU, que DEUS CHAMOU e que DEUS ENVIOU aos homens com uma missão. Essa missão passa, concretamente, pelo anúncio da vinda iminente do Messias e por preparar os homens para esse acontecimento fundamental.
          A vocação profética dirá, apenas, respeito a alguns iluminados? Ou será algo que Deus quererá de todos os homens e mulheres?
          Pelo fato de sermos cristãos – seguidores de Cristo – fomos escolhidos por Deus para ser “profetas” (isto é, “chamados” por Deus e enviados a apresentar ao mundo as propostas de Deus). No dia do nosso batismo, fomos ungidos com o óleo do “crisma”, que nos constituiu “profetas” à imagem de Jesus…
          A vocação profética é, portanto, algo que faz parte da nossa vida e que não pode ser eliminado do “disco rígido” do nosso compromisso cristão.
          Não vale a pena estar com meias palavras: quem se recusa a ser profeta, está a recusar ser um “sinal” vivo de Deus, uma testemunha de Jesus e dos seus valores; e está fora da dinâmica do “Reino”.
          Para um cristão, a questão não pode ser: apetece-me ou não, tenho ou não disponibilidade, tenho ou não jeito para ser profeta? Esse problema de base já foi resolvido no dia do nosso Batismo...
          A questão que podemos pôr (e que talvez devamos pôr) é antes esta: como é que eu posso viver, com fidelidade, a minha vocação profética?
          É aqui que a figura profética de João – o profeta que veio preparar a vinda do Senhor – nos pode ajudar.

A NOSSA LIGAÇÃO A DEUS

          Em primeiro lugar, interpela-nos a ligação “umbilical” de João a Deus, desde o primeiro instante da sua existência.
          João era um “homem de Deus”, de COMUNHÃO COM DEUS, que viveu uma vida de INTIMIDADE COM DEUS, que foi descobrindo e confirmando, dia a dia, num DIÁLOGO ÍNTIMO, que Deus o chamava e que tinha uma proposta de missão para ele.
          De entre as pretensões da modernidade, está a de fazer aparecer o homem plena e totalmente livre; e, para os homens dos nossos dias, falar de um homem livre é falar de um homem que se basta a si próprio, que não depende de Deus e que não precisa de Deus. O homem do século XXI não é o homem que perde tempo a negar a existência de Deus; mas é o homem que não precisa de Deus para nada e vive preocupado com outras coisas mais importantes e decisivas.
          O que acontece, então? Acontece que o homem não encontra ninguém a quem confiar a sua fragilidade e em quem confiar; fica, cada dia, mais só e perdido, sem referências, sem segurança, sem “salvação”. Em lugar de ser livre, o homem torna-se escravo, coloca a sua segurança e a sua esperança em certos valores e propostas que substituem Deus, mas com muita desvantagem.
          Em João, encontramos o testemunho de um homem que está consagrado a Deus desde o primeiro instante da sua existência, que vive em contínuo diálogo com Deus, que vive apenas para Deus e que oferece a Deus cada pedaço da sua existência. Ele não tem medo de perder a liberdade, ou de viver uma vida sem sentido: Deus está presente na sua vida desde o primeiro instante; e ele sabe que só de mãos dadas com Deus, a sua vida fará pleno sentido.
          É esta centralidade que Deus assume na vida de João que nos interpela e questiona.
          Correspondermos à nossa missão profética significa, em primeiro lugar, colocarmos Deus no centro da nossa vida. Deus não é um concorrente, que nos mantém prisioneiros; mas é a nossa esperança e a nossa segurança, aquele que dá sentido à nossa existência.
          O profeta João desafia-nos a ter consciência de que foi Deus quem nos chamou à existência, nos elegeu, nos consagrou para o seu serviço e nos confiou uma missão no mundo; desafia-nos a ver Deus como a origem e o centro da nossa vocação e da nossa missão; desafia-nos a fazer de Deus a nossa prioridade fundamental.
          Isso significa mantermos, em todos os instantes, uma comunhão muito estreita e muito íntima com Deus, desenvolvida num diálogo muito próximo com Deus.
          É impensável, para um “profeta”, viver à margem de Deus, ou manter uma vida de alheamento em relação a Deus. O profeta tem de ser alguém que reza, que escuta e reflete a Palavra de Deus, que está atento a Deus e aos seus “sinais”, que procura discernir as propostas de Deus e concretizá-las na vida. E tem de ser também alguém com o coração disponível para aceitar os desafios de Deus e para ser porta-voz desses desafios no meio dos homens.

O NOSSO COMPROMISSO COM A MISSÃO

          Em segundo lugar, questiona-nos a forma como João assume a sua missão de testemunha e se dirige aos homens… Sobretudo, questiona-nos a sua coragem, o seu empenho, a sua coerência – que vai até ao dom da vida para defender a verdade e a justiça.
          O profeta não é um homem acomodado, que se enterra no seu cômodo sofá com o copo de whisky numa mão e o jornal na outra, a assistir comodamente às misérias do mundo pela televisão; mas o profeta é o porta-voz de um Deus que quer um mundo melhor e luta ativamente por ele.
          Ser profeta significa testemunhar, com desassombro e sem medo, a verdade, mesmo quando ela incomoda os poderosos e os donos do mundo. É o que faz João ao dizer a Herodes Antipas que ele não tem o direito de roubar a mulher do seu irmão…
          O profeta não pode calar-se diante dos poderosos, que fazem as suas próprias leis e zombam dos direitos e da dignidade dos outros.
          O profeta não pode pactuar com as arbitrariedades, nem encolher com indiferença os ombros diante das violações dos direitos humanos.
          O profeta não pode virar a cara para outro lado a fingir que não vê quando algum irmão é maltratado e privado dos seus direitos.
          O profeta não pode fingir que tudo está bem quando, em nome de princípios políticos ou interesses econômicos, as crianças são exploradas, obrigadas a deixar a escola para trabalhar, espoliadas do seu direito à segurança, ao pão, à instrução, ao futuro.
          O profeta não pode calar-se quando os idosos são obrigados a viver com pensões de miséria, que mal dão para pagar os medicamentos, enquanto que a classe dirigente borboleteia de festa em festa, à custa dos pobres.
          O profeta não pode fingir que está de acordo com aqueles que, em nome de Deus, alimentam a espiral de violência e despejam toneladas de bombas sobre populações inocentes.
          O profeta não pode pactuar com aqueles que alimentam o racismo, a intolerância, a xenofobia, a divisão, o ódio.
          O profeta não pode ignorar quando os esquemas de concorrência e o bem-estar da economia atiram com milhares de famílias para o desemprego e para a miséria.
          O profeta não pode concordar com aqueles que fingem defender os direitos do homem, a sua liberdade e a sua dignidade, mas potenciam estruturas que geram morte, miséria, sofrimento, escravidão – seja na sociedade, seja na Igreja, seja na empresa, seja no próprio contexto da família.

PARA UM QUESTIONAMENTO PESSOAL OU EM GRUPO:
          • Já descobri que Deus me chama e me destina a missão de anunciar e proclamar um mundo novo, com palavras, com comportamentos, com atitudes?
          • Como é que me situo face a essa exigência, que resulta da minha adesão a Cristo?
          • Já encontrei a sua interpelação nesses fatos banais da vida, nesses “sinais” que, de forma mais ou menos discreta, Deus coloca na minha vida para me mostrar o que quer de mim?
          • Tenho tempo para Deus, de forma a viver em comunhão com Ele e a aperceber-me das suas propostas e dos seus planos para mim e para o mundo?
          • Ele é ou não uma prioridade na minha vida?
          • O que conta mais: Deus ou certos “bens” que, na minha vida, ocupam o lugar de Deus?
          • Tenho conseguido “desinstalar-me”, sair do meu cantinho, para levar a cabo a missão que Deus me confia?
          • Sou capaz de me esquecer de mim, dos meus interesses, das minhas prioridades, para enfrentar o desafio de construir um mundo melhor?
          • Quem manda: o meu comodismo, o meu egoísmo, a minha ambição, os meus medos, ou as propostas de Deus?
          • Tenho procurado estar atento àquilo que me rodeia e ser uma voz crítica, questionante, preocupada em construir um mundo mais justo e mais fraterno?
          • Tenho sido um “profeta” que não pactua com a opressão, com a injustiça, com a exploração, quer a que reside no meu coração, quer a que reside no mundo que me rodeia?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

SOLENIDADE DE CRISTO REI – DIA DO LEIGO

Maria Clara Lucchetti Bingemer

           No domingo 24 de novembro a Igreja do Brasil celebra, juntamente com a festa de Cristo Rei, o Dia do Leigo.

           Assim se fecha o ciclo do ano litúrgico e toda a comunidade é chamada a refletir - antes de começado o tempo do Advento e a preparação para o Natal – sobre a identidade e missão desses homens e mulheres – os cristãos leigos - que formam a imensa maioria do Povo de Deus e são a esperança da Igreja.

           O documento de conclusões da Conferência de Santo Domingo, de 1992, assinado por todos os bispos da América Latina e do Caribe faz uma afirmação central que demarca o futuro não só dos cristãos leigos, mas também da Igreja à qual os mesmos pertencem.

           Afirma claramente no seu n. 97 que : "As urgências do momento presente na América Latina e no Caribe reclamam: que todos os leigos sejam protagonistas da nova evangelização,da promoção humana e da cultura cristã."

          Mais adiante, é ainda o mesmo documento de conclusões que proclama, ao definir os leigos como linha pastoral prioritária: "...uma linha prioritária de nossa pastoral , fruto desta IV Conferência,há de ser a de uma Igreja na qual os fiéis cristãos leigos sejam protagonistas".

          "O compromisso que toda a Igreja da América Latina toma no sentido de uma nova evangelização no entender do documento,só poderá ser levado a bom termo com a formação de um laicato bem estruturado com uma formação permanente,maduro e comprometido . A nova evangelização, segundo os bispos reunidos em Santo Domingo,só poderá ser levada efetiva e seriamente a cabo "se os leigos,conscientes de seu batismo,responderem ao chamado de Cristo a que se convertam em protagonistas da nova evangelização".

          Parece claro portanto que a Igreja da América Latina tenciona investir com entusiasmo e força na formação deste laicato, que constitui a grande maioria de seus membros. E para que isso aconteça está disposta a colocar os meios, assumindo-os como linha pastoral prioritária, confiando-lhes ministérios e serviços dentro do corpo eclesial e promovendo-os constantemente.

          Além disso, está disposta a reconhecer as lacunas e falhas que possam ter havido na formação destes mesmos leigos ao longo dos tempos. Fala-se claramente no documento em "leigos nem sempre adequadamente acompanhados pelos Pastores", "deficiente formação", etc. Ao mesmo tempo se afirma que "os fiéis leigos comprometidos manifestam uma sentida necessidade de formação e de espiritualidade"; " os pastores procurarão os meios adequados que favoreçam aos leigos uma autêntica experiência de Deus" . Coloca-se como linha pastoral principal "incentivar uma formação integral, gradual e permanente dos leigos".

          Todas estas constatações não se originam, no entanto, do oportunismo de uma instituição que se assusta com a queda de nível da formação de seus quadros nem com a possível diminuição quantitativa de seus efetivos. Originam-se, sim, ao invés, de uma constatação de base que não provém da lógica humana, mas é apenas assimilada por revelação do próprio Deus: a de que todo o povo de Deus recebe do Senhor mesmo o chamado à santidade.

          A formação do laicato, portanto, tem sido uma preocupação constante da Igreja do continente e mesmo do mundo inteiro, no sentido de poder oferecer ao mundo cristãos leigos, adequadamente preparados para responder aos desafios da sociedade e do momento atual.

          Neste sentido, são numerosos os Centros de formação que começam a crescer, se desenvolver e espalhar-se pelo país e pelo continente, colocando à disposição dos leigos, possibilidade de retiros espirituais e outras experiências de crescimento na fé e na vida do Espírito; cursos de teologia onde possam aprender mais profundamente as verdades de sua fé; cursos de formação política, onde possam unir e fecundar mutuamente fé e cidadania, espiritualidade e política, aprendendo e refletindo juntos sobre a maneira transformadora de agir sobre a realidade.

          Assim, a Igreja vai poder adquirir sempre mais o rosto plural e rico que desde os primórdios do Cristianismo vem constituindo o sonho de Jesus Cristo.

          Na festa de Cristo Rei o leigo é chamado uma vez mais a assumir uma identidade que é a sua: uma identidade crística. E isto vai significar, cada vez mais, recriar hoje e sempre a história de Jesus de Nazaré, de forma inovadora e adequada à personalidade de cada um, à cultura e aos tempos.

          Sendo, portanto, um batizado, o leigo não é nem nunca foi nem será cidadão de segunda categoria na Igreja, consumidor apenas dos bens espirituais e eclesiais. Mas cidadão pleno, participante ativo, depositário de um ministério que o faz atuar com e como Cristo.

          Neste Domingo de Cristo Rei, quando a Igreja do Brasil celebra o Dia do Leigo, todos os batizados são chamados a renovar seu compromisso batismal. Assim estarão proclamando que Jesus Cristo é o Rei do Universo e se dispondo a recriar suas atitudes e seus gestos, amando com um coração semelhante ao seu.

Veja o artigo completo em: http://wwwusers.rdc.pucrio.br/agape/vida_academica/artigos/amai/cristorei.PDF



SOLENIDADE DE JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Fala o Santo Padre:
“Se pomos em prática o amor ao nosso próximo, segundo a mensagem evangélica, então o seu reino realiza-se no meio de nós.”
          Queridos irmãos e irmãs!

          Celebramos hoje, último domingo do ano litúrgico, a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Sabemos dos Evangelhos que Jesus rejeitou o título de rei quando ele tinha o significado político, à maneira dos "chefes das nações" (cf. Mt 20, 24). Ao contrário, durante a sua paixão, ele reivindicou uma singular realeza diante de Pilatos, o qual o interrogou explicitamente: "Tu és rei?", e Jesus respondeu: "Tu o dizes, eu sou rei" (Jo 18, 37); mas pouco antes tinha declarado: "o meu reino não é deste mundo" (Jo 18, 36). De fato, a realeza de Cristo é revelação e atuação da realeza de Deus Pai, o qual governa todas as coisas com amor e com justiça. O Pai, confiou ao Filho a missão de dar aos homens a vida eterna até ao sacrifício supremo, e ao mesmo tempo conferiu-lhe o poder de os julgar, a partir do momento que se fez Filho do homem, em tudo semelhante a nós (cf. Jo 5, 21-22.26-27).
          O Evangelho de hoje insiste precisamente sobre a realeza universal de Cristo juiz, com a maravilhosa parábola do juízo final, que São Mateus colocou imediatamente antes da narração da Paixão (25, 31-46). As imagens são simples, a linguagem é popular, mas a mensagem é extremamente importante: é a verdade sobre o nosso destino último e sobre o critério com o qual seremos avaliados. "Tive fome e deste-me de comer. Tive sede e deste-me de beber. Era forasteiro e me recolheste" (Mt 25, 35) e assim por diante. Quem não conhece esta página? Faz parte da nossa civilização. Marcou a história dos povos de cultura cristã: a hierarquia de valores, as instituições, as numerosas obras benéficas e sociais. De fato, o reino de Cristo não é deste mundo, mas realiza todo o bem que, graças a Deus, existe no homem e na história. Se pomos em prática o amor ao nosso próximo, segundo a mensagem evangélica, então fazemos espaço para o senhorio de Deus, e o seu reino realiza-se no meio de nós. Se ao contrário, cada um pensa só nos próprios interesses, o mundo vai inevitavelmente em ruínas.
          Queridos amigos o reino de Deus não é uma questão de honras e de aparências mas, como escreve São Paulo, é "justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14, 17). Ao Senhor está a peito o nosso bem, ou seja, que cada homem tenha vida, e que especialmente os seus filhos mais "pequeninos" possam aceder ao banquete que ele preparou para todos. Por isso, não sabe o que fazer com aquelas formas hipócritas de quem diz "Senhor, Senhor" e depois descuida os seus mandamentos (cf. Mt 7, 21). No seu reino eterno, Deus acolhe quantos se esforçam todos os dias para pôr em prática a sua Palavra. Por isso a Virgem Maria, a mais humilde de todas as criaturas, é a maior aos seus olhos e está sentada como Rainha à direita de Cristo-Rei. Queremos recomendar-nos à sua celeste intercessão mais uma vez com confiança filial, para poder realizar a nossa missão cristã no mundo.
Papa Bento XVI, Angelus, Praça de São Pedro, 23 de Novembro de 2008

sábado, 12 de novembro de 2011

Como atrair o ESPÍRITO SANTO?

Pe. María Egenio del Niño Jesús, OCD
Traduzido por Priscila Custódio Lopes

            Nos primeiros séculos da Igreja, a ação do ESPÍRITO SANTO nas almas e na Igreja adotava formas exteriores que se manifestavam em plena luz. No dia de Pentecostes o ESPÍRITO SANTO desce em forma de línguas de fogo, toma posse dos apóstolos e, por meio deles, da Igreja. Afirmou sua presença pela transformação que os apóstolos experimentaram, e seu poder por todas suas obras. Com frequência intervinha na vida da Igreja... Era uma Pessoa vivente no seio da Igreja e reconhecido como tal: "Nos pareceu a nós e ao ESPÍRITO SANTO", escreviam os apóstolos. Com isso faziam alusão a sua iluminação e a sua decisão, que se manifestavam exteriormente.

           Desde então parece que o ESPÍRITO SANTO se ocultou pregressivamente nas profundidades da Igreja e das almas. Não sai desta escuridão mais que em raras manifestações exteriores. Certamente, não há uma decadência de seu poder e atividade. A mudança não concerne mais que a seus modos de agir. Sempre está vivo em nós, prestes a difundir-se, e nós sempre temos seus dons para receber seu sopro. Mas seja porque se há ocultado ou, melhor dizendo, porque, menos fervorosa e inclinada desde a terra, a humanidade não há pensado em servir-se de Sua ação, é um fato fácil de comprovar que o ESPÍRITO SANTO se há convertido não só em um DEUS escondido, senão também em um DEUS desconhecido, e que a ciência espiritual que pode servir-se de seu poder pelos dons há sido ignorada durante longo tempo pela maioria dos cristãos.

          A ciência mística - pois tal é seu nome - há sido, inclusive, desacreditada, quando mesmo menosprezada, nos ambientes sinceramente cristãos. "Obra da imaginação!", "ilusões doentias!", se dizia.

          A esta ciência mística devolveu-se sua honra. O frio jansenismo desapareceu. O Espírito de amor pode soprar de novo nas almas. O Coração divinose  há manifestou. Santa Teresa do Menino Jesus nos ensinou um caminho de infância que conduz à chama de Amor e procura uma legião de almas pequenas, vítimas da misericórdia. O ESPÍRITO SANTO vive na Igreja, sua vida se difunde. Cristãos fervorosos, e inclusive incrédulos, procuram esta vida, uns com um amor esclarecido e já ardente, outros com sua dolorosa inquietude.

          Partindo do fato de que a perfeição está no Reinado perfeito de DEUS em nós pelo ESPÍRITO SANTO, toda a ciência mística está na solução deste problema prático: como atrair o sopro do ESPÍRITO e como entregar-se depois e cooperar com a sua ação invasora? É certo que o ESPÍRITO SANTO é soberanamente livre em seus dons e nada pode limitar ou diminuir sua liberdade divina. Contudo, há disposições que exercem uma atração quase irresistível sobre sua misericórdia, e outras que Ele exige como cooperação ativa a sua ação.

          Há três disposições que correspondem a três leis ou exigências de toda ação de DEUS na alma. Estas disposições fundamentais, que regulam toda a cooperação da alma e que irão aperfeiçoando-se a medida que a ação divina se desenvolva, são elas o dom de sim, a humildade e o silêncio.



terça-feira, 8 de novembro de 2011

Todos os Santos Carmelitas – 14 de novembro

               "... Concedei-nos propício que, por seus exemplos e méritos, vivendo somente para vós, na contínua meditação de vossa Lei e perfeita abnegação, possamos chegar, juntamente com eles, à felicidade da vida eterna. Amém”.
Santa Teresa de Jesus é um grande exemplo de santidade.
Ela afirma:
 «Quantos mais santos no céu usam o nosso hábito!...Temos a esperança de nos fazermos, com a Graça de Deus, semelhantes a eles".

          Os Santos do Carmelo constituem uma grande multidão de irmãos que consagraram a sua vida a Deus, seguindo os ensinamentos do seu Filho e imitando a sua vida, e se entregaram ao serviço da Virgem Maria na oração, na abnegação evangélica, no amor aos irmãos, a ponto de alguns terem derramado o seu sangue. Eremitas do monte Carmelo, mendicantes da Idade Média, mestres e pregadores, missionários e mártires, religiosas que enriqueceram o povo de Deus com a misteriosa fecundidade da sua vida contemplativa, apostólica e docente, leigos que na sua vida souberam encarnar o espírito da Ordem: esta é a grande família carmelita que, enquanto peregrina, se dedicou à prática assídua da oração e que, tendo terminado a sua prova no estádio deste mundo, e tendo-nos deixado o seu exemplo, agora celebra a liturgia celeste. Unidos a esta grande família, e na esperança de nos virmos associar a ela, celebramos e antegozamos, por meio desta festa, as alegrias eternas dos santos que Deus conduziu ao seu monte para os introduzir na sua Casa de Oração.
          O exemplo e a intercessão destas almas de oração é para nós um estímulo a vivermos a nossa vocação carmelita em obséquio de Jesus Cristo e na imitação da nossa Mãe e Rainha, Flor do Carmelo, Padroeira e Esperança de todos os carmelitas.
          Esta festa, já mencionada por Inocêncio VIII em 16 de Julho de 1492, estendeu-se à Ordem em 1672.
CARMELO - ESCOLA DE SANTIDADE

“PARA SERMOS SANTOS
SANTIFICANDO OS OUTROS,
ABRAÇAMOS A VOCAÇÃO CARMELITA.”
          O Carmelo não se contenta em produzir almas santas, mas trabalha para que também outros o sejam, através de sua oração, sacrifício e apostolado. Os grandes santos e escritores do Carmelo contribuem enormemente através de suas vidas e suas maravilhosas obras, para embelezar e aumentar esta nota de santidade eclesial. Contribui sobretudo por meio deste “Canal de graças” que é o santo Escapulário do Carmo.
          Concluímos esta reflexão recordando que "se somos filhos dos santos e esperamos viver sua mesma vida” (Tb 2,18), somos obrigados a cumprir o conselho que nos dá o célebre beato carmelita Batista Mantuano (+1516): "Estes varões do Carmelo nos foram dados como modelos para que os imitemos, e, conhecedores de suas obras, acordemos de nossa letargia”.
          Com outras palavras o mesmo dizia nossa Santa Teresa: "Deixar de conformar nossa vida à vida de nossos Santos Pais é a maior mágoa que podemos causar-lhes”. (Fund. 14,5)
          São Paulo nos recorda: “Deus nos chamou a uma vocação santa, não por nossos méritos, mas por causa de Jesus Cristo” (Tim 1, 9).
          Vale citar aqui a oração da “coleta” da Missa da Festa de Todos os Santos Carmelitas, que celebramos no dia 14 de novembro de cada ano: "... Concedei-nos propício que, por seus exemplos e méritos, vivendo somente para vós, na contínua meditação de vossa Lei e perfeita abnegação, possamos chegar, juntamente com eles, à felicidade da vida eterna. Amém”. - Ou seja - “Que possamos ser santos como eles o foram”.
          Dois meses antes de sua morte, Santa Teresinha do Menino Jesus nos transmitirá uma clara e dilacerante lição, ao nos dizer: “ (A santidade) Não está nesta ou naquela prática, mas consiste numa disposição do coração, que nos faz humildes e pequeninos nos braços de Deus, conscientes de nossa fraqueza, e audaciosamente confiantes em sua bondade de Pai”.

          “Se há alguém capaz de contar as estrelas do firmamento, também será capaz de contar os santos do Carmelo”. Juan Tritemio (+1516),

LADAINHA DOS SANTOS CARMELITAS
Senhor tende piedade de nós.
Cristo tende piedade de nós.
Senhor tende piedade de nós.
Santa Maria, Mãe e esperança dos Carmelitas,
São José, Protetor principal da Ordem do Carmo,
São Gabriel, Anjo da Guarda da nossa Ordem,
S. Joaquim e S. Ana, Protetores do Carmelo,
Sto. Elias, Patriarca do Carmelo,
Sto. Eliseu, Profeta do Carmelo,
Sto. Alberto de Jerusalém, Legislador da nossa Ordem,
São Bertoldo,
São Brocardo,
São Cirilo de Constantinopla,
Todos os Santos Profetas e Eremitas do Carmelo,
Sto. Ângelo da Sicilia,
Sta. Teresa Benedita da Cruz,
Bto. Tito Brandsma,
Btos. Dionísio da Natividade e Redento da Cruz,
Bto. Tiago Retouret,
Bto. Hilário Januszewski,
Btos. Alfonso Maria Mazurek e companheiros,
Bto. João Batista, Miguel Luís, e Tiago,
Btas. Teresa de St. Agostinho e companheiras,
Btas. Maria Pilar, Teresa, e Maria Angeles,
Bta. Maria Mercedes Prat,
Bta. Maria Sagrario,
Btos. Ângelo Maria e companheiros,
Bto. Jorge Häfner, OTC
Bto. Isidoro Bakanja,
Bto Eliseu Maneus,
Todos os santos mártires do Carmelo,
Sta. Teresa de Jesus,
Sta. Teresa do Menino Jesus,
São João da Cruz,
Santos Doutores do Carmelo,
São Pedro Tomás,
Sto. André Corsini,
São Simão Stock,
São Giorgio Preca ,OTC
Bto João Soreth
Bto Avertano de Lucca,
Bto. Aloísio Rabata,
Bto Ângelo Paoli,
Bto. Bartolomeu Fanti,
Bto Franco de Sena,
Bto. Batista Spagnoli,
Bto. Ciríaco Elias Chavara,
Bto. Francisco Palau,
Bto Romeu de Lucca,
Bto João Paulo II, OTC
Ven. João de São Sansão,
Todos os bispos, sacerdotes e religiosos do Carmelo,
Sta. Maria Madalena de Pazzi,
Sta. Teresa Margarida do Coração de Jesus,
Sta. Teresa de Jesus dos Andes,
Sta. Maria Maravilhas de Jesus,
Sta. Joaquina de Vedruna,
Bta Arcângela Ghirlani,
Bta. Joana Scopelli,
Bta. Ana de S. Bartholomeu,
Bta. Maria de Jesus Lopez Rivas,
Bta. Maria dos Anjos,
Bta. Maria de Jesus Crucificado,
Bta. Elizabete da Trindade,
Bta. Teresa Manetti da Cruz,
Bta. Maria Cândida da Eucaristia,
Bta. Francisca d’Amboise,
Bta. Maria da Encarnação,
Bta. Elia de São Clemente
Bta. Maria Teresa Scrilli,
Bta. Maria Crucifixa Curcio
Bta. Candelária de São José,
Bta Maria Josefina de Jesus Crucificado,
Bta Josefa Naval Girbes
Todas as santas virgens e monjas carmelitas,
Bto. Luís Martin,
Bta. Zélia Guèrin
Todos os santos leigos do Carmelo,
Todos os santos do Carmelo Celeste,
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos...
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos ...
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade ...
Oração: Venha em nossa ajuda, Senhor, a proteção da Bem-aventurada Virgem Maria, nossa Mãe, e a intercessão de todos os Santos do Carmelo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos, sirvamos a Igreja com a nossa oração e as nossas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo





segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O QUE É O ADVENTO

A palavra "advento" quer dizer "que está para vir". O tempo do Advento é para toda a Igreja, a vivência do mistério de espera e preparação da vinda de Cristo.

"O tempo do Advento tem uma dupla característica: é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens e simultaneamente é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos".

Assim como a Páscoa tem um tempo de preparação, tem também o Natal um tempo litúrgico que o prepara, que recebeu o nome de Advento (=vinda).

Como a Quaresma, é então o Advento um tempo forte na Igreja, com acentos litúrgicos especiais. Tem ele duas características, marcadas por dois momentos.

O primeiro vai do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro. Neste primeiro momento, a liturgia nos fala da segunda vinda do Senhor no fim dos tempos, a chamada escatologia cristã, aí presentes os temas do julgamento final, da vigilância, da missão de João Batista etc.. Costuma-se chamar esse primeiro momento de ADVENTO ESCATOLÓGICO.

Já o segundo momento vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro. É como que a "semana santa" do Natal. Nesse período, conhecido também como ADVENTO NATALÍCIO, a liturgia vai nos falar mais diretamente da primeira vinda do Senhor, no Natal, tendo aí presente sempre a Virgem Maria.

No Advento temos quatro domingos, o terceiro chamado "Gaudete", isto é, domingo da alegria, já por ele como que antecipando as alegrias do Natal. Nesse domingo, a antífona de entrada, tomada de Fl 4,4-5, vai dizer: “Alegrai-vos, o Senhor está perto”. Além disso, no Ano B, a segunda leitura (1Ts 5,16-24) é uma exortação à alegria e à ação de graças. A cor litúrgica do domingo “Gaudete” pode ser o rosa.

Podemos dizer que os quatro domingos do Advento simbolizam os quatro grandes períodos em que Deus preparou a humanidade, de maneira progressiva, para a grande obra da redenção em Cristo. Esses quatro períodos são:

1º) O tempo que vai de Adão a Noé

2º) O tempo de Noé a Abraão

3º) O tempo de Abraão a Moisés

4º) O tempo que vai de Moisés a Cristo.

Com Abraão começa, historicamente, a caminhada da salvação (Cf. Gn 12).

Os quatro domingos simbolizam também as quatro estações do ano solar e as quatro semanas do mês lunar. Aqui se pode ver a harmonia entre tempo histórico e tempo cósmico, principalmente quando vistos à luz do tempo litúrgico.

Também a coroa do Advento, ou grinalda, em sua forma circular, com suas quatro velas, quer chamar nossa atenção, já no início do Ano Litúrgico, para o mistério de Deus que nele vamos celebrar. A cor verde dos ramos da coroa (pinheiro, principalmente), fala do mistério cristão, que nunca perde o seu verdor, e simboliza então a esperança e a vida eterna. No simbolismo das velas podemos ver não um sentido quantitativo da luz, mas o crescendo de sua intensidade, à medida que se aproxima o Natal. Por isso não são acesas já as quatro velas desde o início do Advento, mas no primeiro domingo acende-se uma; no segundo, duas; no terceiro, três; e no quarto domingo, quatro.

Três personagens bíblicos marcam o tempo do Advento, como se vê pelos textos bíblicos da liturgia. São eles: o profeta Isaías, São João Batista e a Virgem Mãe de Deus.

Não é o Advento tempo penitencial, no sentido próprio e litúrgico, mas tempo de vigilância, de expectativa, de moderação, de sobriedade e de esperança. Por isso, a cor roxa não é muito apropriada para o Advento, podendo ser substituída pelo azul claro ou violeta, por exemplo, mas entendendo que a cor oficial é o roxo.

Mesmo sem ter uma data fixa de início, todos podem saber, sem dificuldade, quando se inicia o Advento, pois ele tem uma referência: 30 de novembro. Se, porém, 30 de novembro não for domingo, então o Advento começa no domingo mais próximo, na prática o domingo que fica entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. Não nos esqueçamos de que com o Advento iniciamos não só o ciclo do Natal, mas também o novo Ano Litúrgico.

Nos domingos do Advento canta-se o Aleluia, mas não se canta o Glória. O fato de cantarmos o Aleluia mostra o caráter não penitencial do Advento, caráter que predominou no passado, tendo ressonâncias ainda hoje com a cor roxa, oficial, mas que, ao que tudo indica, será mudado no futuro. Já a omissão do Glória explica-se pelo comentário oficial às Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, quando diz: “no Natal, o canto dos anjos deve ressoar como algo de inteiramente novo”. Se cantássemos então o Glória no Advento, no Natal tal canto não seria novidade.

AS LEITURAS BÍBLICAS DOS QUATRO DOMINGOS DO ADVENTO DO ANO B

Julgando ser útil àqueles que vivem a prática litúrgica de maneira mais plena e consciente, mas atendo-nos somente ao Evangelho, embora as demais leituras sejam também muito ricas, especialmente as profecias de Isaías, damos abaixo as perícopes bíblicas do

1º domingo (Mc 13,33-37) - Estar vigilante para a vinda do Senhor

2º domingo (Mc 1,1-8) - João Batista e o batismo de conversão

3º domingo (Jo 1,5-8.19-28) - João Batista dá testemunho da Luz - Cristo, mais forte que ele.

4º domingo (Lc 1,25-38) - A anunciação do anjo a Maria

O carmelita buscador do rosto de Deus e seu testemunho



“Quem não conhece o rosto de Deus na contemplação, não o reconhecerá na ação”. (Von Balthasar)
“Estar diante do rosto de Deus vivo, esta é nossa vocação”, dizia Edith Stein.

Buscar o rosto de Deus... Poucas frases têm tantas raízes bíblicas como esta. Todo o Antigo Testamento não é mais que uma busca incansável do rosto de Deus. Aí está expresso o profundo desejo do israelita por conhecer a Deus, sua identidade entrar em sua intimidade e participa em sua glória. Será o desejo de Moisés, apesar de que Deus lhe diga: “Meu rosto não podeis ver”(Ex 32,20), a chamada à conversão dos profetas, como Amós que diz: “Buscai o rosto de Deus e vivereis”, o desejo dos sábios em sua busca da sabedoria e a felicidade para o ser humano; porém será sobretudo o grito orante do salmista que uma vez ou outra pede e deseja “ter a visão do rosto de Deus”, que “seu rosto nos ilumine” ou, ao contrário, que “não se afaste de nós seu rosto”.

E quando este rosto apareça e brilhe no de Jesus, nascerá o Novo Testamento e o Cristianismo e o monacato para continuar com mais insistência e mais afinco esta busca incansável. Porque nesta busca do rosto autêntico de Deus em Jesus está em jogo o próprio futuro deste cristianismo. Diz-nos, de uma maneira indireta, o Concílio Vaticano II, quando ao falar das causas do ateísmo afirma audazmente: “nesta gênese do ateísmo, grande parte podem ter os crentes, enquanto negligenciando a educação da fé, ou por uma exposição falaz da doutrina, ou por faltas na sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer deles que mais escondem que manifestam a face genuína de Deus e da religião” (GS, 19)

A mesma fundamentação bíblica podemos encontrar para a segunda parte de nossa oração-definição: “ser no mundo testemunhas do teu amor”. Poder-se-ia dizer que toda a Bíblia e em particular o Novo Testamento não é mais que uma exposição de como cada um é testemunho do amor de Deus. Jesus é o testemunho do amor de Deus por excelência e esta será a missão de seus seguidores, testemunhas de sua ressurreição... em definitivo de seu amor. Assim poderíamos dizer que nesta oração está condensada toda a Bíblia.

Dir-se-á, então, que esta é a tarefa de todo religioso, mais ainda, de todo cristão. Por estar correta tal afirmativa é que nós, os carmelitas, necessitamos concretizar esta busca e ser testemunhos com a luz que projeta o ícone de Elias, que é o que inspira esta oração que rezamos todos os dias.

Somente algumas pinceladas. É bem sabido que a tradição eliano-profética está nas origem do Carmelo; porém esta tradição recebeu nova orientação com Teresa e João da Cruz, com os reformadores de Torenne. Elias já não será simplesmente o modelo de ermitão, centrando-se sobretudo em sua imitação no retiro da fonte de Carit, como faz A instituição dos primeiros monges. Elias, “guia e pai” dos carmelitas será aquele que vai do córrego Carit ao monte Horeb, passando pelo Carmelo, o vinhedo de Nabot e ao longo caminhar pelo deserto; ou seja, abarca toda a vida do profeta contemplando-lhe, sobretudo, quando chega ao alto na visão de Deus no “sussurro da brisa suave”, como faz São João da Cruz que dos seis textos que falam do profeta, cinco deles nos falam desta visão do Horeb, e de “assobio/cantar dos ares amorosos”.

Tudo isto resume muito bem neste pensamento: “Entre os veneráveis personagens bíblicos, rendamos culto especial ao profeta Elias, que contempla ao Deus vivo e se abrasa no zelo de sua glória, como inspirador do Carmelo, e consideramos seu carisma profético como ideal de nosso chamamento à escuta e proclamação da palavra de Deus.”

Elias, nesta dupla faceta se tem convertido hoje para muitos, não só para os carmelitas, em modelo do que se tem começado a chamar “espiritualidade do deserto”, que reflete muito bem a situação na qual se encontra a igreja na atualidade.

Há vários anos apareceu na Alemanha um livro que tem este título Espiritualidade do deserto. O autor é um dos teólogos Comunidade Santa Edith Stein mais destacados no panorama atual da teologia; teólogo de altos vôos, de raça, diriam alguns, quando se atreve escrever um trabalho tão volumoso sobre o mistério trinitário e depois saber divulgá-lo de uma maneira muito simples ao alcance de qualquer cristão. Estou me referido a Gisbert Greshake. Alguns anos antes tinham aparecidos, na Holanda, dois livros, um com o titulo "Oásis no Deserto:. Espaços vitais para a fé" e o outro, "Quarenta palavras no deserto", ambos do mesmo autor: Bernard Rootmensen.

Neste livro, Espiritualidade do deserto, Greshake dedica um capítulo completo ao Carmelo:

“A espiritualidade Eliana do deserto no Carmelo”. É por tal razão que volto a recordar: “Vive o Senhor, o Deus de Israel, ante cuja presença estou”. Aí está resumida a espiritualidade Eliana do deserto: estar frente ao rosto de Deus, buscar continuamente sua presença, para isto se vai ao deserto. Daí, desta imediatez da presença de Deus brotará “seu zelo, sua paixão por Deus” contra todos os ídolos com uma radicalidade absoluta. O carmelita viverá isto desde a meditação da Palavra de Deus dia e noite seguindo a indicação da Regra e o anseio de encontrar o rosto de Deus se converterá no núcleo da experiência contemplativa.

Teresa de Jesus e João da Cruz e todo o Carmelo assumem a divisa de Elias “Me consome o zelo, a paixão pelo Senhor” e concretizarão sua radicalidade absoluta nas formulações marcadas por estas mesmas características. Teresa dirá: “Só Deus basta” e João da Cruz : “Tudo ou Nada” que levará a uma paixão absoluta pelo Deus da união mística e a luta sem quartel contra todos os ídolos, com a mesma força e intensidade que Elias no Carmelo e no Horeb.
Assim, Elias se converte no arquétipo ideal do carmelita, que poderíamos apresentar em breve resumo, assim:

 Elias é o profeta solitário que tem sede de Deus vivo e vive em sua presença (1R 17,1);

 É um místico que depois de uma longa e esgotadora viagem pelo deserto aprende a lei e descobre a nova presença de Deus no sussurro do silêncio (1Rs 19, 1-18).

 É o homem contemplativo a quem lhe consome uma paixão avassaladora por Deus, uma paixão transborda para os demais (2Rs 18, 20-46).

 É o profeta que se preocupa pela vida do povo, que luta contra os falsos deuses e conduz o povo ao verdadeiro Deus. É o homem solidário com os pobres e o os abandonados (1Rs 17, 8-24) e que defende aqueles que sofrem a opressão e a injustiça (1Rs 21, 17-29).
Este é o modelo que se apresenta hoje aos carmelitas nesta espiritualidade do deserto, uma espiritualidade que como sinal dos tempos, parece estar chamando às portas do Carmelo